A Hospedeira - Coração Deserto escrita por Laís, Rain


Capítulo 15
Conhecendo Jeb




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Mayday
Somebody save me now
I'm closing my eyes
'Cause once the sun rises
It's out of my hands
It's out of my hands
(Circadian - David Cook)

 

POV — Logan

O humano Jeb era um sujeitinho engenhoso. No curto espaço de tempo em que levamos Estrela até seu esconderijo, ele rebateu minhas perguntas com outras e sorveu cada detalhe de informação que pôde sobre a captura de Peg, a inserção de Estrela em seu lugar e sobre como eu a segui até aqui.

Não me importei muito em revelar essas informações, Estrela “abriria o bico” assim que acordasse, de qualquer forma. Eu tinha certeza disso. Mas foi preciso me policiar para não revelar a ele os detalhes que Estrela não conhecia, como o dispositivo de rastreamento no tanque de Peg ou seu verdadeiro paradeiro, uma bolsa preta que dividia o banco de trás do carro com o corpo amolecido de Estrela, a poucos centímetros de Jeb.

Eu menti inventando uma história próxima da verdade. Não queria me arriscar com nada mirabolante demais. Mentir para uma Alma era uma coisa, para um humano era outra completamente diferente.

Eu disse que segui Estrela através do rastreamento do GPS do carro que ela me roubou, e que quando encontrei o Mustang abandonado, encontrei também o tanque de Peg, que Estrela, atordoada pela insolação, acabou deixando para trás. Ela tinha mesmo deixado uma das bolsas para trás, seria fácil convencê-la de que tinha sido a que continha o tanque, assim ela não poderia me desmentir.

Inventei que enterrei o tanque sob algumas pedras no caminho, porque não queria que Estrela fosse encontrada com ele, por razões óbvias. E, por fim, emendei a mentira dizendo que segui de carro pela direção que achei mais provável que ela tivesse tomado e rodei por um tempo até que a encontrei desmaiada, praticamente por coincidência.

Acho que pareci bem convincente e a história era verossímil, mas não tive certeza se ele acreditou em todos os detalhes. O homem era mesmo difícil de ler, mantendo uma expressão terrivelmente neutra. O engraçado era que ele estava longe de parecer um humano comum. Ele era muito diferente das pessoas nas lembranças de meu hospedeiro. Ou talvez fosse apenas a forma como eu olhava para ele.

O fato de saber que Estrela contaria tudo assim que acordasse não era o único motivo de eu ter lhe revelado nossa história. Eu tinha vontade de falar com ele e sentia-me estranho quanto a isso. Talvez fosse a voracidade curiosa com que ele ouvia tudo o que eu dizia. Talvez fosse a forma como ele olhava para mim.

Quando ele me olhava, não parecia que estava vendo alguém tão diferente dele. Mesmo entre os meus, eu nunca era olhado como um igual, sempre pareci mais ameaçador do que as outras Almas, provavelmente por causa daquela força estranha, daquela mágoa que movia meu hospedeiro. Mas Jeb não parecia me achar particularmente ameaçador agora, depois de me ouvir. Não era prudente deixar que ele pensasse assim, mas não parecia algo que eu pudesse evitar. Era como se ele tivesse entendido algo sobre mim que nem eu mesmo sabia. Estranho.

Ainda assim, tentei obter qualquer informação possível sobre o lugar para onde Estrela seria levada, mas não consegui. Ele desviava de minhas perguntas com a maestria de um homem acostumado a só dizer o que quer.

Não pude saber nada sobre o modo de vida deles, quantos eram ou se havia outras Almas lá. A única informação que pude deduzir foi que ele era o líder, já que esse era um dado que ele não pareceu achar importante omitir.

— Pare o carro — ele disse, de repente. — Você vai ficar aqui, mais adiante tem uma pequena formação rochosa que vai te proporcionar um pouco de sombra. Comporte-se, Buscador. Lembre-se de que temos um trato.

Eu apenas assenti, meu coração angustiado demais por entregar-lhe Estrela e John. Estacionei o carro e puxei-a para fora. A bolsa onde ela carregava Peg rolou para o chão do carro e eu torci para que o tanque não fizesse barulho. Não fez e, de qualquer jeito, Jeb já tinha saído do carro, contornando-o para receber Estrela em seus braços.

A partir do momento em que eu a soltasse, estaria tudo completamente fora de meu controle. Eu não sabia se a veria novamente, ou o bebê que ela carregava e que eu já amava. Mas era o que ela queria, certo? Voltar para casa?

— Você vai ficar bem, Estrelinha. E o bebê também — sussurrei em seu ouvido, enquanto ela ainda delirava. — Seus amigos vão cuidar de você.

— Logan, eu já cheguei em casa? Eu já voltei para Ian?

—Sim, amor, você voltou para ele — respondi com o coração estraçalhado.

Jeb assistia a tudo com um olhar misterioso e parecia analisar cuidadosamente minha reação. Sem olhar em seus olhos, eu estendi meus braços, afastando o corpo de Estrela do meu e entregando-lhe o controle de minha vida. A um estranho que me deixava confortável.

Há dois meses, eu riria de quem dissesse que eu estaria nesta situação, mas agora era irreversível. Estava fora de minhas mãos.

Então ele a tomou de meus braços. Eu me aproximei dela e acariciei seu rosto, lamentando a coloração vermelha que sua pele tinha adquirido por causa de suas imprudências sob o sol. Estrela não era capaz de cuidar de si, estava provado para mim. E agora eu tinha que deixa-la sob os cuidados de humanos estranhos.

— Por favor? – pedi, estendendo o olhar para Jeb. Não foi preciso que eu formulasse nenhum pedido quando ele viu a dor em meus olhos.

— Nós cuidaremos dela. Dos dois. Eu voltarei com notícias assim que as tiver.

— Obrigado – disse sinceramente, assentindo com a cabeça.

— Você tem mantimentos aí no seu carro?

— Tenho algumas coisas, mas não é muito.

— Então eu também te trarei água e comida quando voltar aqui.

— Não sei por que você está sendo bom comigo, Jeb, mas eu agradeço mesmo assim.

— Eu já disse, rapaz. Não me subestime. Tem muito mais no velho Jeb do que os olhos podem ver – disse ele, dando uma risada desanimada. – Se você não fizer nada contra nós, não faremos nada contra você.

— Você tem a minha palavra.

— E você a minha. Mas tem mais uma coisa, Buscador. Jeb Stryder não nasceu para ganso. Preciso de sua arma.

— Você não confia inteiramente em mim, mas eu devo confiar em você e te entregar minha única defesa? – perguntei, mesmo não estando inteiramente surpreso com o pedido.

— Compreenda, Buscador. Eu sou responsável pela vida das pessoas aqui. Você vai querer alguém como eu zelando pela sua amiga, pode acreditar.

— Tudo bem – disse eu, pensando que a arma não era exatamente minha única defesa.

Eu entreguei minha arma a ele que a pegou com dificuldade, contorcendo-se para segurar Estrela ao mesmo tempo.

— Agora vá embora. A moça aqui já está começando a pesar e eu não quero que você fique nos observando entrar.

— Um dia destes você vai ter que me explicar essa história de ganso.

— Um dia destes, Buscador.

— E também vai ter que parar de me chamar de Buscador. Acho que não sou mais um – disse eu, guardando isso para refletir a respeito mais tarde.

Jeb sorriu de um jeito enigmático e assentiu em concordância.

— Fique tranquilo, Logan. Já me acostumei com coisas mais difíceis.

Então, enquanto eu caminhava no sentido contrário ao deles, em direção às pedras que me dariam uma parca sombra, Jeb desapareceu com minha família em seus braços. A família que eu amava, mas que pertencia a outro. Virei-me para trás para poder vê-los mais uma vez, mas era tarde demais.


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Notas finais do capítulo

Queridas leitoras,
Sabemos que vocês querem mesmo é saber o que vai rolar quando a Estrela voltar para as cavernas, mas enquanto esse capítulo não fica pronto, resolvemos postar esse aqui. É um capítulo curtinho, mas necessário como introdução para os próximos. Espero que gostem dele também. Fiquem ligadas, logo tem mais.