Felina escrita por MuriloVonNachtwind


Capítulo 2
Marcinha




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O cenário, a rua de Olaria, não poderia ser mais propício. O evento em si era um acaso. E o rapaz sabia que no acaso é que nasciam os relacionamentos grandiosos. Relacionamentos, os tivera em grande quantidade. Seu gosto atípico o fazia escolher meninas que sempre eram rejeitadas por todos, principalmente por elas mesmas, e eram, assim, meninas frágeis e que se deixavam conquistar facilmente.

Não que o rapaz fosse um mau caráter. Era o último dos românticos, cheio de escrúpulos e sentimentos. Era capaz de desistir de um grande amor para manter sua integridade. Por isso mesmo precisava conversar com aquela menina que tinha ao pé de si. Estendeu-lhe a mão. Ela pegou a mão do rapaz. Que maciez de mãos! Ele a ajuda a se levantar e há uma troca de olhos daquelas eternas. Finalmente aquelas flechas antes dispersas se fixavam sobre algum alvo. Alvejaram o rapaz como fossem as do Cupido.

“Qual é o seu nome?”

“Marcinha. Todos me chamam assim.”

“Você está bem, não se machucou?”

                A menina fez um exame dos danos. Olhou para si e não viu arranhão sequer. Estranho o rapaz perguntar pelo bem estar dela, quando o atropelado era ele. Olhou para o rapaz, também não parecia ter sofrido dano algum. O rapaz não era bonito. Também não era feio. Era um tipo diferente, harmonia de elementos desarmônicos. Ademais comparada à péssima opinião que tinha de si, tinha em alta conta a beleza do rapaz.

“Estamos bem, ao que parece.”

                Uma primeira pessoa, mas do plural. Um “nós” implícito. Isso era um bom começo, ela já não o rejeitava, até o aceitava como parte da resposta que, incialmente, só incluía a ela. Era um ótimo sinal. Precisava saber se ela tinha namorado. Se tivesse, não interessava. Mulher com namorado não tinha graça, ademais era mais difícil de conquistar e causava sofrimento para muita gente. Ser comborço, nunca aceitaria. Traição para ele era o fim, um crime.

“E como teu namorado te deixa andar, assim, sozinha, na noite de Olaria? É noite e as ruas daqui devem andar perigosas que só vendo.”

“Não preciso da aquiescência de namorado para ir onde eu quiser. Ademais, não tem perigo não.”

                Aquiescência. Uma menina de uns dezessete anos com essa palavra na boca? Devia ser uma menina de muita leitura para conhecer uma palavra esdrúxula dessas. Leitura em uma mulher é importante, pensava ele. E aparentemente não tinha namorado. Aparentemente, porque ela não deixou claro se tinha. Era necessário insistir para saber se tinha ou não.

“Quero dizer que ele devia, no mínimo, estar contigo. Te acompanhar, compreende?”

“Não tenho namorado.” Disse, faceira. “Bem, obrigada pela ajuda, mas já vou indo. Está tarde, devo voltar.”


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