Dragonheart escrita por pensamento_azul


Capítulo 3
Capítulo 3 - Vaga-Lumes e Matadores de Dragão


Notas iniciais do capítulo

Atualizado em 05/maio. Se você leu antes, leia novamente. :-)



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Os humanos dizem que quando estão muito felizes ficam cegos para os perigos ao redor. Talvez o mesmo seja verdade para os dragões. Anos haviam se passado desde que Brianna viera viver em meu covil – sinceramente não sei a medida exata. Poderiam ser dois, três ou doze; é difícil medir períodos de tempo tão curtos. Ela se desenvolvera, tornara-se uma mulher invulgar; seu cabelo atingia-lhe os calcanhares, seu corpo era forte e bronzeado, seu olhar ganhara força e expressão incomparáveis aos dos humanos inferiores. Eu saqueei os tesouros de um antigo navio que uma de minhas irmãs afundara muitos séculos antes e a vestira com jóias e peles como nunca se vira nessa terra.

Eu a carregava em minhas costas – a primeira e única humana que o fez – e apresentei-lhe o mundo de onde eu o via. Rios e vales e florestas e montanhas, qualquer porto ou vila, torre ou castelo ao alcance de sua mão, para possuir ou destruir se assim quisesse, pois eu o faria por ela. Mas ela nunca quis.

Quando considerei que ela estava pronta, levei-a ao Vale. Era um lugar do mundo antigo, eu sabia que o vale nunca fora pisado por humanos – apenas os dragões o conheciam. Deitei-me na relva e esperei pelo pôr-do-sol. Ela aninhou-se entre meu ombro e meu pescoço à medida que as sombras se alongavam. Vaga-lumes de todos os tamanhos e brilhos tomaram o descampado ao nosso redor, dando ao local sua própria luz. Eles circundavam-nos, pousando ocasionalmente entre minhas escamas, quando eu me esforçava para não esmaga-los sem querer. Ela riu e disse que eu parecia estar piscando também.

“Meu Senhor, brilhais com uma luz própria. Não espanta os vaga-lumes buscarem abrigo em vós.”

Permaneci imóvel, silencioso.

“Tenho uma pergunta a fazer-te”, disse, após longos minutos. “Tenho uma escolha a dar-te”, disse, finalmente, antes de mais uma longa pausa. “Em breve os anos em ti começarão a cobrar seu negro preço, a morte sendo a dádiva e o fardo da vida dos humanos. Nenhum deus ou dragão pode mudar isso.”

“Sejam poucos ou muitos fico feliz, senhor, se puder passar os anos que me restam assim, sob vossa guarda e proteção, servindo-o como me permite o Eterno” ela respondeu, e ao dizer isso aconchegou-se a mim novamente e adormeceu. Fiquei fitando sua forma pálida sob a luz da lua cheia, esquecido de mim. Seu vestido de veludo azul parecia pontilhado de estrelas, com os pequenos vaga-lumes indo e vindo.

Foi quando eu ouvi os invasores.

 

# # #

 

Eram muitos, ainda distantes mas se aproximando rápido, e não restava dúvidas que vinham em nossa direção e que sabiam para onde estavam indo. Uma força como aquela não se junta facilmente, ainda mais bem preparados como estavam. Eu ouvia seus gritos, incentivando seus cavalos a correr mais rápido; sentia o trotar dos animais no solo, sentia seu cheiro, seu suor. Vasculhei suas mentes em busca de informação, uma indicação de como haviam descoberto aquele lugar e vi algo que me encheu de repulsa e ódio.

Vi cenas de inúmeras batalhas, vi a Caçada Selvagem. Vi guerreiros em armaduras de anéis com lanças longas e arcos compostos. Eu os vi montados em cavalos de guerra treinados para suportar o medo, a dor, o insuportável barulho da batalha e até mesmo o fogo. Vasculhei mais fundo e vi as lembranças de suas caçadas. Vi a morte de uma jovem recém-saída do ovo, pouco menor que um de seus cavalos. Vi um serpentino dragão negro dos Pântanos de D’rash trespassado na garganta, vítima de um terrível engenho – uma besta gigante, com virotes longos e grossos como lanças, capazes de furar um de nós a cem metros. Vi o ouro que eles ganhavam e suas comemorações depravadas, vi aqueles humanos miseráveis ganhando fama e fortuna com a morte de minha espécie. Caçadores de dragões, assassinos.

Cinzas, todos eles, em breve.

Então eu senti seu líder – um humano poderoso e marcado pela loucura. Sua mente se fechou para mim, incompreensível, alienígena. Louco, fanático, matador. Seu elmo de ferro, negro e fechado estava todo marcado por golpes de garras; seu peito, nu, havia sido queimado por fogo e seu tronco era retorcido, mas com músculos poderosos. Seu pescoço e o braço do escudo eram cheio de troféus – presas, escamas, o olho seco da serpente negra do pântano – e ele empunhava uma lança cruel, com farpas e correntes. Incitava os companheiros como se fossem animais e parecia tão disposto a trespassá-los como a matar qualquer outro ser vivo que cruzasse seu caminho.

Eles vinham para o Vale. E eu cruzaria seu caminho.

 # # #

 

Pedi a Brianna que se escondesse, mas o vale oferecia poucas chances de cobertura ou camuflagem. minha única chance de protegê-los era interceptar os invasores, mas seus cavalos eram rápidos e talvez não houvesse tempo o bastante.

Não esperei para descobrir. Voei para eles, queimando o céu, chamando toda a atenção sobre mim - algo realmente fácil, quando se tem a altura de uma torre. Eles esporearam suas bestas e dispersaram, escapando do pior do meu primeiro sopro - ou assim pensaram. Soprei contra o chão, não contra os cavaleiros. Soprei contra a relva seca, espalhando fogo pelo chão e fumaça pelo ar. Em poucos segundos seria impossível respirar ali perto.

Caminhei em meio a fumaça e ao fogo, que pouco incomodava meus olhos, minhas escamas quentes ao toque. Caminhei retalhando e mordendo, partindo os cavalos e cavaleiros que sufocavam perdidos no escuro com minhas garras e presas, esmagando-os com chicotadas de minha cauda farpada. Esperei, parcialmente oculto pela fumaça, enquanto aqueles que haviam escapado do meu ataque inicial se reorganizavam e reuniam suas forças. Ouvi-os se aproximando, suas mentes prontas para a batalha. Ouvi seus pensamentos - eles eram experientes, aqueles caçadores - eles então formaram um círculo conciso, ergueram uma parede de escudos antecipando meu próximo movimento e esperaram.

Teria dado certo, fosse eu uma serpente do pântano ou um dragão jovem e impulsivo. Um de meus irmãos mais jovens certamente se lançaria contra sua parede de escudos, esperando separá-los e retalhá-los; ou cuspiria chamas contra eles, chamuscando seus escudos e matando alguns de seus soldados mais frágeis, mas fazendo pouco contra a força como um todo. Recolhi-me; entesei músculos e estendi as garras. Preparei minha mordida e saltei.

Saltei por cima dos escudos, caindo entre eles, por trás de suas defesas, pronto para espalhar morte e destruição. Então caí em sua armadilha.

No momento em que saltei ouvi a risada do Caçador. Com uma palavra de sua língua bárbara e gutural ele deu o comando e seus soldados se espalharam mais uma vez, cada um com uma corda nas mãos, cada corda ligada a uma extremidade de uma enorme rede de aço. Com o disparar dos cavalos, a rede ergueu-se ao meu redor, e eu fui enredado.

Ferro e aço são como papel para mim. Mas aquela rede tinha uma magia, forte e incômoda, que minava minha força e minha mente; senti meus olhos pesarem, minhas pálpebras se fecharem, minha mente divagar e tudo ficar escuro.

 

 


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