A Vida Secreta Dos Imeros escrita por Kalyla Morat


Capítulo 12
Recomeço


Notas iniciais do capítulo

Olá caros leitores, nos próximos capítulos vocês conhecerão novos personagens e os mistérios de Luíza começarão a ser desvendados. Espero que gostem! Neste capítulo apresento-lhes Chang - o curandeiro.



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Eu me lembrava do barulho do galho ao se quebrar e do vento em meus cabelos. Eu me lembrava do tombo, mas não tinha ideia de como cheguei onde estava, ou, o que tinha acontecido depois que cai. Ai! Meu corpo não me deixava esquecer a queda, cada osso e músculo pareciam ter se partido em mil pedacinhos, eu estava cheia de hematomas e nada fazia com que aquela dor na cabeça insuportável me deixasse.

                Sofia cuidava dos meus ferimentos enquanto conversávamos. Eu acordara de um sono de dois dias há poucos dez minutos e queria saber exatamente tudo o que aconteceu depois que perdi a consciência. Ela me explicava pacientemente cada detalhe que podia lembrar:

                - Depois que você caiu, nós aproveitamos a distração e dominamos o bando de Claude usando nossos dons, você sabe – contava ela calmamente – Nós os amarramos nas árvores e corremos pra ver se você estava viva. Foi um susto e tanto.

                - Au! – protestei quando ela passou um algodão com um líquido que tinha um cheiro forte em uma de minhas feridas – Isso dói.

                - Fique quieta! – repreendeu-me - Eu poderia fazer a dor passar, mas é perigoso, não sou treinada o bastante ainda, então não seja uma mulherzinha.

                - Ora, mas eu pensei que isso é o que eu sou – satirizei rindo logo após. Ela riu também e no momento seguinte estávamos a duas em gargalhadas - Eu gosto de você Sofy – revelei com um sorriso, depois de me acalmar.

                - E eu de você Lu – declarou ela - E pelo jeito eu não sou a única... Sabe que ele ficou do seu lado o tempo todo?

                - Maicon? – chutei.

                - Ele passou aqui algumas vezes pra saber como você estava, mas não é dele que falo, é de Victor, ele parecia preocupado.

                - Victor? – quis confirmar em dúvida – tem certeza? – Victor me observando enquanto eu dormia não era algo que eu era capaz imaginar.

                - Sim, ele não saiu do seu lado nem por um minuto.

                - Ele só estava se sentindo culpado – deduzi – já que ele tinha que me trazer em segurança – completei.

                Sofia estava pronta para defender o irmão e só não o fez porque foi interrompida por um velhinho que se aproximava de minha cama. Seus cabelos brancos estavam presos em uma trança que alcançava a altura de sua cintura e seus olhos, levemente puxados, lhe davam um ar de sabedoria e conhecimento. Aparentando ter por volta dos setenta ou oitenta anos, ele me inspirava respeito, curiosidade e carinho, como um avô que conta histórias pra seus netos. Sua aparência física somada à túnica branca que ele vestia me lembrava dum velho sábio dos provérbios chineses. Ele trazia consigo uma bandeja prateada cheia de alimentos que eu achava que fossem frutas. Percebendo a presença do senhor, Sofia nos apresentou:

                - Oi Chang – ela o cumprimentou – aposto que ela está te dando muito trabalho não é? – completou com um tom brincalhão.

                - Ah senhorita Sofia, ninguém me dá tanto trabalho quanto você viu!- ele respondeu com carinho. – Eu trouxe algo para você se alimentar Luiza – ele disse olhando para mim.

                - Eu não tenho fome – respondi. Eu me sentia estranha e totalmente sem apetite.

                - E quem perguntou se você tem fome? – intrometeu-se Sofia – Você vai comer Lu, tendo fome ou não. A propósito, esse velhinho fofo aqui, é o Chang, ele é o curandeiro da aldeia e você trate de obedece-lo ok? – ordenou com zombaria falando com Chang logo após – Se ela não se comportar você me avise tá Chang, que eu vou tomar minhas providências.

                - Aé? – duvidei – E o que você vai fazer Sofy? Posso saber? – eu disse fingindo desafiá-la.

                - Diga a ela, Chang, do que eu sou capaz!- ela disse com um ar de superioridade fingida.

                - Há, há – ironizou ele – Acho bom você ouvi-la Luiza, ela é muito perigosa – ele completou abraçando-a e todos começamos a rir. Eu me senti muito bem com aquela situação, me senti parte daquele momento. Ele colocou a bandeja sobre minha cama e disse antes de nos deixar:

                - Coma Luiza, você precisa se recuperar. Eu tenho que deixa-las agora, tenho feridos na ala ao lado – Ele olhou para Sofia como se compartilhassem um segredo do qual eu não tinha o direito de fazer parte. Tentei não me importar com isso e comecei a analisar o quarto que eu ocupava.

                Da janela, uma luz amarelada iluminava todo o cômodo e era possível ver o verde que ocupava o lado de fora. O interior da enfermaria se parecia com um quarto comum, suas paredes eram de um azul bem clarinho e as várias camas, dez no total, se estendiam da direita à esquerda formando um corredor que dava acesso à porta. Na parede a minha frente, a mesma da porta, existia uma prateleira que ia do teto ao chão e que guardava todo tipo de potes e medicamentos, ataduras e instrumentos médicos. Se não fosse por esse móvel, eu nunca poderia sequer supor a que ele destinava já que ele se parecia mais com uma hospedaria do que como uma enfermaria.

                 Chang saiu do quarto e levou Sofia consigo assim que viu Victor passando pela porta, mas antes de sair, me olhou e como quem dá um conselho me disse:

                - Acho que vocês precisam conversar, mas lembre-se Luiza “Cão não ladra por valentia, mas sim por medo”, vejo você mais tarde e trate de se alimentar. Pegue no pé dela Victor!

                - Eu farei, pode deixar Chang – respondeu Victor com um sorriso no rosto, como se houvesse uma piada interna entre eles. O que Chang sabia que eu não estava a par?

                Victor esperou até que estivéssemos a sós e então começou. Eu peguei uma maça e mordisquei-a enquanto ele falava. Isso manteria minha boca quieta por alguns minutos, uma maneira de não irrita-lo.

                - Eu não vou perguntar se você está bem porque estou vendo que está.  Só me prometa uma coisa, não nos assuste mais desse jeito ok? – ele disse sério. Fui tomada pela surpresa daquelas palavras. Eu esperava qualquer coisa dele, uma bronca provavelmente, mas não isso, então tudo o que eu pude fazer foi me desculpar. Ele balançou a cabeça numa negativa e continuou:

                - Não se desculpe. Você foi tão corajosa como sempre, se não fosse por você nós seríamos levados de volta a Fortaleza, eu tenho que te agradecer por isso Luiza. Muito obrigado, mas não caia mais de árvores, por favor.

                - Ficou com medo de ser punido caso algo de ruim acontecesse comigo Victor? – Eu perguntei em resposta e dei mais uma mordida em minha maça que estava deliciosa.

                - Fiquei com medo de perder você Luiza – ele respondeu simplesmente.

                - Victor, eu acho que você tem sérios problemas, existem psicólogos aqui na aldeia? – eu quis saber.

                - Olha, eu sei que nós tivemos um começo ruim, mas eu tive medo ontem quando você caiu daquela árvore e eu acho que esse medo foi bem maior que todo medo que eu possa ter sobre você e de onde você veio, então eu só acho, eu estou pedindo uma chance pra você Luiza. Vamos começar de novo. – ele disse tudo de uma só vez, de forma acelerada e eu tive que esperar por um momento até entender o que ele estava querendo.

                - Medo de mim e de onde eu vim? Victor, que diabos, eu é que tenho que ter medo de você. Você me ameaçou de morte e sinceramente não intendo o que você quer dizer com isso.

                - Isso não é o mais importante Luiza, você está focando no que é desnecessário. Eu só estou pedindo uma chance, vamos recomeçar – ele suplicou.

                - Eu não entendo, recomeçar o que? O que você está querendo de mim Victor,             por que você sempre me trata como um louco quando estamos sozinhos e agora me pede isso?

                - Não sei como e nem sei quando, eu sei que não devo, só sei que quero e quero muito- ele disse me olhando nos olhos. Não sei em que momento suas mãos foram parar em meu rosto ou como ele ficou tão próximo, só me lembro do caramelo de seus olhos antes de ele me beijar apaixonadamente.

                - Um voto de confiança – ele pediu depois de me soltar e eu concordei.

                - Luiza – chamou Chang entrando pelo quarto – acho que chegou a hora menina.

                Eu olhei pra Victor procurando por uma resposta, eu tinha certeza que ele sabia do que Chang estava falando, mais como ele nada disse eu mesma perguntei ansiosa:

                - Hora de quê Chang?

                - De saber quem você realmente é. Cássia está te esperando na casa principal.


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Notas finais do capítulo

Cadê? Cadê meus reviews? Ein Ein? Se não souberem o que comentar que tal nos dizer o que acharam de Cheng? Até o próximo capítulo honeys!!