POV Nico

A penumbra do convés do navio surgiu em minha frente quando a escuridão causada pela minha viagem das sombras se dispersou, mas eu não tinha tempo de sentir alegria de uma parte do plano ter funcionado.

Como sempre, Annabeth acertou ao me dizer que não acabaria quando eu trouxesse Nina para o nosso navio. Era só o começo como eu constatei que não havia somente eu usando as sombras para viajar.

Para entrar no navio tinha que ser convidado por Thalia e Neal. Eu sou um dos convidados e aproveitando disso seja lá quem for que veio comigo usando as minhas sombras, parte de mim, para poder entrar no navio, o que me deixou com muita raiva.

Durante a viagem nas sombras eu transformei o meu pingente de espada em minha espada de ferro Estigio e agora tirando ela rapidamente da bainha eu consegui bloquear o ataque que eu sofria por trás bem a tempo.

Seja lá quem for, pelo ângulo que eu bloqueei ele queria que sua espada não só atravessasse a mim como também Nina em meu braço.

Usando o ombro como alavanca eu baixei a minha espada dando mais força ao meu movimento e afastando o inimigo de mim. Virei-me de frente para ele segurando a espada acima de minha cabeça, utilizando a postura da guarda do falcão somente com uma mão.

Franzi o cenho ao ver quem era meu inimigo. Coberto da cabeça aos pés com uma roupa preta além de uma capa preta ao qual ele usava para ocultar suas mãos e boa parte de sua arma, eu conseguia ver a ponta de sua espada tocando o chão.

Trinquei o maxilar de raiva ao ver que a ponta da espada estava com uma coloração roxa escura e parecia pegajosa. Não podia ser outra coisa a não ser veneno.

– Estão se empenhando mesmo para matar um bebê. – rosnei com raiva ao ouvir seja lá quem for a múmia de preto rir.

–Você ainda não viu nada ainda. – disse a múmia. Sua voz saiu rouca e fria.

A capa que estava envolta dele começou a se mexer, ondular sobre seu corpo. Engoli em seco sentindo um mau pressentimento quando de repente ele abriu os braços, abrindo a capa que se manteve aberta como seus braços, levantando eles para cima.

A espada sendo ostentada por sua mão esquerda tinha uma lamina estranha, tinha alguns desenhos estranhos nela que me lembrava aqueles que os filhos de Hécate viviam fazendo para fazer seus feitiços malucos.

Senti um arrepio percorrer meu corpo e uma sensação familiar, a mesma de quando senti que alguém estava me seguindo pela minha viagem das sombras.

Não tive tempo de pensar mais no assunto. Dei um passo para trás quando de trás da munia saiu mais duas múmias negras, cada uma carregando duas espadas.

Miserável. Ele havia usado viagem nas sombras para trazer esses dois usando a sombra que a lua proporcionava em suas costas e com os braços abertos juntos com a capa lhe proporcionava uma sombra maior e facilitava usar seu poder, se for dele mesmo, mas... , como ele fez para trazer os dois? Nem eu conseguia fazer tal coisa.

Mas eu tive a certeza que foi ele quando assim que os dois saíram de trás dele a múmia 1 se apoiou em sua espada e parecia respirar com dificuldade.

– Ele usou um feitiço de sangue. Uma das coisas típicas de filhos de Hécate do lado do mal. – a voz poderosa de Fórcis surgiu por todos os lados no convés. As três múmias tremeram ao ouvir a voz dele e ficaram de costas um para os outros formando um circulo rapidamente assumindo suas posições de luta. – A múmia um desenhou com seu sangue um símbolo de conexão nas outras múmias, assim ela consegue usar seus poderes neles como se fosse ela mesma quem esta os usando através deles. Sorte que só funciona com meio-sangues e tem um limite em quem ele pode usar tal feitiço.

Fórcis aparecem andando calmamente com um sorriso no rosto na minha frente fazendo com que as três múmias ficassem entre nós e eles mudaram sua formação. A múmia 1 apontou sua espada para mim enquanto as outras duas múmias se viraram para encarar Fórcis.

– Isso que eu disse fez algum sentido? – questionou Fórcis olhando para mim com o rosto franzido enquanto parava a poucos metros das múmias.

– Por incrível que pareça sim. – senti Nina se remexer em meu braço e soltar um resmungo contido. – Agora que tal acabar logo com isso antes que Nina acorde? – lancei um olhar significativo ao Deus que assentiu levemente.

– Uma divindade não pode se envolver em uma luta com meio-sangues. – disse a múmia três. Sorri ao identificar em sua voz o medo que ele estava sentindo de Fórcis.

– Ah, mas eu não vou. – Fórcis abriu um largo sorriso antes de desaparecer em uma coluna que parecia água e reaparecer ao meu lado.

As três múmias se viram para nós, seus olhos semicerraram ao ver o que eu estava fazendo. Bom, confesso que estava com um pouco de receio de fazer isso, não colocaria muito fé em Fórcis, mas foi ordem de Annabeth caso eu precisasse fazer isso.

– É o filho de Hades que vai acabar com vocês. – disse Fórcis aceitando pegar Nina de mim.

Assim que fiquei com o braço livre me posicionei melhor em minha defesa. Quando estão em maior numero os inimigos sempre atacam primeiro, pelo menos é assim que sempre aconteceu comigo.

Abri um sorriso de canto ao notar, atrás daquelas três múmias, uma fileira de dentes muito brancos surgir, os olhos perigosos de Sra O’Leary brilhando em direção as múmias. Pelo jeito Fórcis não era o único que estava acordado há essa hora.

– E aproposito Nico. – pelo canto dos olhos vi o sorriso de Fórcis se tornar maligno. – Eles pretendiam fazer a mesma coisa que aquele filho de Éres, Velmir se não me engano, queria fazer com sua garota.

Todos os músculos do meu corpo tencionaram. Um zumbido forte “penetrou” em meus ouvidos abafando qualquer som além. Travei o maxilar olhando mortalmente para aqueles três indivíduos a minha frente.

Senti um repuxo forte no abdômen, senti cada célula do meu corpo vibrar em energia, minhas mãos apertaram com força o cabo da minha espada enquanto eu mudava minha posição de defesa para o ataque e não perdi tempo em atacar.

Assim que avancei em direção as múmias foi como se os movimentos deles perdessem a velocidade, como se eles estivessem em câmera lenta, enquanto os meus pareciam ter ganhado mais força e velocidade.

Me aproximei deles rapidamente e com agilidade e precisão eu manejei minha espada. Sem dar tempo se quer da primeira e segunda múmias me atacarem eu fiz um corte horizontal com minha espada cortando o pescoço da primeira múmia e o ombro da segunda que era mais alta que a primeira.

Continuando o ataque fazendo meu braço descer passando a lamina em diagonal pelo corpo do segundo e rapidamente virei o corpo de frente para o terceiro que me atacou trazendo a espada em horizontal bloqueando o ataque dele.

Não sei como estava meu rosto, mas assim que nossas espadas se encontraram e ele olhou para mim seu rosto se transformou em pavor.

Esse momento de desleixo dele me deu o tempo necessário. Empurrei suas espadas para longe de mim e com um único movimento eu perfurei seu peito, em cima do coração.

Ao mesmo tempo senti a familiar sensação de frio na barriga quando eu estou perto de gente que esta morrendo perto de mim. Triplicada no momento.

Tirei a espada do peito da múmia 3 e os três corpos caíram inertes aos meus pés. Uma poça de sangue começou a se formar a minha volta misturando o sangue desses três indigentes. A lâmina da minha espada gotejava em sangue.

Meus olhos estavam voltados para a onde a múmia numero um estava de pé, a onde ainda estava a Sra. O”Leary. A cadela infernal estava toda tensa e encolhida, olhava com medo e receio para mim.

Voltei meus olhos para a ponta de minha espada, vendo os pingos que caiam dela se juntar a poça de sangue. Não sei por que, estava me sentindo realizado no momento e orgulhoso de minhas habilidades.

Segurei com força o cabo da minha espada. Eu quero me sentir assim mais vezes.

POV Chris

Ajeitei o peitoral da minha armadura – mochilas magicas tem e muito suas vantagens, cabendo nelas de armaduras completas à barracas – estava quase na hora de tudo começar, já estava quase amanhecendo, tínhamos que ir logo para as nossas posições.

Pelo canto dos olhos captei alguma coisa brilhante caindo no chão perto de mim. Franzi o cenho confuso e me abaixei para ver o que era.

Foi inevitável não dar um sorriso de canto ao ver que a “coisa brilhante” era uma foto, a foto da minha pequenininha Mikaella deitada em seu bercinho sorrindo banguela para a câmera. Os poucos cabelinhos que tinha era castanho claro, como de sua mãe, e seus olhos era castanhos, poderiam ser meus ou de sua mãe já que nós dois temos olhos castanhos, mas Clarisse diz que os olhos dela são iguais aos meus.

Inspirei profundamente e soltei o ar em seguida devagar.

Há um ano nem se quer passaria por minha mente ser pai, muito menos ser pai aos 19 anos, agora tinha uma responsabilidade grande dessas não por escolha e nem por um deslize meu ou de Clarisse e sim pelo fato de nossos inimigos querem mais uma opção, o que não envolve completamente Clarisse e eu e sim Percy e Annabeth.

Nós dois não passamos de um teste para eles fazerem a mesma coisa com Percy e Annabeth, o que tornou as coisas muito frustrantes quando soube a verdade, mas eu sou grato a eles.

Planejada ou não Mikaella agora é uma parte muito importante de mim que torna irrelevante o que eles fizeram para nós e creio que Percy e Annabeth também concordam comigo em relação a Nina mesmo eles já tendo Damon.

– Ainda bem que você tirou uma foto. – a voz de Michael me tirou dos meus pensamentos me dando um susto. – Porque até a sua filha ficaria incomodada com você olhando tão bobamente para ela. – comentou divertido.

– Não enche filho de Apolo. – resmunguei guardado a foto novamente dentro do peitoral, perto do meu coração em um pequeno compartimento feito exclusivamente para isso por Jake Mason.

– Os dois parem de namorar. – Clarisse apareceu atrás de Michael o assustando. – Já esta na hora. Temos que nós apressarmos.

– Eu ainda não entendo como você e Clarisse estão juntos. – Michael olhou para mim como se eu fosse louco e levou um tapa na cabeça de Clarisse.

– Agora, mané.

Não foi preciso ela dizer mais nada. Michael e eu terminamos de nós arrumar e pegamos nossas coisas. Clarisse não esperou a gente e saiu na frente.

Em silencio e extremo cuidado seguimos em direção as coordenadas que Annabeth havia nós passado. Tudo a nossa volta estava um completo silencio o que dificultava nossa aproximação silenciosa.

Foi por pouco que não nós descobrem. Trombamos com dois vigias no caminho e se não fosse pelos nossos instintos de meio-sangue e agilidade eles teriam entregado nossas posições e arruinado tudo que planejávamos.

Depois de quase vinte minutos chegamos nas coordenadas de nossa posição. Michael logo foi se empoleirando em uma arvore para ter melhor visão do campo aberto a nossa frente.

No centro desse campo encontrava-se cinco mesas de pedra, uma no centro e as outras quatro fechando um circulo em volta dela. O campo era cercado por arvores e uma casa mais adiante além, é claro, de um exercito de meio-sangues e monstros que vigiavam todos os lados armados até os dentes.

Faltando alguns minutos para o sol nascer às coisas começaram a ganhar movimento entre o inimigo com a chegada não só de Oceano, Anfitrite, Tritão, Luke, Calipso e Circe, mas junto com eles sendo arrastados por outros – não sei se meio-sangues, monstros com aparência humana, ou mercenários – estavam Ashley, Leo, Damon e...

– Percy!? – a voz de Clarisse ao meu lado soou bem chocada e eu não estava diferente.

O que Percy estava fazendo ali? Tem alguma coisa errada. E ele ainda parecia ter tomado uma dose de sonífero e estar lutando contra os efeitos.

Estreitei os olhos para tentar enxergar melhor e uma coisa me chamou a atenção. Nina parecia não estar junto com eles. Não foi preciso pensar muito na situação para chegar à conclusão do que tinha acontecido.

Clarisse parecia ter chegado à mesma conclusão que eu ao segurar a minha mão com força e murmurar o nome de Nina. Percy havia tomado o lugar de sua filha como sacrifício e ao mesmo tempo em que isso era bom, isso era ruim.

Não sei o que Annabeth esta planejando ao ter feito isso – isso tem bem a cara de Annabeth –, ou como ela teve ideia sobre essa troca se foi mesmo ideia dela, o caso era que Percy era uma das chaves para nosso plano dar certo.

Com ele nas mãos do inimigo sem poder fazer nada como iriamos dar continuidade ao plano?

– Não se preocupem. – a voz de Annabeth soou baixa e firme vinda através do fone de ouvido. Não estava ouvindo nada vindo dele nós últimos minutos que havia me esquecido que estava usando-o. – O plano continua do mesmo jeito, confiem em mim e esperem o sinal de Percy para entrarem em ação.

Vi Clarisse travar o maxilar e movimentar a boca, provavelmente jogando insultos em Annabeth por fazer algo assim sem mencionar a todos e duas perguntas matutavam em minha cabeça.

O que Annabeth estava planejando fazendo uma jogada arriscada como essa? E como Percy daria o sinal naquele estado?