SIGLAS: H: Homem

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A janela abriu e eu vi...

Eu vi um homem robusto, de capuz, gorro e... ÓCULOS ESCUROS, em plena noite.

H: Está perdida?

K: Não.

H: Tem certeza?

K: Sim. - Estava tentando ser o mais seca possível, não conhecia o homem e ele me parecia estranho, o medo ainda me corroía -

H: Já que é assim o que uma menina tão bonita - Disse me olhando de cima à baixo - faz essa hora sozinha em um terminal de ônibus vazio?

K: - Era hoje que eu ia morrer mesmo - Nada.

H: Quer uma carona? - Ele disse destrancando o carro -

K: Não.

H: Vamos entra ai menina, eu te levo aonde você quiser.

K: Eu já disse que não, obrigada.

Disse seca e arrogante, então me virei e comecei a dar lentos passos em direção ao banquinho que estava sentada. Onde será que estava Paul? Antes que eu pudesse me sentar no banco, ouvi risadas abafadas de dentro do veículo, me virei para o mesmo novamente. O carro ainda estava lá, o homem abriu a porta e desceu do carro, começou a vir em minha direção - Eu já estava morta -, até que ele tirou seus óculos, o gorro e o capuz e quem eu vi?

Filho duma p*** do PAUL. Quando vi seu rosto, ele começou a dar risadas e eu não pensei duas vezes, saí correndo e avancei em cima dele, nós dois começamos a rir e caímos no chão juntos – Retardados -.

K: Porque você fez isso comigo? Eu estava morrendo de medo sabia?

Ele respondeu em meio a risadas.

P: Eu queria ver a sua cara.

K: Muito legal fazer isso com seus AMIGOS!

P: Eu sei. – O fuzilei com o olhar –

K: Idiota.

K: Vamos embora, amanhã temos aula.

P: Tá... mas você tem que admitir que eu sou um máximo por ter pensado nisso.

K: Eu não admito nada. – Coloquei minhas mãos para cima em gesto de inocente –

Entramos no carro e seguimos a viagem, liguei o rádio e começou Locked Out Of Heaven do Bruno Mars, eu e Paul começamos a cantá-la que nem retardados, eu comecei a fazer uma dancinha estranha, eu sou muito retardada.

Até que o tempo passou rápido, eu me divertia muito com Paul, ele era um grande amigo, chegamos em minha casa, me despedi de Paul e desci.

K: Vai ter troco por hoje eim?

P: Duvido que você seja melhor do que eu. – Ele disse levantando a gola da camiseta –

K: Tchau seu idiota!

P: Tchau bobona!

Vi o carro desaparecer e adentrei o prédio, para minha surpresa lá estava Gabriel, que começou a falar alguma coisa, mas rapidamente coloquei meus fones, liguei a música bem alta e saí andando, deixando ele com a cara de tacho – que já tem – falando sozinho. Entrei no apartamento guardei os presentes, tomei um banho, comi um sanduíche e fui dormir.

Dormi rapidamente, não sei como, pois eu tinha dormido umas quatro horas dentro do ônibus, mas o sono não foi tão bom quanto eu esperava e meus sonhos não foram os melhores.

O cheiro de fumaça entrava e percorria minhas narinas, adentrando meu corpo, mas dessa vez eu estava em uma sala fechada, abri a porta e encontrei a mesma silhueta de sempre, do mesmo jeito, com as roupas queimando, ouvi um grito, um grito de uma mulher, parecia a voz de minha mãe.

Me ajude por favor! – O homem gritava –

Já estou indo! - Eu respondia gritando também, mas era como se meus pés estivessem colados no chão, não conseguia mover nenhum músculo, era como se eu estivesse paralisada. O homem gritava por ajuda, e eu só ficava o observando morrer, pouco a pouco as lágrimas escorregavam em minha face. Até que o ambiente ficava mais claro, como se estivesse amanhecendo, eu reconheci o homem.

Era meu pai.

Seus olhos se conectaram aos meus, o que não era possível de ser feito antes, pois estava muito escuro. As lágrimas caíam com mais intensidade em minha face, eu tentava cada vez mais me mover, mas era inútil todo o esforço que eu fazia, ainda não saía do lugar. Minha cabeça doía cada vez mais, parecia que ia explodir, eu não conseguia pensar em mais nada, até que como uma fagulha acesa em meu interior sombrio, a frase atrás da foto veio em minha mente: - Siga seu coração. – Não sabia o que essa frase significava, não nesse momento.

Minha mente me dizia para eu continuar tentando, para eu me mover, mesmo que não restasse nenhuma força em meu interior, mas eu também tinha outra ideia que percorria minha mente, mas era totalmente fora do normal, na qual a mesma era para eu parar de tentar e ficar parada, aceitar a queimação de tudo que eu mais amava, mas continuei reprimindo essa ideia e continuei tentando sair dali. Nada. Era como seu eu tentasse o máximo que eu conseguia, mas no final não importava. As lágrimas ainda escorriam em minha face, meu pai continuava queimando, pouco a pouco morrendo, assim como meu interior.

Tentei mais uma vez. Nada. Tentei novamente. Nada. Minhas forças já haviam se esgotado, até que meu pai deu o último grito, e eu finalmente acordei desse pesadelo. Saí correndo para o banheiro e vomitei, as imagens de meu pai queimando ainda percorriam minha mente e queimavam meu interior. Por que isso estava acontecendo comigo? Tentei voltar a dormir, o cansaço me dominava por inteiro, mas o pesadelo ainda estava em minha mente, e eu não conseguia fazê-lo. Fiquei fitando o teto na esperança das imagens desaparecerem, mas nada. Já começava a amanhecer, olhei o relógio, seis e meia da manhã e eu ainda estava acordada.

Decidi descer e tomar um copo d´água. Tomei a decisão de não ir à escola hoje, ainda estava muito abalada, e cansada, não tinha dormido direito. Mas pensei que o meu dia seria pior do que a noite se o passasse sozinha dentro de casa, lembrando-me das cenas. Precisava falar com meus amigos, só eles poderiam me acalmar e me distrair em uma situação dessas.

Tomei um longo banho, pois estava adiantada hoje, fiz minha higiene, estava sem paciência para pensar em roupas, então coloquei a primeira que vi. Desci tomei um suco e saí. Fui escutando música para a escola, coisa que eu quase nunca fazia, mas precisava de distrações durante o dia todo.

Cheguei lá, cochilei durante as primeiras aulas, e quando bateu o sino do intervalo, combinei com os meninos de irmos ao cinema à tarde. Eles como sempre zoaram minhas olheiras gigantes, mas eu ria com eles, uma ótima distração. O restante das aulas eu me esforcei para não cochilar, o que foi uma ideia meio alta, porque não funcionou.

A tarde se passou rápido, fiz algumas lições, sempre escutando música, distrações e mais distrações, foi o foco de meu dia. Até que chegou o horário combinado, tomei um banho, troquei de roupa e me dirigi ao cinema, mas enquanto caminhava, vi um incêndio ocorrendo em uma casa. As figuras do pesadelo rapidamente voltaram em minha mente e uma lágrima que não foi contida escorreu. Decidi sair dali o mais rápido que podia, apressei o passo, e começou a chover, ótimo.

Pelo menos a chuva mascarou algumas lágrimas que eu não consegui conter. Cheguei no cinema toda molhada, morrendo de frio e com meu rímel todo borrado - Chove justo no dia em que eu resolvo passá-lo -. Dei de cara com quatro meninos altos, lindos perfumados e sequinhos, me esqueci que eles tinham carro. ¬¬ Me senti como um pintinho molhado, eles riram de mim e John me ofereceu seu casado. Ai... Seu cheiro era ótimo, que permanecia no mesmo. Entramos no cinema e foi tranquilo, os meninos faziam palhaçadas o tempo todo, o que me fazia rir de verdade, coisa que parecia uma eternidade que eu não fazia.

A tarde havia sido praticamente ótima, jantamos em um restaurante chamado Nando´s, que era muito bom. Voltei para casa relativamente feliz, com pensamentos daquela ótima noite.