Supernatural escrita por Sansa Thorne


Capítulo 9
This is not Wonderland Part. I


Notas iniciais do capítulo

Emily acorda em um lugar estranho cercado por monstros. Numa frenética perseguição na floresta ela acaba encontrando pessoas não tão estranhas assim. Agora, junto com essas pessoas nossa heroína terá de encontrar um jeito de voltar até o nosso mundo. Será mesmo que seu corpo irá resistir ao tempo enquanto seu espírito luta pela sobrevivência em um mundo desconhecido?



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(...) E num golpe final, o cão arrancou a alma de Edward prendendo-a em sua boca. Era somente uma linha de luz tremeluzente e fantasmagórica. O cachorro uivou e se embrenhou nas sombras abrindo um portal até o seu lar. O Inferno.

(...) — O que significa? — quis saber.

— Inferno é o lugar do teu filho agora, vadia.

(...) — Por que se casou com meu pai? Você era somente uma caipirinha do interior. Sua família tinha sido dizimada no desabamento da mina. Sua mãe foi pro orfanato, cresceu lá. Deu a luz a ti. Depois, você foi criada por um casal de caipiras. E você deu a sorte de se encontrar com Ronald VanCamp. Homem rico. Bem resolvido. O que fez? Aproveitou-se de sua beleza. O encantou. Casou-se. Enriqueceu e montou sua própria linha de roupas. A famosa Queens of Van. “O jeito mais fácil de você se sentir uma Rainha.”

(...) — Esses monstros já estavam em minha cola. Eram fáceis de driblar. Mas eu trouxe esse mal. Esse monstro é de um poder inacreditável. Vocês precisam se unir para destruí-lo. Esse momento está próximo. — conta Megan.

— Não é um espírito? — pergunta Helena.

Megan ri.

— Vocês teriam sorte se fosse um espírito, minha querida.

(...) — Você? ­— sussurra Bonnie perplexa encarando aquela forma buscando ver os contornos do rosto do assassino. — Você está morto!

(...) De repente Emily arremessa o corpo contra a varanda. O corpo caí em direção ao chão da casa violentamente. Emily para de gritar e caí no chão. As garotas correm até ela e tentar acordá-la balançando o corpo.

(...) — Não consigo ouvir o pulso dela. — diz Helena com a voz desconsolada.

Enquanto estava ali, de olhos fechados e inconsciente um turbilhão de lembranças assolava sua cabeça. Tremores percorriam seu corpo de vez em quando. Relances de sua luta contra um inimigo encapuzado. A sensação de que pequenas agulhas eram enterradas em seu cérebro. A sensação de formigamento que sentia na mão. Ao mesmo tempo em que a sensação inebriante de poder tomava sua consciência. Seus músculos tensos e rígidos se entregando a flacidez à medida que usar magia se tornava mais fácil. À medida que sua gama de magia ia aumentando e lhe proporcionando a impressão de ser a pessoa mais poderosa do mundo.

Agora eu entendo Megan. É tão fácil matar. Tão fácil fazer qualquer coisa... Se vingar, até. Talvez. Ela se lembra de ter pensado.

Emily nunca usara magia sem culpa. Mas agora se dizia ter um motivo. Implantara em sua consciência uma desculpa aceitável: a sua sobrevivência e a de suas amigas.

Mas ela excedeu os limites de uma aprendiza. Usou sua gama de magia inteirinha esgotando suas energias. Seu cérebro entrou em colapso e seu corpo não respondia mais a estímulos. Em uma fração de segundos uma luz negra tomou conta de Emily. Sentiu seu pulso sendo tocado por algo frio. Ouviu vozes desesperadas e com tons que indicavam urgência.

Mas não conseguia responder. Nem se quer conseguira abrir os olhos.

Quando retomou a consciência sentiu que estava deitada sobre algo almofadado e úmido. Emily sente o frio lamber seu corpo fortemente. Sente os capins roçando contra o seu rosto. Os galhos das árvores produzem um assobio melodioso. As folhas secas voavam em sua volta. Ela pode sentir. O sussurro da ventania ao seu ouvido parece uma canção de ninar.

Emily finalmente toma coragem e abre os olhos. Nada que ela viu antes podia prepará-la para aquela visão. O lugar onde se encontrava só pede uma palavra para descrevê-lo: encantador ou para seres sábios, medonho. Emily se senta e olha em volta. Estava deitada sobre uma campina. O enorme terreno é coberto por trigo dourado. As árvores que cercam a campina são altas e próximas, com troncos grossos. Aqui a ali havia conjuntos de arbustos espalhados.

O céu possuí uma cor avermelhada ainda mais forte que a cor do sangue. A enorme imensidão acima de Emily assemelhava-se á uma enorme poça de sangue derramada sobre um campo. As estrelas possuem o brilho forte como o de um farol. Aquele lugar parece ter suas próprias constelações. E a lua foi o que mais chamou a atenção de Emily e a encantou.

A lua era imensa.

Muito maior do que a lua em qualquer fase. Pensa Emily.

Não havia explicação para tal beleza. A lua naquela imensidão de sangue parecia um globo de ouro. Dourada e incandescente. Não era uma lua cheia. Era muito maior. O enorme globo de ouro estava despido. Nenhuma nuvem ousava esconder aquela perfeição. É como se a terra estivesse deslocada no espaço, para mais perto da lua. Emily sentiu que se estendesse a mão o suficiente, poderia tocar o astro.

Então os olhos de Emily captam um movimento no céu. A primeira vista parece ser um comenta. Mas o cometa possui a cor negra. A enorme calda do cometa corta o céu ao meio e ofusca o brilho das estrelas. A linha tremeluzente dança no céu como uma bailarina solitária e mergulha até a floresta.

Emily escuta algo ao seu lado.

Ela olha para o lado e tenta encontrar algo em meio às árvores juntas. Ela estreita os olhos e procura por uma silhueta, mas não encontra. Emily fica ali por alguns segundos esperando por um movimento até que desiste. Assim que se vira ouve um rosnado. Ela se vira depressa e encontra um par de olhos amarelados encarando-a. Uma baforada de fumaça escapa pela boca do monstro e espirala em redor do mesmo.

Emily recua e tropeça em seus próprios pés caindo sentada no chão. A criatura avança por entre as árvores. O enorme vulto saí das árvores mais ainda fica oculto pela enorme sombra projetada pelas árvores.

— Fogo, queime. — pede Emily falando alto e claro. Aparentemente o comando não funcionou. — Fogo, queime. Eu ordeno, queime.

Nenhum resultado.

Emily sente o pânico tomando conta dela. Ela estende a mão mais uma vez e repete o feitiço. Sua mão aquece por alguns segundos e adquire um brilho avermelhado. A sensação de dormência a incomoda. Ela tenta se levantar, mas não acha nada para se apoiar. Desesperada começa a engatinhar até que consegue levantar.

Seus joelhos rangem com o esforço e seu corpo protesta. Sua coluna é alfinetada com uma dor aguda. Emily grita alto e coloca sua mão na coluna. Fecha os olhos e respira fundo. Podia sentir o chão tremendo à medida que o monstro se aproximava.

Com o medo estimulando-a ela consegue se equilibrar começa a correr. Somente nesse momento percebe que está com a sua camisola. O frio lambe seu corpo com veemência. O queixo da garota treme descontroladamente enquanto ela corre descalça pelo campo de trigo. Atrás de si ela ouve os passos do monstro e sente o tremor sobre a terra.

Emily corre sem pensar até a floresta. Acha que pode ter vantagem escondida por entre os troncos grossos e abrigada pelos arbustos. Assim que adentra por entre as árvores ela se depara com uma silhueta enorme. Outro monstro. Ainda maior. O enorme animal eleva os punhos até o céu e desfere um golpe. Emily rola pro lado e sente o impacto quando o enorme punho da criatura se choca contra o chão fazendo seu corpo saltar alguns centímetros. Ela rapidamente se levanta dobrando e correndo por outro caminho. Ao seu redor as criaturas rugem, rosnam, uivam. Ela pensa ouvir vozes também.

Que lugar é esse? Pensa.

Sua garganta arde numa vontade incontrolável de gritar. Seu corpo pede para ela liberar seu pânico. Ela continua correndo. Os galhos das árvores ferem seu rosto e as folhas e a lama suja seus pés.

A garota continua correndo. Pensa que se parar pode ser o seu fim. Corre. Corre e corre. Os galhos ferem seu corpo. O sangue escorre por se rosto e por seu corpo. Os rugidos se aproximam cada vez mais.

Minha cota de experiências de quase morte expirou por hoje. Pensa Emily ranzinza.

Depois de alguns minutos correndo Emily ousa olhar para trás e se depara com a mesma silhueta correndo em sua direção. O ombro da criatura se bate contra as árvores criando enormes trincas nos troncos lançando lascas ao ar. Algumas árvores acabam indo ao chão ao se deparar com o corpo enorme do animal. Emily olha para o céu e encontra a lua acima de si. Brilhando com seu fulgor cor de ouro.

Então ocorre algo fatal que Emily já esperava. Era só uma questão de tempo para acontecer. Ela tropeça em algo. A garota olha para trás e encontra um tronco caído e retorcido atrás de si. Provavelmente ela tropeçou naquilo. A enorme criatura se aproxima dela. A abissal quantidade de músculos do monstro faz Emily tremer.

Emily recua empurrando a areia com os pés.

Era melhor morrer pela mão de K.

O que diabos era aquilo?

O monstro ruge e levanta seus punhos para o céu. Nesse exato momento uma flecha corta o vento e acerta o peito do monstro. Emily não perde a pequena oportunidade e se levanta preparando-se para correr. Ela olha para as sombras e encontra duas silhuetas. Pareciam ser humanas. A figura da direita se meche mais uma vez e outra flecha corta o ar.

— Corra, venha conosco. — fala uma voz. Provavelmente masculina.

Emily olha para trás e para as duas figuras misteriosas e escolhe o caminho mais óbvio de todos. Nenhum dos dois. Emily corre na direção contrária entre ambas as criaturas e corre desesperadamente. Logo se arrepende. Ela ouve o som do combate atrás e si e o som faz flechas cortando o vento — um sibilo que parecia o estalar de um chicote. Outro rugido. Emily continua correndo até chegar há um precipício. Ela corre ainda mais até chegar à ponta do precipício e olha para baixo. Havia somente uma imensidão negra. As árvores cada vez maiores se estendiam até o fim do horizonte. Não havia saída. Um comenta negro corta o céu naquele momento chamando sua atenção.

Então ela ouve um ruído atrás de si. Emily olha para trás e encontra as duas silhuetas. Um homem e uma mulher aparentemente. Então ambos saem para a luz. Emily pisca os olhos diversas vezes. Ela se recusa a acreditar. Mas era verdade. Ela estava vendo diante dos seus olhos Edward Simon e Megan Khan. Seus falecidos amigos.


— Δ —

Edward e Megan guiavam Emily pelo bosque imenso. Ouviam um rugido aqui e ali. Paravam por alguns segundos por precaução. Edward segurando sua faca e Megan puxando a corda e seu arco. Emily observa a postura de Megan.

Ela tinha sua perna direita frente ao seu corpo e sua perna esquerda como apoio. Seu braço ficara estendido segurando o arco e seu outro braço estava arqueado para trás para que ela segurasse aproximadamente a flecha pelo eixo. Megan estala seus dedos rígidos soltando a empunhadura do arco.

Edward segurava o cabo da faca mantendo a lâmina para baixo.

A expressão de ambos era feroz.

Trocaram poucas palavras. Megan lhe dissera apenas o necessário. Não explicara nada. Era como se aquela Megan que lhe ajudou em seu mundo tivesse desaparecido.

Megan está vestida como no dia em que morrera. Calça jeans skinny azul piscina. Camisa de cetim branco e tênis. O cabelo cor de chocolate e encaracolado estava jogado para a direita caindo em cascadas pelo seu ombro. Os olhos cor de mel de Megan estavam realçados pela luz da lua dourada. Mas algo nela lhe proporcionava um aspecto selvagem. Fosse pelas roupas sujas e rasgadas ou pela lama e pelo sangue manchando seu rosto, mas aquela definitivamente não era a Megan que invejara Lola, ou a Megan que roubara saltos de sua tia, que desde criança pedia maquiagens de presente. Aquela era outra Megan. Uma Megan transformada pela selvageria daquele lugar... Ele qual fosse.

Já Edward está com o seu macacão laranja da cela e com sangue manchando o tecido. O rosto do mesmo tinha respingos de sangue. O macacão possuía um rasgão no estômago. Um relance de imagens invade a imagem de Emily apesar de seus esforços... O corpo de Edward aberto ao meio e suas entranhas espalhadas pela cela.

Ambos tinha mochilas nas costas, provavelmente com mantimentos.

Emily está com sua camisola vermelha e descalça. Seu cabelo negro caído em quedas escuras voeja ao sabor do vento com folhas emaranhadas entre os fios. Seu rosto, sujo de lama e sangue assim como Megan.

— Xena... Conan... Olhem para mim. — pede Emily.

— Shh... — reclama Edward se virando.

— Ah, ok. Entendi, falar baixo. Hey, olhem para mim. Hey!

— Shh! — reclamam os ambos em uníssono.

— Ah, vão se foder. Eu quero saber onde eu estou! E se vocês falarem “Shh” mais uma vez juro que...

— Olha Alice, é melhor você calar a boca. — brinca Edward.

— Meu nome não é Alice. E esse com certeza não é o País das Maravilhas! — reclama Emily emburrada.

Edward se compadece de Emily.

— Olha, Emmy...

— Não me chama de Emmy. Você matou Lola.

— Você sabe que não fui eu.

— Eu te vi.

— Emmy, nós iremos te levar até um esconderijo. Onde é seguro, lá iremos te explicar tudo, ok?

— Sim. Vamos andando então.

Antes que eles pudessem andar Emily se lembra de algo.

— Esperem! Não é melhor eu ter uma arma?

Edward e Emily se entreolham. Edward respira fundo e tira de sua bolsa um cutelo.

— Sério? Isso? — questiona Emily.

— Ah, cala a boca e pega, garota. — reclama Megan pegando o cutelo e arremessando até Emily.

A garota se abaixa e sente o cutelo passar por ela. Emily olha para Megan com confusão e pânico no olhar. Sem falar nem mais uma palavra ela pega e arma e continua andando ao lado deles. O trio só possuía armas brancas, o que quer dizer que se encontrassem uma criatura teriam que lhe enfrentar num confronto direto.

Depois do que pareceram horas de caminhada, os três chegam ao que aparentemente é o seu destino. Megan para frente a um desfiladeiro e olha para baixo. Edward respira fundo.

— Eu vou primeiro e você ensina Emily. — avisa Edward.

Emily o encara e espera por seu movimento quando de repente Edward pula do desfiladeiro. Os olhos de Emily se arregalam e ela corre para socorrê-lo. Ela chega à borda do desfiladeiro a tempo de ver Edward descendo o desfiladeiro. Mas não em queda livre, de algum jeito o garoto conseguira se agarrar as pedras e encaixar seus pés em determinados pontos para sustentar seu peso. Edward olha para baixo e pisa forte em uma pedra, o pedregulho rola desfiladeiro abaixo até cair no rio que os aguardava abaixo. Edward procura por apoio próximo e acaba encontrando uma falha na rocha onde encaixa seu pé e passa seu peso. Depois de alguns minutos de pura tensão o garoto consegue chegar até o chão e sinaliza para que Megan leve Emily até o chão.

Emily encara Megan perplexa.

— Sério mesmo? Não tem outro jeito?

— Querida, está com medo de que? De morrer? — zomba Megan.

— Eu estou morta?

— Bom... Depende. Irei consultar Gavin.

— Gavin?

— Sim. Mudando de assunto... Você entendeu? Só é ir com calma. Encaixando o pé nos fissuras do desfiladeiro e passando peso de um pé pro outro. Não se esqueça de segurar firmemente as pedras e lembre-se, sempre teste para saber se a pedra realmente irá agüentar seu peso. Se não encontrar numa rocha próxima... É simples.

— O que devo fazer?

Megan sorri.

— Pular.

Antes que Emily pudesse protestar Megan se vira e pula do precipício. Emily analisa a queda e deduz que o abismo possuiu no mínimo quinze metros. Megan logo arranja um jeito de se segurar nas rochas. O jeito como Megan se movia chegava a ser encantador. A certeza que ela possuía ao fazer aquilo deixava Emily boquiaberta. Megan arremessava seu corpo até outra pedra. Na maioria das vezes ignorava o apoio para os pés usando somente as mãos. Às vezes usava os pés para ganhar impulso e se distanciar do rochedo. Depois de algum tempo observando Megan, Emily pede totalmente a coragem.

No que pareceram segundos, chegou a vez de Emily pular.

Ela sente sua respiração acelerar e o suor descer por sua pele. Sabia que não estava suando, mas mesmo assim aquela sensação lhe causa um grande incômodo.

— Emily, não temos o dia todo... — reclama Edward.

— Mas aqui não existe dia. É sempre noite.

— É modo de falar...

— Você é retardado? Num lugar onde só existe noite, tu fala “não temos o dia todo”, não temos dia, nem metade de um dia, nem ele inteiro.

Emily revira os olhos e decide descer. A garota respira fundo e fica e costas. Aos poucos, ela estende seu pé até a borda do desfiladeiro. Um tremor percorre seu corpo quando ela não sente o chão abaixo de seus pés. Ela fecha os olhos e tenta encontrar apoio.

— Pula garota, antes de cair você se agarra em algo! — grita Megan.

— Nãaaaaaaao! — grita Emily apavorada.

— Vamos passar o d... A noite toda aqui. — garante Edward.

Emily reúne coragem o suficiente e deixa seu corpo leve e flácido. Aos poucos seu corpo escorrega pela borda do precipício e se desgruda das rochas. A caída pareceu acontecer em câmera lenta. Ela pode ver cada detalhe. A lua dourada brilhando no céu cor de escarlate. O rio abaixo de si. Os seus dois amigos na margem do rio. E automaticamente seus braços se estendem. Emily se agarra a uma rocha e fica ali, parada por alguns segundos. O corpo colado a pedra. A queda livre nem sequer levou um segundo. Ao perceber que somente requer confiança em si mesma e coragem, Emily se desgruda do rochedo e faz como Megan. Ela deixa seus pés balançando e se joga até outra pedra. Mas algo a surpreende. Mesmo com o braço estendido sua mão não alcança o pedregulho que serviria de apoio. O corpo de Emily caí livremente, ela meche seus braços, mas percebe que está longe demais do rochedo. A queda é rápida. Mas antes de atingir o chão, Emily busca se equilibrar no ar.

Ela abre os olhos ao sentir o impacto do chão contra seus pés. Os seus músculos reclamam. Ela abre os olhos e percebe que caiu em pé. Somente abriu suas pernas para que o impacto fosse espargido. Fora um movimento automático.

— Ahn... Ok, Emily. Você está... Sua calcinha... — avisa Edward.

Emily se dá conta e fecha as pernas puxando a camisola até perto do seu joelho.

— Do Bob Esponja? — brinca Edward.

— Ah, cala a boca garoto... — adverte Megan segurando o riso.

O trio anda até a margem do rio.

— Ali, é onde nos abrigamos. — Megan aponta para uma caverna.

A caverna ficava entalhada no rochedo, oculta pelas sombras e fora do alcance da luz da lua. O enorme arco de pedra marca a entrada da caverna. Para chegar até o tal abrigo, era preciso passar pelo rio que possuía uma forte correnteza. O único modo de passar era por uma série de pedras que cortavam o rio ao meio.

— E como iremos passar?

— Pelas pedras. — esclarece Edward.

— Só existe esse jeito?

— Bom... Esse é o único jeito de passar e permanecer vivo.

— Ah, ok. Vamos passar pelas pedras.

— Olhe, Emmy... São escorregadias. Tome cuidado. Não se distraia. Não pule de uma pedra para outra. Engatinhe até as outras pedras e segure-se em mim, a correnteza é muito forte e por vezes corta nossa relação com esse mundo.

— Nossa relação com esse mundo?

— Sim... Explico-lhe depois.

Edward toma a iniciativa. O garoto pula no rio e rapidamente recebe o impacto da correnteza. As correntes de água parecem exercer um grande peso sobre o corpo de Edward, mas o garoto consegue alcançar uma pedra. A água fica aproximadamente na altura dos joelhos do garoto. Megan segura na mão de Emily e com calma entra na correnteza. Megan sente a água contra os seus joelhos. Os músculos reclamam com a repentina mudança de temperatura. Emily segue os passos de Megan e evita até certo tempo o contato com a água até que lentamente coloca seus pés na correnteza. O líquido frio faz contato com sua pele de modo repentino e sem presságios.

Emily geme e segue Megan. Os três estavam juntos. Ao chegar até a pedra, Emily sente a superfície dura e escorregadia da rocha, não é exatamente um apoio que se preze. Emily se pergunta que tipo de mundo era aquele.

“Não temos dia, nem metade de um dia, nem ele inteiro.”

Aquela frase ecoa na mente de Emily. Que tipo de lugar é mergulhado na escuridão durante toda a eternidade? Que tipo de vida é essa? Porém, Emily parabeniza a si mesma por isolar a possibilidade de que ela pode estar morta. Ela parece fraca comparada a Megan. Emily relembra seus feitos heróicos, lutar contra K. Lutar contra um... Ela evitara dizer ou pensar naquela palavra, mas agora ela vinha a sua mente.

Demônio.

K é um demônio.

Mas elas deveriam prever, ao mexer com bruxaria, está mexendo com o equilíbrio entre o certo e o errado. Está corrompendo seu próprio espírito.

Mas o que um ser das profundezas do inferno iria querer torturando três inocentes... — Ou não tão inocentes assim — garotas.

O contato gélido do líquido desperta Emily. Megan dá um puxão na garota e a induz até uma segunda rocha que serviria de apoio. Emily e Megan estavam batendo os dentes. Edward avança pela correnteza até a terceira pedra, mas de repente algo acontece. O nível da água sobe repentinamente. Emily e Megan se entreolham, os olhares tinham a mesma carga emotiva: pânico. O nível continua a subir. A correnteza aumenta a força e o ritmo. O repentino fluxo congelante surpreende as garotas. Seus músculos parecem ser adormecidos.

— Está muito frio... — reclama Emily.

Edward grita ao perceber que a água estava chegando até seu peitoral. As garotas se agarram ainda mais a rocha. Então algo inesperado acontece. O corpo de Edward é carregado pela correnteza. Edward grita desesperadamente e tenta se agarrar a algo. A correnteza leva Edward numa rapidez inimaginável.

Emily grita desesperadamente e ao seu lado, ouve ecos vindos da caverna. Luzes tremeluzem refletidas nas paredes. Pessoas saem da penumbra da caverna e se aproximam de margem. Emily conta aproximadamente cinco pessoas. Todas as cinco pessoas carregam tochas que iluminavam os rostos deixando-as com um aspecto sombrio. A expressão de todas era a mesma: surpresa.

Um homem baixo, de aparência miserável se destaca na multidão. O homem é calvo, têm pele branca, olhos azuis e gélidos. Bigode alvo e veste-se com uma camisa regata branca suja de algo semelhante à areia. Calça social rasgada nos joelhos e maltrapilha. Uma bota de borracha preta. O que mais chamava atenção era seu capacete com uma lanterna. Parecia ser um minerador ou algo parecido.

— Gavin, faça algo! — grita Megan.

Imediatamente Emily conecta os fatos. Já tinha ouvido falar em alguém chamado Gavin antes. Agora que soube que ele era um minerador, tudo fazia sentido. Mas não teve mais tempo para pensar nisso. Os gritos de Edward pareciam ecoar por toda floresta.

Imediatamente Gavin sussurra algo para um garoto que saí correndo para a caverna e volta com algo que parece ser um aro. Gavin puxa o aro da mão do garoto.

— Megan! — grita o homem. A voz grossa do mesmo ribomba.

Ele arremessa o aro para o céu, imediatamente o aro se estende e Emily percebe que era uma corda enrolada. Antes que Emily pudesse perceber, Megan atira uma flecha. Emily rapidamente segura Megan pela mochila para que a correnteza não a levasse já que ela soltou as duas mãos.

A flecha certeira prende a ponta da corda a parede oposta do rochedo. A corda caí no rio e é levada pela correnteza. Megan aproveita a chance para atirar mais flechas. Uma. Duas. As três flechas certeiras prendem fortemente a corda no rochedo.

Edward nada incessantemente contra a correnteza. Os braços exaustos do garoto cortam a água fria como lâminas e ele movimentam seus pés com agonia. Edward continua gritando, mas o grito vai diminuindo cada vez mais de volume, perdendo a força. Com sorte, Edward consegue agarrar a corda e se segurar. Gavin e os outros dois sujeitos correm até a margem.

Megan e Emily se agarram a pedra. Emily isola sua mente e ignora os movimentos captados pela sua visão periférica para que pudesse chegar até a margem se agarrando e se sustentando nas pedras. Depois de alguns agonizantes momentos Emily e Megan estão sãs e salvas. Gavin e os outros cinco sujeitos os encaram com os rostos sombrios.

— Olá, Gavin... — fala Megan exausta.

— Megan... Quem é essa?

— Essa é Emily. — Megan ri — Emily, esse é Gavin. Gavin VanCamp.

Os olhos de Emily se iluminam mesmo que o ímpeto da notícia não fosse tão grande já que ela imaginara. Gavin arregala os olhos e encara Emily com o olhar recheado de surpresa e ao mesmo tempo algo semelhante ao... Afeto.


— Δ —

Um fato: Emily é horrível em história.

Mas ela reconhecera o nome do seu bisavô e sabia da história que envolvia sua morte.

Gavin VanCamp fora um dos mineradores que encontrara a mina de ouro abaixo de Landevil. Por meses, Gavin e outros trabalhadores ganharam uma grande parcela do ouro encontrado e formaram um império sobre Landevil, mas a maioria do ouro foi enviada até a colonizadora, a Inglaterra. Em 1951, a mina acabou desabando e até hoje o local foi fechado e a entrada é proibida pelo fato de que as minas oferecem um grande risco para a vida dos moradores e para os tais exploradores de Landevil.

Emily, Megan e Gavin estavam sentados sobre o arco que demarcava a entrada da caverna. Megan estava um pouco afastada. Uma estaca estava cravada no chão e queimava em fogo vivo. As chamas iluminavam os olhos violetas de Emily de modo mágico.

Edward e os outros cinco sujeitos entraram na caverna. Megan contara que havia mais de quinze pessoas dentro do abrigo.

— E então Annabelle teve uma filha. — fala de modo pensativo — Lindo é o nome que ela deu. Cece. — comenta Gavin.

— Ela não deu esse nome. A família adotiva de minha mãe deu outro nome para ela, mas quando se casou ela mudou seu nome. Ela disse que não queria de seus pais nem seu próprio nome. Minha mãe é do tipo que guarda rancor, sabe? E Annabelle até onde eu sei morreu no parto. Eu não conheci minha avó, na verdade nenhuma das duas.

— Que pena, meu amorzinho. Tu és tão linda, esse olhos, únicos. Violetas.

Emily assume um tom rosado e abaixa a cabeça jogando o cabelo sobre o rosto.

Megan desvia o olhar para a lua e encara o enorme e esplêndido globo de ouro.

— Sabe, eu queria saber que lugar é esse. — cobra Emily.

Gavin e Megan se encaram por alguns segundos e há uma compreensão de ambos os lados.

— Ninguém melhor para lhe contar do que seu bisavô.

— Ok, Megan. Deixe comigo, querida. — Gavin encara Emily e ela tem a impressão que ela está invadindo sua privacidade. Sondando cada pensamento que se passou pela cabeça da garota. — Aqui é... Aqui é o Purgatório.

Os lábios de Emily tremem como o de um peixinho dourado. Seus inocentes olhos violetas se enchem de lágrimas.

— Isso... I-isso quer d-dizer que eu estou...

Morta? Não. — esclarece Megan.

Emily a encara com uma pequena fagulha de esperança no olhar.

— Entenda, amor. O purgatório é um lugar onde as almas daqueles que viveram sobre a terra são enviadas. O purgatório é a linha entre o Céu, a Terra e o Inferno. Entende agora por que está aqui? Por que tu estás sobre a linha da Morte a da Vida. Esse é um lugar tortuoso para humanos, querida. — conta Gavin — Para aqui são enviadas as almas daqueles que chamam de aberrações, monstros. Nós humanos temos nosso espírito torturado por essas criaturas, somos somente presas para elas. São bestificadas pelo desejo de matar, mesmo que isso não sacie sua fome, pois elas estarão devorando espíritos. Nós, eu, Megan, tu e Edward sois espíritos. Corpos sem substância física. Sentimos necessidades. Sede, fome. E não conseguimos saciar. Aqui existe somente um mundo inteiro povoado por monstros que vivem na floresta. Por sorte, encontramos esse abrigo. E é aqui que os humanos vivem. Escondidos. Aqui existem rios, como bem pode ver. E nós podemos fazer nossas próprias armas. Às vezes alguns objetos são trazidos até aqui de modo inexplicável. Como eu lhe disse, aqui é somente a linha entre vários pontos. Sabe aqueles cometas negros que contam os céus?

— Sim... — confirma Emily se lembrando do bailarino solitário que cortou o céu cor de sangue e mergulhou na imensidão da floresta.

— São demônios que foram exorcizados, meu amor.

Os olhos de Emily se arregalam e ela recua assustada. Um arrepio percorre o corpo de Emily fazendo os pêlos de sua nuca ficar eriçados. Gavin percebe a reação da garota e seu olhar toma um tom de compaixão.

— Amor, se quiser que eu pare...

— Não, continue. Esperei por respostas e não irei ignorá-las quando posso tê-las.

Megan a encara enquanto passa seu dedo pela corda de seu arco. Provavelmente um objeto encontrado na floresta assim como Gavin falou, somente mais um objeto que foi trazido acidentalmente.

— Esses demônios, partem até o inferno onde aguardam para serem convocados.

Megan pigarreia e engole em seco.

Emily não dá atenção a esse fato.

— Os cães do inferno também passam pela floresta...

— Cães do que?

— Inferno. — responde alguém que estava escondido na penumbra.

Edward saí para a luz. Sua roupa estava pingando. O garoto passa a mão no cabelo e se senta ao lado de Megan preguiçosamente.

— O que são eles? — questiona Emily.

— Os monstros que me mataram.

A pupila de Emily treme. O terror invade seu corpo.

“O tal ‘cachorro’ que Edward Simon tanto mencionara, não fora encontrado nem no presídio nem nas redondezas da cidade. Inclusive nas gravações que estão sendo revistas.” Lembra-se a garota.

— Sim, os monstros. Ouça, querida bisneta. Os cães têm que atravessar a floresta e abrir outro portal até o Inferno. — expõe Gavin — Mas por alguma razão, o cão largou a alma de Edward no purgatório. Não sabemos o motivo, mas Edward não foi levado até o inferno. Logo depois, Megan o encontrou enquanto fugia de um monstro.

— Eu preferia o inferno. Qual a diferença? — reclama Edward.

— A diferença é que você não está em chamas, seu idiota. — esclarece Megan claramente mal humorada.

— Querida, irei arranjar um jeito de te levar até o mundo dos vivos. Sei que ainda está viva. — tranqüiliza Gavin.

— Eu posso morrer enquanto estou aqui?

— Não. Mas sua conexão com esse mundo pode ser cortada, e acredite, isso dói. Você não reata a conexão com nenhum outro lugar, você simplesmente não existe. Você coexiste com o vácuo.

Emily limpa suas lágrimas.

Megan se levanta. Emily a observa. “Nós humanos temos nosso espírito torturado por essas criaturas.” Emily se lembra dessa frase dita há pouco. Será que Megan fora forçada e se tornar uma arma para matar? Se tornar uma sobrevivente ao meio de um mundo de caos? Um mundo mergulhado nas trevas!

— Bom, eu irei tomar banho. — avisa Megan.

— Eu vou com você. — Emily também se levanta.

— Bom... Como nos velhos tempos.

— Irei tentar arranjar uma roupa pra ti, talvez alguma das garotas possa te emprestar para tua estadia. — conta Gavin. — Mas será difícil, essa roupa é muito curta.

Emily e Megan andam pelo túnel da caverna por alguns minutos. Emily observa toda a estrutura da caverna. Tochas cravas na parede iluminam de modo grotesco o local.

— E então, aonde estamos indo?

— Até a piscina subterrânea.

— Existe uma piscina subterrânea?

— Sim.

— A água é quente?

— Me poupe, Emily. Lógico que não! É fria. Mas a visão é linda.

As garotas andam por mais alguns metros até que as paredes começam a ser iluminadas por um brilho azulado. Emily anda atrás de Megan com a curiosidade lhe instigando a falar sobre aquele dia. Sobre quando Megan... Morreu.

Todos os pensamentos se esvaíram da mente de Emily quando ela chegou até a piscina subterrânea.

— Oh, é linda! — grita Emily surpresa.

— Shh, cala a boca garota! — sussurra Megan apontando para as estalagmites no teto. — Mas que porra! — reclama apertando o braço de Emily.

A garota fica calada. Apressada, Megan começa a tirar a roupa. Primeiramente, ela tira seu tênis e coloca próximo a uma rocha. Emily observa cada movimento da garota. Sinalizada raiva e ao mesmo tempo algo indefinido, talvez a mesma dúvida que Emily sentia. A mesma ânsia louca para levantar aquele desconfortável assunto.

— O que foi? Nunca me viu nua não é? — reclama Megan.

Emily desvia os olhos para a piscina. A água era tão cristalina que ela podia ver a profundidade e as pedras no fundo da piscina. De modo inexplicável a água tinha um brilho próprio que reluzia nas paredes da caverna.

Assim que Megan tira a roupa ela mergulha na piscina com um pulo. A água se espalha e ela fica ali, mergulhada na água. Emily desvia os olhos do corpo de Megan com sua imagem refratada por causa das leves ondulações da água. Emily tira a camisola e pula na água. Ambas nadam distanciadas por alguns minutos. O silencio reina.

— Ok, não vou agüentar. É isso que você quer? Torturar-me com esse silêncio? — questiona Emily ranzinza.

— Acredite, eu tenho planos mais criativos na cabeça.

— Megan! Mas que coisa, é a única chance que temos para conversar. Você está tão diferente, quando estava comigo hoje em casa...

— Eu? Com você? Oh, meu deus. Entendi. É isso que acontece quando se corta a ligação.

— Ahn?

— Eu sou a única aqui, Emily. Eu não posso ir para o Céu, ou o Inferno... Tanto faz. Quando chegar à hora, eu ficarei presa aqui.

— Por quê? — pergunta Emily se aproximando cada vez mais.

— Ora, por que meu corpo está preso dentro de um rio. E sendo assim, ainda está em perfeito estado de conservação por causa do feitiço. A não ser que vocês morram ou que quebrem o feitiço, eu estou presa aqui. Para uma pessoa ter paz no Purgatório, se é que é possível, é preciso que o corpo seja enterrado ou que os ossos sejam queimados. Quando eu morro aqui e corto minha ligação, eu não fico no vácuo, eu vou para seu mundo. Ou pelo menos costumava ser o meu.

— E o que isso quer dizer?

— Quer dizer, que eu sou totalmente diferente lá. Lá, querida, eu sou um fantasma. Cada uma me vê do jeito que quer. Como você viu?

— Bom... Você estava linda. Como na festa do Tyler de halloween de 2008. Com um vestido largo branco, com seus cabelos soltos e maquiada de fantasma. Tipo... Bem característico.

— Ótimo. Quando eu estou lá, eu tenho a lembrança do que eu vivi lá. Tudo o que eu vivi aqui no purgatório desaparece. Como se eu fosse outra Megan. Mas aqui eu sou assim, amarga. Eu não digo que tive culpa no que irá se tornar o túmulo de vocês, mas literalmente, você me enterram.

— Sim, você foi nossa passagem para o túmulo. Você nos corrompeu. Você praticamente nos obrigou a usar a bruxaria contra Lola. Ela quase morreu por sua causa!

— Vocês eram meu plano B. Só se ele falhasse.

— Ele quem?

Mea ultor.

— O que isso significa?

— Ou também conhecido como Duque de Monte Cristo. Deixei pistas para vocês, sabia que a algo acontecesse, estaria em perigo.

— Por isso nos forçou a ler o livro?

— Sim, queria despertar um sentimento de ódio e vingança dentro de vocês. Ele se alimenta disso. E vocês tinham tanto ódio guardado, que ele teve força o suficiente para matar Lola.

Ele quem?!?!

— Você não percebe? Não posso te falar. Ele é K. Ele pode me matar.

— Garota, você está morta!

— Existe uma morte pior que essa.

Emily grita e bate na água. Os respingos voam no rosto de Megan.

— E deu errado?

— Os métodos dele eram meio... Radicais. Eu briguei com ele. Pedi para ele sair daquele corpo. Ele deixou o corpo, mas minha tia não resistiu. Acabou ficando louca.

Os olhos de Emily se arregalam.

— Você deixou um demônio entrar no corpo de sua tia?!

— Ele me convenceu. Eu estava embarcando na magia negra. Treinava escondida.

— Já suspeitávamos.

— Sim. E isso me afundava cada vez mais. Eu queria ser como Lola. Linda, popular, cercada por amigas.

— Você tinha amigas.

— Eu não valorizava vocês. Isso foi um erro, eu sei.

Emily respira fundo e fecha os olhos. Era muita informação para ela absorver de uma vez só. K era um demônio, isso é um fato.

Aparentemente Megan estava usando um demônio para arquitetar uma vingança contra Lola. Mas ela se arrependeu e tentou banir o demônio, que acabou se revoltando contra ela o que resultou numa batalha entre ambos. Então foi quando Megan recorreu até as garotas e lhes contou sobre o livro. Mostrou a elas o que era o verdadeiro poder as inebriando com sonhos impossíveis. Quando ela pôs o plano em ação, acabou morrendo e está aqui desde o acidente.

— Megan, você é uma vadia.

— Acredite, eu sei. Mas isso daqui me corrigiu.

— Dois anos aqui? Nem chegam perto do castigo que você merece. Você nos corrompeu. Até hoje sofremos com a conseqüência. Por que será que K está atrás de nós? Se passando por você... Ameaçando-nos. Quem o convocou foi você!

Ele está terminando seu trabalho. Pensa Megan.

— Eu passei duzentos anos aqui, Emily.

— Ahn?

Megan olha para ela com os olhos cheios de lágrimas.

— O tempo aqui passa diferente. O tempo que eu passei aqui equivale há duzentos anos, enquanto só se passaram dois anos na vida de vocês. Eu sofri muito, Emily.

Emily sentiu vontade de abraçar Megan e confortá-la. Mas ao saber que ela foi a responsável pelo que elas estavam passando, nem um pingo de piedade reluziu dentro do espírito bondoso de Emily.

— Foda-se você. Quando eu escapar daqui, irei me certificar que o feitiço fique ainda mais forte. Para que você passe o resto de sua vida aqui. Com a sua raça! Com monstros.

— Faça isso sua puta e acabo contigo. Irei lançar uma maldição em ti que irá substituir seu sangue por lava. Juro. Eu conheço vários métodos de tortura, meu amorzinho. E acredite, posso te convencer a quebrar o feitiço.

— Aqui não se pode usar magia.

— Hahaha! A magia aqui é diferente. Mas ainda é possível.

— Como se sua magia aqui?

— Foda-se sua vadia.

As duas garotas se encaram por alguns segundos. Os olhares impregnados de puro ódio. Nesse momento elas ouvem passos ecoando pela caverna. Megan nada até a margem e corre até a rocha onde deixou seus pertences e pega o arco e flecha.

— Gavin está... — Edward fala até perceber o corpo escultural de Megan a sua frente.

A garota exibia o busto orgulhosamente enquanto respirava fundo para se concentrar e atirar a flecha.

— Oh Deus, nunca tive tanta malícia em minhas orações... Mas mesmo assim obrigado!

— Saia daqui, seu viadinho! — xinga Megan cobrindo seus seios e fechando as pernas para proteger seu órgão sexual.

Edward continua encarando e rindo.

Emily nada até a margem da piscina e se esconde abaixo de uma rocha.

Megan atira uma flecha que é cravada na rocha ao lado de Edward. O garoto sai correndo com sua risada ecoando pela caverna.

— Filho da puta...

Emily prende o riso enquanto tenta subir no rochedo que demarca a margem da piscina.


— Δ —

Emily e Megan estavam vestidas.

Mas Emily vestia uma calça jeans preta e uma camiseta vermelha simples junto com um all star rasgado e sujo.

— A roupa lhe serviu? — pergunta Gavin.

— Oh, sim. Agradeça a garota por mim.

Gavin ri.

— Ela ficou feliz em vestir algo confortável. — conta — Eu pedi essa roupa por que sei o que teremos de fazer para que você volte. Viva.

— Qual seria esse jeito? — questiona Edward.

— Estou fora, seja qual for. — avisa Megan.

Gavin franzi o cenho e continua a falar confuso com a reação de Megan.

— Nos meus primeiros anos aqui, eu encontrei uma criatura. Um djinn. E ele garantiu-me que poderia me conceder a saída daqui por um preço. Eu não aceitei, não gosto de mexer com bruxaria e na época eu ainda estava nos meus primeiros cem anos.

Emily pensou na tortura que é pro seu bisavô viver a tanto tempo num mundo mergulhado de trevas. Fazia sentido ele ser o líder do grupo.

Djinn? Oh meu deus. Eles são da pesada... — avisa Megan.

— O que são eles?

— Bruxos. Da pesada... Tipo, magia negra. Um bruxo se torna um djinn quando mexe com aquilo que desequilibra a natureza para satisfazer seu próprio desejo. O tempo, a morte ou o amor. Eles são condenados a ter espíritos dentro de si, torturando-o. Pedindo-lhe favores. Essas criaturas são condenadas a realizar os desejos dos outros para sempre.

— Gênios? — lembra Edward.

— Sim. Tipo.

Emily encara Gavin.

— Tem certeza que é o certo mexer com ele? E se o preço for algo que não possamos pagar?

— Um favor. No máximo. Eles também precisam ter seus desejos realizados. — conta Gavin.

— Eu estou fora. — declara Megan mais uma vez.

— Não, você está dentro. Deve-me isso! Se estou aqui, se Edward está morto, é por sua causa.

— Minha culpa?

— Não finja-se de santa, está na hora de Edward saber.

— Saber o que? — questiona Edward com a curiosidade brilhando em seus olhos.

— Edward, por que você matou a Lola?

— Eu disse ao policial e ao pai da Bonnie, Louis. Eu não conseguia controlar meu corpo.

— Isso é o sintoma de uma possesão. Não é, Megan?

— Sim... — confessa Megan enxugando as lágrimas.

— Isso quer dizer que Edward estava possesso por algo quando cometeu o crime. Foi preso e conseqüentemente, foi morto. Por causa de um demônio que você invocou. Então cale essa sua boca, abaixe esse seu nariz e pegue suas coisas. Gavin, — fala Emily encontrando o olhar assustado e surpreso do bisavô — Iremos encontrar esse tal djinn, e eu irei para casa. Agora eu sei como resolver esse problema cujo nome é K.


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Notas finais do capítulo

Peço desculpa aos meus leitores ¬¬
O Nyah! não aceitou o nome do capítulo e tive que mudar. Bom, o capítulo foi grande, eu sei. Ficou tão grande que eu tive que dividir em duas partes. O próximo capítulo terá os três melhores fatores: discussões, lutas, bruxaria *-* Mas acho que valeu a pena ler tudo isso. Tivemos várias informações importantes que praticamente aguardam somente uma última peça para completar o quebra cabeça: o nome do hospedeiro e do receptáculo. Sugestões de quem pode estar emprestando seu corpo para K? HAHAHAHAHAH! Bom, aguardando vocês no próximo capítulo. Resolvi postar antes para comemorar o halloween, mesmo que a data já tenha se passado. But... Quem disse que os espíritos também não violam regras? Próximo capítulo amanhã hein? o/
"This is not Wonderland Part. II"
PS.: Desculpem os erros ortográficos gente, por favor! Foi feito as pressas. E a back cover foi feita por mim *-* Somente as garotas ensaguentadas foram pegas de uma foto de PLL, mas a lua e a floresta foi feita por mim *-* Gostaram?