A Vida Secreta Dos Imeros escrita por Kalyla Morat


Capítulo 11
Resgate


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas!! Final de semana chegando capítulo fresquinho saindo do forno... Esse capítulo me deu muito trabalho, espero que gostem!! Boa Leitura!



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Acordar com o canto dos pássaros não é algo comum na Fortaleza. Na verdade é algo impossível, então, quando escutei o som do que Maicon dizia ser um Bem-te-vi, me silenciei e prestei atenção a cada nota pronunciada. Foi um dos sons mais lindos que já ouvi, doce e melodioso, um presente de boas vindas, e eu não acho que há uma forma melhor de se começar o dia. Talvez fosse um presságio, um aviso de que tudo correria bem. Eu estava otimista de que Sofia seria salva sem muitos problemas.

Não tinha muito que recolher em nosso improvisado acampamento entre as árvores e em menos de dez minutos, já estávamos todos prontos pra partir. É verdade que invadir um acampamento de saqueadores em plena luz do dia era algo extremamente arriscado, mas como o planejado, se tudo desse certo, nós tínhamos o elemento surpresa a nosso favor. Maicon acreditava que mesmo eles sendo muitos, nós tínhamos uma chance, já que eles não esperavam pelo ataque. Eu esperava mesmo que ele estivesse com toda a razão.

Eu já sabia exatamente o que tinha que fazer. Victor me explicara, passo a passo, com exímia paciência, uma autêntica surpresa pra mim e, nesse instante, eu me perguntava como ele podia ser capaz de mudar tanto de uma hora para outra? Como se existissem dois “Victores”, um paciente e adorável, outro, ambíguo e agressivo. O primeiro prevalecia a maior parte do tempo, mas quando estávamos a sós, o segundo surgia com força total, me deixando confusa e amedrontada. Que mistérios escondiam sua alma perturbada? Eu ainda ia descobrir prometi pra mim mesmo, louca para desvendar seus mistérios.  

Caminhávamos em direção ao acampamento dos saqueadores. Ele estava a dez minutos de distância do nosso e apesar da tensão ocasionada pela nossa aproximação, eu me sentia estranhamente contente. Até Victor aparentava estar de bom humor, todo o episódio passado parecia ter sido trancafiado em alguma gaveta e esquecido por aí. Maicon, por outro lado, estava sério e pensativo, e, quando lhe perguntei o que ele estava pensando, seu sorriso de resposta refletiu toda a minha curiosidade. O que será que se passava em sua cabeça?

Estávamos bem perto agora. A mata se tornara mais fechada, as árvores estavam mais juntas, galhos e folhas esbarravam por todas as partes do meu corpo. Pensei que fosse melhor assim, seria mais vantajoso para nós nos aproximarmos sem sermos vistos. Já era hora de nos separarmos, cada um para um lado a fim de atacarmos em todas as direções. Victor contornou o acampamento dos saqueadores afastando-se de mim pela direita. Maicon seguiu pela esquerda escondendo-se atrás de um arbusto enquanto esperava pelo momento do combate. Quanto a mim, só tinha que seguir em frente.

Caminhei cuidadosamente, passo a passo, evitando o máximo de barulho possível. Um roedor passou pelo meu pé, me assustando, e eu praguejei. Eu estava em alerta total. Victor e Maicon concordaram que eu ajudasse se me mantivesse longe, assim, prometi a eles que usaria apenas meu arco e, portanto não precisaria chegar tão perto do acampamento. Quando vi aquela árvore a minha frente, decidi que ela era perfeita para o que eu estava planejando. Seus galhos pareciam ter se formado especialmente para essa situação. Eu os utilizei como escada e escalei a árvore.

Do topo da árvore eu tinha uma visão privilegiada de todo o acampamento. Três lonas azuis, presas por cordas e estacas de bambu, formavam três pequenas tendas que estavam localizadas de forma triangular ao redor do que antes fora uma fogueira. A jaula de Sofia estava posicionada estrategicamente em um lugar de difícil acesso. O cara de cabelo rastafári que eu vira ontem andava de um lado a outro como se procurasse por algo que eu não sabia o que era. Não havia mais ninguém com ele. Provavelmente ainda dormiam já que fazia pouco tempo que amanhecera. Eu podia ver Victor e Maicon de onde eu estava. Agora eu só tinha que esperar pelo sinal.

Tensão era uma boa palavra pra resumir como eu me sentia. Engraçado como, às vezes, temos mais medo do que já sabemos que vem a seguir, do que quando somos tomados totalmente pela surpresa. Eu já podia imaginar o caos total que estava por vir, mas nem por isso eu me sentia menos apreensiva. Há poucos minutos atrás eu estava completamente tranquila e otimista, agora eu estava beirando ao descontrole. Eu tinha a ansiedade de uma criança que espera pelo terrível barulho de um trovão logo após ver a claridade criada por um relâmpago. Peguei o arco na mão e me preparei para o ataque.

 Em alerta total, vi quando Victor pegou a pequena esfera negra de seu bolso, segurou por alguns minutos em sua mão e num movimento cadenciado a jogou para o alto. A esfera negra fez um arco no céu e caiu bem no centro do acampamento, fazendo voar um milhão de estilhaços. Em seguida uma fumaça esbranquiçada começou a se formar e rapidamente dominou todo o acampamento, diminuindo minha visibilidade e consequentemente a dos saqueadores também. Esse era o sinal. A missão resgate de Sofia estava iniciada.

A esfera negra, como me explicara Maicon no dia anterior, era do mesmo tipo que eles utilizaram em minha captura.  Segundo ele, a fumaça que a esfera emanava tinha uma espécie de gás sonífero que fazia a pessoa cair num sono profundo em questão de segundos. Foi ai que eu me dei conta, que o objeto que Victor segurava em sua mão no dia em que eu os vi pela primeira vez no elevador, era uma daquelas esferas. Isso explicava o fato de como eu não tivera nem tempo de me defender antes de cair no sono e o porquê do Senhor Rastafári cair no chão sem nem se dar conta do que estava acontecendo naquele momento. Estávamos iniciando o plano A – invadir e resgatar sem sermos vistos.

O plano B consistia em distraí-los e imobiliza-los amarrando-os sem derramar uma gota de sangue e teve que ser iniciado assim que três saqueadores apareceram do meio das árvores pra checar o que estava acontecendo. Enquanto Victor e Maicon partiam para o calor da batalha, eu assistia a tudo de longe fazendo o possível para ajudar, já que, da distância em que eu estava, tudo o que eu podia fazer era derrubar e distrair um ou outro inimigo. Segurando o arco com a mão esquerda, puxei a corda com a direita até o queixo esperando que a flecha vermelha se formasse. Assim que a soltei ela se precipitou sobre um dos saqueadores levando-o ao chão ao atingir sua perna. Imediatamente começaram a surgir mais e mais saqueadores como se brotassem das árvores. Nós íamos precisar do plano C – eu não queria ter que usar o plano C.

Victor e Maicon começam a agir seguindo o plano C – atacar e derrubar o maior número de combatentes contando com a sorte de sairmos vivos daquele combate. Eu, do alto da árvore, continuava a lançar flechas e mais flechas para todos os lados, tomando cuidado para não acertar nenhum dos meus comparsas. Quando parecíamos, por um milagre, estar ganhando a batalha, o inimigo foi mais esperto e usou Sofia para barrar nosso ataque. Com uma espada em seu pescoço o rapaz alto de cabelos raspados começou a falar:

- Soltem as armas imediatamente, Victor, ou ela morre – disse no comando.

- Claude – invocou Victor como se já o conhecesse antes.

- Eu sabia que nos veríamos de novo – ironizou Claude.

- Solte-a Claude, ela não tem utilidade nenhuma pra você – alegou Victor em defesa da irmã.

- Sim, pra mim talvez não, mas eu aposto que a guarda vermelha daria uma boa recompensa por ela, você não acha Maicon? – disse Claude olhando em direção a Maicon. As coisas estavam ficando confusas. O que a guarda vermelha, a guarda da Fortaleza, teria interesse em Sofia? Por que eles recompensariam Claude se ele os entregasse? Continuei prestando atenção tentando entender o desenrolar da cena. Até aquele momento ninguém tinha notado minha presença em cima da árvore.

- Você não precisa disso Claude – afirmou Victor completamente controlado, como se estivesse negociando uma mercadoria e não a vida de sua irmã. Tanto controle em um momento e completamente descontrole em outro. Quem poderia conviver com alguém assim?

- Ora, ora, quem decide isso sou eu, caro Victor – informou Claude - Eu me pergunto o que eles vão achar se eu levar os dois irmãozinhos juntos... hmm.... Eu aposto que eles vão adorar.

- Cala a boca Claude – irritou-se Maicon.

- Ah caro Maicon, como vejo você continua o mesmo de sempre. Tsc, tsc... Eu aconselho que você fique na sua, nós estamos em número maior, e pelo que vejo quem está com a vantagem somos nós.

- Solte-a Claude – propôs Victor – e nós partiremos sem maiores consequências.

- Oh! Sem consequências, que gracinha! – zombou Claude - Sinto muito, mas... Aproveitando que vocês vieram até nós de boa vontade, eu não posso perder essa oportunidade, Victor! Quando eu levar vocês de volta a Fortaleza e entrega-los ao chefe da guarda, eu tenho certeza que ganharei muitos privilégios. É algo que eu não posso desperdiçar meu caro, você entende não é?

- O que você quiser Claude- implorou Maicon.

- Deixemos de conversa, prenda-os guardas! – ordenou Claude.

- Esperem! – me intrometi – Você disse chefe da guarda? – perguntei chamando sua atenção. Ele procurava de onde vinha minha voz, olhou para todos os lados, mas não conseguiu me localizar.

- Onde você está?

- Aqui, no alto da árvore a sua esquerda – ele olhou em minha direção finalmente me encontrando.

- Olha vocês trouxeram sua amiguinha!

- Claude, não é? – interrompi antes que ele continuasse com suas piadinhas - Você disse chefe da guarda... Eu conheço o chefe da guarda vermelha – declarei.

 - E daí?

- E daí que eu tenho uma proposta – ele me avaliou esperando que eu continuasse - Você solta Sofia e os meninos e eu vou com você. Tenho certeza que a recompensa será bem maior se você se propuser a me levar contigo.

- Ora Laura, por que diabos eles iriam querer você? –perguntou ele. Laura? Quem era Laura? Ele me confundiu com outra pessoa, mas falou como se me conhecesse há tempos. Eu não tinha ideia no que eu estava metida, só sabia que o que quer que fosse, eu estava atolada até a cabeça e todos pareciam saber exatamente o tamanho do meu problema, menos eu. Tudo estava cada vez mais nebuloso. Qual era o mistério que cercava minha vida afinal? Continuei negociando.

- Não, é Luiza meu nome – corrigi-o - Eu sou filha de Carlos Caillet, chefe da guarda vermelha. Eu fui sequestrada por esses aí – apontei com a cabeça para Maicon e Victor - tenho certeza que meu pai lhe dará uma boa recompensa caso me leve de volta e em segurança. O que acha?

No início Claude começou a rir, depois olhando para Victor e Maicon que permaneciam sérios, ele parou subitamente e quis confirmar o assunto.

- Luiza Caillet? – ele olhou para Maicon – Aquela lá? – ele disse como se soubesse exatamente quem eu era. Minha história parecia estar rolando desde sempre na boca de todos, eu era a única que não sabia de nada, a mais interessada e a última a saber. Era como se eu fosse parte do mundo inteiro, mas o mundo inteiro não fosse parte de mim. Essa ideia era insuportável e eu já estava me cansando disso.

- Ande Claude, você tem uma escolha – disse impaciente - Deixe-os ir e me leve com vocês! – eu insisti.

- Não Luiza – implorou Sofia - você não sabe o que diz! Você não pode fazer isso, eu não valho tanto assim pra você se arriscar por mim – suplicou ela.

- Não é sua escolha Sofia. – declarei.

- Feito - respondeu Claude – Desça aqui!

- Nada feito – se intrometeu Victor.

- Quieto Victor – repreendi - quem decide isso sou eu, estou cansada de todos vocês! – eu gritei - Eu só quero ir pra casa.

- Desça Luiza! – mandou Claude mais uma vez.

- Não! Primeiro você. Liberte-os e então eu desço, não tem como eu fugir de onde estou. Eu preciso de uma garantia de que você não vai prender a todos nós.

- Certo. – concordou Claude retirando a espada do pescoço de Sofia e a liberando - solte-os! – ordenou a seus guardas logo em seguida.

- Ótimo! Agora eu vou descer – me manifestei depois de ter certeza de que todos estavam livres.

Pronto. Estava feito, eu voltaria para casa e tudo seria como era antes. Guardei meu arco na mochila e me preparei para descer. Eu não tinha prestado atenção, até então, na altura em que eu estava do solo, dessa forma quando olhei para baixo tive uma leve tontura ao ver o quão alto eu tinha subido. Cuidadosamente, coloquei meu pé direito sobre o galho logo abaixo de onde eu estava e movi minha perna esquerda apoiando-a no galho. Esperei um segundo para manter o equilíbrio e recomecei o movimento. Quando coloquei meu pé direito no galho logo abaixo, ele escapou me levando ao chão.  Agarrei o galho com as mãos, mas não foi o suficiente para me recompor, com o impacto o galho se quebrou e eu fui arremessada ao chão. A última sensação que eu tive foi a do vento em meus cabelos durante a queda.


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Notas finais do capítulo

- Não esqueçam dos Reviews, eu preciso deles pra me motivarem a escrever. Até o próximo capítulo!!