O Utópico das Borboletas escrita por Sebastian


Capítulo 2
Moiras


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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II

Moiras

 

— Não acredita em mim, não é? — Eric encara sua mãe mais uma vez, tentando encenar pânico e medo.

Talvez ela se compadeça, levando-o embora. Todavia, por mais indefeso que possa parecer, Sara se mantém firme e forte na tarefa de procurar por ajuda. Eric sabe que não há problema algum com ele, sua cabeça é totalmente sã, parece-lhe participar de um teatro de fantoches, desde a morte de Annabel, todos colocaram na mente que o garoto possui algum distúrbio mental e que tem algum pouquinho de culpa enquanto ao incidente.

— Eu nunca te disse isso. — Ela o responde sutilmente, com a calma irritante que sempre carrega na voz.

— Mas pensou, todos pensam. — Ele a olha bem, pareceu balançar um pouco ao ouvi-lo, notando um tremular de lágrimas nos olhos dele. Ele espera que um pouco mais de drama a fará desistir. — Está sentindo pena de mim, eu sei.

— Não... — A mulher o envolve em seus braços. — Nunca. — Guarda no seu íntimo que lamenta sim por seu filho e que se houver uma notícia ruim após os diagnósticos do médico, fará de tudo para não demonstrar isso.

— Se acredita em mim, por que ainda estamos aqui? — Sara fica em silêncio, prefere ignorá-lo, subitamente o larga de seus braços. Eric compreende que não irão embora tão cedo, pois se sua mãe está tão disposta a ficar, que fique o dia inteiro à espera, mas sem ele. — Mentirosa!

          Ele se levanta e sai correndo em direção ao corredor largo, com seu chão e paredes brancas, passando pelas fileiras de cadeira pretas que se encontram encostadas nelas. Vira para o lado esquerdo, encontrando a saída, porém algo o parou, é o segurança do lugar.

— Crianças não passam sem os pais — diz o homem, bloqueando a passagem de Eric.

— Não estou com ninguém — mente.

— Não? Então por que aquela mulher está vindo em sua direção? — indaga o homem.

Sara vem atrás, gritando o nome de Eric. O menino não olha para trás, apenas segue o corredor direito, disparado, entrando no elevador mais próximo, apertando para o último andar do prédio. Corre até sentir que Sara não pode mais alcançá-lo, está tentando encontrar algum quarto para se infiltrar. Quando finalmente acha uma porta branca aberta, não pensa em mais nada, apenas entra no lugar e a fecha.

Está escuro e aquele quarto provavelmente tem dono, mas se encontra vazio. O espaço é pequeno, tem uma cama de solteiro de madeira escura coberta por um lençol azul simples. As paredes cor de cinza parecem ser recém-pintadas; uma janela quadrada com bordas de madeira escura, coberta por uma cortina fina de cor branca, reluz um pouco de luz no ambiente. Há ainda um criado-mudo com um jarro de girassóis murchos e só, nada mais preenche aquele espaço. Eric fica sentado encostado na porta, com as mãos abraçando os joelhos, mantém-se encarando a janela, sentindo o vento suave e gelado tocar seu rosto e fazê-lo tremer. Sua mente mais uma vez volta para a semana em que Annabel morreu.

Agachou-se perto do corpo da garota e passou a mão levemente pelo rosto dela. Não fechou os olhos vidrados, apenas ficou olhando-os, queria entreter-se dentro de sua alma, assim como ela fez ao olhá-lo pela primeira vez. Mas, o que haveria dentro de seus olhos, se a vida havia se esvaído?

— Será que você foi para o céu mesmo, Mitchell? — murmurou para si.

— Eric, saia de perto! — exclamou a professora, enquanto corria em sua direção. Ela agachou-se perto do corpo, olhou para Annabel e viu que realmente não havia jeito, pensava numa forma de entregar essa notícia à família da garota. — Por favor, vá para diretoria, a sra. Campbell está te esperando para... — A voz se abalou, tornando-se um engasgo para o choro. — Para te ajudar. — Era visível que estava perdida e desesperada, não havia nada a ser feito por ele ou Annabel. — Ela vai te ajudar... — repetiu, quase transtornada. — Com um copo d'água. — Naquele instante, Eric comprimiu os lábios para não soltar uma gargalhada, para que um copo d'água lhe serviria? Quem realmente precisa do auxílio da sra. Campbell era ela e talvez do mágico copo d'água.

— Srta. Johnson... — proferiu ele, baixinho, todavia ela o interrompeu.

— Walker, por favor, não é bom para você ficar aqui. — Ela fungou.

O garoto assentiu, o trajeto parecia mais longo que o normal, pois, além de observar cada canto que agora se revestia de obscuro luto, tinha de ver o olhares de pavor e tristeza o seguindo, até mesmo alguns dedos trêmulos apontados para suas costas. Passou em frente à sala dos professores, havia um tumulto, vozes altas, falando ao mesmo tempo, procurando uma forma de evacuar a escola. Quando chegou à porta da diretoria, bateu devagar, ficou surpreso ao descobrir que quem estava à sua espera não era a sra. Campbell e sim, o sr. Henderson, o professor de história. Ao contrário da maioria dos adultos, ostentava o semblante calmo, sobretudo a fala sob controle. Apesar disso, era notório o suor gelado descer por entre suas sobrancelhas, fazendo o óculos escorregar pelo nariz rechonchudo.

— Entre, querido, entre — falou, segurando os ombros do garoto de maneira leve, enquanto o conduzia para cadeira, que em qualquer outro momento, serviria para algum pai ou mãe. — O que você quer fazer? — indagou, esfregando as mãos, de minuto em minuto fazia isso, estava se tornando difícil esconder a inquietação. Eric ficou em silêncio e por um instante o homem também. — Bem. — Deu a primeira palavra, visto que se encontrava desconfortável com o olhar penetrante do menino. Sentou-se ao lado dele, respirando fundo, parecia que iria falar algo muito importante. — Estamos diante de uma situação terrível, Walker... Sua mãe já te contou sobre... Bem... — Ele tentava buscar as palavras mais gentis, então se levantou, indo para trás da mesa, abriu várias gavetas até encontrar um tubo de barbante e em seguida, amarrou uma ponta do fio no suporte de uma luminária de mesa e a outra em uma caneta presa à um sustentáculo, o objeto balançou um pouco, pois era leve demais; o fio ficou esticado de maneira sinuosa, mas que era suficiente para sua demonstração. Sentou-se na cadeira da diretora, a qual parecia mais confortável para dinâmica. — Todos nós quando nascemos temos uma linha, bem, digamos que do tamanho que cabe ao nosso destino, às vezes longa e outras curtas demais, essa linha é a vida. — Ele pausou, fitou Eric que estava totalmente entretido na história. — Mas, quando algo assim acontece. — Referiu-se ao ocorrido com Annabel. — É porque a linha foi cortada. — Dividiu o barbante com a tesoura. — Morte — proferiu em tom singelo. — Homens, mulheres, crianças e animais, todos temos uma linha, somos um livrinho com começo, meio e fim, alguns mais cedo e outros mais tarde.

— E quem corta a linha? — inquiriu o menino, cada vez mais curioso.

— Na mitologia grega são as moiras. — Henderson respondeu.

— Nome engraçado. — Ele sorriu.

— Mas depende do que você acredita. — Completou o professor, pensativo.

— Posso cortar um barbante, sr. Henderson? — perguntou com agitação.

— Claro. — O homem refez a linha, aliviado por ter conseguido distrair a criança. Eric cortou a linha como se fosse a vida de seu pai, Gared, ao final sorriu, como se aquilo fosse uma mandinga, pronta para funcionar, como adorava brincar de Deus. — Eric. — O homem pigarreou. — Gosta de desenhar?

— Prefiro cortar barbantes, pode fazer outro pra mim? — enunciou num tom doce, pensando nos nomes que cortaria na sua nova brincadeira.

— Bem. — Henderson franziu o cenho. — Parece que você gostou dessa dinâmica. — Ele fez mais uma linha, observando o menino cortar com animação. — Mas só foi uma comparação — alertou.

— Posso levar o barbante para casa?

Ele notou o brilho nos olhos do garoto, assegurava ter esquecido que sua amiga acabara de morrer e não ter compreendido que o barbante tinha sido uma metáfora, Annabel era o fio, mesmo assim entregou o objeto a ele, ao menos tinha algo para apaziguar sua cabecinha de criança.

— Gostaria de desenhar agora? — O homem inquiriu como se estivesse rondando um terreno.

— Por que quer que eu desenhe? — Eric retrucou de forma descontraída.

— Bem, quero que desenhe o que aconteceu lá em cima com você e... — Sua voz quase não saiu, temia falar o nome da garotinha e fazê-lo chorar. — Annabel, sei que deve estar sentindo falta dela agora, mas precisamos saber o que aconteceu.

— Eu não gosto de desenhar, sr. Henderson. — Ele abaixou os olhos, admirando o rolo de barbante. — A srta. Johnson me disse que a sra. Campbell estaria aqui e que me daria um copo d'água, mas eu prefiro chocolate quente — falou, desviando o foco do assunto.

— Bem, eu só vou ter um copo d'água. — O professor se levantou sem jeito. — O chocolate quente fica para outro dia — respondeu, incerto.

Ouviram os barulhos que vinham do lado de fora, a polícia junto da ambulância, com suas sirenes escandalosas, afirmando que havia ocorrido um desastre, o homem espiou da janela, arrepiou-se todo, aquela sala parecia estar em um lugar à parte, fora do mundo real. Henderson acordou de seu devaneio ao bater da porta, era a sra. Campbell, convocando-o para uma conversa particular, entregou o copo a Eric, dando uma batidinha leve em seu ombro, seguido de um sorriso apagado.

— Já volto. — Andou em direção à porta e logo a bateu.

Foi possível bisbilhotar toda a conversa, apesar dos cochichos, com o ouvido colado na porta, Eric conseguiu entender sem dificuldades o que estava sendo tratado, sr. Henderson com sua mania irritante de colocar "bem" em toda frase, como se fosse amenizar o peso das palavras e a sra. Campbell com sua voz de garça velha.

— O que vocês decidiram? — indagou o homem.

— Dispensamos todas as crianças mais cedo, a maioria em estado de choque, céus, tivemos que ligar para cada pai e mãe, colocando panos quentes na situação.

— O que disseram?

— Que houve um acidente, mas que... — Ela hesitou como se a justificativa tivesse soado ridícula. — Um dos alunos se feriu.

Henderson soltou uma gargalhada involuntária de sarcasmo.

— Mas para que merda esse conselho serviu? — Voltou a ficar sério. — Estão segurando uma bomba atômica com as mãos e a mãe da garota? O que disse à ela?

— O mesmo que dissemos aos outros... — O homem pareceu reprovar a atitude com algum gesto, pois a diretora logo prosseguiu. — O que poderíamos fazer? Me diz? Tivemos alguns contra essa ideia, mas não tivemos escolha, poderíamos ter mantido o horário normal de saída e o resultado seria um bando de crianças em pânico, choramingando no colo dos pais, dizendo tudo o que aconteceu aqui, pelo menos assim, alguma coisa fica sob controle, entende?

O professor pareceu concordar com a ideia estapafúrdia.

— Bem, e Ambrose, como está? — inquiriu, impaciente.

— Em choque. — Ela suspirou. — E o garoto?

— Mais calmo do que eu esperava, temo que quando perceber que isso não é um pesadelo e começar a chorar.

— Poderia mesmo ser um pesadelo ou uma piada de mal gosto — ela lamentou e suspirou fundo. — Eu tenho que ir lá fora, a polícia chegou, eu pedi para Catelyn recebê-los, para me recompor, agora já deu hora de encarar a situação de frente. — Eric ouviu o tiritar dos sapatos dela, imediatamente se pôs de volta na cadeira, antes da maçaneta girar, escutou ao longe o gritinho de Campbell. — A mãe dele será encaminhada diretamente para cá, quando chegar.

Os minutos seguintes igualavam-se à passos de tartaruga, não havia nada mais a ser conversado, por mais que Henderson quisesse falar sobre o ocorrido, da maneira mais gentil possível, sentia que era como mexer em um ninho de vespas, poderia a qualquer momento, acabar com a tranquilidade invejável do garoto.

Finalmente Sara bateu à porta, o alívio alagou seu coração ao ver seu filho, estava tão apreensiva, ainda não compreendia o porquê da escola estar vazia, tudo soava assombrosamente misterioso, temia que algo muito grave tivesse acontecido. Correu em direção à Eric, abraçou-o como se nunca o tivesse visto, conferiu cada parte do seu corpo para se assegurar de que estava inteiro e por fim pôde dar atenção ao senhor Henderson, comprimentando-o cordialmente.

— A criança que se feriu, foi muito grave? — ela indagou, percebendo que a pergunta havia sido um tanto invasiva.

— Srta. Walker, precisamos conversar, fique à vontade para se sentar — respondeu Henderson, tentando esconder o nervosismo, a mulher assentiu, franzindo o cenho, mantendo seu filho ao seu lado. — Avistou a srta. Mitchell ao chegar?

— Viemos juntas — Sara respondeu, desconfortável. — Até pensei que Annabel estivesse aqui, onde ela está? — Não foi preciso mais uma palavra, após um instante de silêncio constrangedor, no qual, Henderson procurava milhares de formas para dizer sobre o acidente, o ambiente foi cortado com um grito feminino aterrador, sucedido pelo choro, rogando por Annabel Mitchell. Os olhos de sara se arregalaram, parecia ter sentido toda a dor ecoando pelos corredores do prédio, prendendo seu peito em angústia, compreendeu que algo terrível aconteceu. — Ela... Ela está bem, não é, sr. Henderson? — Apenas visualizou as órbitas do homem encolherem por baixo dos óculos, quase desabando em lágrimas. — Deus... — Colocou as mãos na boca, contendo seu choro. — Deus, que coisa horrível. — Fitou seu filho, inabalável, perguntou-se se ele tinha entendido aquela desgraça, acariciou seus cabelos louros, envolvendo-o em um abraço. — Você está bem? Você a viu?

— Cortaram a linha dela, mamãe — replicou Eric, mostrando-lhe o barbante. — As moiras cortaram a linha dela — repetiu, expelindo calma.

— Querido, não vai sentir medo de ficar aqui sozinho? — Ele fez que não. — Fica quietinho aqui, a mamãe vai falar com o sr. Henderson lá fora, está bem? — falou com a voz embargada, Eric assentiu, observando ambos saírem da sala, pôde escutar os gritos abafados da sua mãe, atravessarem a porta. — Como isso aconteceu?! — inquiriu, percebendo que o ambiente do lado de fora, era ainda mais aterrador, alguns pais e mães ainda saiam com seus filhos das salas de aula, visivelmente curiosos e chocados.

— Eu não sei, srta. Walker — Henderson respondeu, inquieto. — A professora responsável pela turma, Ambrose Johnson, descuidou-se por um minuto e de repente as crianças já estavam no terraço... — Crianças? Eric estava com ela? — Sara interrompeu, roendo as unhas.

— Sim, sim, ele é o único que sabe toda a história. — Ele cruzou os braços, encontrava-se indefeso, só sabia o que haviam lhe contado e o viu de longe. — Bem, eu não quis insistir em perguntar para ele sobre o ocorrido, porque tive medo de deixá-lo em choque, mas a polícia está aqui e eles vão querer saber o que aconteceu.

— Meu Deus — a mulher falou em tom incrédulo. — Como vocês deixaram isso acontecer. — Colocou as mãos na testa. — Como puderam deixar isso acontecer, que tragédia, Meu Deus, que tragédia. — Dizia com seus botões, completamente inconformada, andando de um lado para o outro. — Poderia ter sido meu filho, que horror, vocês foram todos irresponsáveis. — Ela franziu o cenho, as maçãs do rosto trêmulas, segurando as lágrimas. — Vocês mataram ela.

Foi inevitável para Henderson sentir-se incompetente.

— Por favor, não diga isso — o homem proferiu, limpando as lágrimas por baixo dos óculos. — Não diga isso, srta. Walker, sabemos... Sabemos que foi algo imperdoável e eu... Eu digo por mim, nunca mais terei uma boa noite de sono e sempre, sempre vou me sentir culpado. Agora, coloque-se no lugar de Ambrose Johnson e imagine todo o terror que está se passando em sua cabeça agora.

— Coloque-se no lugar de Eileen Mitchell, que deixou a filha dela aqui, viva e saudável, pensando ser o lugar mais seguro do mundo e agora vai receber o cadáver nos braços. — Sara sabia que tinha sido dura com as palavras e que precisava enxergar ambos os lados e aflições, todavia, não podia deixar de tomar partido por Eileen, afinal, Annabel era amiga de seu filho, toda semana os dois brincavam, acabou apanhando carinho por ela.

— Eu sinto muito. — Henderson abaixou os olhos.

— Você pode me levar até elas? — indagou com toda cortesia possível, ele fez que sim, cabisbaixo como um burro de carga. Ela abriu a porta. — Querido, venha comigo. — Eric anuiu, segurando as mãos receosas de sua mãe.

Os corredores conseguiram ficar ainda mais tenebrosos, cada parede, ressoava a luz de inverno com luto, o chão tiritava enfadonhamente barulhento, enquanto que cada curva e reta que faziam pareciam longas e exaustivas, tornando-se temerosas.

Ao chegar do lado de fora, Sara conseguiu notar o caos, tristeza e dor, vislumbrou uma ambulância e duas viaturas estacionadas no jardim, um dos guardas fardados colhendo depoimentos com professores, enquanto Johnson era amparada por um paramédico, em prantos, dali não era possível ver o lugar do acidente. Sara tentou encontrar Eileen por entre professores, policiais, nas rodinhas de pais e alunos curiosos, mas não conseguiu. Então, Eric, por própria vontade, guiou-a para o local, andaram reto e viraram à esquerda, uma longa parede de tijolos laranjas, até avistarem a área cercada por uma fita amarela, a neve corroída pelo sangue e marcada pelo corpo; um homem e uma mulher conversando perto da faixa, ao passo que Eileen achava-se ao lado de uma maca, coberto por um pano branco, segurando o pequeno bracinho pálido do cadáver. Sara ficou aterrorizada.

Não sabia como se aproximar ou o que dizer, apenas se sentia enjoada e confusa demais, desejou fugir, correr o mais longe possível dali. Mais uma vez seu filho a norteou para mais perto, como estava ansioso para vê-la de novo, atestando como ela havia sido boba, boba demais, como pôde deixar o homem sem rosto cortar seu fio.

— Eu sinto muito — Sara falou, tocando o ombro da mulher, naquele momento percebeu que sua voz havia embargado e que já corria lágrimas pelo rosto.

Quando Eileen percebeu quem era, acolheu-a com um abraço quente, envolvido em choro.

— Mataram minha menininha — balbuciou entre soluços. — Como Deus permitiu isso? — Olhou para o garotinho, inconformada, desejou por um instante, que tivesse sido ele ou outra criança, que aquela dor não fosse sua, mas logo se sentiu tola, egoísta e mais culpada ainda. Soltou-se da mulher, envergonhada por ter pensado naquela possibilidade e fitou o garotinho por um longo instante. — Hoje mesmo, ela me pediu galochas novas. — Franziu o cenho, pensativa. — E eu perguntei o porquê, então me respondeu que o verão logo irá chegar e que agora tinha um novo amiguinho para pular nas poças de chuva — Agachou-se, apoiando suas mãos nos ombros do menino, fitou-o com ternura. — O que deu na cabeça de vocês? Por que desobedeceram a professora e foram para a pior parte do prédio?

— Não foi eu — Eric respondeu de imediato, pronto para tirar o corpo fora de qualquer bronca ou castigo que fosse levar por conta da desobediência.

— Annabel teve a ideia sozinha? — ela indagou com tom duvidoso e ele assentiu. — E você só acompanhou? Não disse nada? Não fez nada? — O garoto respondia a todas as perguntas com um balançar positivo de cabeça. — E do que vocês brincaram?

— Não brincamos — ele replicou rápido demais.

— Então por que subiram?! — Eileen alterou o tom da voz, surpreendendo Sara e aos dois policiais que conversavam ao longe. — Por que subiram?!

— Mãe. — Eric correu para os braços maternos, adotando um olhar sobressaltado. — Não foi eu.

— Eileen, por favor, você está fora de controle, está assustando meu filho. — Sara chegou mais perto. — Eu vou te ajudar, vamos para minha casa.

— Isso não é justo, eu só queria saber por quê — ela murmurou.

— Não, não é, mas polícia vai cuidar disso, não foi culpa sua ou do meu filho — orientou. — A responsabilidade é toda da escola e de Ambrose Johnson.

— Tem razão. — A mulher pareceu cair em si. — Desculpa, eu…

— Não tem com que se desculpar. — A outra interrompeu. — Eu sei que está sendo difícil, eu também estou devastada, só quero que saiba que farei de tudo por você.

Sara, ao contrário de seu filho, possuía bondade em excesso. 

 


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