Sinto o toque dos dedos gelados de Annabeth contra o meu braço descendo até a minha mão. Ela entrelaça seus dedos com os meus os apertando levemente. É engraçado como esses simples gesto pode me acalmar.

– Todos se lembram bem do plano? – perguntou Annabeth olhando para cada um de nós três, Nico e Nathan postados a nossa frente, esperando nossa confirmação.

Respirei fundo me lembrando de quando escutamos esse plano de Annabeth. Naquela hora eu tinha acabado de acordar sentindo minha cabeça doer com o que Oceano havia me proposto, uma troca.

Nico estava se deitando em seu lugar improvisado para dormir e Annabeth estava mexendo em sua bolsa pegando seu fone de comunicação, quem estava dormindo tirou o fone para ter uma noite melhor de sono – os outros fizeram a mesma coisa deixando somente quem ficaria de guarda com o fone.

– Nossa, vocês são bem ligados mesmo. A Annabeth acabou de sair do seu lado e você já acordou. – comentou Nico me olhando estranho.

– Não é isso. – disse Annabeth olhando seria para mim o que fez o filho de Hades arquear uma sobrancelha, desconfiado. Em poucos passos Annabeth estava na minha frente guardando seu fone no bolso. – O que aconteceu, Percy? – ela tocou gentilmente em meu rosto.

Annabeth me conhecia bem de mais.

Contei tudo para Annabeth e Nico. Tudo com o que tinha sonhado, tudo que Oceano havia me contado sobre a proposta que ele me fez e o que eu devo fazer se eu aceita-la e contando lentamente, como se eu tivesse algum problema para eu entender se eu fale-se normalmente.

Só de lembrar nessa proposta me sinto suar frio, sinto meu estomago se revirar com um misto de sentimentos. Alivio, esperança, desconfiança, medo e vários derivados, mas eu não via escolha se não aceitar.

Aceitando seria eu lá, teríamos mais chance de salvar os outros e eu teria uma preocupação a menos no campo de batalha amanhã.

– Ele pediu isso mesmo? – perguntou Nico descrente enquanto que Annabeth parecia pensativa, podia imaginar as “engrenagens” de seu cérebro funcionando na velocidade da luz para encontrar... seja lá no que ela esta pensando, diferente dela, eu não sei ler mentes. – Ele te propôs trocar de lugar com Nina sem mais nem menos? Isso com certeza é uma armadilha. Vai ter uma armadilha.

– Sim. – respondi com amargura, mas convicto da decisão que eu tinha tomado. – Mas eu tenho que fazer essa troca, mesmo sabendo de alguns contras e de uma possível armadilha. Eu tenho que aceitar.

– E você vai aceitar mesmo. – disse Annabeth decidida indo até onde Nathan estava dormindo assustando Nico e a mim pela forma como ela falou, soturna e fria. – Você vai aceitar, Percy. – Annabeth balançou Nathan sem parar olhando para a gente não percebendo que ele já havia acordado. O cara teve que segurar os braços dela para ela parar de balança-lo. – Porque eu tenho um plano. – continuou ela.

– E quando você não tem. – resmungou ele se sentando depois de soltar um longo bocejo. – E para que você tem um plano?

Annabeth rapidamente nós contou seu plano. Não era complicado, porém tínhamos que agir sincronizada mente para não haver nem um erro, porque um erro resultaria na morte certa de quem erraria e isso a gente não queria.

E Nico sentia um peso extra colocado sobre ele, não foi uma escolha feita diretamente por Annabeth, mas por Oceano, Annabeth somente acrescentou algo mais e convenhamos, Nico era o único que poderia fazer algo sim.

Apesar desse peso extra Nico estava confiante e serio e prometeu a mim e a Annabeth que se dependesse dele nada iria atrapalhar sua parte no plano até que Nina estivesse em segurança. Suas palavras foram reconfortantes para nós dois.

Eu percebi que enquanto nós contava seu plano Annabeth queria contar algo mais para mim, sempre lançando olhares significativos para mim – queria que Piper estivesse aqui, ela sabe ler “olhares” –, mas ela não me contou nada em especifico e eu também não perguntei.

Confio em Annabeth mais do que eu qualquer um, mesmo que ela não me conte algo, ela tem um forte motivo para isso, e ultimamente esse motivo envolve a segurança e as vidas de Nina e Damon, com isso eu não tenho nada a contra argumentar.

Mesmo às vezes eu forçando um pouco a barra para ela me contar o que realmente esta se passado porque é muito ruim você não saber no que você esta se metendo eu logo me dou por vencido porque sei do grande perigo que isso envolve nossos filhos.

Depois de repassarmos o plano pela terceira vez Annabeth mandou a gente voltar a dormir. Na hora certa ela acordaria a gente e a hora certa foi a poucos minutos atrás.

– Sim. – disse Nico. – O plano. Lembro perfeitamente, não se preocupe. A gente vai conseguir.

Nathan somente assentiu enquanto ajeitava a mochila que era de Nico em suas costas. Nico e eu não levaríamos nada com a agente além de nossas armas, então Annabeth juntou as coisas que tinham sobrado da minha mochila com a de Nico e deu para Nathan levar, ainda tinha algumas coisas que poderíamos usar nelas.

– Sei que vamos. – a voz de Annabeth soou confiante assim como seus passos foram firmes em direção a Nico. – Obrigada, Caveirinha Junior. – Annabeth abraçou Nico com força o que retribuiu o abraço, seu rosto ficou escondido entre os cabelos de Annabeth.

Olhei para Nathan e o vi abrir um sorriso de canto para mim.

– Darei minha vida por ela se for preciso. – falou ele com firmeza. – Annabeth ficara segura comigo, Percy, não necessita me fazer nem uma ameaça para garantir isso.

– Que bom. – foi minha vez de abrir um sorriso. – Me poupa o folego assim.

– Depois falam de Annabeth. – resmungou Nico vindo ao meu lado.

– Vamos lá, não é hora de fazer gracinhas, crianças. – disse-nos Annabeth com um tom de voz que lembrava nosso diretor de atividades do acampamento.

– Depois falam de Quíron. – dissemos Nico e eu juntos o que resultou em nós dois e Annabeth rirmos deixando Nathan confuso, o que eu adorei.

– Perco a piada, mas não perco a hora. – falou Nathan e apontou para seu pulso, mesmo não tendo um relógio mandou a mensagem que fez o clima de descontração se dissipar-se mais rápido que um sátiro foge de um coelho. – Boa sorte aos dois.

– Boa sorte a vocês também. – disse Nico.

– Percy. – Annabeth disse meu nome com certa relutância que me fez olhar alarmado para ela. – Boa sorte. – disse ela antes de me puxar para me dar um beijo e depois um abraço. – Não se esqueça dos fosseis, garoto do mar. – sussurrou ela no meu ouvido antes de se afastar de mim.

– O que isso quer dizer? – perguntei confuso. Aquelas palavras que ela havia me murmurado não me eram estranhas, mas não me lembrava de onde as tinha ouvido.

– Quer dizer que você tem que desejar boa sorte para ela também, ó Cabeça de Alga. – falou Nico de forma reprovadora.

– Não foi... – Annabeth me calou colocando um dedo sobre meus lábios.

– Só me deseja boa sorte, Cabeça de Alga. – falou ela sorrindo para mim.

Respirei fundo, eu conhecia aquele sorriso. Todos poderiam achar que ela realmente estava dando um sorriso verdadeiro, mas eu sabia que aquele sorriso escondia algo e esse algo era para manter entre nós o que ela sussurrou em meu ouvido e eu nem seu por que.

O que “não se esqueça dos fosseis, garoto do mar” tem de tão importante assim para ficar só entre nós dois? Era-me algo familiar, mas nada além disso.

Annabeth e seus planos, a cada um eu entendo menos ainda a logica por trás deles.

– Boa sorte. – falei abraçando ela fortemente.

Pelos segundos que esse abraço durou minha mente vagou pelos vários momentos em que Annabeth e eu passamos juntos, todos os tipos de experiências que estivemos juntos – principalmente as novas que envolviam Damon e Nina, nossa família, com nossos poucos e maravilhosos momentos felizes juntos – e eu temia que até o final desse dia a gente não estivesse mais juntos, todos nós.

Bem no fundo eu sabia que não tinha razão para eu ficar temendo nada. Que não valia a pena me preocupar com algo que não me ajudaria a ganhar. Que, amarguradamente, eu já sabia o que iria acontecer comigo.

Me afastei de Annabeth lhe dando um ultimo beijo de despedida. Seus olhos estavam direcionados aos meus enquanto ela dava passos para trás para se postar ao lado de Nathan.

Senti a mão de Nico tocar o meu ombro e com um ultimo aceno nós dois demos as costas para Annabeth e Nathan adentrando mais nas passagens da caverna por onde entramos.

A cada passo que dávamos ficava mais escuro o caminho já que nem um de nós estava usando uma lanterna. Quanto mais escuro, melhor para Nico nós transportar por entre as sombras.

– Segura a minha mão. – falou Nico estendendo a sua mão à minha frente.

Segurei a mão de Nico e que bom que fizemos isso. Mais alguns passos adentro e eu já não conseguia enxergar mais nada a minha frente. Senti um desconforto ao me lembrar de que estive em um alugar assim alguns anos atrás.

– Pronto para fazer a viagem pelas sombras? – perguntou Nico.

– Claro. – murmurei.

Logo Nina estaria fora de perigo e quando o plano de Annabeth entrasse em ação salvaríamos Damon e os outros. Meus filhos iram ficar seguros. Salvaria eles a qualquer preço.

– Então, vamos até Luke Castellan. – disse Nico após soltar um ultimo suspiro.

Na completa escuridão senti quando algo frio me envolveu. Em um minuto eu só senti a minha mão sobre a de Nico o que me lembrou da primeira vez que viajei pelas sombras sentindo somente os pelos da Sra O’Leary.

Mas dessa fez, eu não achei incrível viajar pelas sombras, pelo contrario, ela só piorou a sensação ruim que eu estava sentindo com o silencio sepulcral que vinha dela e o frio que ela estava me fazendo sentir em minha espinha.

No entanto o pior estava no minuto seguinte quando as sombras se dissolveram. E um cenário que eu não preferiria enfrentar, não com meus filhos envolvidos, se mostrou a minha frente.

De forma instintiva tanto eu quanto Nico nos postamos de forma defensiva olhando para nossa comissão de boas vindas que traziam em seus rostos, a maioria, sorrisos sarcásticos de puro deleite.

Em uma campina cercada por arvores Oceano, Anfitrite, Tritão e Circe estavam a nossa frente flanqueados por três cães infernais e dois ciclopes em tamanhos de homens normais, ou eram um daqueles monstros que começam com ‘A’ que encontramos na entrada da caverna, e um deles além de estar com uma clava presa em suas costas segurava em suas mãos grilhões, formado por corrente de metais e anéis em forma de cadeado.

Aqueles que estavam causando tudo de ruim que estava acontecendo ultimamente na minha vida bem na minha frente e provavelmente haveriam vários monstros que estariam cercando essa área escondidos pelas sombras das arvores.

Apesar dos intimidadores anfitriões e recepcionistas, o que meus olhos logo captaram e tomou toda a minha atenção foi para as pessoas que estavam atrás deles.

Luke olhava seriamente para mim com os braços cruzados em frente ao peito. Seu olhar de alguma maneira estava me lembrando um de Annabeth e justamente um dos que eu não apreciava muito.

Ao lado dele estava Calipso que mantinha um sorriso terno em seu rosto a qual ela o dirigia para o que ela segurava com carinho em seus braços, minha filha Nina que estava dormindo tranquilamente.

Um sorriso involuntário tomou conta do meu rosto ao vê-la. Mesmo estando longe podia ver seu pequeno tronco se movimentando com sua respiração ritmada pelo sono usando somente uma roupinha fresca.

Apesar de faltar pouco menos de uma hora para o sol nascer o dia estava fresco, ela não precisava de nada mais e eu agradeci por isso, assim dava para eu vê-la com mais clareza.

– Chegando de mãozinhas dadas. – disse Tritão abrindo um sorriso malicioso o que me fez voltar ao mundo real e o sorriso desaparecer rapidamente de meu rosto. – Papai deve estar orgulhoso.

Me limitei a sorrir sem humor para ele não me importando muito com sua insinuação. Ele só estava querendo me tirar do serio como sempre faz desde o dia que nós conhecemos. E hoje ele estava fazendo uma péssima jogada insinuando algo entre Nico e eu, algo impossível de se acontecer.

Tritão já foi mais serio e aqui esta ele, que deve ser bilhões de anos mais velho do que eu e esta fazendo essas coisas infantis – e ele não é o primeiro exemplo que encontro de divindade com essa maturidade já nessa idade.

– Queriam um motivo para Fórcis ter ido para o lado deles. Agora esta explicado, a menininha não é um legado e sim filha dele com a filha de Atena. – continuou Tritão e gargalhou como se tivesse contado a melhor piada fazendo os dois ciclopes, vou ficar com ciclope é mais fácil do que lembrar do nome daqueles monstros, riram junto com ele.

Travei o maxilar e cerrei os punhos com força. Preferia que ele continuasse com a insinuação de que Nico e eu poderíamos a ter algo do que Fórcis e Annabeth a ter algo e que minha filha era fruto disso, principalmente depois de como eu vi que Annabeth e Fórcis se tornaram amigos tão rápido, a forma como ele é com ela.

Eu sei que Annabeth nunca me trairia, assim como eu nunca a ela, mas com o mau pressentimento que eu estou sentindo ultimamente, se o p...

Meus pensamentos foram interrompidos ao sentir uma mão sobre meu ombro. Ao meu lado Nico deu alguns passos a frente lançando um rápido olhar de aviso para mim.

– Temos assuntos importantes para tratar aqui, tenho certeza que nem um de nós quer perder tempo com baboseiras. – começou Nico, sua voz soando calma, mas lôbrega.

– Ele esta certo, nosso tempo esta correndo. – se pronunciou Oceano. – Deixe seus assuntos de irmãos para outro momento.

Tritão resmungou alguma coisa que eu não ouvi, claramente nem um pouco contente com a repreensão que levou.

– Estou aqui como parte do acordo. – falei colocando uma mão no bolso e tirando minha caneta/espada do bolso e a joguei em direção a Circe que fez a caneta flutuar em sua frente como foi um dos pedidos dele. – Podemos começar?

– Castellan... – Oceano deu um passo para trás ficando de lado e o mesmo fez Anfitrite que estava ao seu lado, os dois dando espaço para quem estava atrás deles.

Luke passou por entre os dois antes de Calipso começar a seguir o mesmo caminho que o dele vindo em direção a Nico e a mim. Meus olhos logo se fixaram em minha filha ainda dormindo tranquilamente.

Será que eles deram algo para ela dormir assim mesmo com todos conversando nessa altura? Isso seria a única explicação, só espero que não seja algo que terá efeitos colaterais futuros.

Quando Luke estava poucos metros de mim ele parou.

– Pegue Nina, a entregue a Nico e depois se afaste deles e venha para o meu lado sem protelar. – ordenou ele dando alguns passos para o lado.

Somente agora eu notei que ele estava segurando os grilhões que anteriormente estavam com o ciclope. Fiquei tão concentrado em minha filha que não prestei mais atenção em Luke.

Apenas assenti e fui de encontro a Calipso que havia parado ao lado de Luke. Eu não podia ficar um pouco surpreso ao ver como Calipso estava agindo com minha filha, a forma como ela estava olhando para ela.

Parecia que ela se importava com o que pudesse acontecer com ela e isso estava me fazendo levantar suspeitas, além das que eu já tinha.

Mas deixei esse pensamento de lado. A cada passo que eu dava de encontro a minha filha fazia meu coração bater mais rápido e a saudade apertar em meu peito. Queria pegar a minha filha e não solta-la mais, nunca mais.

Engoli em seco e me forcei a me controlar. Eu não podia fazer tal coisa. No momento eu só tinha um único objetivo e eu teria que cumpri-lo independente da minha vontade.

– Não se preocupe, só fizemos ela dormir e nada além disso. – informou Calipso me estendendo Nina. – Alguns não gostão de som algum vindo de crianças.

Peguei minha filha com cuidado me sentindo entorpecido por ter ela em meus braços novamente. Senti meus olhos arderem em lagrimas que eu não deixei cair.

– Nina. – murmurei aninhando minha filha bem perto de mim e lhe dei um beijo em sua têmpora com carinho.

– Melhor ir logo. – alertou Calipso.

Dei as costas para eles e fui até Nico aproveitando cada segundo com minha filha.

– Papai agora vai salvar o seu irmão. – falei baixinho para ela. – E nunca se esqueça que eu te amo. – parei perto de Nico e dei um ultimo beijo em minha filha. – Sempre vou te amar, pequenina. – passei Nina para Nico. – Vai embora logo daqui.

Sem titubear Nico assentiu. Dei dois passos para trás e vi quando minha filha e meu amigo se dissolveram na sombra.

– Ei, eles... Temos que...

– Calado, Tritão. – a voz de Oceano soou estrondosa fazendo até o chão tremer aos meus pés.

– Bela jogada, Jackson. – disse Luke atrás de mim e foi a ultima coisa que eu ouvi.

Mesmo os meus instintos me alertando do perigo eu não tinha como me escapar daquele perigo. Uma nuvem negra me envolveu impossibilitando qualquer movimento meu e quando deu por mim meu rosto já tinha ido de encontro ao chão, meus sentidos estavam confusos e minha visão escurecendo.

Minha cabeça girava e tudo a minha volta estava ficando turvo, mas senti quando Luke me levantou e me prendeu com os grilhões. Ele e Calipso sustentaram meu corpo de pé. Duas mãos geladas tocaram o meu rosto de repente o que me fez abrir os olhos assustado, mas minha visão ainda estava embaçada.

Não sabia quem estava a minha frente, mas o sorriso em seus lábios já me dizia que ela seria uma das ultimas pessoas que eu queria estar na presença.