A Hospedeira - Coração Deserto escrita por Laís, Rain


Capítulo 32
Acordado


Notas iniciais do capítulo

I could stay awake just to hear you breathing
Watch you smile while you are sleeping
While you're far away and dreaming
I could spend my life in this sweet surrender
I could stay lost in this moment forever
Every moment spent with you
Is a moment of treasure
Don't wanna close my eyes
I don't wanna fall asleep
'Cause I'd miss you baby
And I don't wanna miss a thing

(I don't want to miss a thing - Aerosmith)



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POV – Logan

 

As sombras formavam belos desenhos abstratos na pele branca de Estrela enquanto eu a observava dormir, sentado na poltrona em frente à cama.

Ela estava tão cansada que sequer se mexeu quando me desvencilhei de nosso abraço e vim me sentar aqui, sob a janela agora entreaberta que jogava luzes e sombras que brincavam em nosso quarto.

Era madrugada e eu também estava exausto. Os últimos dias tinham sido intensos, para dizer o mínimo. Ainda assim, eu não conseguia dormir. Sentia-me compelido a observá-la, a aprender todos os detalhes desse corpo que era agora ainda mais lindo, porque eu amava quem estava nele.

Não é que eu não tivesse reparado antes no quanto ela era bonita. Uma das coisas a que nunca fui imune é à beleza, em qualquer de suas manifestações. Mas eu simplesmente não me importava. Não queria estar aqui, e não sentia necessidade de tirar nenhum prazer desta existência quando a única coisa a que eu me apegava era ao meu dever de proteger.

Então Estrela chegou e mudou tudo, acordou coisas em mim que eu nem sabia que existiam e fez com que estar aqui fosse uma escolha. E agora ela era minha. Completamente. Nossos corpos tinham se pertencido do jeito humano e essa era a coisa mais intensa que já tinha me acontecido. Eu me sentia... Completo!

Por isso eu não conseguia dormir. Por isso não queria perder mais um segundo sequer dessa existência que eu passaria ao lado dela. Era como se agora eu precisasse dela para respirar. Um segundo longe e eu já a queria de volta.

Então, me sentei aqui, longe apenas o suficiente para que o calor das chamas que tomavam conta de meu coração não a sufocasse. Apenas observando o jeito como o lençol caia displicente sobre as formas arredondadas e perfeitas do corpo dela.

Minha nossa! Como eu a amo!

Eu sentia uma estranha urgência de fazê-la entender isso, mesmo que ela já soubesse. Eu simplesmente precisava dizer a ela. E provar. E estar ao lado dela o tempo todo, fundir meu ser ao dela se fosse possível. Era enlouquecedor!

Estive tanto tempo fechado dentro de mim mesmo, sem me sentir realmente parte de nada, que pertencer de uma maneira tão plena a outro ser era algo avassalador. Tanto que chegaria a me assustar se não fosse tão bom.

Mas ao contrário de mim, Estrela nunca teve medo e se abriu completamente às sensações humanas, mergulhando fundo nos sentimentos e lembranças de Peregrina. E agora, por causa disso, por ela ter sido tão doce e corajosa, nós tínhamos uma família para voltar, um lugar no mundo para conquistar. Isso era tão novo. Tão humano.

Quanta coisa tinha acontecido conosco, comigo, dentro de mim, durante esses poucos meses! Era quase como se eu fosse outra pessoa, como se eu tivesse vivido uma vida inteira em pouco tempo, e isso me deixava feliz. Pela primeira vez, eu sabia o que era me sentir assim, mas também fazia com que eu me sentisse cansado. Exausto, para falar a verdade. Fechei os olhos só um pouco e senti meu corpo relaxar.

É melhor voltar para a cama, pensei.

Abri minhas pálpebras pesadas de relance ao ouvir um barulho sutil como um esvoaçar de asas ou passos leves de alguém muito pequeno. Levantei-me e um vulto passou correndo pelo corredor escuro.

O que está acontecendo, afinal?

Quando acendi a luz da sala, vi uma garotinha ruiva pulando no sofá, as estruturas rangendo minimamente com seu peso de criança. Era uma menina linda, com os cabelos presos em duas tranças pendendo em seus ombros e um vestido azul celeste de princesa.

— Lindsay!         

— Logan, Logan, vamos brincar! – gritou ela, saltando do sofá num pulo desajeitado e correndo para mim, quase me derrubando ao agarrar-se às minhas pernas.

— Lindsay, o que você está fazendo acordada a esta hora? – perguntei, me abaixando para abraçá-la. – Venha, vou colocar você para dormir.

— Não quero dormir, Logan! Não estou com sono. Agora que estou com você de novo, quero brincar. – Então ela passou seus bracinhos roliços em torno de meu pescoço e suspirou. – Humm, não vamos mais nos separar, não é?

Não mesmo! Senti tanto a sua falta! pensei com o coração disparado. Mas me dei conta do engano quase ao mesmo tempo em que formulei o pensamento. Era ele quem sentia falta dela. O Logan de verdade e sua humanidade há muito perdida, muito antes de mim.

Ainda agachado em frente a ela, eu a soltei, segurei uma de suas tranças e afaguei seu rosto rosado e sardento enquanto a olhava nos olhos.

— Desculpe, Lindsay. Não podemos ficar juntos. Por mais que eu ame você... Por mais que eu quisesse ser o seu amigo, eu não sou. Seu amigo, seu irmãozinho, ele não está mais aqui.

— Não seja bobo, Logan! – ela me repreendeu com um risinho infantil. – É claro que está. E ele está sorrindo. Está feliz, porque você conseguiu nos trazer de volta. Nós viemos porque gostamos de quem você se tornou.

Lágrimas começaram a escorrer por meu rosto, enquanto ela dizia aquelas coisas. Como eu queria que fossem verdade! Como eu queria conseguir eliminar a tristeza que ele tinha me deixado de herança! Mas ele não estava aqui, tinha ido embora tão infeliz quanto viveu.

— Não é assim que funciona, querida. Logan não estava escondido dentro de mim. Ele se foi.

Então Lindsay segurou meu rosto com suas mãozinhas delicadas e falou:

— Nós sabemos quem você é, Canção Noturna. Não queremos que você vá embora, mas também não queremos ir. Queremos ficar com você. Veja! — E apontou para a parede ao nosso lado.

Eu me levantei e caminhei intrigado até o espelho. De lá, me encarava de volta um garotinho de olhos verdes e assustados que sorria para mim.

— Logan! – ouvi uma voz me chamar e abri meus olhos para Estrela, que acariciava meu rosto com suas mãos macias. — O que você está fazendo aqui dormindo sentado?

Esfreguei meus olhos, deixando a realidade entrar, mas meu coração ainda estava tomado pelas emoções do sonho. Agarrei os pulsos de Estrela e a puxei para mim, fazendo com que se sentasse em meu colo.

— Eu não estava conseguindo dormir. Então fiquei aqui te olhando. Você parecia tão cansada! Por que acordou?

— Você estava falando enquanto dormia – ela disse baixinho, quase parecendo envergonhada por ter despertado. Era tão doce!

— Me desculpe, amor. Não quis te acordar.

— Tudo bem – ela disse, sorrindo de modo conciliador. – Com o que você estava sonhando?

— Com Lindsay. E comigo. Quer dizer, com ele, meu hospedeiro.

— E foi um sonho bom? – perguntou Estrela, deitando a cabeça na curva de meu ombro.

— Sim... Não sei. Foi um sonho estranho.

— Como assim, “estranho”?

— Ela me dizia que eles tinham vindo ficar comigo, que estavam felizes com quem eu me tornei.

— Interessante.

— E então ela me mandou olhar no espelho e ele estava lá. Era criança novamente e sorria pra mim.

— E o que tem de esquisito nisso? – perguntou ela me deixando absolutamente confuso.

— Bem, devo começar com a garotinha fantasma ou com olhar no espelho e, em meu lugar, ver um menino que eu nunca fui?

Estrela riu, mas não explicou a pergunta, apenas continuou me questionando pacientemente, como se já tivesse entendido algo que era tão óbvio para ela quanto obscuro para mim.

— Você já tinha sonhado com Lindsay e com seu hospedeiro criança antes, não é?

— Bem, não dessa maneira. Eram mais lembranças. Mas, sim, já sonhei com eles.

— E quando isso começou?

— Quando você chegou – respondi, começando a entender o que ela podia estar querendo dizer.

— Quando você começou a se abrir para as emoções humanas. E hoje... Bem, o que nós fizemos foi bem humano – disse ela me olhando com ar provocador e correndo os dedos por meu peito.

Senti meu corpo arrepiar com aquele simples toque, mas estava intrigado demais com o que ela estava insinuando.

— O que você está querendo dizer, então?

— Seu hospedeiro era um homem aos pedaços, Logan. Você mesmo me disse que sentia que vocês eram tão parecidos que era como se você tivesse se fundido a ele ao invés de suprimi-lo.

— Sim, mas...

— Isso aconteceu porque você era como uma peça que faltava nele, mas vocês dois ainda estavam incompletos, mesmo juntos. Lindsay era a peça que faltava nele. A humanidade perdida de seu hospedeiro.

— E você era a peça que faltava em mim – concluí, acreditando que o que ela dizia fazia perfeito sentido, mesmo parecendo uma loucura.

— Hoje você se tornou humano de verdade, meu amor. Todas as peças que faltavam se encaixaram. É isso que seu sonho queria dizer.

— Hum – respondi, apenas para cortar o silêncio. Mas eu não sabia o que dizer. Estava simplesmente surpreso demais com aquilo.

— Mas isso me deixa preocupada – ela continuou. – Você nunca quis isso para si. Você nunca quis sentir as coisas com tanta força assim.

— Eu não sabia o que queria, Estrela. Não sabia de nada. Mas de uns tempos para cá, descobri que tudo o que eu quero é você. E tudo mais o que vier no pacote. A vida com os humanos, minha garota ciumentinha, as emoções intensas e confusas...

— Então você não se importa mesmo em deixar a vida que leva?

— E o que há aqui para eu deixar? Pensei que já tinha deixado claro que tudo o que eu quero é você.

Estrela sorriu e me beijou. Um beijo terno e carinhoso que fazia tudo valer a pena.

— E o que você está achando de viver como um humano?

— Bem, preciso admitir que existem algumas coisas bastante interessantes – disse eu, deslizando a mão sob a camiseta que ela tinha vestido para dormir e alcançando seu seio perfeitamente redondo e macio. – Você ainda está com muito sono?

— Não, não estou — ela respondeu, aconchegando-se mais a mim e pressionando o corpo contra o meu, enquanto se oferecia para ser beijada.

Eu correspondi ao seu desejo e senti nossas línguas se tocarem. As mãos dela correram por meu corpo e eu arranquei a camiseta que ela vestia, desnudando o corpo magnífico que me encheu de desejo.

— Hora de ser humano de novo, meu amor? – sussurrou minha Estrela.

— Por mim, tudo bem, ruiva – respondi, pegando-a no colo e levando-a para nossa cama, vazia há tempo demais.


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Notas finais do capítulo

Especialmente dedicado à nossa querida maluquinha Di Lua, que abriu uma exceção à sua regra de "somente três recomendações ao ano" para deixar uma para nós. Obrigada, flor.
E, viu? Eu pus umas gotinhas de lima no fim do capítulo pra te agradar.