A Hospedeira - Coração Deserto escrita por Laís, Rain


Capítulo 34
Reencontro


Notas iniciais do capítulo

Closing time, time for you to go out
To the places you will be from
Closing time, this room won't be open
Till your brothers or your sisters come
So gather up your jackets, move into the exits
I hope you have found a friend
Closing time, every new beginning
Comes from some other beginning's end
I know who I want to take me home
I know who I want to take me home
I know who I want to take me home
Take me home

(Closing Time - Semisonic)



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POV – Estrela

 

É difícil dizer adeus. E foi o que eu disse silenciosamente para o apartamento onde eu tinha acordado para minha nova vida, onde eu tinha aberto os olhos para o meu amor sem nada que me nublasse o sentimento avassalador e poderoso que nascera entre nós. Um adeus sentido e nostálgico por tudo o que podia ter sido.

— Vamos para casa – sussurrou Logan em meu ouvido, preparando-se para, em breve, fechar definitivamente atrás de nós a porta daquele nosso pequeno mundo.

— Eu vou sentir falta daqui – disse eu, ainda me despedindo de nosso primeiro lar.

— Eu também. Mas não é seguro ficar. Não conseguiríamos manter nossa história por muito mais tempo.

Logan tinha me convencido a me passar por Águas Claras para que pudéssemos forjar um álibi. Num primeiro momento, tive medo e tentei convencê-lo que eu não conseguiria fingir assim, que aquilo seria uma loucura. Mas depois percebi que ele tinha razão. Seria a melhor maneira de proteger nossos humanos.

Não era nada tão novo assim, na realidade. No começo, quando chegamos, muitos de nós tiveram que se passar por seus hospedeiros para adiar e minimizar uma reação dos humanos. Então eu sabia bem o que fazer: mimetizar o comportamento dela, agir com discrição, concentrar-me em suas lembranças e, por último, um detalhe particular de nossa situação, mentir. E isso nunca tinha sido algo difícil para mim. Eu tinha herdado e me acostumado facilmente com o hábito necessário que Peregrina fora obrigada a adquirir.

Então, mesmo que um pouco nervosa, sustentei firmemente o olhar surpreso e contrito de nossos colegas, Curandeiros e Buscadores, quando Logan e eu espalhamos a notícia de que a garota grávida tinha fugido do apartamento no meio da noite, roubado um carro e fugido para o deserto, onde morreu antes que ele conseguisse alcançá-la.

Mantive um olhar de sincera consternação enquanto Logan narrava a todos o quanto tinha sido terrível perceber a necessidade de enterrá-la ali mesmo, onde foi encontrada, no meio do deserto, horas distantes da cidade mais próxima e já morta há tempo demais para que fosse posta em um carro e levada para longe.

Todos se compadeceram de sua aflição e admiraram sua coragem de, mesmo assim, passar dias à procura vã do esconderijo dos humanos que, certamente, já tinham fugido. De qualquer maneira, admiravam-se, ele tinha persistido na busca, correndo perigo e ficando, ele mesmo, à mercê do sol escaldante que tinha vitimado nossa sensível e perturbada amiga.

Não foi difícil concordar que aquela hospedeira tinha sido seriamente danificada pelos humanos, de uma maneira que nós tínhamos irresponsavelmente negligenciado ao não examinar sua cabeça em busca de lesões, e que, por causa disso, tínhamos perdido, não só a Alma que tinha primeiro habitado aquele corpo, mas também a pobre Estrelas Refletidas no Gelo, que tinha, como a outra, enlouquecido.

Não era segredo para ninguém o quanto “eu”, Águas Claras, gostava dos hospedeiros crianças e o quanto estava empolgada com a chegada de um bebê humano, ficando extremamente sensibilizada com sua morte, assim como Logan e eu tínhamos ficado penalizados pelo falecimento de nossa amiga comum.

Confortadores foram especialmente designados para ajudar-nos a lidar com o luto, emoção tão rara e desconhecida entre nossa espécie. E, eles, em sua própria confusão diante de um “problema” tão humano, nos encorajaram a procurar conforto um no outro, já que enfrentávamos uma perda comum a ambos.

Nem mesmo para aqueles que supostamente nos conheciam melhor foi surpresa quando revelamos que passaríamos a viver como um casal, aproximados pela emoção traumática que tínhamos nos comprometido a superar juntos. Dissemos aos Confortadores que estávamos bem e que apenas gostaríamos de fazer uma longa viagem, ao fim da qual decidiríamos onde moraríamos. Prometemos que procuraríamos ajuda, caso precisássemos, assim que nos estabelecêssemos.

E assim, uma semana, que mais pareceu uma eternidade, tinha se passado desde o dia em que eu tinha acordado para a minha terceira vida. Uma semana cheia de fingimento e mentiras, exceto quando fechávamos essa mesma porta atrás de nós e Logan era todo meu mundo aqui dentro. Nosso pequeno pedaço do paraíso, nosso primeiro lar.

— Não chore, Estrela. São só paredes. Meu lar é você – disse Logan me abraçando e secando com os lábios uma lágrima fujona.

— Aqui foi minha primeira casa. E eu fui tão feliz neste lugar durante o tempo que passamos juntos depois que saí do hospital. Antes... – Minhas palavras falharam, não porque eu não soubesse o que dizer, mas porque eu sabia exatamente.

— Antes de você fugir e me deixar para trás? – completou Logan, trazendo de volta o assunto que eu tanto temia e que ficava espreitando nossas conversas.

Não havia acusações em seu olhar, havia algo pior: mágoa. Meu coração se contorceu dentro do peito e eu o abracei mais forte. Um abraço cheio de amor, mas também cheio de culpa. Ainda assim, era a melhor parte do meu dia. Um refúgio de paz em meio às minhas emoções quase sempre conturbadas. Como eu pude pensar que viveria um dia que fosse longe dele quando tudo o que eu queria era nunca sair de seu lado?

— Eu já te amava. Só estava confusa, tentando fazer o melhor para todos, mas não foi fácil. Eu ficava vendo seus olhos em minha imaginação enquanto ia embora. E partiu meu coração pensar que te magoaria. Mas eu precisava fazer aquilo. Por John.

— Por todos nós, Estrelinha. Eu sei agora. Não se torture – disse ele pousando beijos suaves em minhas pálpebras. – Eu não enxergava isso naquele momento, não tinha como entender. Mas tanta coisa mudou desde então. Vamos olhar só para frente de hoje em diante. O que acha?

Era tentador. O passado era tão complicado! Mas havia também uma beleza grandiosa nele. Toda uma vida que eu não queria esquecer. A minha segunda vida. Então tentei me explicar:

— Quando abri meus olhos para este mundo, os seus foram os primeiros que eu vi. Eu os abri para você, mesmo que tenha tido medo nos primeiros dias. Mas todo tempo, em meio a toda confusão em meu coração, a única certeza que eu tinha era a de que você estaria ali. Isso me fazia sentir segura. Mesmo que você vivesse me pressionando e me enchendo de perguntas que eu não podia e não queria responder, eu ficava aflita na sua ausência, ansiosa pela sua volta. Só me sentia bem quando você estava comigo. Pelo menos o mais próximo que eu podia me sentir, naquela época, do que vim a descobrir que era a felicidade.

— Os humanos chamavam isso de Síndrome de Estocolmo, se não me engano – disse ele, rindo.

— Não brinque! É verdade. Eu estava cega, cheia de emoções confusas, mas nunca me senti mais segura ou protegida, ou mesmo feliz, do que quando estávamos nos provocando.

— Nós jogamos bem esse jogo, não é? – disse ele, acariciando minha bochecha bem de leve com os nós dos dedos, quase sem me tocar, como fazia nos primeiros tempos. – Eu queria tanto te sentir, estar ao seu lado, te beijar. E eu odiava isso, porque não entendia o que estava acontecendo comigo. Ainda me lembro do primeiro dia em que minha pele tocou a sua. Foi no dia em que te confrontei sobre os retratos de Ian. Você se sentiu mal e eu te ajudei, você se lembra? – Assenti, é claro que eu me lembrava. – Você deitou a cabeça no meu braço e eu não consegui parar de te abraçar até que ouvi passos no corredor.

            — E eu não queria que você me soltasse. Foi a primeira vez em que me senti confortada. Mesmo com Águas Claras cuidando bem de mim, não era igual. Ela era muito doce e se preocupava com minha gravidez, mas era só. E aquele corpo estava tão inundado de amor! Cuidado e ternura eram bons, mas não eram suficientes. Era tão difícil só ter lembranças a que me apegar, quando eu precisava tanto amar e ser amada. Memórias de uma vida que não era minha, de um amor que não era para mim. Mas o seu era. E mesmo que eu não entendesse racionalmente, eu sentia isso.

            — Eu ficava tão impressionado com a sua intensidade! Com a maneira como você me enfrentava e mentia descaradamente para mim. Me deixava confuso e irritado, mas eu gostava. Você me instigava.

            Ri me lembrando das vezes em que achei que ele ia perder a paciência e as coisas iam ficar realmente feias, mas ele nunca perdia. Eu percebia seus olhos faiscarem de exasperação e suas mãos, sempre inquietas, apertavam as costas da cadeira como se estivessem prestes a agarrá-la e jogá-la pela janela. As mãos e os olhos eram as únicas coisas que denunciavam sua irritação, porque, logo em seguida, seus gestos ficavam mais controlados e sua voz mais baixa, e ele voltava a se sentar “calmamente” ao lado de minha cama para retomar seu interrogatório incessante.

            — Você ficava era irritado comigo – disse eu, rindo. – E eu achava isso tão sexy! Se você realmente tivesse tentado, teria arrancado muito mais informações de mim.

            — Ah, é mesmo, Srta. Provocadora? – disse ele, apertando os olhos numa expressão que era um misto de surpresa e malícia. – É bom saber disso, embora agora você não possa mais me vencer nesse jogo. Como se eu não soubesse que o que você gosta mesmo é de me provocar! A diferença é que agora eu posso jogar sujo.

Logan me cingiu mais fortemente em seus braços, me empurrando e pressionando contra a parede, o quadril apertado contra o meu e os olhos me queimando. Ele cerrou as sobrancelhas daquele jeito que parecia ao mesmo tempo uma carícia e um alerta e começou a percorrer a base de meu pescoço com os lábios, subindo até o queixo e deixando uma mordida de leve em meu lábio, antes de sussurrar com aquela voz que se desmanchava em minha corrente sanguínea percorrendo minhas veias:

— Você teria me dito o que eu queria saber?

— Sim, teria – respondi sem pensar, enquanto me deixava abrasar por seus olhos cor de esmeralda.

— Não, não teria, Estrelinha. As coisas que primeiro aprendi a amar em você foram sua lealdade, sua coragem e a maneira feroz e abnegada como você se apegou a John e a Peg. E eu sei muito bem que você os teria defendido até o fim. Como estamos fazendo agora. É por eles que estamos indo embora. Lembre-se disso e tudo ficará mais fácil.

Logan tinha razão, pensar em John deixava mesmo tudo mais fácil. Mesmo faltando meses para seu nascimento, para que eu pudesse realmente ver sua carinha e tê-lo em meus braços, eu queria estar perto dele, queria esperá-lo junto com Peg. E queria vê-la também. Eu sentia falta de todos, mas estar longe dela, daquela Alma que eu conhecia tão bem sem nunca a ter realmente encontrado, era como se faltasse um pedaço de mim.

— Tem razão. Vamos fazer isso de uma vez– disse eu, determinada. — Vamos para casa.

Minutos depois, eu lançava um último e carinhoso olhar a Phoenix, que ficava cada vez menor no retrovisor do carro, mas jamais deixaria de ocupar um lugar em nosso coração e em nossa memória.

——————————

Apesar da minha ansiedade, gastamos algumas horas a mais do que pretendíamos, porque Logan achou melhor fazer pequenas paradas para reunir o máximo de suprimentos que pudéssemos. Logo teríamos que fazer uma incursão, uma viagem mais longa e demorada para podermos reabastecer tudo que estivesse faltando para os humanos, mas por hoje isso teria que servir, pois o carro não era grande o suficiente para tudo que iríamos precisar.

Estávamos no Mustang, o Porsche tinha ficado com Jeb, que embora achasse que o carro era muito chamativo e pequeno demais para ser útil, não tinha conseguido convencer Logan a se livrar dele. Já tinha sido difícil o bastante deixar o Camaro para trás.

Talvez tivéssemos que acabar nos livrando também do Porsche, mas o Mustang ficaria. Era o “bebê” preferido de Logan, o carro de seu hospedeiro, uma conquista de anos de trabalho para ele, e eu tinha certeza de que nada o faria mudar de ideia quanto a mantê-lo.

Jeb tinha instruído Logan a deixar o carro no esconderijo e esperar por ele ali, já que não achava prudente entrarmos sozinhos, mesmo depois de tudo, especialmente porque os humanos não reconheceriam meu novo rosto. Jeb disse que estaria na caverna onde ficam os carros todos os dias no mesmo horário e, depois de vinte minutos com o coração acelerado de ansiedade, lá estava ele, na hora marcada.

Era estranho ver as coisas com meus novos olhos. Jeb continuava o mesmo. A mesma barba comprida e a mesma bandana amarrada na testa para aparar o suor. Os mesmos olhos sinceros e destemidos de um azul desbotado, mas bonito, cravados nas mesmas órbitas inquietas de sempre. A mesma expressão assustadoramente inteligente no mesmo rosto marcado pela passagem e pelas intempéries do tempo.

A diferença estava no meu olhar, que já não estava impregnado pelos sentimentos e memórias de Peg, mas pelas minhas próprias. Quando o vi, soube que não o amava porque ela o amava, mas porque ele tinha me acolhido, me protegido, me respeitado. A mim. Eu o amava porque ele tinha se tornado o esteio de Logan quando ele mais precisou e porque, mais uma vez, estava aqui por nós dois.

— Olá, garotos! Chegaram rápido – disse ele, sorrindo. – Está bonita, Estrelinha!

Eu não resisti. Sabia que Jeb não era um homem de abraços, mas não pude evitar. Assim que ele se aproximou, pulei em seu pescoço tascando-lhe um beijo na bochecha. Logan riu alto, atrás de mim, da cara que o humano preferido dele deve ter feito durante meu “ataque”.

Jeb se afastou surpreso, um vermelho tinto lentamente lhe colorindo as faces. Mas depois, pôs a mão áspera em meu rosto e disse com aquela que ele achava que era a inflexão doce de sua voz:

— Também senti sua falta, mocinha. Está com o risinho fácil, não é, Buscador? – disse ele, aproveitando a risada de Logan para mudar de assunto. – Bastou um rabo de saia e você já ficou todo bobalhão!

— Não sou eu que estou com cara de bobo, velho ganso.

— Você já chega abusando da sorte, novato! – disse Jeb, socando o ombro de Logan com o lado da mão. – Vamos ter que corrigir isso. Mas, por enquanto, bem-vindo de volta, jovem ganso – completou, passando um dos braços por seus ombros e dando-lhe um tapa fraco no topo da cabeça.

Eu pensei que Logan ficaria furioso com aquele “carinho”, mas ele simplesmente sorriu. E continuou assim, mesmo depois que Jeb o largou e virou as costas com o intuito de nos guiar até a entrada da caverna. Eu olhei para Logan e gesticulei a pergunta: “Ganso? ”

— Eu é que sei? – devolveu ele, dando de ombros.

“Homens! ”, pensei.

— Ei, Jeb!  Trouxemos algumas coisas.

— Ah, você que se vire com suas malas!

— São mantimentos para o pessoal. São só coisas básicas enquanto não partimos para uma nova incursão. Vai me ajudar ou não?

— Claro. Se é assim.

Repartimos o peso, Logan me deixando, obviamente, com a carga menor possível, mesmo diante de meus protestos, e levamos tudo para o buraco que servia de depósito, aquele onde Peg tinha sido feita prisioneira quando chegou. Não esbarramos em ninguém pelo caminho, porque todos estavam na praça central ou na sala de jogos aproveitando o domingo. Eu sabia que estava apenas adiando o inevitável, mas foi um alívio. Queria ver primeiro aqueles que eu amava e me fortalecer na presença deles, antes de enfrentar os rostos menos amistosos.

Estávamos ocupados ajeitando tudo, quando Jeb murmurou uma desculpa qualquer e desapareceu. Eu mantive um ar atarefado, grata pelo pretexto bem-vindo que me permitia esquecer por uns segundos os reencontros que tanto me preocupavam.

Logan levantava as caixas enquanto eu acomodava seu conteúdo no buraco-depósito, quando, de repente, ele segurou minha mão e me puxou para frente. Eu tinha estado tão distraída que não percebi o grupo que se aproximava e, ao me virar, meus olhos se encheram com a visão inesperada naquele momento, mas pela qual eu tanto tinha ansiado.

Uma garota pequena e delicada olhava para mim com olhos perdidos. Os cachos loiros que emolduravam o rosto de menina faziam-na parecer uma pintura. “Um rosto renascentista”, como Logan tinha me dito certa vez. Aquele corpo já tinha sido meu, eu já tinha me vestido em suas memórias, em sua beleza, mas aquele olhar era único. Era o dela.

Percebi naquele instante, em que seus olhos me observavam com uma expressão doce que eu jamais vira no espelho, que eu nunca tinha realmente me preparado para aquele momento. Peg não era mais uma fantasia ou uma memória. Era real. E me olhava com uma emoção indecifrável nos olhos que eu via pela primeira vez.

O que ela estaria sentindo? O que estaria pensando? Será que sabia o quanto eu a amava? Seria ela capaz de me amar também, ainda que fosse apenas um pouco? Ou estaria pensando em todos os instantes que lhe “roubei”, mesmo sem ter tido a intenção?

Senti medo e, como em todos os momentos em que isso me aconteceu, busquei meu “escudo”, minha força, por trás dos olhos verdes de Logan. Ele olhou para mim e sorriu daquele jeito que me despia de qualquer receio.

— Águas Claras? – perguntou ela com uma voz mais baixa e doce do que a minha jamais tinha sido.

Eu balancei a cabeça negando, mas não consegui falar, porque um nó que eu não tinha notado se formando em minha garganta se desfez e explodiu em lágrimas quentes que desciam copiosamente por meu rosto.

Logan passou o braço por minha cintura e foi bem-vinda a sensação de que alguém estava momentaneamente tomando posse de minhas reações, porque eu não sabia o que fazer. Ele me levou para mais perto dela e Ian fez o mesmo. De repente, estávamos uma diante da outra, nos reconhecendo.

Era uma emoção totalmente nova e inexplicavelmente profunda reaprender a olhar para aquele rosto. Senti um delicioso torpor me invadir ao perceber minha nova realidade, a de que aquela imagem, que eu olhava com a mesma naturalidade com que se olha para um espelho, era, na verdade, alguém que eu podia finalmente amar.

Esse tempo todo, eu tinha pensado nela como um pedaço que se despregara de mim, mas ao vê-la diante dos meus olhos, tão diferente do que eu tinha sido, tão única em seus gestos, olhares e infinita doçura, tudo se redefiniu. Ela era muito mais do que uma parte de mim. Era outra pessoa, todo um mundo à parte em torno do qual eu tinha girado como um satélite.

Ela estendeu a mão em direção ao meu rosto e eu repousei aliviada naquele gesto de paz. Sim, ela podia me amar. Fechei meus olhos, apreciando a beleza e a estranheza de ser acolhida por alguém que me conhecia tão bem quanto eu mesma, mesmo sem nunca ter me visto.

Aproximei-me mais um pouco e ela me abraçou. Eu a estreitei em meus braços protetoramente como se ela fosse uma criança, e me deixei tomar pela certeza de que jamais conseguiria me separar dela. Minha irmã.

— Obrigada – ela murmurou, enquanto suas lágrimas se misturavam às minhas.

— Por me ensinar a amar – completei. – Pelo tempo que você me emprestou e que me definiu, eu agradeço.

— Por cuidar de mim e garantir que eu estivesse aqui por nosso filho. E por voltar para nós. Obrigada.

— Não há outro lugar...

— Onde você gostaria de estar? Eu sei. Este é seu lar.

— Sim. Meu lar – respondi, dando-me conta de que, por mais que eu estivesse feliz em Phoenix, era aqui onde eu finalmente me sentia completa.


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Notas finais do capítulo

Oi, oi, meus amores!! Então, demoramos?
Eu sei que estou meio sumida por aqui ( sou a Laís (: ), mas a razão é uns probleminhas que estou tendo em casa, e isso está dificultando as coisas para mim, e também me dá algumas outras responsabilidades. Faz algum tempo que não há capítulos escritos por mim aqui, mas não se preocupem, eu nunca vou abandoná-los. Não poderia nem se quisesse.
Bom, esperamos que tenham gostado desse capítulo lindo da Rain!
Amo vocês.