Eu e os meninos acordamos e eu disse que iria acordar Káh, e eles me olharam com cara de safados e quando pus o pé no primeiro degrau Austin gritou -

A: Não se esqueça da camisinha Johnny! - Imitando uma voz feminina ruim, concluí que era para parecer a de Káh -

J: Haha que engraçado!

Subi e abri a porta devagarzinho e adentrei o quarto do mesmo jeito. Ela dormia calmamente, parecia um pequeno anjo. Meu anjo  -O que é isso John! Ela é só sua amiga! – Eu tentava me convencer disso há um tempo já, mas não estava dando muito certo. Eu não conseguia admitir a mim mesmo que gostava dela, ou a amava. Mas eu sabia disso. Ela gostava de mim como amigo só isso.

Mal percebi que tinha ficado muito tempo pensado sozinho, e não havia acordado  Káh ainda, mas quando comei a chegar mais perto da cama alguém me cutucou, virei-me para trás, era Paul.

J: O que foi? *sussurrando*

P: Cara, agente já está indo você vai junto ou vai ficar? *sussurrando * ‘

J: Vou ficar. *sussurrando *

Paul fez uma careta para mim, rolou os olhos para a figura de Káh dormindo e os voltou novamente para mim. Ergui a sobrancelha sem entender e ele saiu rindo.

Voltei-me para a cama, e fiquei em pé, parado, fitando-a. Até que minha visão se voltou para o pequeno retângulo branco no chão perto do criado mudo que continha uma gaveta aberta, abaixei-me para pegá-lo, e quando o fiz meus olhos automaticamente se dirigiram para dentro da gaveta, mais especificamente para a pequena lâmina que a mesma continha. Ela estava limpa, mas tentei ver por cima de Káh em seus pulsos não haviam nada. – Devia ser uma lâmina qualquer se não fosse ela me diria –

Por fim lembrei do pequeno papel que continha uma frase “Siga seu coração”, refleti sobre ela por um mísero segundo e virei o papel do outro lado, que na verdade era uma foto. Tinha uma menina de mais ou menos  10 anos abraçada com um homem. A menina era Káh, que ainda permanecia com os mesmos contornos, os pequenos meigos olhos verdes, ela parecia uma boneca. Mas o homem eu não fazia a mínima ideia de quem seria.

Deixei a foto de lado e rolei meus olhos para Káh, observei-a dormindo. Queria poder tê-la em meus braços, somente para mim, ter certeza que era somente minha, queria poder aninhá-la e tê-la em meus braços, acariciar sua face, olhar profundamente em seus olhos e beijá-la com todas as minhas forças. Lembrei-me de ontem, de seus olhinhos inchados enquanto chorava nos ombros de Austin, suas palavras que me esfaqueavam – Ele abusou de mim – as palavras vieram em minha mente, eu queria poder abraçá-la e consolá-la, dizer que tudo ficaria bem, mas eu não podia. Concluí que tinha que para de pensar nisso, ela era minha amiga, somente isso.

Mesmo se eu estivesse gostando dela, eu não teria a mínima chance. As cenas de ontem novamente tomaram meus pensamentos. Ela tinha passado por muita coisa, mas eu podia – e iria – esperar por ela. Eu podia estar apaixonado, mas ela nunca saberia, ou demoraria muito tempo para saber. Eu tinha medo que se isso ocorresse ela nunca mais falasse comigo, mas se falasse, nunca mais fosse a mesma, e esses pensamentos me aterrorizavam.

Perdido em pensamentos, que não conseguia mais bloquear, cada instante eu me rendia mais e mais a ela. Káh começou a se mexer e vagarosamente seus olhinhos se abriram um sorriso se instantaneamente se abriu em minha face, tentei disfarçar mais não consegui.

K: Bom dia Johnny!

J: Bom dia!

K: A quanto tempo está ai?

J: Sei lá... Uns 15 minutos. – Menti, eu provavelmente estava lá a quase uma hora, perdido em pensamentos, mas eu não queria assustá-la. Dei um sorriso amarelo tentando disfarçar-

K: O que você estava fazendo ai?

J: Pensando... – Dei uma resposta vaga, na esperança de não dar muitas pistas

J: Eu também estava te observando dormir, sabia que você parece um anjo dormindo?

Ela corou, estava linda.

J: Na verdade eu tinha vindo te acordar, mas quando te vi fiquei com pena de você pequena. Então fiquei por aqui mesmo. – Tentei dar explicações superficiais, com sempre a mesma intenção, não assutá-la.

K: E os meninos?

J: Já foram.

K: Huum... – Percebi que ela estava tentando descobrir a mentira exposta no meu rosto: O que eu estava fazendo enquanto ela dormia -

J: Ei pequena, quem é esse? Virei a foto da minha mão, tentando tirá-la de seus pensamentos e mudar o assunto. Mas ela não respondeu de imediato e ficou fitando a foto por alguns segundos.

J: Estava no chão. - Tentei me explicar, mas fiquei ainda sem resposta- Então entreguei a foto e por fim ela disse.

K: Esse é o meu pai e essa sou eu.

J: Porque você demorou a responder?

K: Porque eu sinto a falta dele. Uma lágrima escorreu em seu rosto.Tentei consolá-la da melhor maneira que eu podia nessa situação.

J: Hey pequena não chore, não tem problema sentir falta de quem a gente ama. Ele enxugou minha lágrima com o polegar e sorri, ela sorriu de volta.

Pareceu ter funcionado então fiquei feliz e olhei-a, tentando memorizar cada milímetro de seu rosto, de seu sorriso, um sorriso que eu simplesmente amava. Logo ela apertou minhas bochechas.

K: Você tem razão Johnny! Obrigada!

Eu odiava quando ela fazia isso, ela estava me provocando, fiz uma careta e ela riu. Sua risada era música para meus ouvidos e seus olhos brilhavam, eles me hipnotizavam de uma forma como os olhos de ninguém nunca haviam feito. Naquele momento uma pontada de vontade de agarrá-la ali mesmo e beijá-la com intensidade atingiu.

Descemos para tomar café, e eu vi pela janela que nevava.  Káh saiu correndo na minha frente e se se encostou ao parapeito, ato que me surpreendeu, mas não disse nada. Ela parecia uma criança. Fui andando até seu lado, então ficamos observando a paisagem em silêncio – Pelo menos ela eu acho, pois seus olhos brilhavam com ainda mais intensidade, ela parecia uma criança que tinha ganhado um presente de Natal -  até que ela resolveu quebrá-lo.

K: Eu nunca vi a neve sabia? Eu ergui minha sobrancelha e a olhei indignado.

K: Esqueceu que no Brasil não neva? – É eu havia esquecido totalmente que ela morava no Brasil, a milhares de quilômetros-

J: Tinha me esquecido que você era brasileira!

K: Pareço uma garota britânica? Elka abriu os braços e fez beiçinho

J: Hmm... – Examinei -a - Você ainda esta muito bronzeada. Disse para irritá-la, pois a mesma era branca assim como a neve.

K: Que mentira! – Ela deu um tapão em meu braço!-

J: Doeu sabia?

K: Coitadinho do Johnny! Estou morrendo de pena! – Ela além de me dizer isso apertou minhas bochechas para me provocar ainda mais -

J: Ah é? Vai ser assim? Peguei -a pelas pernas e me coloquei-a em meu ombro e saí correndo em um pleno apartamento. Até que ela comeóu a dar murros em minhas costas e gritar.

K: Me solta John!

J: Só se você pedir desculpas! – Afinal, era minha vez de irritá-la -

K: Fala sério!! Ignorei seu comentário e continuei correndo.

K: Tá John eu me rendo! Desculpa! Satisfeito?

Coloquei-a no chão, sua calça do pijama subiu e seu cabelo estava levemente bagunçado, eu ri de suas tentativas de arrumá-lo, pois estava inda mais lindo. Naquele momento eu percebi que eu a amava.