Que Chegue Até Você. escrita por L-chan_C-chan


Capítulo 25
Parte XXV – A Desgraça de Hinata.


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus biscoitinhos doces. *-*
Como vão? Sentiram saudades? :3 Foi uma semana longa e problemática pra mim, por isso não pude postar dois capítulos.
Entretaaanto... O final de semana foi tranquilo, e ontem a noite consegui terminar o capítulo 26. Será postado mais tarde, ainda hoje! :)
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No último capítulo... Bem, a reação de vocês me assustou um pouco (e estou falando das ameaças! XD); vocês realmente querem que o Hiashi morra?! Talvez fiquem com um pouco de pena dele, nesse capítulo. :x
"Pena".. Sim! Acho que "pena" vai ser o sentimento predominante nos leitores! XD
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Espero que roam as unhas. sz



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Parte XXV – A Desgraça de Hinata.

O choro de criança era baixo, mas reconfortante. Ele soou pelo quarto, e era não só um alívio, como um deleite aos ouvidos de Hinata. Abrindo os olhos lentamente, ela demorou um pouco para realmente entender o que estava acontecendo... Olhou para os cantos e viu o consultório da doutora Nohara Rin, aquela que tinha lhe dito o sexo de sua pequena e adorada Yume.

O choro da menina que ela tanto ansiava vinha do canto do quarto, e quando seus olhos alcançaram aquela poltrona branca confortável que não se lembrava de ter visto antes, sentiu vontade de chorar. Não só por sua menininha tão linda... Mas por quem a segurava. Naruto estava sentado, tão concentrado em acalmar o choro incansável do bebezinho moreno, que sequer notara que ela estava acordada. Com um pouco de dificuldade, Hinata se sentou, e esperou não por muito tempo, até que fosse notada. O amado a recebeu com um sorriso caloroso, levantando-se e se aproximando com a criança nos braços. Ele entregou à Hina sem dizer uma palavra, e deixou que a Hyuuga se deleitasse com o peso leve... Na verdade muito leve, de sua filha. – Yume...

– É um belo nome. – Ouviu o amado murmurar; ela levantou os olhos para dizer de onde a ideia surgira, mas seu corpo simplesmente travou ao ver a mãe, sorrindo. Yume Hyuuga, a mãe que ela perdera há quase três anos, alisou o rosto da neta, e a cabeleira da filha... Ela sorria como se estivesse orgulhosa, sinceramente feliz. E então, Hinata enfim descobriu que estava sonhando.


Os olhos se abriram lentamente, incomodados com a luz forte do quarto de hospital. As paredes brancas também não ajudavam. Olhou para os lados e viu Neji e Hiashi sentados em cadeiras postas ao lado da cama. Ela tateou a barriga por baixo dos lençóis, mas não conseguiu senti-la ali... Então, quase perturbada, procurou o berço que deveria ser comum em qualquer quarto de maternidade, mas não o encontrou. – Onde ela está...? – Murmurou exausta.


Hiashi desviou os olhos no momento da pergunta, e Neji se aproximou. Sentou-se ao lado da prima e com gentileza segurou a mão pálida, fraca, fina... Hinata sinceramente não entendeu aquilo. Olhou para os olhos idênticos aos seus, confusa, e notou a hesitação na expressão do rapaz. – Hinata... Ela... Ela se foi...

– O quê...? – Ela se sentou subitamente, de modo que sentiu a cabeça cambalear. Foi acudida pelo primo. – Do que você está falando...?! – Sua voz era fraca, mas claramente desesperada.

– Eu sinto muito... – Ele apertou a mão dela, mas a moça recuou. Os olhos de pérola seguiram até o seu intocável pai.

– O que você fez? – As palavras foram quase inconscientes; ele arqueou as sobrancelhas e a olhou de canto. – O QUE VOCÊ FEZ?! – Ela gritou.

– Hinata! – Neji segurou-a pelos ombros. – O seu pai não fez nada!

– Mentira! – Ela exclamou alto. – O que você fez?! Onde está a Yume?! – Hiashi suspirou, tentando transparecer exasperação, embora estivesse tenso.

– Eu vou chamar o doutor Kabuto. – Disse antes de sair do quarto. Os olhos de Hina seguiram até os do primo, desesperados. Ela segurou a camiseta social listrada com firmeza, mesmo que estivesse trêmula.

– O que ele fez? – Repetiu. – Não minta pra mim, ele sempre te conta. O que ele fez Neji?! – A última frase soou esganiçada.

–... Você passou mal... Estava febril, e acabou desmaiando. Seu pai a trouxe para o hospital mais próximo imediatamente. Aqui... – A porta se abriu de repente, e os Hyuuga deram atenção ao doutor Kabuto, que sorria profissionalmente.

– Demorou, mas fico feliz que tenha acordado senhorita Hyuuga. – Ele parecia gentil, mas seus olhos... Eram estranhos, calculistas. – O seu problema é asma, senhorita. Um ataque de asma forte limitou suas defesas do corpo, o que lhe causou uma febre forte e início de pneumonia. Com seus nervos à flor da pele, e seu corpo ainda em desenvolvimento... – Suspirou com falso pesar. – A bolsa estourou antes da hora, e o bebê nasceu prematuro. De fato, a criança aguentou por algumas horas na incubadora, entretanto... – Ele negou com a cabeça. – Eu sinto muito, senhorita Hyuuga. Deve ser uma grande perda. – A garota não respondeu. As mãos soltaram a camisa do primo, lentamente... E ela tornou a se deitar. – Bem, creio que devo deixar os pais sofrerem a morte do bebê. Com licença. – Ele se afastou, e saiu do quarto.

–... Que tipo de homem dá essa notícia com tanta frieza? – Neji reclamou, mas não foi realmente ouvido. Olhou para a prima encolhida e se preocupou; os olhos de pérola pareciam feitos de vidro. Encaravam um berço de plástico transparente, e ela entendeu porque não pôde encontrá-lo inicialmente... Era porque, já que ela não tinha bebê, eles não aproximaram o berço dela. Agora, ela queria nunca tê-lo encontrado, já que aquele sentimento era muito pior do que a morte.

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Naruto se esticou preguiçosamente na cama pequena de um hotel não muito luxuoso. Ele bocejou, olhou para o relógio e constatou treze horas da tarde. Sentou-se ainda sonolento, e puxou o portfólio com os endereços preciosos; abriu-o e analisou cada endereço, riscado ou não. De fato... Ele tinha conseguido muitas casas na noite anterior; infelizmente, nada que pudesse ter efeito. Mais de uma vez fora enxotado das casas alocadas, ou se decepcionou ao encontrar algumas demolidas. Ele devia ter andado por toda aquela região, mas ainda assim não tinha encontrado nenhum mísero Hyuuga. – São miseráveis até para serem encontrados. – Murmurou de mau humor, e se levantou. Seguiu para o banheiro pequeno e lá fez a higiene básica, mas não se preocupou em fazer a barba.

Após um longo banho quente, vestiu roupas novas e checou o celular. Tinham muitas mensagens da mãe e poucas do pai, que pedia para que ele entrasse em contato com a mãe. No e-mail, encontrou uma mensagem bonitinha da irmã e uma de aprovação do pai, sobre os tais relatórios que ele sabia que não eram tão bons para serem exaltados àquele ponto.

Ele comeu na lanchonete do hotel, pagou no cartão de crédito do pai e preparou as chaves para sua otimista “busca pelo amor”.

~

Hinata passou cinco noites no hospital, em observação, e seu estado psicológico era muito mais preocupante do que o físico. Suzuki, assim como Hiashi imaginou, apareceu no dia seguinte – para sua sorte, tempo suficiente para que pudesse entregar a papelada da adoção para o médico corrupto. Assim como ele suspeitava, a mulher desconfiou da história do tal Kabuto, e quis ver o cadáver antes mesmo da mãe. Para a tranquilidade do velho líder do clã, ela pareceu aceitar a história, e preocupou-se somente no estado da vítima daquele caso cruel.

Na manhã, após as cinco noites, foi-lhe dado alta. Os pontos já estavam fechados, mas as feridas... Jamais cicatrizariam. Embora ela raramente sorrisse para Suzuki, tia Mai e Neji, era claro demais que seu coração, sua alma... Estavam despedaçados. Mesmo assim, nem tia Mai, nem Hizashi contaram à ninguém sobre a farsa da adoção feita pelo pai da garota.

Os tios hospedaram todos os que se preocuparam com a sobrinha na grande casa do campo, mas Hiashi tinha esperança de que logo não mais seria necessário. Quando ele sentiu a filha mais falante, alguns dias após o ocorrido decidiu que já era a hora de pedir. Era tarde, e a moça estava sentada na varanda da casa, numa cadeira velha de madeira, lendo algum livro que ele cria ser de autoajuda. Ele se aproximou com cautela, e se agachou à altura da moça, que cessou a leitura quase imediatamente. Ela estava realmente tentando ser gentil com ele; talvez por se sentir mal por culpá-lo tão fervorosamente ao receber a notícia... “Mesmo que ela estivesse certa”; ele afastou o pensamento às pressas. – Hinata... – Começou; alisou o rosto da filha de forma gentil, surpreendendo-a. – Minha menina... Eu sei que posso ser distante, mas... Eu realmente a amo muito. – Era verdade. Por tudo o que lhe era mais sagrado, aquela era a mais pura verdade que já havia dito em toda sua vida. – Eu sei que está machucada... – “Por minha causa”, ele adicionou mentalmente. – Mas... É por esse motivo que eu creio que devamos estar juntos. Hanabi, Neji, Suzuki... Eu... Todos nós a amamos. Todos nós queremos ajudá-la... Queremos que supere isso.

– Pai... – Ela o interrompeu antes que ele pudesse terminar, pois já imaginava o que seria pedido... E ela realmente não podia fazer aquilo. – Eu quero ficar em Kyoto. – Aquilo não era um pedido... Era um aviso, e ele entendeu.

Desconsertado, Hiashi se levantou, chocado com a surpresa desagradável. Ela queria ficar em Kyoto... Queria ficar longe de Konoha, longe de sua família... Ah! É claro! Ela deveria estar querendo ficar longe dele. A ideia o enojou. Deveria ter tido esse pensamento antes de engravidar!

Ele a viu tornar a ler, calma... E mesmo que qualquer um que a visse encontrasse uma garota simples, inocente, longe de qualquer problema... Ele sabia que aquela era a mais pura visão da dor. Uma dor desnecessária, ele sabia, da qual havia sido o causador... Mas que não podia voltar atrás.

~

Estava no carro, devorando o hambúrguer grande quando o celular tocou. Naruto bufou irritado, e puxou o aparelho com um pouco de dificuldade. Sorriu ao ver o numero de casa e atendeu torcendo para que na outra linha, a Uzumaki mais nova soasse. – Onii-chan! – Ele sorriu apenas com o som da voz.

– Mayu, não grite. Quer estourar os meus tímpanos?! – Ela riu do outro lado.

– Onii-chan! Eu quero que volte para casa hoje. – Ele arqueou as sobrancelhas; olhou no GPS e suspirou.

– Mayu, eu estou pra lá de Tóquio. Seja o que você quiser, não pode esperar? – Ela ficou em silêncio por um instante.

– Onii-chan... Desculpe. – A voz dela não estava mais tão animada, embora ela tentasse forçá-la. – Não se preocupe, pode continuar. Você está atrás da Hina-nee, não é? Eu também quero vê-la! – Aquela alegria fingida... Era a pior coisa do universo para o coração de um irmão mais velho. – Me traga lembrancinhas!

– Claro. – Ele respondeu com um sorriso triste. – Nos vemos. – Ele murmurou antes de ouvir a outra linha cair.

Suspirando, ele puxou o portfólio negro. Analisou endereço por endereço... Aquela já era a terceira cidade em que procurava, e aquilo já estava acabando com toda a pouca paciência que tinha. Fábricas, casas alugadas, terrenos baldios, casas derrubadas... Ele já tinha procurado em todo lugar!

Fechou a pasta e jogou-a com irritação no banco de trás; programou o GPS para casa e deu a volta no carro. Sua barba estava mal feita, ele estava usando roupas de loja de conveniência e o seu belo carro estava pior do que um lixo ambulante! Além disso, sua irmãzinha claramente precisava de companhia... Da sua companhia. – Espanco o Neji e extraio a informação. – Ele decidiu com um sorriso sinistro no rosto, e fez o retorno para sua cidade natal.


Para a surpresa de sua família, Naruto retornou como o filho pródigo após perder toda a fortuna: maltrapilho, barbudo e cheio de fome. A cobaia perfeita para o novo prato de Kushina.


Depois de um longo banho, ter feito a barba e vestido roupas de tecido descentes, devorou todo o surpreendente – e não muito agradável – jantar feito pela mãe, que junto do marido e da filha observaram chocados o que uma semana longe de casa poderia fazer às pessoas.

Era o fim da tarde quando Mayuki pediu que o irmão a levasse para um passeio. Como há muito não ficava um tempo com a irmã, ele concordou imediatamente, quase se esquecendo de seu principal propósito em voltar para Konoha – quase.

A pequena o guiou como um GPS falante por toda a cidade, rindo e sorrindo, contando novidades e piadas sobre o estado do mais velho no retorno. – É aqui. – Ela disse assim que chegaram ao rio. Naruto parou o carrinho e ficou agachado em frente à irmã, que com um pouco de dificuldade subiu em suas costas. Sorrindo, ela abraçou com carinho o pescoço do mais velho. – Aqui é o meu lugar favorito em toooda a vila! – Ela exclamou sorridente.

– Quem diria... É um lugar calmo, surpreendente. – Ele brincou, e levou uma palmada na cabeça que o fez rir.

– Veja! – Ela apontou para o horizonte, o par de safiras azuis admirou quase perplexo, o sol se pondo entre os pequenos prédios da vila. – Eu adorava vir aqui depois da escola... – Mayu murmurou; deitou a cabeça no ombro de Naruto e suspirou.

– Então era por isso que você sempre sumia. – Ele deu um sorriso de canto.

– Sim. E é um lugar bem grande... Eu costumava a ler aqui, ou jogar. Quando me cansava, deitava e olhava a paisagem... É tão tranquilizante. – A respiração dela estava calma, e seus olhos, perdidos no céu alaranjado. O irmão a olhou de soslaio e notou uma pequena lágrima cristalina descer pelo rosto da mocinha.

– Mayu...! – Ela forçou um sorriso e limpou o rosto.

– Desculpe se fiz você vir aqui, onii-chan. Eu devo ter te preocupado no telefone, não é? – Ele não respondeu, e ela tornou a olhar a paisagem. – Sabe... Esse sempre foi o meu lugar favorito. Sempre vinha aqui quando brigava com a mamãe. Para me acalmar e pensar numa desculpa... – Ela inspirou demoradamente. – É um lugar de tranquilidade... Eu pensei que, quando estivesse aqui, poderia perceber como me sinto.

– E como você se sente? – Ele não estava mais olhando pra ela.

–... Eu estou assustada, onii-chan. – Sentiu-a apertar o seu pescoço. – Com muito medo. – Ela abafou o choro no ombro largo. – Estou com medo... Com medo de não poder voltar a andar sozinha. De não poder mais... Viver... – Naruto não disse nada; sentou-se na grama sem soltar a irmã, e olhou para o alto do céu.

– Sabe... Eu também estou com medo Mayu. O medo do futuro... É uma coisa normal na vida de qualquer um. – Ela ainda estava chorando. – Eu tenho medo de decepcionar os nossos pais... Tenho medo de não conseguir ser responsável... De não encontrar a Hinata... E mais do que qualquer coisa, eu tenho medo de vê-la triste. – Encostou a cabeça na dela. – Você é a minha irmãzinha... – Ele sorriu. – Sua primeira palavra foi “niiian”, porque eu dizia pra você falar “nii-chan”. – Riu com a lembrança, mas só fez o choro aumentar. – Você era mesmo uma fujona, desde menininha... Depois que aprendeu a andar, só pensava em fugir do berço!

– Eu não quero isso, onii-chan! – Ela murmurou agoniada. – Eu não quero ter que depender dos outros... Não quero depender do onii-chan! – E então, ela se soltou; o loiro virou-se calmamente, e abraçou a menor, que se encolheu. – Eu não quero depender de ninguém! Eu quero ser a Mayu esperta e independente de sempre! – Confessou entre rios de lágrimas.

– Mayuki! – Ele apertou-a. – Você é você, e é isso que importa! Acha que uma cadeira de rodas é o fim de tudo? Que uma cadeira de rodas vai ser algum empecilho?! Não vai! – Ele exclamou mais alto. – Você é a minha força! – Segurou-a pelos ombros e encarou o rosto vermelho decididamente. – Você é a pessoa que eu mais amo no mundo, e por você... Pela minha irmãzinha, eu faria qualquer coisa. Eu vou fazer! Por você... Eu vou parar de ter medo.

– NIIAN! – Ela berrou chorosa, e agarrou o mais velho, que a apertou com todo o amor que podia dar. E assim ficaram por minutos... Talvez horas. Sem se importarem com o sumiço que lhes renderia uma bronca e tanto da senhora ruiva que tanto amavam.

~

Uma vez, num livro, Hinata havia lido que “a fome era a pior sensação do mundo”; um personagem disse isso... Um personagem principal, que no fim das contas se tornara muito rico. Ele era um dos personagens favoritos da Hyuuga até pouco, mas ela não mais acreditava na veracidade de suas palavras... Afinal, a fome não era a pior sensação. Ela sabia, porque estava tentando combater a dor com a fome, e a segunda era quase imperceptível, se comparada à primeira.

Hina havia de fato ficado em Kyoto, na casa dos tios. Hiashi e Neji foram embora, e tia Mai continuou sendo a gentil e adorável mulher que sempre fora antes. Tio Hizashi estava mais flexível... E não mais a vigiava. Até um telefone colocaram em seu quarto! Muito irônico da parte deles, mas compreensivo. Agora não era mais necessário isolá-la... Ela não precisava mais de apoio para ficar com o bebê, já que a vida por si só lhe tirara sua pequena menininha...

Sentada à escrivaninha, ela fechou com força o maldito livro de autoajuda que só falava da “vontade divina”, a cruel vontade que tirara a única coisa que ela havia lutado na vida para conseguir. Deitou as costas na cadeira almofadada e olhou debilmente o telefone cor-de-rosa comprado por Suzuki como presente de “comemoração à Liberdade!”... Liberdade que de nada mais valia, na opinião da jovem. Logo, as grandes pérolas vazias desviaram-se para o pequeno vidro cheio de pílulas que supostamente deveriam ajudá-la a dormir. Calmantes recomendados por Suzuki – que a propósito, ainda estava hospedada em Kyoto para tratá-la.

Mais uma vez, olhou para o telefone, e de novo para os comprimidos. Ela suspirou... Puxou-os e leu claramente a etiqueta que dizia “um por noite”, e um pensamento terrível lhe passou à mente. Assustada consigo mesma, ela empurrou o vidro para longe; respirou fundo e fechou os olhos... Inexplicavelmente, um som lhe veio à mente. Um som fraco, choroso... De um bebê chorão com um pulmão não muito forte. Ela apertou os olhos e tentou afastar a imaginação usando suas tão sagradas memórias com Naruto.

Seus beijos... Seus abraços... Seu toque... E quando menos esperava o choro lhe veio à mente mais uma vez. O maldito choro que ela tanto ansiava... Fruto do cruel sonho que tinha todas as noites, desde sua perda.

Ela escondeu o rosto com as mãos, exasperada, e coçou o coro cabeludo freneticamente, como se aquilo pudesse parar a dor.

Sem se importar se a ideia era cruel, horrível e vergonhosa, Hinata Hyuuga se levantou; saiu do quarto discretamente, e caminhou com cuidado pelo corredor. Já passavam das três então não tinha que temer encontrar ninguém.

Desceu até a cozinha, furtou uma garrafa com o saquê favorito de Hizashi e tornou furtivamente para o quarto. Trancou a porta e bebeu, ignorando a forte queimação na garganta que a fez tossir muito. Sentou-se à escrivaninha e bebeu mais, até estar completamente zonza; tão zonza a ponto de não pensar em nada além de Naruto Uzumaki, o culpado por sua desgraça. Encarou o telefone como se fosse o próprio rapaz, e sentiu os olhos queimarem. Puxou o aparelho e digitou zonzamente o telefone que ela ainda sabia de cor. Levou o fone ao ouvido, esquecendo-se da hora e esperou... Um toque... Dois toques... Três toques... Quatro toques até que ele atendeu. Com a voz sonolenta, Naruto murmurou um “Que é, Sasuke?”. Só a voz a fez emudecer.

Sentiu o corpo enrijecer quase instantaneamente, e as lágrimas transbordaram de seus olhos, inconsoláveis. -... Hinata? – Ele perguntou depois de um tempo; parecia mais acordado... Mas no auge de sua primeira bebedeira, Hina não poderia focar-se nisso por muito tempo.

– Naruto... – Ela murmurou embebedada. – Ela morreu... – Disse com a voz esganiçada. – A Yume morreu...!

– Yume...? – Do outro lado da linha, Naruto ergueu ambas as sobrancelhas; não sabia se estava mais surpreso por ela ter de fato ligado, ou por parecer tão alterada. – Eu sinto muito... – Disse confuso, mas sincero. – Ela... Ela era sua amiga...? – O choro dela aumentou, tanto que ele se afastou.

– Por quê?! Por que você me deixou?! – A exclamação foi quase um sussurro. – Quando eu mais precisei... Quando nós precisávamos... Por que nos deixou?!

– Hina, eu-...

– Foi por sua causa! – Ela culpou entre lágrimas pesadas. – Por sua causa, meu bebê... Minha Yume... – O corpo do rapaz travou, e mesmo há quilômetros de distância ele pôde ter um vislumbre da amada encolhida, chorando rios de lágrimas... Por um... Bebê?!

Quase trêmulo, ele tentou raciocinar. – Hinata... Você está me assustando. – Ela riu sem humor.

– Eu sei disso. Não é por isso que está fugindo de mim? – Ele apertou os punhos.

– É você quem está fugindo! – Acusou em voz alta. – Sai de Konoha sem me avisar! Sem ligar! Sem um bilhete! E que história é essa de bebê? – Ela se calou de repente, chocada.

– Você... Não sabe...?!

– Não estaria perguntando se soubesse! – Ele foi grosso. Estava furioso! Hina riu daquilo... Era como se um facão estivesse golpeando seu peito vezes e vezes... Mas ela não conseguia deixar de rir daquilo.

– Você é realmente popular com as garotas. – Ela fungou, e limpou o nariz com as costas da mão. Lembrava-se perfeitamente da “prima distante” a quem entregara a carta mais importante da vida de ambos. – Mas diga àquela garota... Que ela é a culpada de tudo... De tudo...

– Hinata, onde você está?! – Ele estava realmente desesperado. Agora mais que nunca. – Me diz, eu vou pra aí agora... Por favor! – A garota fungou mais uma vez.

– Naruto... Perdoe-me... Eu a perdi... Perdi a nossa Yume... – Ela abraçou os joelhos com a mão livre e chorou com o rosto escondido entre eles.

– ONDE VOCÊ ESTÁ?! – Ouviu-o gritar, e aquilo a fez chorar mais.

– Eu não quero ficar aqui... Eu não quero...

– HINATA! – Ele gritou mais uma vez.

– Eu te amo tanto... Por favor, me perdoe... Eu não queria... Eu lutei tanto, tanto... Tudo pra perdê-la... – Ele não conseguia parar de gritar “Onde você está?” “Do que está falando?” e “Hinata!”. Mas mesmo assim, Hina não conseguia responder nenhuma daquelas perguntas... – Eu não vou mais ficar aqui... – Ela murmurou debilmente. – Eu não vou deixar ela sozinha... – Uma sombra de sorriso nasceu no rosto pálido. – Isso! – Ela exclamou feliz pela ideia. – Eu não posso deixá-la sozinha... Ela está chorando. Eu posso ouvi-la chorando. – Àquela altura, o Uzumaki já estava em pé e vestido, entrando no carro para sair de casa, sem se importar em continuar gritando, mesmo que algumas luzes de casas vizinhas tenham se acendido.

– Hina, não faça nenhuma besteira. – Ele dizia incansavelmente, trêmulo. – Me diga onde está... Por favor... – Ele pediu agonizando.

– Eu vou cuidar dela agora... – E a ligação caiu.

– HINATA! – O loiro gritou inutilmente com o telefone; ligou o carro e acelerou com tudo em direção à mansão Hyuuga.

Chegando lá, desceu do automóvel e desesperadamente bateu no portão. – NEJI! – Ele berrou. – NEJI! – Gritava como se sua vida dependesse daquilo... E tinha quase certeza que dependia. – HIASHI! – Algumas luzes se acenderam. – PELO AMOR DE DEUS! – Ele sentia os olhos queimarem, mas não tinha tempo para chorar.

Os portões se abriram e o primo de Hina agarrou o pescoço do Uzumaki quase de imediato, mas foi respondido por um soco furioso do mais novo. – PRESTE ATENÇÃO! – O loiro mandou.

– Não quero ouvir nada de você. Não estragou a família o suficiente? Vá embora! – O rosto do cabeludo estava vermelho. Hiashi e Hanabi aproximaram-se da porta, a mais nova quase escondida nas costas do pai.

– ELA ME LIGOU! – Ele estava rubro, trêmulo. – Ela me ligou... Neji, quem é Yume?! – Coçou a nuca freneticamente. – POR QUE PORRA ELA TAVA FALANDO COMO SE FOSSE SE MATAR?! – Os rostos dos Hyuuga empalideceram.

– Hanabi, pegue o telefone. Rápido! – O pai ordenou e a mais jovem correu para obedecer.

– Quem é Yume?! – Puxou o primo da amada pela gola do pijama.

– Você já deve imaginar. – Neji murmurou com nojo. – Foi você quem causou isso tudo, Uzumaki. Eu nunca vou te perdoar... Se eu pudesse, te mataria agora. – Ele estava pronto para gritar mais, e dar uma boa lição de moral no rapaz, mas Hana chegou primeiro com o telefone em mãos, e toda a atenção de todos foram até Hiashi, que discou o numero do irmão e esperou.

A ligação foi atendida no segundo toque. – Hizashi, onde está a minha filha? – O silêncio perdurou por um minuto. -... O quê...? ABRA ESSA PORTA AGORA! – Mais um minuto... Dois minutos... O pai da moça só conseguia ouvir o barulho do ombro do irmão batendo contra a madeira firme. – HIZASHI! – O grito do pai de Neji foi ouvido até mesmo por Hanabi, que arregalou os olhos.

– Meu Deus! SUZUKI! Ela está sangrando... Sangrando muito! – Foi o que todos ouviram dos gritos.

– LEVE-A PARA O HOSPITAL! ESTAMOS INDO PRAÍ AGORA! – Hiashi comandou rápido, e desligou o telefone. Olhou para o sobrinho como se desse uma ordem muda, e ele entendeu de imediato, entrando na casa apressado.

– O que houve com a onee-chan? – Hanabi parecia desolada, em choque.

– Vá dormir Hanabi. – O pai mandou; estava mexendo em uma gaveta e Naruto o viu puxando duas carteiras.

– O que houve com a onee-chan...? – Ela perguntou de novo, chorosa. O mais velho respirou fundo, e agachou-se à altura da filha caçula.

– Hanabi... Sua irmã está doente. Vá dormir, por favor... Logo você poderá vê-la. – Ele tentou ser o mais paciente possível... Certamente, foi mais paciente naquela frase do que já fora em toda sua vida. Hana concordou; limpou o rosto e seguiu para o quarto, mesmo que seu coração ainda estivesse a mil, e ela não acreditasse em uma palavra do pai, sabia que não teria mais do que aquilo.

Neji não tardou a voltar com as chaves do carro. Eles ignoraram completamente a presença do Uzumaki; entraram no carro preto que o loiro supôs ser do rapaz, e eles seguiram estrada a fora.

Foram seguidos pelo carro esporte alaranjado, e perceberam isso, mas estavam tão preocupados que sequer se importaram com aquela presença indesejável.

Dirigiram por horas e horas sem parar... Quando entraram em Kyoto, Naruto praguejou mentalmente por não tê-la procurado direito, e quando estacionaram no hospital, foi como se seu coração, sempre forte e alegre, parasse.

E a maior ironia daquilo tudo era que o grande hospital tinha a placa “Senjuu” estampada em sua entrada.


Dentro do hospital, na sala de espera, Suzuki, Hizashi e Mai encontraram Naruto pela primeira vez, e não podiam dizer-se exatamente satisfeitos. – O que aconteceu? – Hiashi perguntou diretamente à Suzuki; ela estava com as vestes ensanguentadas.


– Bebeu... Tomou os calmantes... Ela está sendo desintoxicada.

– Calmantes? Eu disse que não queria que receitasse remédios fortes a ela! Você sabia que isso poderia acontecer! – Ele foi rude o suficiente para fazê-la sentir vontade de socá-lo, mas a pena foi maior que a irritação, então ela só suspirou.

– Os remédios eram naturais, Hiashi. Só serviram para que ela ficasse sonolenta... – Ela escondeu o rosto e se sentou, cansada. – Acho que quando ela percebeu isso, foi ao banheiro... Ela... – Suzuki apertou os olhos, agonizada com a memória da parenta. – Ela quebrou o espelho e cortou um dos pulsos...

– Ela quebrou o espelho pra isso?! – Naruto perguntou chocado, e tremeu com o assentir da mulher. A imagem da amada caída no chão de um banheiro, com um pulso aberto, ensanguentado a vista. – Mas... Ela... – Ele estava tão perdido... Tão atordoado...

– Ela perdeu um bebê, Naruto. O que esperava?! – Neji foi grosso o suficiente para que ele, mesmo sem entender, se sentisse o pior lixo do universo. Hiashi estava tão paralisado que não conseguia parar de pensar na possibilidade de correr para a maternidade, pegar a neta da incubadora e entregar à filha.

O loiro sentou-se, desconsertado. -... O que eu fiz...?! – Sentiu os braços de a mulher abraçá-lo, solidária. Mas ele estava em choque parar chorar.

– Ela lutou tanto...! – A médica murmurou agonizada. – Lutou tanto para que o bebê nascesse... E mesmo assim...

–... Por que...? Por que eu não sabia disso...?! – Aquilo surpreendeu Neji; ele olhou para o desgraçado furioso, mas não conseguiu enxergar mentira alguma naqueles olhos azuis arrependidos, que de uma hora para a outra, ficaram furiosos.

O Uzumaki se levantou e empurrou Hiashi, que despertou de seus devaneios. – Foi você, não foi?! – Ele perguntou com fogo nos olhos. – Você não a deixou contar, não é?! Por acaso foi você quem matou meu filho?! – Sua voz estava alta demais para um ambiente hospitalar, mas ele não parecia se importar. O pai de Hina sentiu o ar quente de frustração queimar seu rosto.

– Eu bem que tentei... Tentei muito que ela tirasse esse bastardo... Mas a convivência com você deixou-a teimosa demais para que me ouvisse, e olha só como isso tudo acabou! – Ele apontou para a porta de cirurgia. – Hinata nunca precisou ser internada antes, e essa já é a segunda vez no ano que ela está a ponto de morrer! Tudo por culpa de um moleque inconsequente! – Ele praticamente cuspiu as palavras.

Neji teve que segurar Naruto para ele não avançar sobre o “sogro”. – QUEM VOCÊ ESTÁ CHAMANDO DE BASTARDO?! – Um médico se aproximou nesse momento, e pediu silêncio com um olhar de repreensão que envergonhou os briguentos.

– Ela está dormindo. – Ele avisou assim que todos acalmaram os nervos. – Fizemos uma desintoxicação... Mesmo que naturais remédios demais sempre tem um efeito colateral. O problema mesmo foi o corte... Por sorte, a senhora estancou o sangramento e evitou o pior. – O doutor sorriu para Suzuki, que pôde enfim respirar aliviada. – Ela levou alguns pontos no pulso esquerdo. Não corre perigo de vida, mas... Perdeu muito sangue, e está muito fraca. Se alguém da família tiver o tipo B-...

– Eu sou O+/-! – Naruto se pronunciou antes de qualquer um. O médico ergueu as sobrancelhas.

– Desculpe, mas se não for da família...

– Ele fez um filho nela, é quase da família! – Tia Mai se apressou; tanto desespero se dava ao fato de que a única possível doadora da família poderia ser Hanabi, visto que nenhum dos outros eram compatíveis.

– Venha garoto. – O médico sequer hesitou, nem pediu permissão ao senhor Hyuuga; apenas puxou o garoto para o quarto de Hina e lá, ele doou de bom grado quase um litro de sangue. Seus olhos estavam perdidos na amada que não via há tanto tempo... Mesmo dormindo, mesmo pálida, mesmo cheia de círculos escuros em volta dos olhos... Ele não podia deixar de pensar que era a mais bela mulher do universo.

Quando o médico terminou, o loiro pediu gentilmente para que ele esperasse um pouco antes de avisar à família; o homem entendeu perfeitamente o motivo e concordou para que o rapaz pudesse desfrutar, por mais alguns poucos minutos, a presença dela, e os deixou sozinhos.

Naruto sentou-se na cama da moça, ao lado dela, e acariciou seu rosto com devoção. Os lábios dela estavam arroxeados, e tremeram com seu toque.

Lentamente, ele viu aquelas duas belas luas se abrirem. -... Naruto...?!


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Notas finais do capítulo

Repetindo... O outro capítulo vai ser postado mais tarde (a noite, provavelmente). Ele está pronto, e eu estou ansiosa para mostrá-lo a vocês. Tenho a impressão que vão gostar muito do 26! :D
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Então~~ Leiam e comentem! :D
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Dúvidas? Críticas? Sugestões? Sempre estou disposta. :D
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Até mais tarde, meus adoráveis dangos doces. *o*