Supernatural escrita por Sansa Thorne


Capítulo 10
This is not Wonderland Part. II


Notas iniciais do capítulo

Emily, Megan, Edward e Gavin partem na missão de encontrar a tal criatura capaz de levar Emily até o seu lar. Na jornada, a tensão reina entre Megan e Edward, já que a garota fez um mau inimaginável para o garoto. À medida que o tempo vai passando, Emily vai conhecendo cada vez mais sobre esse mundo perigoso incluindo como usar magia. A tardar, Emily se questiona sobre a origem de seus poderes sobrenaturais. Será que ela conseguiu isso de maneira natural ou Megan tem um dedinho nesse processo? Finalmente, eles chegam até seu destino, mas o preço cobrado pelo djinn não é algo barato. É de gelar a alma, literalmente.



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(...) — Esses monstros já estavam em minha cola. Eram fáceis de driblar. Mas eu trouxe esse mal. Esse monstro é de um poder inacreditável. Vocês precisam se unir para destruí-lo. Esse momento está próximo. — conta Megan.

(...) — Não consigo ouvir o pulso dela. — diz Helena com a voz desconsolada.

(...) Ela estava vendo diante dos seus olhos Edward Simon e Megan Khan. Seus falecidos amigos.

(...) — Essa é Emily. — Megan ri — Emily, esse é Gavin. Gavin VanCamp

(...) — Entenda, amor. O purgatório é um lugar onde as almas daqueles que viveram sobre a terra são enviadas. O purgatório é a linha entre o Céu, a Terra e o Inferno. Entende agora por que está aqui? Por que tu estás sobre a linha da Morte a da Vida. Esse é um lugar tortuoso para humanos, querida. — conta Gavin (...)

(...) Aparentemente Megan estava usando um demônio para arquitetar uma vingança contra Lola. Mas ela se arrependeu e tentou banir o demônio, que acabou se revoltando contra ela o que resultou numa batalha entre ambos. Então foi quando Megan recorreu até as garotas e lhes contou sobre o livro. Mostrou a elas o que era o verdadeiro poder as inebriando com sonhos impossíveis. Quando ela pôs o plano em ação, acabou morrendo e está aqui desde o acidente.

(...) — Bruxos. Da pesada... Tipo, magia negra. Um bruxo se torna um djinn quando mexe com aquilo que desequilibra a natureza para satisfazer seu próprio desejo. O tempo, a morte ou o amor. Eles são condenados a ter espíritos dentro de si, torturando-o. Pedindo-lhe favores. Essas criaturas são condenadas a realizar os desejos dos outros para sempre.


Não há como determinar a exata hora do dia da partida do grupo.

O céu continuava do mesmo tom de vermelho. Nem mais claro, nem mais intenso.

Mas de uma maneira ou outra eles partiram. Os quatro com mochilas nas costas e armados. Gavin dera a Emily uma faca de caça com uma inscrição no cabo de madeira. “Com amor, Jane.” Emily ficara passando seu dedo indicador por aquela inscrição, sentindo onde o talhador forçara mais forte na madeira usada para inscrever a frase.

— Você está bem? — perguntou Gavin enquanto eles andavam pela floresta.

— Sim. — responde ela sem pensar.

O grupo anda por mais alguns metros em silêncio.

Megan olha para Edward de relance. O garoto permanece calado e de cabeça baixa com as mãos no macacão. Megan olha para Gavin. Ela se sente estranhamente acolhida por aqueles olhos sábios e afáveis. A garota tenta reunir coragem o suficiente para falar com Edward. Explicar sua situação. Dizer que estava profundamente arrependida pelo acontecimento. Ele poderia negar? Poderia ignorá-la?

Respirando fundo e prendendo o ar, Megan se aproxima de Edward timidamente. Ela olha para trás e Gavin acena encorajando-a. Ela olha para Emily e encontra a garota olhando para a faca de caça que ganhada de Gavin. Megan passa uma mecha de cabelo para trás da orelha e olha para Edward.

O garoto andava calmamente olhando para a lua. As mãos no bolso. A cada passo parecia que o garoto iria cair, como se ele não tivesse nenhum resquício de força para lutar por nada mais.

— Olhe, Edward... Eu sei que eu menti pra você. Que errei em não te contar sobre o que aconteceu... — começou ela falando rapidamente com medo de ser interrompida.

— Por favor, eu não quero suas desculpas. E não lhe peço nada, só quero que aceite meu silêncio. Entre a verdade e a mentira, eu prefiro o silêncio. Ele pode ferir a ti, mas também fere a mim. E é isso que estou tentando lhe passar. Que o silêncio e o tempo curam tudo.

— Quer me torturar com o silêncio?

— Não basta?

— É mais que o suficiente.

— Ótimo.

— E é isso? Vou ficar imaginando o que se passa em sua cabeça. Irei ficar delirando! Não faça isso, por favor. Nada mais cruel do que prender a pessoa em sua própria imaginação.

— Bom, você sabe muito bem de crueldade.

— Eu me sinto um monstro. Mas preciso de ti nesse momento.

— Você se sente um monstro? Você é um monstro.

— Sim, eu posso ser um monstro. Mas você é um verdadeiro idiota.

Inesperadamente Edward dá um soco no rosto de Megan. A garota é jogada para trás até se chocar contra uma árvore. Edward atraí a atenção de Emily e Gavin que direcionam seu olhar para o casal. A tensão paira no ar.

— Puta merda... — sussurra Emily surpresa.

Edward se recompõe e respira fundo mexendo seus ombros como se fosse para aliviar a pressão dos músculos.

— Você é uma vadia! — grita apontando para ela — Você distanciou Bonnie de mim, para começar. Ela sempre guardava segredos. E eram na verdade seus segredos. Depois você morreu, machucou a menina que eu amo. Ela ficou em pedaços, e eu assisti aquilo sem poder fazer nada. E depois Lola morreu. Você sabe o que é ver a pessoa que você ama sofrer duas vezes? E o pior, quando você é o causador dessa dor! Eu me odiei, repudiei e amaldiçoei o dia em que nasci.

Gavin nem se quer teve coragem para pedir que ele parasse de gritar.

Emily assistia absorta olhando com um sentimento semelhante à clemência, mas não chegava a tanto.

— Eu me torturei por muito tempo naquela cela. Perguntando-me se teria sido eu. Se eu era um maluco. Preocupado com o futuro que minha família planejou para mim, pensando no futuro que eu planejei para mim. Pensando no futuro que Lola planejara para ela! A garota é só uma pobre vítima de toda essa teia de mentiras. Eu luto todo dia pela sobrevivência aqui nesse lugar. Você acha que eu nunca me perguntei se valia a pena eu continuar? E o que você faz? Tenta se vingar de uma garota por causa de uma bobagem. Intriguinhas! O que ela disse? Que seu cabelo estava feio? Que seu batom estava fora de tom?

— Ela roubou o Nate de mim... Eu mataria qualquer uma por ele... — sussurra Megan.

Edward arregala os olhos e olha para Emily com um sorriso no rosto que se alargava de uma orelha a outra. Ela balança a cabeça negativamente, pedindo para ele não falar. Ele assente e volta sua atenção para a garota aos seus pés. Gavin percebe a olhadela entre sua bisneta e o garoto.

— Então foi tudo isso por Nate Cullen. Um garoto. Eu morri por sua causa! — grita ele encarando-a. Lentamente, Edward se aproxima de Megan que se encolhe se abraçando ao tronco da árvore — Você é uma dissimulada. Eu estou pagando por seus erros. Suas amigas estão pagando! Uma delas chegou a quase ser morta por causa de ti. O que você estava pensando?! — grita o garoto. Suas veias estavam sobressalentes nas têmporas e na testa — Invocar um demônio? Usar bruxaria para castigar uma garota simplesmente por ela ser capaz de amar? É isso Megan. Você devera usar a bruxaria para conseguir amar. Você sobrevivia. Só se vive quando se aprende a amar. — reclama abrindo os braços — Está vendo isso daqui? — pergunta ele abrindo o macacão da prisão de mostrando um corte na sua barriga que fora colado com cola cirúrgica — Minha mãe é forçada a viver com a imagem de seu filho aberto ao meio em sua cabeça todos os dias. Você pelo ou menos tem a chance de ver eles do Outro Lado, e eu? O que você acha? Tenho que ficar longe dela! Enquanto eu estava aqui, fugindo de uma criatura, ela provavelmente assistia colarem a barriga de seu filho.

— Não é minha culpa! — grita Megan se levantando e empurrando Edward — Não diga que isso é minha culpa!

Edward se desequilibra por alguns segundos.

— É sua culpa! É sua culpa sim! — grita ele empurrando-a de volta. Megan caí no chão. Edward se joga sobre ela e segura suas mãos no chão — Olhe para mim! Olhe para mim! — grita ele enquanto ela virava o rosto — Olhe para mim! — grita pausadamente esperando que ela olhe.

Gavin tenta se mover. Mas fica somente olhando para aquela cena. Sentia uma enorme gama de ódio vinda de Edward. Sabia que o garoto merecia aquele momento. Tinha que desabafar. Tinha que saber o porquê de estar ali. Parecia um tipo de piada infame. A vida de Edward fora salva tantas vezes no Purgatório por causa de Megan, como quando foi levado pela correnteza, quando na verdade nunca teria morrido se não fosse por causa da garota.

Emily sente uma sensação engraçada aflorando na boca de seu estômago e tomando todo o seu corpo, cada célula que era levada por seu sangue. Sentia como se seu coração estivesse com as artérias retraídas. Era uma sensação pilhérica. Chegara ao prazer ao ver aquela cena. Ao ver Edward vomitando na cara de Megan tudo aquilo que ela queria ter a chance de falar.

Emily se sentia um monstro. Lembra-se de quando estaria abraçando sua amiga e repudiando Edward.

Acho que a linha entre o ódio e amor é ainda mais fina do que imaginamos. Pondera ela cerrando os dentes.

Megan encara Edward com os dentes cerrados. Ambos choravam. Edward limpa uma lágrima que descia por seu rosto com o ombro. Ele ri e a encara.

— Isso é sua culpa. Eu estou morto por sua causa, sua nojenta. Eu irei fazer desta tua vida um inferno. — avisa Edward se levantando.

Megan o encara chorando. O rosto da garota estava vermelhado e inchado. Sangue escorria por sua boca e seu lábio inferior estava com um corte. Seu cabelo castanho estava bagunçado e enlameado com as folhas caídas grudadas nele. Edward a encara com nojo e vira o rosto. Megan rasteja lentamente até o garoto e se agarra aos seus pés.

— Me perdoa, eu sinto muito, por tudo. Mas não posso mudar nada. Posso me redimir, mas não posso fazer isso se você não deixar. Você me perdoa?

— Vá se foder, sua vadiazinha. Eu vou fazer disso daqui um inferno para ti. Não vou lhe matar, por que isso é impossível. Mas acreditei, irei fazer o possível para que sua relação seja cortada milhões e milhões de vez. Ah, vou. Irá ir para o Outro Lado pelo ou menos uma vez no dia... Na noite, seja lá o que for... Emily irá resolver tudo e você será forçada a ver como elas estão felizes e quanto voltar, espero que se dê conta o quanto sua vingança causou para elas: nada. Elas irão casar, ter filhos, ser felizes. Mas eu e você? Iremos ficar aqui. Emily... — fala ele chamando a atenção da garota.

Emily levanta seus olhos violetas para ele.

— Prometa-me que será feliz. — pede ele com a voz embargada com algo que Emily não sabe identificar. Pensa que ele talvez esteja segurando o choro — Que irá destruir K do modo mais cruel possível.

— Eu te prometo. — sussurra.

— E mais uma coisa, prometa que irá dizer para a Bonnie que a amo, por favor.

— Sim, irei falar.

Edward respira fundo e olha para cima. Com um chute, ele se livra e Megan e segue em frente chegando até uma colina. Os três aguardam em silêncio até que Edward suma na colina para que possam olhar para Megan. A garota fica ali, deitada sobre o chão enlameado chorando silenciosamente. Com um grito amargo, Megan corta a noite como uma flecha. Ela tira sua mochila de suas costas e arremessa no chão. Os olhos cor de mel estavam inchados e avermelhados. Ela soca a terra e puxa a terra para mais perto de si.

Emily respira fundo e a encara. Logo aquele sentimento aos poucos vai deixando-a e a misericórdia se apodera dela. Emily pensa em andar até a garota e se deitar ao lado dela, chorar e abraçá-la. Mas algo a impede.

Gavin coloca sua mão no ombro de Emily o que lhe dá um susto. A garota olha para trás e encontra o seu bisavô. Algo no olhar daquele homem lhe dizia uma velha frase que ela já tinha lido em algum lugar. “O fraco jamais perdoa, o perdão é uma característica do forte.” Lembrar daquela frase partiu o coração de Emily em pequenas fagulhas que foram espalhadas pelo vento.

Ela absorve toda a força que poderia guardar para si e dá um passo a frente. Se sente orgulhosa por estar tentando fazer aquilo, mesmo que um passo não represente um grande progresso. Mas já significara um começo. Ela olha para seus próprios pés e tenta enviar um comando para que avance. Mas é como se todo o ódio estivesse retido na sola dos seus pés. Ela libera o ar que estava armazenando em seus pulmões e diz a si mesma que somente iria seguir em frente. Talvez funcionasse.

Decididamente Emily anda até Megan sentindo o sangue coagular ao longo de sua coxa e seus pés. Ao chegar até a garota, Emily se ajoelha e toca o ombro da amiga. Megan suspende sua cabeça e os olhos dela se conectam de modo esmagador criando uma poderosa empatia entre ambas. Sem presságios Megan abraça Emily de modo abrasador. Emily recebe o impacto da surpresa e do choque ao mesmo tempo caindo no chão. As garotas se abraçam por algum tempo até que Megan solta Emily juntando suas mãos sobre seu colo e olhando para o chão.

— Obrigado... — sussurra ela em um fio de voz.

— De nada. — responde Emily com a voz mais baixa ainda.


— Δ —

A lua parece ser a única que entende Edward naquele momento.

Aquela imensa bola de ouro pairando acima de sua cabeça, cortada em pequenos fragmentos pelos galhos das árvores. Edward para e olha para trás, surge na colina naquele exato momento Gavin seguido pelas duas garotas que estão de mãos dadas. Edward encara aquela cena com descrença desacreditando na atitude de Emily. Mas acaba isolando aquele fato e seguindo em frente com as mãos no bolso.

Aquela roupa lhe deixava extremamente desconfortável. Além de ser a roupa da prisão, o tecido não era tão grosso o quanto gostaria o que quer dizer que o frio trespassa o tecido de modo fácil deixando sua pele extremamente fria.

Edward envolve-se em seus próprios braços. Ali, se abraçando ele se sente mais sozinha do que nunca. Pelo canto do olho, ele pode ver Gavin aumentando o passo para acompanhá-lo, ele continua andando no mesmo ritmo.

— O que foi, Gavin? — questiona ele com a voz linfática.

— Só vim lhe acompanhar pelo tortuoso caminho, filho.

— Ok, mas não quero falar sobre aquilo.

— Sobre o que? — pergunta Gavin franzindo a testa.

Edward olha para ele incrédulo e logo compreende o que o mais velho quis dizer. O jovem ri e abraça Gavin, que também ri ao ponto de que seus pés de galinha no canto dos olhos apareçam. Ambos andam abraçados.

O grupo segue pela floresta por alguns quilômetros.

Emily se sente extremamente desconfortável pelo fato de não saber o horário do dia. Olhava para o céu repetidas vezes. Perguntava o horário.

— As horas no relógio ficam congeladas, Emily. — informa Gavin.

Ela suspira e continua andando.

Logo, abandona a visão da lua despida acima de si e começou a olhar para o chão. As folhas secas voavam em torno de seus pés espiralando pelo vento forte. Enquanto fazem sua caminhada. De repente, Gavin estende sua mão até o peitoral de Edward.

O garoto para e encara Gavin.

O homem esta de olhos fechados. Sua expressão era indecifrável. Mas era possível compreender que estava concentrado em determinado ponto, apurando a audição. Aos poucos, o som foi aumentando de volume. Emily olha em volta. Megan fica agitada e fecha sua mão sobre uma flecha puxando-a com delicadeza da aljava.

Numa fração de segundo um grupo de morcegos corta o ar por entre as árvores passando próximo ao grupo.

— Abaixem-se! — grita Gavin.

Imediatamente Megan se joga contra Emily arremessando-a no chão. Ambas ficam paralisadas enquanto os morcegos passam acima de suas cabeças. Alguns se chocam contra os troncos de árvores indo ao chão enquanto outros passavam diretamente.

Depois de alguns minutos ali, eles se levantam.

— São presságios... — avisa Edward.

— De que? — questiona Emily.

Megan, Gavin e Edward trocam olhares preocupados.

— Iremos acampar mais adiante, procurem por um abrigo seguro.

— Ok. — dizem Edward e Megan em uníssono.

Emily pensa com si mesma se deve se preocupar com aquele fato, mas logo o ignora pelo fato de que sua cabeça está atarefada com outras informações. O grupo anda por mais alguns metros até chegar há uma enorme rocha com uma série de runas enoquianas entalhadas.

— São de proteção? — interroga Gavin.

Megan se aproxima da rocha e passa seu dedo indicador pelos entalhes na pedra. Por alguns segundos ela fecha os olhos e faz algo que fez Emily arregalar os olhos e recuar assustada. Megan pega uma faca no cós de sua calça e faz um corte em seu pulso. Surpreendentemente o sangue escorre pelo corte. Mas não é vermelho como Emily espera. Possuí uma coloração própria, num tom escuro de cinza.

— Sangue? Pensei que fossem fantasmas...

— Sim. Isso é sangue, mas é semelhante a ectoplasma.

Ecto o que?

Ectoplasma. É como se fosse um tipo de sinal que os fantasmas deixam ou emitem. O ectoplasma pode se manifestar como um odor, como um líquido corporal ou algo semelhante. Seja qual for o tipo, o ectoplasma sinaliza a presença de um fantasma em determinado lugar.

— Assim como o enxofre para os demônios. — avisa Gavin.

Emily arregala os olhos e se lembra do estranho cheiro que chega as suas narinas quando ela sente a presença de K no local. Como na entrevista de sua mãe para a Sight Landevil, quando ela sentiu aquele cheiro forte invadir suas narinas e a forte dor no peito. Era somente um presságio da natureza para a presença de K.

Emily observa Megan.

A garota espreme o líquido pelo corte e delicadamente redesenha as runas banhando as escrituras com sangue. Ao terminar seu trabalho, Megan se afasta de rocha e sussurra algo. Emily entende somente uma palavra.

—... revelat eius intentio...* — recita Megan.

Numa fração de segundo o líquido que banha a rocha entra em combustão. O sangue de Megan adquire uma aparência flamejante de cor negra. O fogo negro se espalha e toma a pedra inteira. As runas enoquianas brilham como uma tez dourado que toma as chamas. Megan fecha os olhos e estende sua mão até a rocha se concentrando.

As chamas negras se agrupam acima da pedra se desgrudando da rocha e formam um símbolo pairando no ar.

Luxor. — informa Megan identificando o símbolo de fogo — É um símbolo usado para harmonizar o ambiente.

— Também serve como proteção? — indaga Gavin pensativo.

— Logicamente.

— Ok, então iremos acampar atrás desses arbustos. A pedra deverá proteger o local das criaturas.

Ninguém questionou. Todos se moveram tirando suas mochilas das costas e andando até o arbusto. Mas Emily ficou paralisada diante da rocha encarando o símbolo.

O símbolo de luxor, como Megan nomeou consiste em três barras verticais pontilhadas. Em cada barra havia um triângulo. Acima, havia um pequeno círculo negro e abaixo, outro círculo menor ainda com um tom mais claro, chegando a aparentar a cor prata.

— Emily, venha cá. — pede Gavin.

Emily anda lentamente até o homem.

— Vá com Megan pegar lenha, eu e Edward iremos conversar. — pede ele lhe dando uma piscadela.

Ela sorri e concorda.

Emily acena para Megan que a segue. Elas voltam até a colina em busca de gravetos, estacas, galhos, qualquer coisa que lhes pudesse proporcionar o fogo.

Gavin a observa até ambas sumirem colina abaixo.

Edward está curvado sobre sua mochila tirando alguns pertences. Entre eles um saco de frutas — que de nada adiantaria para saciar sua fome —, maquina fotográfica, um livro e outros pertences de um desconhecido qualquer que tivera o azar de deixar sua mochila próxima a um portal.

Lentamente Gavin anda até o garoto.

— Edward, estamos sozinhos.

Edward levanta seus olhos está Gavin e suspira.

— Eu te falei que não queria falar sobre isso.

— E eu lhe respeitei. Mas, olhe garoto. Tu não precisas usar o silêncio como uma arma contra mim, por que eu não quero te machucar de nenhum jeito. Ao contrário, filho. Eu quero ajudar-te.

— E como exatamente pretende fazer isso?

— Conversando.

— E isso vai me ajudar muito...

— Sim. Irá.

— Ok então... — se rende Edward fechando o zíper de sua mochila e jogando-a de lado. — Vamos conversar sobre isso.

Gavin respira fundo e pensa bem no que irá falar.

— Eu sei que ela te magoou.

— Sim, e muito.

— Ela mentiu para você.

— Sim, mentiu. Disse que não sabia o motivo da minha morte.

— Ela cuidou de você.

— Sim, ela... Ahn?

— Onde você estaria se não fosse por ela nesse momento?

Edward pensa por alguns segundos.

—Provavelmente estraçalhado nas rochas das quedas d’água.

— Sim. Então de certo modo você deve sua vida a ela.

— Eu devo sim... — afirma Edward.

Seus olhos perdem o foco.

— Então, essa dívida que ela tinha com você não foi de certa forma... Paga?

Edward fica calado até que encontra um argumento.

— E é justo o que ela fez com sua bisneta?

— Ela a perdoou. Está agora com ela.

— Isso não quer dizer que eu deva perdoá-la.

— De jeito nenhum, filho. A escolha és tua.

Edward fica em silêncio.

— Mas Edward, pense bem... Se Deus é capaz de nos perdoar diariamente, por que você não pode perdoar Megan por um errinho?

— “Errinho...”? Isso causou minha morte!

— Indiretamente. Ela não pode prever, filho.

— Eu não posso, Gavin. Eu não sou Deus. Não pode me pedir isso.

— Eu não estou pedindo. Você faz o que bem entende. Eu não estou te pedindo, Edward. Estou somente conversando contigo.

Edward respira fundo e passa sua mão sobre seu cabelo. Ele respira fundo e fecha seus olhos.

— Pense sobre isso. — pede Gavin colocando sua mão sobre o ombro de Edward.

Nesse exato momento as garotas surgem no alto da colina.

Aparentemente estavam conversando sobre algo engraçado. Com uma piscadela, Gavin se levanta e anda até as meninas. Emily tinha algumas estacas e gravetos nos braços junto com Megan. Gavin tomou alguns gravetos de Emily e os levou até Edward. O garoto tentara achar algo para ascender à fogueira.

— Por que procuram por um isqueiro? Eu posso ascender por magia.

— Não, Megan. Alguns monstros podem sentir cheiro de magia no ar, e você já usou o suficiente por hoje encantando e reanimando as runas.

— Ok.

Finalmente, Edward encontra uma caixa de fósforos. Gavin quebra algumas estacas em pequenos pedaços e mede os tamanhos.

— Megan, Emily... Limpem esse local aqui, por favor. — pede ele batendo o pé no chão.

As garotas se ajoelham e começam a retirar as folhas secas afastando-as do local. Megan cava um pouco criando um pequeno declínio no solo. Emily a encara.

— É preciso um desnível no solo para que as chamas...

— Eu sei. Nunca te vir sujando as unhas desse jeito.

Megan ri.

— Eu aprendi a atirar flechas, cavar no solo com as unhas não é um problema para Xena, meu bem.

Elas riem.

Megan pega algumas pedras e faz um círculo em volta da cavidade. Ela se levanta e ajuda Emily a se pôr de pé.

— Bom trabalho, Megan. — fala Gavin.

Depois de escolher as estacas mais apodrecidas Gavin amontoa os galhos como uma pirâmide para permitir que o oxigênio ajude na fogueira. Edward pega alguns capins, ramos e folhas secas colocando os materiais em volta da fogueira. Edward cuida de ascender o fogo com os isqueiros. Aos poucos, as folhas entram em combustão de as estacas pegam fogo.

— Quatro pessoas para ascender uma fogueira... — sussurra Emily consigo mesma rolando os olhos nas órbitas.

Logo Emily se lembra de quando acampava com as garotas. Impulsivamente ela olha para Megan. O rosto da garota é iluminado pelas chamas douradas dando uma tez ainda mais linda para seus olhos cor de mel. Emily passa o cabelo para trás e orelha e pega sua mochila que estava ao lado da pedra. A garota abre a mochila e procura algo para comer, estava com uma fome insaciável.

Ela sente alguém se aproximando.

Emily se vira e encontra Edward atrás de si.

— Ah, oi Edward.

Edward se ajoelha ao lado dela.

— O que quer?

— Comer.

— Você pode até comer, Emmy. Mas isso que está sentindo não é exatamente fome. Quando Megan falou que a fome não é saciada, além da fome física e a espiritual. Está se sentindo vazia, mas não é por comida. Mas se quiser comer, pode comer.

— Eu irei comer... — fala Emily com tom irônico. — E Edward... — fala ela chamando a atenção do garoto. Ele lhe encara com aqueles olhos castanhos. A lateral do rosto do garoto estava iluminada pelas chamas. — Eu não quis dizer aquilo, quando nos encontramos. Chamei-lhe de assassino injustamente.

— Eu também me odiava. Até saber disso.

Megan os encarava encostada na rocha.

— Sabe... — fala Emily casualmente enquanto abria um pacote de salgadinhos que encontrara em sua mochila. Edward aproveita e pega um pouco.

— Você não sabe há quanto tempo eu não como um desses... — conta o garoto enchendo a boca de salgadinhos — A minha mochila só tem frutas. — continua com a boca cheia.

Emily ri.

— Vai me deixar continuar?

— Claro.

— É sobre Megan.

— Eu vim falar sobre isso.

— Ótimo.

Silêncio.

— Eu não vou conseguir perdoá-la.

— E por que não?

— Eu não posso. Ela me matou. Ela fez vocês sofrerem.

— Eu a perdoei, Edward. Você também devia. Ela fez algo de ruim na vida. Idaí? Até parece que nós nunca fizemos algo de ruim. Eu já errei. Milhares de vezes.

— Nada que colocasse a vida de uma pessoa em perigo.

— Sim. Eu matei Megan.

— Em um sentido bem literal.

— Mas eu tenho uma parcela de culpa. Isso é o que importa.

— Ela me perdoou. Eu a perdoei. Você devia perdoá-la.

— Um dia, talvez.

— Ou uma noite.

Os dois riem.

— Δ —

O silêncio reina no acampamento.

O quarteto estava unido em volta da fogueira em seus sacos de dormir. Simplesmente fechavam os olhos, descansavam. Somente Emily realmente sentia os efeitos da caminhada. Sua ligação ainda forte com seu corpo estava afetando-a.

De repente, um grito corta a noite. O grupo levanta alerta. Megan rápida pega sua aljava que estava escondida em seu saco de dormir. Gavin se levanta rapidamente e anda silenciosamente até as mochilas. Habilmente ele as joga até seus respectivos donos. Emily pega sua mochila no ar e logo abre procurando por sua adaga.

A adaga estava numa bainha de couro. Emily retira a adaga da bainha que produz um rápido ruído metálico. A garota se põe de pé e segura a adaga fortemente até suas articulações ficarem doloridas. Ao longe, eles ouvem o bater de asas.

O grupo de morcegos ataca o grupo novamente. Antes que os morcegos pudessem chegar até eles as runas da rocha adquirem um brilho dourado e as chamas negras correm em volta do grupo criando um globo de chamas acima deles. Emily arfa surpresa. Mas por algum motivo não se sente segura.

Emily era capaz de ver ainda a lua mesmo que ofuscada pelas chamas negras. Os morcegos se jogam contra o globo de chamas e são pulverizados. O escudo estava projetado como uma concha sobre o grupo. Megan e Emily dão as mãos. Depois de alguns minutos de pura agonia, o círculo de fogo se desfaz sobre o grupo.

Megan encara Gavin. Mas o homem está olhando para cima incrédulo.

— O que foi?

— A proteção das runas foi anulada... — informa Megan num fio de voz.

O coração de Emily gela.

— Oh... Meu Deus... Quem foi?

— Não quem... — começa Megan.

— E sim o que. — finaliza Edward.

O silêncio da noite os tortura mais do que qualquer ruído. Gavin olha em volta procurando por sinais da criatura que anulou as runas. As cinzas de morcego estavam caídas em volta do gramado queimado — efeito do fogo negro que os cercava há pouco.

De repente Emily capta um movimento por sua visão periférica. A garota se vira a tempo de encontrar uma figura encapuzada voando em sua direção. O grito de Emily corta o silêncio da noite e alerta os outros. Gavin coloca sua mão atrás de suas costas e tira de uma alça de couro uma picareta. O homem se mostra hábil com a arma girando-a em seus punhos.

Emily se vê cercada por Edward, Megan e Gavin e se sente protegida. Edward segura sua faca de carne com as duas mãos e Megan segura à corda do arco apontando a flecha para o ser encapuzado.

O monstro lembra a Emily o seu inimigo, K.

A criatura vestia uma túnica negra. Tinha o rosto oculto pela sombra proporcionada pelo capuz. Sua mão era esquelética e seus pés eram como suas mãos, feito ossos expostos. O que estaria atrás daquele capuz? Sobre a pele cinzenta, haviam feridas e queimaduras, rugas. Lentamente, a criatura retira o seu capuz.

O rosto do monstro revela-se sendo indescritível.

No lugar do nariz havia cortes minúsculos, como o nariz de uma serpente. A pele cinzenta e enrugada. Os lábios secos e brancos. A língua rocha e bifurcada tremendo pela abertura dos lábios. No lugar do seu cabelo havia somente alguns fios cor de fogo que ocupavam sua cabeça. Seus dentes, amarelados e afiados. Os olhos totalmente brancos. Sem sobrancelhas. A criatura parecia sorrir para Emily.

— Eu vou devorar sua alma... — diz a velha cadavérica com a voz estrídula avançando até Emily.

Megan atira a flecha. A velha intercepta a flecha transformando-a em pó. Megan pega outra flecha e atira. A velha é pega desprevenida e uma flecha acerta seu olho. Nenhum grito, ela somente retira a flecha e a segura em sua mão. A flecha é cercada por algo avermelhado, parecido com eletricidade. A velha atira a flecha contra Megan. A garota se abaixa automaticamente e a flecha passa por ela. Assim que Megan se levanta, a flecha muda de curso sendo enterrada em suas costas. Megan grita e caí no chão.

— A flecha é enfeitiçada! — grita Emily.

— É uma strix... — sussurra Megan.

A strix estende sua mão cadavérica até Gavin e com um movimento o arremessa contra uma árvore. O espírito de Gavin é perfurado por um galho pontiagudo. O corte espicha ectoplasma no rosto de Gavin e pinga no chão. Emily olha para o seu bisavô e o vê desaparecer diante de seus olhos, mas antes pode captar algo que ele sussurrou. Somente uma palavra “Volte.” No lugar dele, ela encontra uma poça de ectoplasma. Edward corre até Emily e fica entre ela e a strix.

A velha estende sua mão para Edward que atira sua faca até a criatura. A faca é cravada entre os olhos da strix.

— Corte a cabeça dela! — grita Megan.

Emily tapa a boca de Megan.

— Não grite, pode atrair outras criaturas! — pede Emily. Megan assente. Emily olha para o ponto onde a flecha foi cravada e desvia o olhar com repulsa — Oh, vou ter retirar... — informa colocando seu dedo próximo ao ferimento. Emily pode sentir o ectoplasma vazando desenfreado pelo ferimento.

Edward fica desarmado enquanto enfrenta a strix. A velha retira a faca de sua testa e a transforma em aço retorcido em segundos. O aço fervente escorre por entre seus dedos alongados e cinzentos. Edward corre rapidamente e pega a picareta de Gavin. A strix grita e avança até Emily.

Emily capta algo vindo em sua direção e se vira.

Antes que a garota pudesse reagir ela vê a strix a sua frente. A criatura abre sua boca enorme e Emily pode ver sua língua bifurcada e seus dentes amarelados. A língua da criatura treme e algo estranho acontece. Uma projeção holográfica do rosto de Emily se desprende sua face e é absorvida pelo monstro. Emily se vê impotente enquanto sua energia é sugada. Ela sente seu corpo se entregando. Seus braços ficam imóveis ao seu lado. Ela se entrega a desconfortável sensação que sente — como se sua pele fosse arrancada de sua face. Ela tenta gritar, mas não consegue.

De repente o fluxo é interrompido quando Edward crava a picareta no crânio do monstro com força. Um jato de sangue surge do ferimento e respinga em Edward. Rapidamente o garoto retira a picareta e bate novamente enterrando a lâmina ainda mais fundo. Ele golpeia mais algumas vezes enquanto a criatura tenta reconectar o fluxo com Emily. Emily tenta se mover, mas se sente fraca. Edward golpeia mais uma vez até ver que uma enorme cratera se formou no crânio da strix recebendo respingos de sangue no rosto mais uma vez. Edward visualiza o córtex central da criatura. Edward levanta a picareta acima de sua cabeça e se prepara para desferir mais um golpe, o sangue respinga da lâmina curva da picareta.

Antes que ele pudesse atacar, a strix vira o rosto e rosna para ele. Com um golpe de sua mão esquelética, a strix joga Edward pelo ar. Edward caí no chão com um baque surdo e procura a arma em suas mãos. Edward encontra a picareta a alguns metros. Rapidamente ele se põe a engatinhar. A strix desvia sua atenção de Emily e voa lentamente pairando somente a alguns centímetros do chão até Edward.

Antes que o garoto pudesse chegar à arma sente algo em sua perna.

A strix estende sua mão até Edward enquanto recita um feitiço. O garoto sente como se algo invisível estivesse agarrando-o. Aos poucos, ele é erguido do chão. Por alguns torturantes segundos ele fica de cabeça para baixo encarando os olhos brancos da criatura. Sem nenhum aviso o monstro o arremessa contra o chão. Edward grita ao sentir o choque. A strix faz Edward levitar novamente para arremessá-lo ao chão. Edward grita mais uma vez e xinga. A criatura repete o golpe várias e várias vezes fazendo de Edward um fantoche. O garoto encara a strix e cospe ectoplasma.

— É só que você tem? — grita sentindo o ectoplasma pulsar em sua têmpora.

Com outro espasmo ele cospe um jato de ectoplasma.

Emily assiste a cena impotentemente. Um sentimento de ódio cresce dentro dela alimentando aos poucos seus músculos. O incentivo atiça algo dentro dela. Um frio no estômago a incômoda intensamente. Ela sente o seu ectoplasma ferver por suas veias. Megan grita de dor ao seu lado, tentando alcançar a alvaja.

— Ajude Edward... Por favor... — pede Megan estendendo ao máximo sua mão até a alvaja.

Emily reúne uma grande gama de energia e tenta se mover. Ela tenta se pôr de pé. Sente seus joelhos rangerem e sua cabeça gira.

— Atire... — pede Megan segurando o braço de Emily com força. A urgência no olhar de Megan estimula Emily.

— Eu não sei atirar...

— Tente, por favor. Você não entende... Eu amo o Edward.

Emily arregala os olhos e tenta virar sua cabeça para Megan, mas sente seu pescoço estalar. Emily respira fundo e fecha os olhos. Sentia-se humilhada. Caída de joelhos ali, inútil. Numa repentina onda de uma energia desconhecida — chame de ódio ou raiva — Emily consegui se pôr de pé. Ela gesticula seus braços sentindo o ectoplasma correr por seus braços. A sensação de formigamento é desconfortável.

Emily anda até Megan e pega a aljava de sua mão. A garota olha para ela com uma expressão mista de gratidão de contentamento. Emily segura à aljava com força e retira a flecha segurando-a em sua mão.

— O que irá fazer?

— Você vai ver.

Emily respira fundo e com a ponta da flecha faz um corte na ponta do seu dedo. Ela sente o ectoplasma fluindo do corte e escorrendo ao longo do seu dedo indicador. Ela segue com a flecha fazendo um pequeno corte em todos os seus dedos. A garota banha a haste da flecha com ectoplasma e a coloca na palma de sua mão.

Aos poucos, à medida que o sangue escorre por seu dedo ela vai sentindo o líquido banhar sua pele. Emily fecha os olhos e se concentra. Um pequeno raio de energia escapa do corte de seu dedo indicador.

Agora ela entedia a conexão do ectoplasma com a magia. A magia naquele local era o ectoplasma. Megan descobrira como realizar magia usando o seu sangue. O ectoplasma era como magia líquida. Emily sentia que podia fazer qualquer coisa com aquilo. Só era se concentrar e poderia prender a strix em uma grade de corrente elétrica, assim como vira Megan fazer uma vez com um coelho enquanto treinavam.

Exigia muita energia, mas ela poderia fazer. Só precisava usar sua energia para transformar em eletricidade.

Aos poucos, um globo de eletricidade de forma em sua mão. Ela olha para sua mão e percebe que parecem pequenos relâmpagos aglomerados. Megan arfa e sussurra.

— Ela conseguiu...

Emily joga o globo de raios elétricos contra a strix. Imediatamente o monstro é preso numa jaula de raios. Emily respira fundo e observa a strix se desesperar quando se vê enjaulada. A criatura ruge para a garota e a intimida com aqueles olhos brancos. Então Emily corresponde à altura: dá língua para a strix.

— Já lhe dei com vadia mais baixas que você, monstro.

Grita Emily cerrando o punho e lançando um jato de energia manifestada como um relâmpago contra a strix. O monstro se contorce enquanto a descarga de energia elétrica percorre seu corpo.

Ao lado de Emily, uma flecha é disparada diretamente a cabeça do monstro. Logo após uma série de flechas acerta o corpo da criatura. Emily olha para trás e encontra Megan com o arco na mão atirando as flechas. Ela lhe deu uma piscadela.

De repente, a jaula se desfaz. A criatura caí de cara no chão e tenta se levantar. A strix ruge para o céu buscando por ajuda. De repente, Emily houve outro grito de determinado ponto da floresta. Ela arregala os olhos e fica boquiaberta.

— É um grupo...

— Mate-a e iremos logo.

Emily obedece pegando sua adaga e correndo até o corpo do monstro. Ela deixa adaga pairando sobre a nuca do monstro. Emily levanta a adaga e se prepara para fazer o que tem quer ser feito. Ela sente ânsia de vômito quando percebe o córtex cerebral exposto com a cratera no crânio.

— Oh, meu deus... — fala com um fio de voz.

Alguém coloca suas mãos sobre a dela.

— Deixe que eu faço isso. — pede Edward olhando nos olhos dela.

Ela concorda e saí de cima do corpo. Edward se senta sobre o corpo.

— Corram! — grita Megan deitada no chão.

Quando ela falou acabou engolindo um pouco de terra por estar com o rosto colado ao chão. Megan começa a tossir. Emily corre até sua amiga e lhe dá alguns tapas nas costas. Onde o ferimento fora feito ainda vazava ectoplasma fazendo uma poça abaixo da garota e inundando suas roupas.

Emily ouve um som semelhante a quando ouvia a empregada doméstica de sua casa cortando carne para pôr na panela. Um som semelhante ao rasgar de um tecido. Ela olha para trás e vê Edward com o rosto e os braços melados de ectoplasma puxando a cabeça da strix e separando-a de seu corpo. A expressão do monstro continua a mesma. Os olhos abertos, a boca em um triângulo de pura fúria e a língua bifurcada tremulando.

A garota sente vontade de vomitar. Megan desvia os olhos.

— Δ —

Edward e Emily ajudam Megan e se mover pela encosta de um precipício, ambos tomando cuidado com a flecha que cortava o corpo da garota. Os três estavam muito fracos e debilitados, mas se esforçam para poder completar a jornada por Emily. Afastam-se da floresta, indo para sul, onde andavam numa pequena faixa de terra. A floresta fica do lado direito do grupo e do lado esquerdo, somente um abismo negro. Edward leva as mochilas. Emily ainda sente uma sensação de formigamento em seu rosto. Megan tem seus braços nos ombros dos seus companheiros.

Emily só saíra do local quando Megan a convenceu que para o espírito de Gavin se conectar com o Purgatório podiam se passar mais de cinco horas.

— Como iremos encontrar o djinn agora? — questiona Edward enquanto andavam apressadamente para se distanciar do corpo da strix.

— Magia. — informa Megan olhando para Emily.

— Ok, do que precisamos? — questiona Edward.

— Um mapa, uma vela e ectoplasma.

Depois de andar mais alguns metros eles deixam Megan descansar sobre uma rocha. Edward abre a mochila de Gavin.

— O que está procurando?

— Gavin faz expedições diariamente para mapear o Purgatório, ele já mapeou uma parte que vale toda a América do Norte.

Emily arregala os olhos.

Edward puxa da mochila algo semelhante a um pergaminho. Ele desdobra o pergaminho exibindo os desenhos de Gavin. Alguns pontos tinham nomes indecifráveis.

— O que é isso? — pergunta Emily apontando para um rabisco.

— É uma runa enoquiana, essa outra é uma runa viking... Ao longo do tempo que passou aqui, Gavin diz que conheceu um bruxo que o ensinou muito. Como viver por aqui, as runas e até outros idiomas. Veja... Essa runa é desconhecida. Não tem como decifrar.

— Chega de procurar coisas inúteis... Procure por uma caverna.

Os dois correm os olhos em vão pelo mapa procurando por uma runa ou uma palavra em outro idioma que significasse “djinn”, “gênio” ou até “caverna.” Megan espera ansiosamente.

— Me dêem esse mapa... — pede ela estendendo a mão — Por favor, enquanto procuro façam algo útil.

Edward entrega o mapa para a garota e volta a procurar os outros equipamentos precisos para o feitiço. Edward encontra somente algumas estacas que ele guardou para ascender fogueiras ao longo da viagem. Provavelmente as mesmas que as garotas trouxeram.

— Isso serve? — pergunta Emily tomando a estaca das mãos de Edward.

Megan levanta os olhos.

— Sim, desde que nos proporcione chamas. O segredo é aproveitar a energia que o fogo nos dá.

Edward assente e começa a procurar pelo seu isqueiro em sua mochila.

— Não é preciso... — avisa Emily colocando seu dedo indicador sobre o acúleo da madeira.

De repente a madeira irrompe em chamas. Emily afasta um pouco a estaca de si quando as fagulhas voam até seu rosto. Edward toma a estaca das mãos da garota.

— Seu ectoplasma é poderoso. — fala ele. — É como se tivesse algo de especial em seu sangue.

— Dãaa, eu sou bruxa.

— Sua família descende de Lilith?

Emily ouve Megan engolir em seco.

— Ahn?

— Você não sabe a história?

— Ah, deixe isso pra lá. Não encha a cabeça da garota. Deixe-a em paz. Isso é só papo furado sobre a bruxaria. Dizem que só é bruxa se sua família descende de Lilith.

— Existe outro jeito de conseguir poderes sobrenaturais. Mas é medonho... — conta Edward.

— Qual jeito?

— Eu fiz isso com elas. — revela Megan.

De repente, Edward a encara. Os dois ficam trocando olhares por alguns segundos. Os olhos de Edward pareciam que iriam saltar das órbitas. Emily calou a boca, pensando que iria ter a chance de questionar Megan posteriormente... Não iria.

Emily estava pronta para questionar Edward quando Megan chamou sua atenção.

— Eu achei! — afirma ela gritando.

Os dois se voltam para ela se abaixam ao lado dela. Megan aponta para um determinado ponto do mapa. Parecia ser uma caverna ao lado de uma cascata, havia algo escrito com carvão em outro idioma “جن”.

— Que símbolo é esse?

— É djinn em árabe, que foi onde a criatura foi originada, ou onde ocorreram os primeiros registros. — conta Megan.

— Ok. E agora, como iremos fazer o feitiço de rastreamento?

— Simples, lembra do ectoplasma que citei? É o do Gavin. Iremos refazer os passos de Gavin no mapa até essa caverna.

— Eca. Ok, irei buscar... — avisa Edward.

— Não, Emily, vá. Por favor, preciso conversar com Edward.

— Eu não vou te perdoar. — alerta o garoto.

— Não é sobre isso...

Emily lança um olhar preocupado para Edward sai desconfiada adentrando na floresta e refazendo seus passos até a cena da batalha contra a strix.

— Emily, tome cuidado! Se o corpo ainda estiver lá, volte. As strix podem estar fazendo uma armadilha.

Megan contara para Emily que uma strix era uma bruxa que teve seu espírito corrompido pela magia negra ou que foi morta brutalmente por um bruxo do sexo masculino, somente se o motivo da morte foi o amor. E quando essa bruxa morria, levava todo a sua assembléia* com ela. Assim, formam-se os grupos de strix, que se alimentam da alma de seres apaixonados para nutrir a falta de amor que sente dentro de si. Emily pensa em Nate naquele momento. Sente as lágrimas vindo aos seus olhos. Só de pensar que nunca veria a pessoa que amava fez seu coração ficar aos pedaços.

Enquanto Emily adentrava na floresta, Megan conversava com Edward.

O garoto se ajoelha frente à Megan e crava a tocha ao seu lado.

— Como pode fazer isso com as garotas? Bonnie tem aquilo? Está dentro dela?

— Sim. Eu dei para todas.

— Mas que porra, Megan! Você as amaldiçoou. Isso cria uma ligação com aquelas criaturas desprezíveis. Qualquer uma delas pode se tornar uma escrava a qualquer momento. Era isso que você queria? Que suas amigas se tornassem escravas!?

— Shh... Fala baixo! Eu estava inebriada pela magia negra. Nem pensava direito. E acho que Emily irá seguir o mesmo caminho. Você viu o feitiço que ela fez?

— Aquilo é magia negra?

— Não. Mas aquela carga elétrica não vem de uma bruxa comum. O máximo que eu consegui conter em uma jaula foi um cavalo. Aquela garota manteve uma strix. Uma criatura da noite em uma simples jaula de eletricidade. Aquela garota vai ser usada por eles, você vai ver.

— Vira essa boca pra lá. Gavin me contou tudo que envolvia magia. Mas isso vai além do meu entendimento. Vocês não são humanas. Além de Nate, você já amou alguém? Garota, você amava seus pais? — pergunta Edward descentre com aquela situação.

Megan desvia o seu olhar para a floresta a sua direita.

— Emily, venha cá. — pede ela encarando Edward.

Emily saí por entre as árvores segurando um pedaço de tecido.

— O ectoplasma estava quase seco. Peguei um pouco que estava pingando, será que irá servir?

— Sim, irá.

Edward se levanta e pega a tocha. Megan que estava ainda com a flecha atravessada em seu corpo se senta. A garota geme.

— Ainda acho que deveríamos tirar essa flecha... — reclama Emily.

— Não. Se retirar a flecha será como cutucar o ferimento, irá sangrar mais ainda e irei perder uma grande quantidade de sangue. Além disso, irei ficar ainda mais fraca e debilitada. O djinn irá lhe conceder três pedidos, irá usar um para me curar. E ainda irá lhe sobrar um.

— Ok, então.

Megan respira fundo e estende o mapa a sua frente. Ela geme mais uma vez e encara a haste que estava cravado em suas costelas. A ponta da flecha se projetava por seu peitoral e estava molhada de ectoplasma. A garota tem a forte vontade de retirar a flecha de dentro de si. Podia sentir a haste dentro dela. Roçando contra suas costelas.

Megan estende sua mão até Emily que lhe dá o tecido encharcado. O tecido possuía a cor vermelha, mas estava negro por causa do ectoplasma. Megan recita algumas palavras e espreme o tecido. O líquido respinga sobre o mapa. A chama da tocha aumenta rapidamente de intensidade adquirindo um tom vermelho sangue.

O ectoplasma que pinga no mapa forma um círculo. O sangue de fantasma estende pequenas teias de ectoplasma pelo mapa, como se fosse raízes.

— O que isso quer dizer? — questiona Edward.

— Quer dizer que Gavin já trilhou esse caminho várias vezes... Ele tem consultado o djinn várias vezes.

— Então qual caminho iremos seguir? — questiona Emily.

— Gavin vem usando magia? Para que? O que ele está pagando? — questiona Edward.

— Com certeza não é algo sério, vamos logo. Decidam.

— Ahn... — fala Megan desorientada. Parecia estar pensando no assunto sobre Gavin — Esse.

Fala ela apontando para uma linha que parecia ser a menor.

— Por quê? — questiona Edward.

— É a única que não faz tantos desvios. Vê? Segue reto, tem uma pequena elevação aqui e logo depois, chega até o destino.

— Ok, então vamos.

— Δ —

O grupo seguiu a trilha feita pelo ectoplasma de Gavin até chegar a uma cascata.

— Essa é a “pequena elevação”, que você falou? — debocha Edward.

Emily suspira colocando sua mão na testa preocupada.

— Como iremos passar por isso?

— Subir. — fala Megan.

— Como assim? Iremos voltar. — contradiz Edward.

— Não, veja... — pede Megan. Ambos olham para o mapa — Todas as trilhas se encontram aqui. Subir a cascata é o único modo de chegar até o gênio.

— Ok, então vamos... — afirma Edward com um tom que indicava raiva.

O garoto abre a mochila e procura algo. Ele puxa de dentro da mochila a picareta de Gavin e uma corda.

— O que irá fazer?

— Irei usar isso se apoio. Como um gancho. Irei me segurar nela, e subir. Vocês fazem o mesmo depois de mim.

— Ok. — respondem as garotas ao mesmo tempo.

Edward amarra a corda a picareta e anda até a margem da piscina onde a cascata deságua. Edward roda a corda acima de sua cabeça e arremessa a picareta. A corda se estende por alguns metros e cai na água. Edward suspira e puxa a corda. Ele tenta mais algumas vezes até que finalmente a picareta é cravada em algo sólido. Edward puxa a corda com força a picareta continua firme.

Edward sinaliza para as garotas e o grupo entra na piscina nadando até as cascatas. Os jatos de água eram fortes e medida que se aproximam da queda d’água, podiam sentir uma corrente empurrando-os no sentido contrário. Edward nada até ficar debaixo das enormes pedras da cascata. O garoto respira fundo e puxa a corda. Com força, ele consegue tirar seu corpo da água. Edward se concentra se apóia nas pedras. Os jatos de água o empurram para baixo, mas ele se mantém firme.

Ele dá um passo à frente com medo. Mas a picareta continua firme.

Ele respira fundo e olha para baixo sorrindo. Ele encontra as garotas preocupadas encarando-o com medo. De repente, a expressão delas passa por uma transformação. Emily fica boquiaberta e aponta para algo que estava no alto da cascata. Edward olha para cima e encontra uma criatura encarando-o e com a picareta na mão. Antes que ele pudesse se mover se vê flutuando.

O garoto se debate e tenta se libertar das correntes de energia que o prendem. As garotas também começam a levitar. Megan começa e se contorcer e gritar quando gira no ar e a flecha parece cravar ainda mais fundo dentro de si.

— Ai, que porra... — grita a garota.

A criatura aproxima o grupo e os joga no chão. As rochas machucam Emily que logo se levanta, mas acaba caindo. As rochas eram cobertas por limo. A criatura era parecida com um humano, mas não era nada que Emily já tivesse visto. Ele estava frente a eles.

O homem possuía várias tatuagens com símbolos, runas e desenhos espalhados pelo corpo. As tatuagens pareciam se mover pelo seu corpo. Emily teve certeza quando uma cobra cruzou o peitoral do homem. Ele estava totalmente nu, mas não havia nenhum órgão sexual. O seu rosto, era composto apenas por olhos e boca. Quando ele estende as mãos para Emily, ela percebe que há uma escarificação — entalhe na carne — em forma de um pentagrama. Emily recua, ele olha para a mão e sorri exibindo seus dentes amarelados. A arcada dentária da criatura parecia ser composta por caninos. Os olhos possuíam uma cor semelhante ao escarlate elétrico.

— O que é você? — sussurra Emily.

— Eu sou o djinn. Pensei que estavam me procurando.

— Qual seu nome?

— Dimas*.

Emily assente.

— Dimas, me leve até sua caverna.

— Δ —

A caverna era grotesca e úmida. As pedras eram frias e o túnel era coberto de limo. As estalagmites que guardavam a entrada cobriam o teto eram estranhamente projetadas para baixo como se fossem dentes e chegavam a atingir o chão. Emily passa com dificuldade por entre por estalagmites e ajuda Megan e passar horizontalmente. O djinn passa sem nenhuma dificuldade e as guia pelo túnel. Era escuro e frio.

Mas não havia aragem dentro da caverna. O grupo mal conseguia respirar.

O djinn os leva até o fundo da caverna, onde finalmente eles encontram iluminações. Pequenas velas de cera flutuam acima de suas cabeças. O djinn se senta e pede para eles se sentarem.

— Olá meus amores. — fala ele. Sua voz possuí um tom estranho, sedutor.

— Vamos ao assunto. — pede Emily.

— Apressadinha.

— Preciso ser.

— Primeiro, quero que cure minha amiga.

— De que ferimento? — pergunta ele rindo.

— Como assim de... — questiona Emily.

— Hey, Emmy... — fala Edward boquiaberto encarando Megan.

— A seta simplesmente sumiu... — conta Megan num fio de voz, absorta.

— Sua relação iria ser cortada em alguns minutos. Sabe? Quase perfurou o seu pulmão. Seria uma coisa horrorosa, querida. — fala o djinn rindo. — E agora, o que queres?

Emily olha para Megan.

— Você pode mandar alguém para o Outro Lado comigo? Como humano?

Megan arregala os olhos. Edward encara Emily boquiaberta.

— Não, se for levar alguém, leve Edward.

— Não Emily, não me leve. Eu quero que use esse pedido para outra coisa.

— E o que seria?

— Pergunte a identidade de K.

Emily sente o impacto da sugestão imediatamente. Ela olha para o djinn que sorri. Ela questiona se ele pode lhe contar aquilo.

— Sim amor, eu posso te falar.

Ela assente. O djinn faz um gesto para que ela se aproxime.

Emily se aproxima lentamente dele. Aqueles sangrentos olhos vermelhos lhe encaram. O rosto tatuado do djinn estava iluminado pelas chamas dourados, o que lhe deixa com um aspecto demoníaco.

O coração de Emily acelera de modo esmagador. Num piscar de cílios, lhe é revelada a verdade. A voz sedutora do djinn lhe conta quem tem lhe torturado por tanto tempo. Emily fica ali, boquiaberta. Encarando o vazio.

Ela olha para Megan buscando apoio. Os lábios dela se mechem soletrando o nome da pessoa. Megan assente. Emily fica ali por mais alguns segundos.

— Mas essa pessoa morreu.

— Nada que magia não resolva, meu bem.

— E o corpo dessa pessoa pode ser usado assim... Sem permissão?

— Não. Ela cedeu. Ela quis isso. Ela é literalmente K. Só está usando os poderes. — informa Megan.

— Filho da puta.

— E agora amor, qual seu último pedido?

— Eu quero ir até o Outro Lado. Voltar para meu corpo.

— Sim, mas antes. Eu quero meu pagamento. Eu cobraria antes, mas dessa vez irei cobrar algo barato... Então, eu vou pedir agora. Mas... Receio que depois que fizer meu pedido seu desejo irá se tornar meio que impossível.

— Ahn? Por quê?

— Quero o seu pérasma.

Megan e Edward se levantam ao mesmo tempo.

— Nem pensar. Peça outra coisa. — ordena Edward.

— Não meus queridinhos. Eu cobro o que eu quiser. E eu quero isso... — afirma o djinn se levantando. Sua sombra projetada na parede toma a caverna inteira. Emily pisca os olhos e encara a imagem na parede.

Dimas parece uma besta. Com asas de morcego e chifres. Foram os únicos contornos que Emily consegue identificar.

— Não irão querer que eu lute pelo o que é meu de direito, ou querem? Eu realizei dois desejos, não há mais volta. A sabidinha aí que foi logo querendo entrar na brincadeira sem nem saber os termos. Gavin VanCamp não ficaria orgulhoso com essa decisão. — debocha Dimas.

— O que ele me pediu exatamente? — pergunta Emily se levantando.

— O seu pérasma. Literalmente, sua existência, Emily.

— Como assim, Edward?

— É sua essência, Emily. O conjunto de suas experiências. Vitórias, derrotas, sentimentos. — completa Megan olhando para a garota com algo semelhante à piedade no olhar — Mas também é usado como um “passaporte”, para o Céu ou para o Inferno, dependendo de sua vida na terra. Somente humanos tem. Algumas criaturas, como as strix, tentam roubar a essência dos humanos, até que algumas conseguem. Mas é preciso completar o processo de alimentação.

— Mas eu sou uma bruxa. — fala Emily esperançosa.

— Bruxas são humanos com poderes sobre a natureza. Vocês só têm mais capacidade que os humanos normais. Pode chamar de cinestesia, telepatia, telecinese ou então sorte. Mas mesmo assim sua essência continua humana. Mesmo que o que corre dentro de você não seja. — afirma Dimas.

— O que corre dentro de mim? — quis saber Emily.

— Isso é um desejo? Quer saber a resposta? — debocha o djinn rindo.

Emily olha para Megan. Havia uma urgência no olhar da garota que cortou o coração de Megan. Emily começa a chorar. Megan a abraça fortemente. Edward coloca sua mão sobre a cabeça de Emily e encara o djinn. Ele dá um passo a frente.

— Eu lhe ofereço meu pérasma.

Emily se afasta de Megan e encara o garoto.

— Não, você não pode fazer isso...

— Sim. Eu posso e irei. Mas irei te pedir duas coisas.

— O que?

— Diga a Bonnie que a amo, sei que já pedi isso, mas estou pedindo novamente. E chute o traseiro daquele demônio desgraçado, o exorcize pro Inferno e mate o desgraçado que doou seu corpo para ele.

— Ok, irei fazer isso. — promete Emily abraçando Edward.

Depois de alguns segundos ele se separam.

— Ok, está pronto garoto?

— Sim, estou.

O djinn se aproxima de Edward e com seu dedo indicador toca a testa do garoto. Um tipo de fogo fantasmagórico e vermelho toma o corpo de Edward incinerando-o. Edward fecha os olhos e grita por alguns segundos. O fogo contorna o corpo de Edward como se fosse uma roupa e então as chamas se concentram na testa do garoto formando um símbolo. Um espiral.

— É só isso? — pergunta Edward.

— Quando chegar o dia em que Deus — ele pronuncia a palavra com um tom de incredulidade — Vir nos buscar, isso irá trazer você até mim. E eu irei devorar você. É simples.

Edward arregala os olhos. O djinn sorri ao ver sua expressão.

Emily e Edward se abraçam mais uma vez.

Megan abraça Emily.

— Chega de enrolação, vamos gatinha.

— Não, espere.

— Aaaaaah, mas que porra.

Emily olha para Megan e Edward.

— Edward, sei que não tenho o direito de lhe pedir nada. Mas quero que perdoe a Megan e vice-versa. Se abracem, só peço isso antes de ir.

O casal se entreolha e se abraçam. Emily se sente completa, como se todos os seus objetivos estivessem concluídos. Ela se vira até o djinn que a encara com um olhar cínico.

— Posso?

— Sim...

Antes que ela pudesse completar a frase o djinn toca sua testa e Emily se vê envolvida por uma forte luz branca. Uma tinir em seu ouvido a incomoda profundamente, ela tenta tapar os ouvidos, mas não consegue. De repente, sente um frio no umbigo. Sentiu como se estivesse puxando-a pelo seu umbigo até determinado local. Era uma sensação estranha e ao mesmo tempo engraçada.

Sem saber o que fazer, Emily gritou.


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Notas finais do capítulo

Outro capítulo o/
Sim, super atrasado, eu sei u.u
Mas, fazer o que né gente?
Só tenho que pedir desculpas pelo TAMANHO e pelo ATRASO e também que me perdoem pelos erros de gramática, principalmente pela mudança repentina dos tempos gramaticais, é que postei tudo na maior pressa. Amanhã tenho que fazer trabalho de inglês e ficarei a tarde toda ocupada, e a noite irei estudar para meu teste de matemática.
Outra coisa, esse capítulo não saiu como eu queria. Diminuí de tamanho, tirei alguns encontros com outros monstros e outros detalhezinhos, além de que a narração em alguns pontos ficou podre. Me dêem sua sincera opinião! Sem pena... Ok, talvez só um pouquinho.
Sobre a lista de músicas para leitura que coloquei nas MPs, foi sugestão do Sky_Cullen (Mateus Antony), que afirmou que os leitores se sentiam mais entrosados na leituras e mais dentro do mundo que eu criei. Então pronto, a cada capítulo que se seguir irei colocar três músicas que eu escutei enquanto escrevia! o
*Revele sua verdadeira intenção.
*Bruxas podem lançar feitiços sozinhas como auxílio da natureza, mas quando precisam realizar um encantamento ou um ritual, precisam compartilhar sua energia com outras bruxas e somando essa gama de poder, realizar um determinado feito com a ajuda da natureza. Esses grupos de bruxas são chamados de assembléias e variam de quatro a vinte membros.
*Dimas é nomeado como o bom ladrão e por isso é um personagem sem nome na bíblia, mas a partir de algumas reedições ele ganhou o apelido de São Dimas. A relação desse nome com o djinn é o fato de que ele rouba a alma de Edward.
Isso é só, e o nome do próximo capítulo é:
"Today the word of the day is revenge."