Supernatural escrita por Sansa Thorne


Capítulo 11
Today the word of the day is revenge.


Notas iniciais do capítulo

Emily acorda em seu quarto e sente-se desconfortável ao perceber que está sofrendo de uma forte perda de memória. A garota se debate para encontra um jeito de se lembrar dos acontecimentos que antecederam seu despertar. As garotas acabam ficando retidas no hospital quando descobrem que o feitiço que Emily usou causou efeitos muito mais sérios ao seu corpo. Porém, não será um hospital que irá impedi-las se procurar pela verdade. E quando a palavra do dia é vingança, ninguém melhor para guiá-las nesse caminho é sua falecida amiga Megan. Elas planejam quebrar o selo e libertar sua amiga, mas será que a reação dela será como elas esperam?



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(...) — Que tal Jenna Cook? Ela sempre nos odiou.

(...) — Esses monstros já estavam em minha cola. Eram fáceis de driblar. Mas eu trouxe esse mal. Esse monstro é de um poder inacreditável. Vocês precisam se unir para destruí-lo. Esse momento está próximo. — conta Megan.

— Sabe, Nate... — a voz falara tão próximo ao ouvido de Nate que ele sentiu o hálito frio da criatura no lóbulo de sua orelha — Tu és um bom garoto. Seria um desperdício matar-te aqui e agora. Tu servirás de aliado para mim. Um dia. Quando souber o que houve com Lola.

(...) Ela estava vendo diante dos seus olhos Edward Simon e Megan Khan. Seus falecidos amigos.

(...) — Essa é Emily. — Megan ri — Emily, esse é Gavin. Gavin VanCamp

(...) — Entenda, amor. O purgatório é um lugar onde as almas daqueles que viveram sobre a terra são enviadas. O purgatório é a linha entre o Céu, a Terra e o Inferno. Entende agora por que está aqui? Por que tu estás sobre a linha da Morte a da Vida. Esse é um lugar tortuoso para humanos, querida. — conta Gavin (...)

(...) — Ora, por que meu corpo está preso dentro de um rio. E sendo assim, ainda está em perfeito estado de conservação por causa do feitiço. A não ser que vocês morram ou que quebrem o feitiço, eu estou presa aqui. Para uma pessoa ter paz no Purgatório, se é que é possível, é preciso que o corpo seja enterrado ou que os ossos sejam queimados. Quando eu morro aqui e corto minha ligação, eu não fico no vácuo, eu vou para seu mundo. Ou pelo menos costumava ser o meu.

(...) — Ótimo. Quando eu estou lá, eu tenho a lembrança do que eu vivi lá.

(...) Aparentemente Megan estava usando um demônio para arquitetar uma vingança contra Lola. Mas ela se arrependeu e tentou banir o demônio, que acabou se revoltando contra ela o que resultou numa batalha entre ambos. Então foi quando Megan recorreu até as garotas e lhes contou sobre o livro. Mostrou a elas o que era o verdadeiro poder as inebriando com sonhos impossíveis. Quando ela pôs o plano em ação, acabou morrendo e está aqui desde o acidente.

(...) — Existe outro jeito de conseguir poderes sobrenaturais. Mas é medonho... — conta Edward.

— Qual jeito?

— Eu fiz isso com elas. — revela Megan.

(...) — O que ele me pediu exatamente? — pergunta Emily se levantando.

— O seu pérasma. Literalmente, sua existência, Emily.

(...) — Diga a Bonnie que a amo, sei que já pedi isso, mas estou pedindo novamente. E chute o traseiro daquele demônio desgraçado, o exorcize pro Inferno e mate o desgraçado que doou seu corpo para ele.

(...) Sem saber o que fazer, Emily gritou.

Um trovão ribomba no céu fazendo Emily estremecer. A garota abre os olhos e olha em volta. Ela está deitada sobre um colchão e coberta com um lençol. Seus ferimentos estão com pedaços de tecido ensopados de sangue e sua pele está ardendo. Os respingos de chuva banham seu corpo. Com sua mão direita ela tira o excesso de suor da testa. Com calor, ela tira os seus cabelos dos ombros. Percebe que algo escorre por sua nuca, no escuro tenta se orientar pelo tato até que encontra um ferimento na base de sua cabeça. Um líquido espesso e quente molha seus dedos. Ela esfrega o líquido em seus dedos e percebe que é sangue.

Nesse momento a porta se abre com um baque. Automaticamente ela procura por algo que pudesse servir de arma por perto, então pega um naco de vidro e se põe de pé. O olhar dela demonstra algo que Nate nunca vira: ferocidade. Ela os observa atônita. Nate se aproxima dela lentamente.

Emily segura o naco com tanto força que o sangue escorre por seus dedos.

— Amor, sou eu. Nate. — fala ele como se explicasse algo demasiadamente complicado para uma criança.

— Nate? — pergunta ela. As lembranças voltam a sua cabeça de modo doloroso. O seu corpo insiste para que ela abrace Nate fortemente. Mas algo em sua mente resguarda um instinto estranho, de auto-preservação.

— Sim, seu namorado. Nate. Venha aqui... — pede ele abrindo os braços.

Ela se sente estranhamente convidada para aquele abraço. Mas sente medo. Os olhos azuis e gentis do garoto aparentam pertencentes a um ser inofensivo. Emily aos poucos abre seus dedos, suas articulações rangem como se estivessem enferrujadas. O caco ensangüentado cai no chão.

Sem pensar nem mais um segundo ela se joga nos braços dele. Ali, ela se sente segura como nunca se sentiu. Mesmo que seus ferimentos ensangüentados sejam pressionados e seu sangue coagule dolorosamente. Os braços fortes dele se estreitam em volta dela. Ela olha para suas amigas. Bonnie e Helena a encaram com algo no rosto semelhante ao sorriso. Mas a dúvida estava esta em seus olhos. Emily se afasta de Nate e abre os braços para suas amigas. As garotas vão até ela.

Elas ficam ali abraçadas por alguns minutos. Bonnie choraminga e se afasta esfregando o nariz. Helena ajeita os óculos no rosto.

— Eu pensei que você tinha morrido... — conta Bonnie com a voz entrecortada.

— Eu não senti seu pulso. Você estava fria. Como um... Fantasma. — a última palavra se perde no meio do caminho se tornando apenas um murmúrio.

— O que houve enquanto eu dormi?

— Não muita coisa. Eu liguei para a emergência, a atendente contou que K ligou para ela avisando que talvez precisássemos de atendimento médico.

Emily arregala os olhos e tapa a boca sufocando o grito.

— Emily, preciso conversar contigo. — avisa Nate.

Ela se vira para ele.

— Sobre?

— Tudo. Mentiras. Segredos.

Ela olha para as garotas.

— Vocês quebraram o pacto? Contaram a ele?

— Sim. — Bonnie confirma o óbvio num sussurro.

— E Helena afirmava que eu era o elo fraco... — reclama Emily se virando para Nate. — Amor, eu não queria te meter nisso. O que aconteceu com Megan foi um acidente... E não queríamos que acontecesse aquilo com Lola.

— Do que você está falando? — questiona Nate.

Emily arregala os olhos. Ela olha de relance para trás e encontra as garotas boquiabertas.

— Do que você estava falando? — rebate Emily.

— De K. Das ameaças. Do lance de magia.

— Só isso?

— É pouco? Você me escondeu isso por mais de um ano, Emily. Isso é justo?

— Iria acreditar em mim se eu dissesse que posso fazer coisas levitarem? Que posso mover objetos com a mente? Dobrar o sangue de uma pessoa ao meu favor?

— Dobrar o sangue?

— É uma prática que faz do corpo de uma pessoa marionete.

— Foi assim que você morreu. Aquele feitiço consiste que você lute conta a energia da outra pessoa. Você lutou contra um demônio, Emily. — assinala Bonnie.

— Eu não morri. Eu estava no... No... O que aconteceu comigo durante esse tempo?

— Como assim? — questiona Helena.

— Eu estou com bloqueio mental. Acho que não consigo me lembrar de nada que aconteceu. Mas eu sei de algo importante. Só preciso descobrir... É sobre você, Bonnie. E você também, Nate.

— Desembucha. — cobra Bonnie.

— Eu não me lembro. É como se eu tivesse esquecido as últimas horas da minha vida.

— Que horas, garota? Você ficou desacordada por quinze minutos. No máximo. — ressalta Helena.

— Eu sei que não faz sentido. Mas simplesmente não consigo de lembrar-se de algo importante. Que sensação horrível... — reclama Emily.

— Isso é uma evasiva, Emily. Não desvie do assunto! Vocês têm haver com a perda de memória da Lola ou com sua morte? — questiona Nate segurando com força o braço da garota se esquecendo dos seus ferimentos.

Com um movimento brusco Emily se livra daquele aperto de aço.

— Claro que não. — afirma Bonnie.

Nate se vira e encara a garota. Ela abaixa o olhar e encara o chão. Ele respira fundo e fita Emily. Nesse momento um som ecoa pela Apple Street: sirenes. Helena encara Emily.

— Ambulância e provavelmente a polícia. Vamos... — pede ela.

— Você está muito machucada? — pergunta Nate se sentindo culpado por questioná-la sem colocar sua saúde em primeiro lugar.

— Nada demais. Só alguns ferimentos.

— Você pode ter hemorragia interna, Emily. Você sangrou pelo nariz e bateu com a cabeça no chão. Sério, tem que ir pro hospital. Você está sangrando muito pela cabeça... Nem sei como está andando. Temos que estancar esse sangue garota! Você vai para um hospital, é sério.

— Não irei, faça um feitiço.

— Quer ser curada por magia?

— Sim, use qualquer erva.

— Onde iremos achar uma erva com propriedades mágicas?

— No mesmo local onde iremos procurar pelo grimório de Megan. Irei fazer dedetizar os ferimentos e enfaixar meu braço, sinto que está dolorido. Além claro de fazer algo a respeito desse corte na cabeça. Logo depois seguiremos para... A ponte.

Os olhos das garotas se arregalam ao mesmo tempo. Elas a encara com incredulidade.

— A ponte?

— Sim. Precisamos consultar Megan. Saber mais sobre esse demônio. Como derrotá-lo.

— Ok, não vou dizer que está errada. — afirma Helena.

— Isso mesmo. Por que eu não estou, garota. Iremos dar um jeito em K.

— Só existe um jeito de acabar com um demônio. — conta Helena encarando Emily. Elas trocam olhares nervosos.

— Nunca fizemos isso antes.

— Não é algo que aprenderíamos na escola, garotas! — fala Emily levantando os braços.

Ela sente suas costelas rangerem com o movimento repentino.

Bonnie cruza os braços próximos ao peito.

— Emily está certa. Com tantas promessas vazias... Agora sabemos como é fácil K nos matar. Bastou nos encontrar juntas e sozinhas que ele atacou. E uma de nós quase morreu por causa disso. — afirma Bonnie batendo o pé no chão.

— Exatamente, quase. Eu estava disposta a me sacrificar por vocês. Não morri por causa de K. Eu mostrei que poderia vencer aquele desgraçado.

— Sacrificar-se? Isso não é um HQ da Marvel Emily. Morrer por aqueles que ama não é heróico, é trágico. — fala Nate. Os olhos azuis agora assumem um tom gélido. As pupilas tremem e quando ele acaba de falar, seu lábio inferior se projeta para baixo. A voz dele assumia um tom entrecortado e lacrimoso.

O som das sirenes aumenta mais ainda. Ignorando as palavras de Nate, Emily é guiada pelo som até a escada. Ela desce a escada ouvindo os passos de suas amigas atrás de si. Nate a acompanha ao seu lado. Ao chegar até a sala ela olha em volta e sai para o jardim. Imediatamente, Emily dispara a correr até o loft.

— Ele foi levado pelo Mr. Kitsis, está sendo cuidado nesse momento, querida. — garante Nate.

Emily solta o ar relaxando.

Imediatamente uma viatura para em frente à calçada com os pneus cantando. O nevoeiro envolve a avenida e se espalha pelo gramado como dedos brancos e fantasmagóricos que se estendem até as garotas. A ambulância estaciona atrás da viatura. A luz de um poste próximo pisca freneticamente lançando faíscas deixando o rosto do xerife Owen com feições sombrias e duras. O homem anda desajeitado até o grupo.

— Olá garotas. Olá Nate. Recebemos uma alerta do 911 avisando que receberam uma ligação daqui pedindo atendimento médico e contando que essa casa foi invadida. Podem me contar como isso aconteceu?

As garotas se entreolham.

— Estávamos conversando quando ouvimos um barulho... — começa Bonnie com a voz insegura.

— Descemos até a sala de estar. O assassino tinha um machado em mãos e tentou nos matar, corremos e nos trancamos no quarto de Emily. Mas ela acabou sendo atacada pelo homem, que lhe golpeou com o cabo do machado na base da cabeça. O assassino acabou fugindo.

— A que momento o Mr. Cullen chegou à cena do crime? — interroga outro policial que emerge das sombras ao lado de Owen.

— Cinco minutos após o assassino fugir. Aproximadamente... — conta Bonnie.

— Deixe que eu faça as perguntas, Benson. Ok garotas, e vocês conseguiram identificar algum traço no agressor? Conseguiram identificar algum traço semelhante de uma pessoa conhecida?

— Não. — afirma Bonnie.

— Ok então. Podemos entrar na casa? Queremos analisar a cena do crime.

— Houve luta física? — questiona Benson.

— Sim. — afirma Helena.

— Legítima defesa? — continua o policial.

— Claro que sim. Temos cara de assassinas?

— Ou você acha que ele veio com um machado para brincar de bonecas? — afirma Nate mal-humorado.

Nesse exato momento elas ouvem o som de pneus cantando no asfalto e um carro estaciona logo atrás da ambulância quando os paramédicos saem do veículo. A porta se abre e Cece sai do taxi com o olhar assustado e movendo-se desvairada.

— Emily! Oh. Meu amor! Pensei que tinham lhe machucado... Sua camisola... Está sangrando. — exclama Cece andando desajeitada em seus saltos demasiadamente altos pela calçada tentando se equilibrar.

— Eu estou bem, mãe. — afirma Emily.

Cece tenta abraçá-la, mas Emily estende seu braço impedindo-a de se aproximar. Cece a encara incrédula. As lágrimas que escorrem por seu rosto parecem ser absorvidas. Ela volta a sua compostura séria. Levanta o busto e mantém o olhar calmo. Com um suspiro ela se dirige em direção à casa de cabeça baixa.

— Me acompanhem, oficiais. — pede ela.

Owen e Benson obedecem.

— Isso foi cruel. — diz Bonnie séria.

— Ela é cruel. — afirma Emily com a voz nauseada.

De repente, Emily á surpreendida por uma tontura. Ela tenta se equilibrar estendendo seus braços, encontra apoio em Nate e Bonnie antes que pudesse cair. Ela se agarra ao braço de Nate tentando forçar suas pernas a manterem-se eretas. Mas sua queda é inevitável. Nate a agarra rapidamente e a segura antes que ela caísse. Os paramédicos que observavam a cena e esperavam a ausência de Cece correm para socorrer a garota. A visão de Emily é embaçada. Ela tem espasmos. Sua consciência vai e volta como uma lâmpada que é ligada e desligada. Ela tem esses pequenos relances de memória.

Acima de si uma lua dourada. Céu cor de sangue. Cometas negros. Uma velha cadavérica se aproxima dela e estende-lhe sua mão enrugada e seus dedos longos e magrelos. Os olhos brancos e a pele coberta por feridas como pedras flutuando sobre a lava de um vulcão.

Então ela acorda. Seus olhos doem por causa da luz. Ela pisca para se adaptar a luminosidade do local. A garota olha em volta e percebe que está em um quartinho pequeno. Está deitada sobre uma cama retangular e desigual com grades. As paredes são cor de creme. Há uma pequena poltrona ao lado de sua maca. Atrás de si encontra janelas com as persianas fechadas. Ela tenta se mover, mas sente algo trincando dentro de si. Emily fica imóvel e respira com dificuldade. Seu braço está rígido e enfaixado. Quando olha para seu corpo encontra-se vestida com uma túnica de papel.

Ao seu lado, algum aparelho desconhecido faz um agradável bip que poderia ser o único sinalizador de que realmente estava viva que ela podia realmente encontrar por ali.

Teimosa ela se arrasta pela cama até se aproximar a beira tentando chegar às persianas. Ela abre as persianas o suficiente para ver o céu. A enorme imensidão acima dela possui um tom prata com nuvens claras. No horizonte nascendo por entre as colinas verdejantes de Landevil, o sol jazia pichando o céu de um tom claro de vermelho.

Emily olha em volta novamente. Há uma pequena porta no canto oposto da sala. Ela espera que seja a saída. Mas quando se levanta para ir até lá, sente suas costelas trincando com força e sua visão parece ficar de cabeça para baixo. Ela se senta na beira da cama por alguns segundos e fecha os olhos.

Logo a tontura se ameniza. Ela se levanta e espera até que a repentina vertigem a deixe. Quando consegue estabilidade, ela anda até a saída. Abre a porta e encontra um corredor branco. A alguns metros, uma enfermeira está sentada em frente ao computador conversando com sua mãe Cece. Ela estreita os olhos para poder ver melhor e encontra a alguns metros Helena e Bonnie. Ela respira fundo e pensa num jeito de chamá-las.

Emily fecha a porta e massageia suas têmporas. Só lembra-se de ter acordado e sentir uma vertigem repentina que a levou a desmaiar. Agora, acordara no hospital.

— Ok, tenho que pensar. — sussurra para si mesma.

Ela localiza descansando na poltrona uma sacola de plástico branco com um pedaço de papel colado com fita crepe “VanCamp, Emily.” Ela abre a sacola e encontra todos os seus pertences. Inclusive um short curto negro, um moletom, uma camisa branca com uma pequena caveira de esmeraldas e o seu all star. Bem no fundo da sacola, encontra seu celular. Ela disca o número de Bonnie e olha para trás com medo de quem alguém entrasse por aquela porta.

No segundo toque, ela atende.

— Emily? — pergunta a garota com o tom inseguro e sussurrante.

— Sim. Sou eu! — grita Emily.

Ela tem a impressão que Bonnie afastou o celular da orelha.

— Você não está aqui no hospital? Como seu celular foi...

— Shh. Olhe. Tenho que sair daqui.

— Como assim?

— K está vulnerável hoje, Bonn. Pense!

Silêncio. Emily ouve uma série de sons estranhos e saltos ecoando até que o clic de uma fechadura trancando.

— Onde está? — quis saber Emily.

— No banheiro. Pode falar agora.

— Sim, retomando o assunto. K está vulnerável. Eu o machuquei. Deve estar achando que estamos num hospital, esperando que eu me recupere.

— E é isso que estamos fazendo.

— Exatamente! Temos que achar o covil desse desgraçado e matá-lo.

— Mas... Emmy. Eu e Helena conversamos sobre isso. E Nate também.

Emily se lembra de sua rápida conversa com Nate.

— Ah... Nate. — sussurra ela tão baixinho que nem Bonnie ouve.

— Achamos que devemos consultar o espírito de Megan. Helena afirma que podemos prender o espírito de Megan no nosso plano. Entende? Tipo, ela ficará tempo o suficiente para nos ajudar.

— Vocês contaram ao Nate onde o corpo de Megan está?

— Sim. Contamos que foi um acidente e que o nosso carro caiu na ponte e que o corpo de Megan ficou aprisionado lá por causa de um feitiço antigo.

— E ele acreditou?

— Dissemos que conseguimos sair do carro antes que caísse no rio. Qual é! Dá um desconto. Ele está maluco com essa idéia que K implantou em sua cabeça sobre algo a ver com Lola.

— Ok. Estávamos falando sobre o espírito de Megan. A questão que estou pondo em debate é... Quem disse que ela vai nos ajudar?

— Ela própria.

— Ok, tanto faz. Fazemos isso. Talvez ela saiba a identidade de K. Lembra o que ela disse? Que essas criaturas já estavam em sua cola...

— Sim. Temos que saber a identidade desse desgraçado. Outra coisa, Helena encontrou algo estranho em seu quarto enquanto procurávamos pelo machado de K.

— O que encontraram?

— Um pedaço de papel. Na verdade, um pergaminho de papiro. Muito antigo e escrito em hieróglifos. Sobre o machado, ele simplesmente sumiu! Acho que havia digitas o suficiente na arma para incriminá-lo. E a faca que você enfiou nele? Encontramos na bancada da pia completamente limpa. Sem digitais. Sem sangue. Sem pistas.

Emily fica absorta por alguns segundos.

— Eu já esperava por isso. K não é burro. Mas esse nome que você disse... H... O que?

— Eu sei. Eu também não sabia. Hieróglifos.

— Ok, então... O que é isso?

— Não importa, somente me escute. É um feitiço, Emily. Um feitiço para conservação de um corpo. Eu tenho uma suspeita sobre quem pode ser K, e essa teoria está se concretizando cada vez mais.

— Quem você acha que é?

— Você vai achar que sou louca.

— Somente experimente.

— Não. Depois eu te falo.

— Mas... Bonnie!

— Deixe-me terminar! — pede Bonnie — Como eu estava dizendo, iremos até o lago e iremos desfazer o feitiço. Helena afirma que sabe de cór o feitiço para firmar um espírito na terra.

— É magia negra?

— Um pouco.

— Bonnie...

— Idaí? Temos que fazer logo isso. Eu ficava sem transar por um ano se isso fizesse K desaparecer de nossas vidas. E iremos fazer isso juntas. Como uma verdadeira assembléia.

— Assembléia de três? Uau.

— Três fortes e determinadas bruxas.

— Mas antes vocês precisam me tirar daqui.

— Como?!

— Sei lá. Um feitiço?

— Será que existe um feitiço da invisibilidade?

— E eu sei lá! Pergunte para a Helena. Ela que decifrou o pergaminho?

— Sim.

— Quem diria que os nerds um dia iriam salvar o mundo.

— Δ —

Bonnie e Helena combinaram de distrair a enfermeira para que Nate ajudasse Emily a fugir. Depois de milhares de argumentos sem fundamento, Helena afirmou que Emily ficaria bem para Nate que concordou ainda que relutante.

“Os vasos sanguíneos dela dilataram! Em alguns segundos ela podia ter um aneurisma!” reclamava ele. “Algumas costelas dela estão trincadas! Sabe o que é isso?” ou “Ela quase teve traumatismo craniano. A enfermeira afirmou que aquela tontura pode ter sido sinal de hemorragia interna.”

Porém, Helena tinha certeza que com o feitiço certo, poderia curá-la.

— Cece, eu também não estou me sentindo bem... — afirma Helena.

Cece olha para trás e encara a garota.

— Ligue para sua avó. Faça aquela velha ter alguma utilidade além de ficar comentando sobre Ronald ou eu.

— Mas Mrs. VanCamp, ela está mal mesmo... Acho que o ataque realmente nos abalou muito! — comenta Bonnie.

Cece revira os olhos e estreita os olhos para Helena.

Procurando por uma solução rápida e chamativa, Helena apelou pelo drama.

— Ai meu Deus! O que é isso? Eu vou morrer! — grita a garota.

Bonnie prende o riso e coloca suas mãos no ombro de Helena como se fosse para apoiá-la.

Enquanto isso, Nate e Emily saiam do quarto agachados. Nate estava com seus braços passados pelos ombros de Emily e segurava a sacola da garota.

A enfermeira sai do balcão e corre até Helena. Cece a acompanha e se senta na cadeira disponível do lado esquerdo de Emily. A enfermeira coloca sua mão na testa de Helena.

— Ela está fria. — afirma.

— Ligue para avó dela. — manda Cece.

Enquanto isso, o casal avança em passos apressados e silenciosos pela sala de espera tentando chegar até a porta. De repente a porta de outro quarto vizinho ao de Emily se abre, Nate e Emily se jogam até a parede e se espremem para ficarem ocultos pela sombra. Sai da porta aberta uma enfermeira carregando um carrinho de ferro cheio de remédios.

Por sorte ela dobra na direção contrária.

Emily solta à respiração.

— Ok, agora vamos.

A enfermeira segue as ordens de Cece e se dirige até o balcão para ligar para Sandra Grayson. A velha mais fastidiosa de Landevil. Pelo canto do olho, Helena percebe que há duas silhuetas no pequeno espaço entre a parede e o balcão circular.

— Aaaaaaaaaaaaaaah! — grita Helena se jogando no chão.

A enfermeira arregala os olhos e corre até a garota. Cece fica paralisada e sem saber o que fazer. Olha em volta como se pudesse encontrar por uma solução. Bonnie bate nas costas de Helena com força chorando de tanto rir — porém, disfarçadamente.

— O que ela tem? — grita Cece assustada.

— Eu sei lá.

— Mas você é enfermeira!

Nate olha para os lados e guia Emily pelo corredor rapidamente até a porta. À medida que a porta de vidro de aproxima, ele fica ainda mais relutante sobre sua decisão. Finalmente, eles se chocam contra as portas e saem. Emily se levanta e respira fundo levantando suas mãos. Os dois riem e Emily pega seu celular enviando uma mensagem para Bonnie.

Enquanto isso, Helena faz a melhor encenação de sua vida com direito a gritos, lágrimas e a convulsões. O celular de Bonnie apita e ela encara a tela. É uma mensagem de Emily. Ela abre a mensagem e lê rapidamente.

— Solte isso e me ajude aqui! — cobra Cece dando um tapa na mão de Bonnie.

A garota pisca os olhos rapidamente como se tivesse acordado de um transe. Ela se aproxima do ouvido de Helena e sussurra ao seu ouvido:

— Emily já saiu com o Nate.

Helena não demonstra nenhuma reação, porém continua tossindo. A enfermeira bate um pouco em suas costas. Milhares de pensamentos passam-se pela cabeça de Helena para que pudesse sair dali, mas nenhuma situação lhe parece boa o suficiente para servir como desculpa. Discretamente, ela olha em volta e encara Cece.

— Ah, sua jumenta! Deixe que eu mesma ligo para aquela velha patética.

Cece se levanta se sua cadeira e disca o número de Sandra. Helena para de tossir e encara a enfermeira. Nos olhos castanhos e pusilânimes da mulher, Helena encontra uma solução. Suspirando ela fecha seus olhos e finge um desmaio. A enfermeira a encara atônita e por alguns segundos, não consegue respirar.

— Olha aqui sua velha... Eu? Há! Não se atreva a me chamar de... Sua... Deixe-me falar, pelo ou menos! Vá tomar no seu... — grita Cece para o celular.

A enfermeira tenta gritar freneticamente gesticulando para Bonnie que solta uma risada alta. Cece olha para trás e quando encontra Helena estendida no chão. Cece põe uma mão na testa e começa a se abanar com a outra.

— Oh... Deus!

Bonnie a encara por alguns segundos pressagiando o desmaio de Cece. Por sorte, ela somente se apóia no balcão de atendimento e revira seus olhos olhando para cima.

— Socorro! — começa a gritar ela. A voz sôfrega.

Bonnie arregala seus olhos ao perceber o que iria acontecer em seguida. Rapidamente ela se ajoelha ao lado de Helena e passa o braço da garota sobre seus ombros. Helena semicerra seus olhos e vê Cece com os joelhos dobrados prestes a cair enquanto se equilibrava em seu salto alto e monstruosamente belo do Viktor e Rolf. Helena se segura em Bonnie e se levanta. Elas correm o mais rápido que podem com suas sapatilhas para não produzir barulho.

Finalmente, elas saem do hospital respirando ar puro.

Helena e Bonnie explodem de risos. Emily as encara com o rosto inexpressivo.

— Vocês deveriam ver o que houve lá dentro... — afirma Bonnie rindo.

— Não temos tempo para isso, precisamos ir até o rio. — relembra Emily.

— Você está bem mesmo, Emmy? — questiona Nate se aproximando carinhosamente de Emily por trás e deslizando sua mão pelo braço da garota.

— Sim, Nate. Eu estou bem.

— Eu peguei alguns remédios. — ela tira da bolsa vários fracos de remédios e comprimidos abrindo sua mão para exibi-los — Têm aspirina, alguns analgésicos e... Hm... Ah! Achei. Chama-se L-lo-ra-ar... — Bonnie tenta ler inutilmente o nome do remédio.

Helena tira o frasco de plástico da mão da garota e lê.

Lorazepam. Vai servir.

— Ok, agora temos que sair daqui. Nate, onde estacionou seu carro?

Nate aponta para uma vaga onde seu carro estava estacionado a alguns metros abaixo da luz de um poste. O ar úmido faz Emily espirrar. Bonnie se aproxima dela e seus olhos a afrontam preocupados.

— Eu estou bem gente, sério. — afirma ele esfregando seu nariz com força. — É esse tempo úmido.

Eles continuam a caminhada até carro. À medida que se aproximam, Helena vai discernindo alguns traços estranhos na lataria do carro. Ao chegar perto o suficiente, ela entende a mensagem.

Pichado no carro de Nate, estava uma mensagem.

Estamos no período de caça? Vamos esclarecer que não sou eu que estou no papel de caça, certo garotas? E Nate, que bom que se juntou ao grupo! Cuidado para não se enturmar com essas mentirosas, elas podem corromper tanto seu coração quanto sua mente. Lola sabe bem disso.

— K

O grupo fica em silêncio por algum tempo encarando aquela mensagem pichada em tinta vermelha que deu um bom contraste com a lataria negra. Emily nem ousa respirar.

— Por que ele continua mencionando Lola assim? O que ela tem haver com essa história?

— Ele é só um idiota maluco. Vamos. — afirma Helena cortando qualquer questionamento que Nate pudesse fazer. Emily lhe lança um olhar terno de gratidão e ela lhe dá uma piscadela.

Obediente Nate destranca as portas do carro com um ruído abafado e se senta no banco de motorista. Ele liga o motor e o carro treme debaixo de seus pés. O garoto engata a ré e acelera. Os pneus cantam melodiosamente no asfalto molhado. O carro dispara pelo estacionamento e entra numa pequena estradinha pelo bosque.

— Ponham o cinto de segurança. — pede Helena categoricamente.

Emily ignora seu pedido com um estalo de língua. Bonnie ridiculariza a situação.

— Ok, Louis Thorne.

— Qual a ponte? — pergunta Nate virando o pescoço para olhar para as garotas que estavam no banco de trás.

Nesse momento um vulto aparece no caminho.

— Nate, cuidado! — gritam em uníssono.

Nate vira-se rapidamente a tempo de manobrar o carro e jogá-lo contra o mato. O carro balança forte com o tombo. Os galhos das árvores se chocam como o pára-brisa como garras tentando agarrar o carro. A luz dos faróis não são o suficiente para iluminar o caminho escuro à frente. Nate sente o volante vibrar sobre suas mãos enquanto o carro passava por cima de galhos velhos e retorcidos, pedras e qualquer outra coisa que estivesse no caminho. Num ato espontâneo Nate pisa no freio. A energia presente no corpo das garotas joga seu corpo para frente. Emily se choca contra o banco com força e xinga. Bonnie estende seu braço que absorve o choque. Porém, entre todos somente Helena estava com o cinto de segurança.

— Eu disse. — alega Helena com a voz entrecortada.

— Cala a boca, vaca. — xinga Emily massageando sua cabeça.

Nate vira seu corpo olhando para trás.

— Garotas, vocês estão bem?

— Sim, estamos. — afirma Emily.

— Que diabos foi aquilo?

— Um cervo?

— Ah droga, você atropelou Bambi. — brinca Bonnie.

— Bonnie, eu acho que irei aceitar os remédios.

Bonnie abre sua bolsa e despeja na palma de Emily alguns comprimidos de aspirina, alguns analgésicos e lorazepam. Respirando fundo Emily coloca os comprimidos na boca e umedece sua língua o suficiente para ajudar na descida dos comprimidos.

— Mais cuidado Nate. Essa estrada é perigosa. E ainda está amanhecendo, a estrada de terra é escura.

— Sim. Valeu. Terei mais cuidado.

— O nome da ponte é Bridge of Native Walkers.

— Próximo ao cemitério indígena?

— Sim.

Emily coloca seu cinto de segurança e encosta sua cabeça no banco.

Nate liga o motor do carro e dá macha ré novamente. O caminho que se seguiu foi tranqüilo se excluir o fato dos solavancos violentos, tombos e ruídos. Finalmente, Nate dirige o carro até um arco de galhos retorcidos. A ponte ficava a somente alguns metros à frente. O atalho pelo sul os ajudou a chegar a tempo. O garoto dirige até a encosta da ponte e estaciona o carro a beira do desfiladeiro.

Bonnie abre a porta ao seu lado e quando se prepara para descer do carro encontra seu pé prestes a pisar em cima de um cogumelo venenoso coberto por lesmas e bactérias que se alimentavam do musgo.

— Ugh... — lastima Bonnie dando um pequeno pulo.

A descida do desfiladeiro é um aclive coberto de musgo com algumas pedras soltas. Emily se agarra a Nate durante a descida. Helena abre seus braços ao descer tentando se equilibrar ao máximo. O céu agora possui um tom rosado por causa do sol. A madrugada de Landevil lança dedos fantasmagóricos arrastando-se pelo chão. A névoa espirala em torno das pernas torneadas de Helena como se tentasse agarrá-la. Esse pensamento a faz estremecer.

— Helena... — chama Emily assustando-a.

— Oi.

— Bonnie me contou que você encontrou um pergaminho em meu quarto.

— Sim.

— Pode me mostrar?

— Claro.

Helena tira do bolso de sua calça jeans um pedaço de papel amarelado e com aspecto antigo dobrado. Ela desdobra o pergaminho e entrega para Emily. Ela estica seus braços ao máximo para analisar o pergaminho. Havia somente uma inscrição feita de um material parecido com carvão no centro. Eram desenhos.

Emily prende a respiração. Seus músculos enrijecessem como se jogassem um balde de água fria sobre seu corpo.

— Essa caligrafia... Está vendo esse “i”? — pergunta Emily freneticamente apontando para uma palavra escrita acima do texto em hieróglifos. Estava escrito Corporis recuperatio.

— Sim.

— O que essa palavra significa?

— Recuperação Corporal.

— Que pode ser usado para?

— É magia negra. Pode reviver uma pessoa. Reanimar seu sistema nervoso, reativar seu coração, reiniciar o envio de sinapses para o cérebro. Requer a morte de outro ser humano. A vida de um, pela de outro.

— Sim... Sim... Sim! Apenas me escute! — pede Emily gesticulando para Bonnie se aproximar.

Nate adianta o passo indo até a margem do rio. Elas diminuem o passa para que pudessem conversar.

— Lembram daquela confusão com Jenna há cinco anos? — pergunta Emily com a voz insegura. As meninas nãos respondem. — Olhem. Quando Megan empurrou Lola em cima daquela monte de bosta de carneiro no Leilão Rural na fazenda do Mr. Garret Jones?

As garotas riram.

— Sim, lembro. — afirma Helena colocando a mão na boca para tapar o riso.

— Lembram o que Jenna fez? Escreveu com um piloto na testa de Megan “Vadia.” Lembram do “i” dela, que tinha o pingo em forma de coração? Lembram que a Mrs. Pamela sempre reclamou daqueles pingos de coração? Agora observem o título no pergaminho. O jeito como o “i” foi escrito.

As garotas encaram o pergaminho e logo a revelação cai com um peso enorme sobre os ombros de Bonnie. A garota arfa surpresa e prende a respiração.

— Jenna é K.

— Não. Isso pode ser uma pista falsa. Pode ser somente K querendo incriminar uma pessoa por um crime que não cometeu. Já falamos sobre isso! — relembra Helena tentando raciocinar.

— Por um lado Helena está certa. Mas será que K nunca pode cometer um deslize sequer? Jenna pode realmente ser K! Ela tem o motivo. Ela tem o poder para fazer isso.

— Ela pode ser uma puta. Mas nunca aceitaria um demônio dentro do seu corpo! — assinala Helena.

— Ela aceitou ser fodida por Tyler. Por que não aceitaria um demônio?

— Bonnie! — grita Emily perplexa.

— Eu só falei a verdade.

— Garotas... Não temos o dia todo.

A frase ligeiramente lembra algo a Emily. Porém, ela não consegue discernir o que. Talvez alguém tivesse usado a mesma frase há a determinado tempo. As garotas descem pelo desfiladeiro até a margem do rio.

— Estão prontas para quebrar o feitiço? — pergunta Helena.

— Sim. — respondem as outras ao mesmo tempo.

Elas fazem um círculo e dão as mãos. Fecham os olhos e esperam por Nate. O garoto fica paralisado. Bonnie abre somente um olho encara o garoto.

— Morreu? Está esperando um convite formal ou o que?

Nate arregala os olhos.

— Eu?

— Sim, você servirá como uma vela. Iremos canalizar energia de você. — avisa Helena.

— Isso até parece sexy. — assinala Bonnie.

— Se por acaso você se engraçar com meu namorado juro que vou te dar um tabefe que vai te levar pro espaço.

Bonnie ri.

Nate anda relutante até elas e estende suas mãos. Helena pega a mão do garoto se imediatamente sente uma grande onda de força positiva sendo passada para si. Nate geme baixinho. O garoto sente um sentimento parecido com o prazer. Porém é algo mais forte, como uma conexão mental. Sentiu-se fundido ao corpo de Emily, Bonnie e Helena ao mesmo tempo.

— Vamos começar. — avisou Helena.

Vox iam sto ante vos transgredimini signaculo creata sum me reserans in cataracta qui seras mihi quis sit pretiosum. Quod mihi reducit errorem, thesaurus meus cupio veni. Inde patet sera et clavis periit paulisper ad dominum. Ego reseras cataracta nunc.*

Aos poucos, Nate vai se sentindo cada vez mais conectado com aquelas garotas. Suas veias ficam ressaltadas sobre sua pele alva. Era como se algo de coloração negra passeasse por suas veias até elas. Ela encara seus braços com puro terror. As veias ressaltadas pareciam prestes a explodir.

Helena aperta sua mão num aperto de aço. De repente, ela solta. As garotas se afastam por alguns segundos. Emily ajusta o moletom ao seu corpo e cruza seus braços.

De repente, pequenos cascalhos que cercam a margem do rio começam a assumir um tom negro e a tremer. Os cascalhos começam a virar cinzas, como se todas as moléculas da pedra se desintegrassem aos poucos. Logo, os cascalhos que cercavam a margem do rio viram pó castanho. O pó espirala por alguns segundos no ar até seu levado pela ventania até o céu rosado formando espirais de pó.

— O que foi isso? — perguntou Nate. Sua expressão um misto de admiração e irresolução.

— Os cascalhos eram os agentes de ligação do feitiço.

De repente, a água começa a borbulhar.

Emerge da água uma silhueta humana. Era o corpo de Megan. Conservado por estar emerge na água fria do rio. Helena suspira e tira do seu bolso um canivete. Emily arregala os olhos e a encara.

— O que é isso garota?

— Tenho que tenham um símbolo no corpo de Megan para aprisionar seu espírito aqui. O mesmo que os egípcios antigos usavam nos corpos mumificados para mantê-los presos nas pirâmides.

— Ok, Bruxópedia. — brinca Bonnie.

Helena anda até a margem do rio e entra na água fria. Seus músculos parecem gelar quando sua pele entra em contato com a água. Respirando fundo, Helena dá um passo de cada vez até o corpo que flutua no rio. Seus pés afundam no fundo escorregadio e pegajoso do rio. Aos poucos, ela vai percebendo que o rio vai ficando cada vez mais fundo. Então ela percebe que seus pés não tocam mais o chão enlameado do rio. Ela começa a nadar. Sente seus braços endurecerem e logo começa a tremer. A névoa paira sobre a superfície escura do rio como uma nuvem sobre uma pequena planície. Helena se vê perdida em meio ao nevoeiro denso. Ela começa a brandir seus braços em busca de algo. De repente, sente algo agarrando seu pulso. Helena grita e golpeia o ser invisível com seu canivete. Porém, não havia nada a sua frente.

— Está tudo bem aí, H? — grita Emily.

Seu coração erra uma batida ao ouvir o grito da garota. Ela revira os olhos e responde mal humorada. Depois de nadar por mais alguns minutos, ela encontra o corpo boiando no rio. Helena se aproxima relutando e encara o corpo de sua amiga flutuando sobre a água.

Os cabelos castanhos da Megan estavam esparramados pela água. Os fios soltos formando um leque sobre a cabeça da garota. O rosto, embranquecido e molhado. Os lábios possuem um aspecto rachado e arroxeado. Com delicadeza, Helena segura à cabeça de Megan sentindo o corpo frio do cadáver em contato com sua pele. Com o canivete, ela crava a lâmina na testa de Megan. O sangue brota do corte lentamente e somente uma fina linha escorre pela testa da garota. Helena crava o canivete ainda mais fundo na carne sentindo seus dedos tremerem. Ela fecha seus olhos e tenta controlar sua respiração. Podia sentir a pele e a carne austeras cedendo à lâmina cortante do canivete.

Helena entalha um hieróglifo que representa prisão. Ela limpa a lâmina suja agitando na água ligeiramente. A garota encara o seu trabalho e coloca a palma de sua mão sobre o ferimento. As palavras simplesmente pareciam não vir a sua mente. Ela luta para encontrar palavras. Sempre foi tão boa em decifrar códigos, um dos seus dons adquiridos pela magia foi o conhecimento diversificado por línguas. Mas naquele momento todo aquele conhecimento parecia inútil. Ela tenta relaxar e entrega seu corpo ao seu próprio poder. Logo, ela começa a falar em egípcio como se fosse o idioma de sua pátria.

O hieróglifo presente na resta de Megan brilha com um jato de luz azulada que corta a névoa.

Emily arfa surpresa e agarra a mão de Nate automaticamente. A luz azulada se estende de forma macabra pela densa parede nebulosa formando um símbolo estranho. Ela fica esperando por Helena, porém, começa a perder as esperanças depois de alguns minutos. Pensa em gritar por ela, mas é como se sua garganta estivesse trancada por algo.

Ela pode sentir o nervosismo de Bonnie também.

Logo, duas silhuetas aos poucos tomam forma no nevoeiro. Uma era alta demais, e a outra parecia ser baixa demais. Somente depois, Emily entende aquela diferença.

A primeiro ser flutuava sobre a água. Emily logo reconheceu aquele rosto meigo e ao mesmo tempo aquela feição selvagem. Os olhos cor de mel e os lábios rosados. Era Megan. O espírito da garota flutuava ao lado de Helena, que estava parcialmente submersa no rio.

Algo na expressão facial de Megan a fez dar um passo a trás.

— Megan! — grita Bonnie correndo para a água.

— Não se aproxima dela. — avisa Helena se pondo entre Bonnie e Megan.

— Bando de vadias egoístas. Nem me deixaram aproveitar esse tempinho livre dessa prisão, e já prenderam meu espírito ao meu corpo. Agora só poderia ir quando enterrarem-me de forma adequada. Fodam-se vocês.

Emily a encara surpresa.

— Como assim, Megan? Não irá nos ajudar? — pergunta Bonnie. O tom de voz sugeria que ela estava prendendo o choro.

— Lógico que não. Eu iria infernizar vocês enquanto não me libertarem dessa nova prisão.

— Só queremos ajuda!

— Ah, danem-se! — grita Megan.

— Com quem vocês estão falando? — questiona Nate encarando as garotas como se duvidassem da sanidade delas.

— Ah, o namoradinho da Emily. Na verdade, você o roubou de mim.

— Ele nunca foi seu.

— Cale-se, vadia. Sabe, obrigatoriamente, vocês me vêem. Por que são responsáveis por minha morte. Mas eu aprendi alguns truquezinhos, posso aparecer para outros de vocês. E adivinha, eu quero ter uma conversinha particular com o Nate. Contar-lhe algumas coisinhas.

Emily a encara atônita.

Megan sorri. Seus dedos longos e fantasmagóricos tremeluzem quando os primeiros raios solares incidem em seu corpo transparente.

— Não ouse. — ordena Helena. A voz autoritária.

— Me impeça!

Emily observa Nate. De repente, sua feição inexpressiva assume traços de surpresa.

— Oh... Megan! — fala ele.

— Olá, querido. — fala ela se aproximando dele. A voz estranhamento sensual e doce.

Emily vai até Nate e o abraça. Ela encara o fantasma a sua frente. Os olhos violetas de Emily brilhavam numa chama de puro ódio.

— Não adiante me olhar desse jeito, eu irei contar. É melhor saber por mim, do que saber por K, concordam? Aliás, eu sei sim quem é ele. Eu posso ter ajudado vocês naquela casa. Mas agora não mais. Não quando vocês têm a chance de me libertar, e são mesquinhas o suficiente para me prender aqui.

— Mesquinhas?! — grita Bonnie — Você é uma verdadeira vadia. Nem Lola chega aos seus pés. Você nos manipulou para executar uma vingança somente por uma paixão passageira.

Megan não dá atenção a Bonnie.

— Sabe Nate, isto daqui é um tabuleiro de xadrez. Elas são as rainhas, e você é o peão. E adivinha quem é a rainha do outro time? K. Ele também tem seus peões. Como Edward.

Nate arregala os olhos.

— O que Edward tem haver com isso?

— Conexões. Ele foi só um corpinho que serviu para que K matasse... Aquela vadia.

— Não fale assim da Lola.

— Você diz isso agora.

— Pare! — grita Emily.

— Pare, Megan! Eu fiz a marca em sua testa, e vou deixá-la lá para sempre se não me contar agora a identidade de K e parar de fazer seus joguinhos. — ameaça Helena.

— Eu já estava presa antes e estou agora também! Somente mudei de lugar. Do fundo do rio para a superfície.

— Você é mais livre quando está aprisionada ao seu corpo.

— Livre? Estou aqui do mesmo jeito!

— Megan, quando esta aprisionada ao seu corpo, você pode falar conosco livremente. Pode se distanciar o quanto quiser do rio.

— E vocês vão deixar meu corpo aqui?

— Não pensamos nisso... — comenta Bonnie num fio de voz.

— Pensamos sim. Iremos usar um feitiço de invisibilidade sobre seu corpo.

Megan revira os olhos e a ignora.

— Querido Nate...

Emily coloca suas mãos protetoramente sobre Nate.

— Eu quero ouvir o que ela quer falar! — afirma ele.

— Mas...

— Sem mais, Emily.

A garota fica encarando-o sem palavras.

— Talvez seja a hora de contar tudo. — afirma Bonnie desistindo.

— Suas amigas e eu, planejamos uma pequena vingança contra Lola. — conta Megan. Nate ficou inexpressivo. Emily analisava cada traço de seu rosto. — Só que, meio que deu errado. O carro dela caiu no rio. E eu fui buscar seu corpo que estava preso no carro, porém não consegui levá-la até a superfície por causa do peso do corpo. Então, suas queridas amiguinhas pegaram o corpo de Lola e simplesmente me largaram.

— Pensávamos que estava morta! — protesta Helena. — E Lola precisava de ajuda.

— Então, elas lançaram um feitiço sobre o rio criando um cadeado. Para que o meu corpo nunca fosse encontrado. Passei dois anos aqui, sentada na beira dessa ponte encarando o rio. Não podia me afastar. Numa situação emergencial, consegui ir até a Rua Apple. Que foi quando ajudei essas vadias a escapar de K. Eu queria ajudá-las, sabe. Por que talvez, elas poderiam me libertar.

— Então você nos ajudou para depois cobrar a quebra do feitiço? — questiona Bonnie com a voz exaltada.

— Acha que depois de tudo eu ainda iria querer vocês vivas? — responde ela com a voz impregnada de nojo. — Em seguida, levaram Lola até o hospital. E adivinha? Ela acordou sem memória. Sem lembrar-se de nada do que aconteceu. E sem perceber, se tornou amiga daquelas pessoas que arruinaram sua vida.

Sem falar uma palavra, Nate dá meia volta e sobe o desfiladeiro. Um sorriso se espalha pelo rosto de Megan. Bonnie e Helena se entreolham. Emily anda atrás de Nate tentando pará-lo.

— Hey! Nate, me espere! — pede ela puxando o ombro do garoto.

E então ele se vira abruptamente jogando Emily no chão. Ela cai no chão sentada. Ele a encara com os olhos avermelhados e marejados. A expressão facial parecia ilegível pela quantidade de sentimentos mesclados. Ódio, raiva, remorso.

— Você... Mentiu para mim! Mentiu sobre Megan, sobre Lola, sobre o feitiço, omitiu a verdade sobre K! O que mais? Mentiu sobre seu amor por mim também?

Emily o encarou enquanto segurava o choro. Nate a fita seriamente por alguns segundos.

— Eu sou humano, Emily. E perdão não é uma característica humana. Ninguém pode perdoar inteiramente uma pessoa. Espero que K foda com essa sua vidinha de merda. Sabe o significado de saber que sua namorada esconde segredos de você e ainda é responsável pela perda de memória e a morte de sua amiga?

— Somos vítimas nessa história! Megan...

— Não faça isso. — pede ele. A voz estranhamente terna. — Não culpe a Megan. Por favor. Somente, cale a boca.

Emily abaixa a cabeça e encara o chão. Nate se vira e anda até o seu carro. Ele entra e liga o motor. O garoto acelera fazendo os pneus cuspirem areia. Nate dirige até a estrada e se distancia aos poucos, sumindo na estrada.

Emily desata a chorar colocando suas mãos sujas de areia no rosto. Bonnie e Helena perguntam a si mesmas se deveriam ir até lá. O fantasma de Megan sorria satisfatoriamente.

O celular de Emily apita sinalizando uma nova mensagem.

O coração de Emily gela. A última coisa que precisava era de mais uma provocação de K. Ela abre a mensagem e lê rapidamente.

Não brinque com fogo. Ele pode te queimar. Eu já me queimei e aprendi a lição. Mas tu irás queimar no fogo do Inferno. Fazendo companhia a Edward, Lola e a Megan. Se não gostou do seu tempinho insignificante no Purgatório, imagine viver lá toda a eternidade! Tenha um bom dia linda.

— K

A simples menção da palavra Purgatório trás um relance de lembranças para Emily. De repente, ela se vê envolvida por cenas que preferia não ter que reviver de modo tão realista em sua cabeça. Mas quando abre os olhos, Emily VanCamp se lembrava de detalhes que a magia presente no Purgatório a forçava a esquecer.


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Notas finais do capítulo

Bom, outro capítulo depois do maior atraso ever. Desculpem por isso.
Espero que tenham gostado desse capítulo e obrigado por ler! ^^
Se existe algum leitor Nemily (Nate + Emily), espero que não fiquem tristes. Por que esse é o final definitivo do casal. Por enquanto... Ou não. But, continuando. Eu acho que esse capítulo foi bem esclarecedor em alguns pontos. A explicação para a perda de memória da Emily é simples e lógica: assim como Megan quando vinha até o Outro Lado, sua conexão é completamente cortada e ao invés de ir até o Vácuo, ela vem até o nosso mundo e só mantém lembranças do mesmo. Porém, Emily conseguiu vencer essa barreira e agora sabe de alguns detalhes do que aconteceu no Purgatório.
Para quem gosta da Megan, ela terá seu momento de heroísmo no próximo capítulo. Agora, vamos a estrelinha do conhecimento...
* Neste momento diante de vocês eu quebro o selo que eu mesmo criei destrancando o cadeado que tranca aquilo que me é precioso. Aquilo que pode representar o meu erro, ou o meu tesouro, quero que venha a tona. Que o cadeado esteja aberto e a chave a pouco perdida volte até seu dono. Eu destranco o cadeado, agora.
E para vocês leitores, prometo que o próximo capítulo será É-P-I-C-O. Leiam o título e tirem suas próprias conclusões:
"The end of K."
PS¹:. Fiquei excita quando estava escrevendo o resumo véi! HAHA
PS²:. A identidade de K será revelada no próximo capítulo! o/
PS³:. Obrigadão especial a Cadu e a Camila Rosier, que recomendaram minha história! Valeu por valorizarem, ok? Beijos seus lindos :)