Perdida Em Seu Olhar - (Finalizada) escrita por Eu-Pamy


Capítulo 25
Capítulo vinte e quatro - Um mar de emoções.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem os erros...



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Capítulo vinte e quatro. –  Um mar de emoções.

- Viver é desvendar o próprio destino, um dia de cada vez.

19/12/2006

Querida Anabela.

As coisas estão melhorando. Eu estou muito feliz com o Daniel e talvez no ano que vêm nosso namoro pode passar para um outro nível (pelo menos é o que eu espero). O Lucas começou a namorar também, uma garotinha chamada Raquel. Acho que ele gosta dela, claro que não de verdade, porque nessa idade, nada é de verdade, ainda assim, até hoje, nunca fiquei sabendo de nenhuma briga entre os dois, o que é de se estranhar. Ele está se comportando, talvez ela esteja fazendo bem para ele, mesmo assim peço que você ilumine a cabeça dele, porque você sabe como são os adolescentes...

Além disso, ele começou a fazer aula de violão, faz duas semanas. Parece que a coisinha também faz e ele quis ficar “mais próximo” dela (como se mais do que eles já são fosse possível). Eu nem ligo, acho bom. Sempre quis aprender a tocar violão, mas nunca tive paciência, assim ao menos, ele realiza esse sonho por mim.    

(...) 2007 (...) -> Um ano de perturbações.

Eu deveria saber que ele não queria nada sério comigo, porque ele deu sinais disso, muitos sinais na verdade. Eu que não quis ver. Mas é mesmo difícil de acreditar que você está sendo usada, pelo sujeito que repete todos os dias que ama você.

Fevereiro de dois mil e sete.   

Eu estava na varanda do seu apartamento que ficava no oitavo andar. Estava ventando bastante e eu só usava uma blusa de moletom que ele havia me emprestado. Era domingo, dez horas da manhã, eu havia dormido na casa dele, e ao contrario de mim, ele ainda estava na cama. Olhei para a avenida movimentada do outro lado do parque. Aquilo era tão... incomodante. Respirei fundo, inalando o ar podre da cidade, de algum modo, isso me relaxada, provavelmente meus pulmões já estavam acostumados à poluição da cidade, ao ponto de me sentir estranha toda vez que viajava para o interior, onde o ar era limpo.     

Senti braços me agarrarem por trás. Sorri.

- Você fica tão sexy com esse moletom... – Ele beijou a curva do meu pescoço. 

- E você fica tão atrevido pela manhã... Deve ser o único em todo o mundo. – Ele me virou, fazendo encará-lo nos olhos e em seguida me beijou, comprovando a minha teoria. Mordi os lábios quando nos separamos. – Está com gosto de pasta de dente... – Murmurei. Ele riu. – O que você quer fazer agora? – Ele apertou minha cintura e me olhou com malicia. – Não, seu bobo, eu não estou falando disso.

- Então eu não sei. – Disse, largando minha cintura. – Pensei que você tinha que ir para casa... – Ele entrou no apartamento, eu o segui.

 - Hey, está me expulsando?

- Claro que não, Susan, não seja paranóica. Apenas pensei ter te ouvido dizer...

Sentei-me na cama, vendo-o vestir um jeans e uma blusa.

- Bom, eu não disse. Talvez você esteja imaginando coisas.

Ele olhou para o outro quarto, de modo que eu não pude mais ver seu rosto, tive a impressão de que era essa a intenção. É, talvez eu realmente esteja sendo paranóica.

- Tudo bem... Mas e o Lucas? Você vai deixá-lo sozinho? E aquele papo de estar com medo dele dentar se ‘procriar’ na sua casa? Sabe, sem você lá, ele pode estar fazendo isso agora mesmo.

Franzi o cenho. Havia alguma coisa errada acontecendo.

- Daniel, você está querendo que eu vá embora? Porque se estiver, tudo bem, eu não ligo não, mas, por favor, pare de dar indiretas, está me incomodando.

Ele caminhou até mim, segurou o meu rosto com as duas mãos e me beijou. Continuei com o cenho franzido quando nos separamos.

- Eu seria um tremendo idiota se fizesse uma bobagem dessas. Como você pode pensar uma coisa dessas de mim? Hein? Eu te amo maluca. Tudo o que eu quero é passar todos os dias ao seu lado. Só estou preocupado com o menino, só isso. Mas se você acha que está tudo bem deixá-lo sozinho com a namorada, então por mim está tudo bem também, querida. Não fique enchendo sua cabecinha com paranóias, está bem? – Assenti, ele sorriu e se afastou. – Eu vou tomar café, você vem?

Neguei com a cabeça.

- Acho melhor eu tomar um banho primeiro.

- Ok, como você quiser. – E saiu do quarto.

Fiquei alguns minutos encarando o ventilador preso no teto, pensando no que podia estar acontecendo para ele me tratar desse jeito estranho. Suspirei. Estava cansada de ficar procurando problema em tudo, então me levantei, peguei minhas roupas e marchei para o banheiro.

Quando saí, já estava vestida e meus cabelos penteados, graças a um pente que eu encontrei no seu armário. Caminhei até a cozinha, procurando por ele. A água dos meus cabelos escorria pelos fios até molharem a minha blusa, mas eu ignorei. Encontrei meu namorado sentado à mesa, olhando para a televisão sem piscar. Ele não se surpreendeu quando entrei e me sentei.

- E então, o que temos hoje? – Olhei para mesa.

- Pão, mortadela e mussarela. Mas se você não quiser, pode fazer uma omelete, os ovos estão na geladeira. – Ele não tirou os olhos da TV para dizer, estava muito concentrado na reportagem.

- Ok. E o café?

- Na cafeteira, em cima da pia. – Me levantei, peguei um copo no armário e coloquei café. Tomei um gole.

- Eu não entendo... – Ele me encarou – porque você faz o café tão forte... – Ele sorriu.

- Sou acostumado assim. – Tomei outro gole, sentindo o liquido quente invadir meu corpo e descer pela minha garganta.        

- Eu não estou reclamando... É bom. – Me sentei à mesa.

Depois que terminamos o café da manhã, fomos para a sala e nos deitamos no sofá.

- Quando você quiser ir, eu posso ligar para um táxi... É perigoso ir de ônibus até a sua casa.    

- Sim, mas ainda está de dia. Agora não tem perigo.

- Melhor não dar chance para os bandidos. Essa cidade está ficando muito perigosa, ainda mais você tendo que passar perto da favela para ir embora. Eu estava vendo na TV quase agora que teve mais um tiroteio no morro ontem, bandido contra milícia, morreram trinta. Não sei como não escutamos o barulho. Disseram que foi um show de horror, tudo isso só por causa de drogas...  

- Eu não tenho medo. Já fui assaltada várias vezes, mas nunca aconteceu nada. Acho que se fosse para acontecer alguma coisa, já teria acontecido.

- Mesmo assim, é bom se prevenir.

Voltei a prestar atenção no que se passava na televisão. Ficamos em silêncio por uns dez minutos.

- Você quer que eu ligue para o táxi? – Perguntou. 

Olhei para ele.   

- Daniel você quer que eu vá embora?

- Não é isso... É que...

- É isso sim! – Me sentei no sofá – Desde que acordamos você está falando que eu tenho que ir embora. Tudo bem, eu vou, mas só quero saber por que eu não posso ficar aqui? Você está enjoado de mim? Eu fiz alguma coisa que te irritou?  

- Amor, eu não perguntei por mal. Mas hoje é domingo... Pensei que talvez você pudesse ter outros planos, outros compromissos. Não quero que você pense que só porque estamos juntos, você precisa estar sempre comigo.

- Meu compromisso era com você, mas estou vendo que não sou bem-vinda. – Me levantei. – É melhor mesmo eu ir embora, você está muito estranho.

- Você não precisa ir, mas se você quer... Tudo bem.  – Ele se levantou e sorriu.

- Não sou eu que quero ir, é você que quer que eu vá. – Ele ergueu a mão para tocar no meu rosto, mas eu a afastei com o braço, recusando o toque. Ele me olhou contrariado.

- Você vai mesmo ficar nervosa comigo por causa disso? – Ele falava como se aquilo não fosse nada e eu estivesse fazendo drama.

- Eu não sei, mas se você não quer a minha companhia, eu também não quero a sua! – E comecei a caminhar até a saída, mas ele me impediu, segurando o meu braço. – Me solta!

- Susan, amor, eu não quero ficar brigado com você... Não por causa de uma bobagem como essa! – Ele me puxou para perto e me deu um beijo. – Susan... Eu não quero que você vá embora, pelo menos, não pelos motivos que você pensa.

- Então o que é?

- Eu só... Tenho um compromisso.

- Que tipo de compromisso?

- Eu não posso dizer. – O olhei séria. – É sério querida, eu não posso dizer... Não agora.

- E você acha mesmo que eu vou acreditar nisso? – Me afastei, me soltando dos seus braços.

- Confie em mim.

Respirei fundo.

- Eu não sei o que está acontecendo, mas vou embora.

- Eu ligo para o táxi.

- Não, não precisa, eu faço isso no elevador.

- Tudo bem, então me deixe pelo menos te dar o dinhei... – Ele se virou de costas, procurando a carteira.

- Nem pense nisso, eu não quero o seu dinheiro, eu trabalho, tenho o meu próprio dinheiro. – Ele me encarou.

- Sua casa é longe...

- Não importa. – Ele se aproximou de mim e selou nossos lábios. Como se pensasse que só em me beijar, eu ficaria mais calma, como se o beijo fosse um sedativo aos meus impulsos agressivos.

- Você não vai ficar nervosa comigo, vai? – Neguei com a cabeça.

- Não... – Suspirei. – Bom, estou indo, deixa só eu pegar a minha bolsa no seu quarto. – Segui para o seu quarto, ele ficou na sala, esperando, quando voltei, ele já estava na porta da saída.

- Eu vou te ligar mais tarde, está bem? – Balancei a cabeça, concordando. – Eu te amo. – Sorriu.

- Sei. – Abri a porta, mas tomei um susto quando encontrei no corredor, uma mulher. Uma mulher que eu jamais havia visto na minha vida. O que ela estava fazendo ali?

- Oh, oi. – Ela falou, sorrindo para além de mim, para o Daniel.

Ela não era uma mulher jovem, mas tinha a sua beleza. Era alta, magra, de olhos azuis, cabelos castanhos e  de muito bom gosto para roupas. Ela me encarou e eu fiquei sem reação.

- Mamãe... – Falou o meu namorado, tomando uma atitude. Ele entrou na minha frente e abraçou a moça, sorrindo, parecendo muito feliz. – Pensei que você só iria vir mais tarde... – Disse quando se soltaram.

- Como assim querido? Eu liguei avisan-...

Oh, então aquela era a minha sogra?

- Eu sei – Ele a interrompeu – Cadê o pai?

- Ele foi ao mercado comprar um champanhe, para o jantar. – Ela olhou para mim e eu me senti muito pequena ali – Querido, não vai me apresentar? – Ela apontou para mim com a cabeça. O Daniel olhou para mim com uma expressão que eu não soube definir. Parecia querer dizer: “O que você ainda está fazendo aqui?”. Com um sorriso forçado, ele me apresentou, mas não da maneira que eu gostaria.   

- Mãe... Essa daqui é a Susan, ela trabalha comigo no jornal... Susan, essa é a minha mãe.

- Oh, então você também é jornalista? – Ela sorriu. Olhei para o Daniel, estava em pânico.

- Fiz faculdade, mas trabalho como escritora de crônicas.

- Ah, entendi. É um prazer conhecê-la, senhorita.

- O mesmo. – Eu não conseguia sorrir. Olhei para o corredor, eu queria sair correndo, não porque estava com medo da minha sogra, mas porque o meu namorado não havia me apresentado como “namorada” dele, eu era apenas a “amiga de trabalho”. Eu não entendia porque ele havia feito isso. Será que ele tinha vergonha de mim? – Eu-eu... já estava de saída. – Ela pareceu decepcionada.

- Mas já? Eu acabei de chegar...

- Mãe, se ela disse que precisa ir, é porque precisa mesmo. – Olhei para ele. O que aquele imbecil estava fazendo? Seu rosto se contorceu quando viu a minha expressão.

- “Preciso mesmo”, né? – Perguntei furiosa. Estão era isso? Era por isso que ele queria que eu fosse embora? Ele não queria que eu, “a amiga do trabalho”, conhecesse a sua família. Porque ele tinha vergonha de mim.

A vontade que eu tinha era de ficar ali conversando com ela, conhecer o pai, a mãe melhor. Ficar a tarde inteira naquela casa, só para irritar. E no final do dia, eu falaria. “Senhora, eu transo com o seu filho todos os dias. Aliás, somos namorados”. Só para ver a reação dele.

Idiota. Imbecil. Débil mental. 

Eu não sabia se estava falando dele ou de mim.

- Sim, eu preciso mesmo ir embora. Tchau, foi um prazer. Passar bem – E saí pelo corredor, andando sem olhar para trás. Ele não foi atrás de mim, na verdade, ele nem pensou em ir.

Eu estava me odiando naquele momento. E ali, dentro daquele elevador, sozinha, escutando aquela musiquinha irritante, tive vontade de chorar, mas não chorei. Eu já havia passado por coisa muito pior e sobrevivi, não seria aquilo que iria me derrubar nessa altura do campeonato. Eu era uma mulher forte, iria superar.

Quando cheguei em casa, dei de cara com o Lucas e a sua namorada, brincando de guerra de cosquinhas um com o outro.       

- Olá senhora Cllaus. – Disse a coisinha, toda sorridente.

- Olá Raquel. – Olhei para o Lucas, depois para o chão e segui para o meu quarto. Minutos depois, ele aparece, abrindo a porta lentamente.

Eu estava sentada na cama, olhando para o teto.

- Você está bem? – Ele perguntou.

- O que você está fazendo aqui? A sua namoradinha foi embora? – Ele negou.

- Não... – Se aproximou da cama – Você está bem? – Repetiu a pergunta.

- Não, mas vou ficar. – Eu sempre respondia aquilo para ele quando me sentia magoada.

- O que aconteceu?

- Daniel. – Aquela fora a minha resposta.

- Vocês brigaram? – Ele me avaliou. 

- Ainda não, mas com certeza vamos. – Ele ficou em silêncio. O encarei nos olhos. – Não se preocupe querido, eu vou ficar bem. Volte para a sua namorada. 

- Tem alguma coisa que eu possa fazer para te ajudar? – Sorri com aquela pergunta.

- Acredite, você já fez.

Realmente aquilo era verdade. Todavia, eu sempre me senti melhor quando ele estava por perto, era como se eu não ligasse para os problemas quando ele estava comigo. Era como se eu ficasse mais forte.     

Á noite, recebi onze ligações do Daniel e nenhuma eu atendi. Estava cansada dele e não queria escutar as suas desculpas.

(...)

Uma semana depois, eu decidi que estava na hora de ter uma conversa séria com aquela coisinha loira. Uma conversa de mulher para mulher.

Quando ela chegou no domingo na minha casa, pedi para ela me seguir, caminhei até a biblioteca e lá nós duas nos sentamos.       

- Aconteceu alguma coisa senhora Cllaus? Eu fiz alguma coisa errada? – Ela parecia com medo. Abri a janela do cômodo para entrar um pouco de ar, depois me sentei de frente para ela.

Passei a mão pelos meus cabelos e respirei fundo.

- Não querida, você não fez nada de errado... Mas aconteceu sim uma coisa.

Ela entrelaçou as mãos, parecendo nervosa.

- O que? É alguma coisa com o Lucas? Ele está bem? Está machucado? – Dizia com sua voz fina, contorcendo o rosto de preocupação.

- Não, não, o Lucas está ótimo, não se preocupe. Ele está saudável como um urso. – Ela sorriu, aliviada. – A verdade é que eu queria ter uma conversa com você... Uma conversa séria. Eu sei que eu devia ter feito isso há muito tempo, mas é que para mim, essas coisas são difíceis. – Ela franziu a testa, ficando igual a um maracujá murcho.

- Eu não estou entendendo senhora Cllaus... O que a senhora tem para conversar comigo? 

- Bom, eu não sei se a sua mãe já conversou com você sobre isso, mas... De todo modo, eu vou fazer. – Uma pausa – Você e o Lucas estão namorando já faz um bom tempo...

- Quase um ano – Seus olhos brilharam com orgulho.

- Aham... Um ano, que seja. Vocês estão namorando e como adolescentes, já devem... – Fiquei em silêncio. – Ééé... Bem, você sabe.

- Eu sei? Eu sei o que? – Como ela podia ser tão burra?

- Ah, você sabe... – Fiz uns gestos com a mão, mas ela ainda não conseguia entender.

- Senhora Cllaus, a senhora está bem?

- Estou. – Ou você acha que eu sou louca por acaso? – Querida, estou falando sobre sexo.

Ela gargalhou, fiquei séria, agora eu que não entendia.

- Ah, desculpe... É que... – Ela tentou conter as risadas. – Eu realmente pensei que fosse outra coisa... – Riu mais.

- E sobre o que você achou que fosse? – Perguntei zangada. Que tipo de pessoa aquela garota achava que eu era? Uma maníaca que iria agarrá-la?

- Nada não, não importa. Prossiga, por favor.  

Respirei fundo, querendo me levantar e ir embora para bem longe dela e daquele mundo adolescente que tanto fazia com que eu perdesse a razão. 

- Raquel... Ouça com atenção, porque eu não vou repetir. O Lucas e você, como namorados que são, estão tendo relações, certo? – Não esperei ela responder – O que eu quero te dizer é que... Você como mulher, precisa tomar alguns cuidados. Apenas usar camisinhas não é suficiente. Você precisa ir à um ginecologista, fazer alguns exames e começar a tomar anticoncepcionais. A camisinha é ótima para evitar gravidez, mas não é tão segura. Adolescentes costumam ser muito ansiosos, precipitados demais... Mesmo vocês dois não planejando, um dia poderá acontecer de vocês quererem... dormir juntos e não encontrarem camisinhas por perto, e como estão tão entregues ao momento, acabam nem se importando com esse detalhe tão importante. Estou dizendo isso porque sou adulta e sei que isso acontece muito. Muitas meninas da sua idade ficam grávidas na adolescência por causa de terem se descuidado uma única vez com seus parceiros. Não estou chamando vocês de irresponsáveis, confio em vocês, mas... Eu sou a responsável por ele, tenho que pensar nessas coisas, além do mais, o Lucas é homem, está na flor da idade, cheio de desejo e testosterona acumulados. Como mulher, você precisa pensar nisso porque na hora “H”, os homens nem se dão conta do risco. Acredite em mim, eu já vi muitas ‘crianças’ terem crianças e todas elas se arrependem de não ter evitado, porque evitar a gravidez é fácil, mas ter um bebe não é não. Sei que provavelmente a sua mãe que deveria ter essa conversa com você e não eu, mas eu precisava ter certeza que algum adulto havia te instruído corretamente. Eu já tive a sua idade, já tive as duvidas que você deve esta tendo, mas diferente de você, naquele tempo eu não tive ninguém que me explicasse essa coisas, eu tive que aprender tudo na pratica e isso era assustador. – Segurei a sua mão -  Eu sou a única família do Lucas e me preocupo muito com ele.

- Eu também.

- Eu sei querida e por isso, peço que você cuide dele, o faça feliz e não triste. Ele já sofreu demais. Você entende? – Olhei nos fundos dos olhos dela. Ela havia escutado todo o meu discurso em silêncio, sem esbanjar nenhuma reação.

- Senhora Cllaus, não se preocupe. Eu gosto muito, muito do “Luquinhas”, ele é a minha vida, nunca faria nada para magoá-lo. Eu agradeço a preocupação que você está tendo em me explicar assas coisas, mas eu já estou tomando todos os cuidados. Não sou boba... Só tenho cara. – Ela riu – Eu agradeço mesmo, mas minha tia já me explicou tudo.

- Ah, que bom, então não sou a única preocupada.

Ela negou com a cabeça.

- Não, não mesmo. – Rimos.

Levantei-me.

- Bom, era só isso que eu tinha para dizer, obrigado por me deixar ter essas conversa com você Raquel. Estou me sentindo mais tranqüila agora.  Agora vou te liberar para você ir ver o seu namorado.

Ela se levantou em um pulo, sorrindo de orelha a orelha.

- Eu estou com tanta saudade do meu ‘fofuxo’! – Disse pulando de um jeito esquisito. Parecia que em menos de um segundo, ela havia se transformado completamente, de uma mulher á uma criança de quatro anos.               

Sorri um pouco desconfortável.

Ainda era estranho imaginar os dois juntos, entretanto, eu começava a me conformar. Era isso ou ficar sofrendo pelos cantos.

(...)

Eu já o tinha perdoado quando Abril começou, estávamos na casa do meu Tio Marcos, visitando-os. Meu primo Charlie estava conversando com o Lucas na laje, meu Tio havia saído para comprar um remédio e eu e o Daniel estávamos na sala, assistindo a novela, ou melhor, apenas eu estava assistindo, porque ele estava muito ocupado teclando alguma coisa no celular.

- Susan, eu estava pensando... – Ele começou a falar de repente – que seria legal você escrever um livro.

Olhei espantada para ele.

- Que papo é esse? Eu? Escrever um livro? – Ri da idéia – Está maluco?

Ele passou a mão pelos cabelos.

- Maluco por quê?

- Porque essa idéia é insana.

- Não concordo. Você é uma ótima escritora, tem talento, é versátil e sabe se colocar, além de ser muito criativa e carismática. Qualidades de uma escritora.

- Obrigado pelos elogios, mas eu passo.

- Pensa bem.

Me sentei do lado dele no sofá.

- Não, você que precisa pensar bem, escrever um livro não é assim fácil como você faz parecer. Tem que ter dinheiro, investidores e o mais importante, precisa ter sobre o que escrever. Eu sou só uma mera escritora de crônicas, nunca escrevi mais do que uma ou duas folhas por dia.

- Mas você adora ler, é crítica e perfeccionista. E nesses dias, não faz muito tempo, eu estava vendo os comentários que você recebeu no site do jornal... As pessoas te adoram. Você tem muitos fãs, já se deu conta disso? – Eu sorri.

- Eu tenho sorte.

- Não, você tem talento. – Olhei incrédula para ele. Não era possível que ele estivesse falando mesmo sério, aquela deveria ser mais uma das suas brincadeiras. – Imagine, essa pode ser a sua chance de ser uma jornalista. Você não precisa escrever romances, existem muito livros sobre o jornalismo, eu sei por que na sua biblioteca mesmo tem dezenas deles.

- Daniel, por favor, pare de sonhar. Eu não vou escrever um livro.

- Porque não?

- Afinal, porque você quer tanto que eu escreva um livro? – Franzi o cenho.

Ele deu de ombros.

- Só achei que fosse uma boa idéia.       

Suspirei.

- É uma idéia idiota. Até por que... Que tipo de desocupado perderia o tempo lendo um livro meu?

(...)

Em Julho, algo inesperado aconteceu. Eu estava lavando a roupa quando ele apareceu sorrindo, vindo na minha direção.

- Eu consegui! Eu consegui! – Ele gritou animado. Olhei confusa para ele. Sequei as minhas mãos em uma toalha de mão.

- Ok, ok... Calma ae, rapaz. O que você conseguiu?  - Questionei. Ele me olhou, seus olhos brilhavam de euforia.

- Eu consegui um emprego! – Soltou de uma só vez.

- Você o que? – Perguntei nervosa e ao mesmo tempo surpresa.

- Eu consegui um emprego. – Repetiu.

- Como assim um emprego Lucas? Um emprego aonde menino?

Ele mordeu os lábios.

- Não é grande coisa, mas... Já é um começo. Vou trabalhar como vendedor em uma loja de disco, não é legal? Eu acabei de sair de lá, não é longe daqui.

- Mas você só tem dezessete anos, pra que quer trabalhar?   

- Exatamente, eu JÁ tenho dezessete anos, preciso trabalhar!

- Mas por quê? Pra que? Nós não precisamos de dinheiro, eu te dou mesada, não falta nada aqui em casa, eu...

- Susan, eu não quero mais o seu dinheiro... – Sussurrou, parecendo muito decidido. – Eu já sou um homem, preciso aprender a ganhar o meu próprio dinheiro, já passou da hora. Quando eu era pequeno, tudo bem, mas eu já tenho dezessete anos. – Ele sorriu – Além do mais, eu vou trabalhar em um bom lugar, perto dos discos, das pessoas, vai ser bom para mim me distrair, você vai ver. Estou cansado de chegar da escola e ficar o dia inteiro dentro de casa sem fazer nada. Me sinto um inútil com essa rotina.

- Se é isso, você pode fazer curso de tarde, ou sei lá... Praticar algum esporte, mas trabalhar? Não acha que é um pouco demais não? Você é tão novo... – Ele me encarou com o seu olhar de censura. Porque ele tinha que ser tão teimoso? – Eu posso aumentar a sua mesada se for o caso.

- Eu já disse, eu não quero o seu dinheiro. E eu não sou novo não, porque conheço pessoas mais novas que eu, que já trabalham. Eu quero ter mais responsabilidades, quero te ajudar em casa, na hora de pagar a compra, quero sair sem ter que ficar pedindo dinheiro para você... Quero ser independente.

- Eu acho legal você querer essas coisas, mas... – Suspirei – Estou falando por experiência própria, eu comecei a trabalhar com dezesseis anos, mas diferente de você, eu trabalhava por necessidade.

 - Ta, agora me responde: Começar a trabalhar com essa idade não foi bom para você? Você não ficou mais madura com isso? Mais responsável?

- A questão não é essa... – Suspirei novamente – Vamos fazer assim então, ano que vem você vai fazer dezoito anos, certo? Então, ano que vem você começa a trabalhar.

Ele olhou para o céu, parecendo impaciente.

- Você não está entendendo. Ano que vem eu faço dezoito e vou poder tirar a minha carteira de motorista. Eu quero começar a trabalhar agora, para juntar dinheiro para dar entrada no meu carro.

Houve três ou talvez quatro, segundos de silêncio. Eu estava surpresa e orgulhosa demais para ser contra.  

- Bom, acho que você já tomou a sua decisão, não é? – Ele assentiu. – Ok... Acho que não tenho escolha então a não ser aceitar... – Ele começou a abriu um sorriso – Mas espera ai, antes de comemorar, eu quero que você me prometa que isso não vai atrapalhar nos seus estudos, que você vai continuar fazendo os trabalhos e vai ter tempo para estudar para as provas.

- Eu prometo. – Ele sorriu e me abraçou.

- Espero não me arrepender.

- Você não vai.

(...)

19/08/2007 – Quinta-feira. Onze horas da noite.

Aquele era uma quinta-feira especial, uma quinta-feira para se festejar. Estava tendo uma série de Shows internacionais no Rio naquela semana e eu temia não poder ir em nenhum deles, até que graças ao bom Deus, consegui uma folga no serviço e as cinco da manhã daquela quinta-feira abençoada, lá estava eu, de frente ao estagio do Maracanã, onde seria o show, na fila com mais de duzentas pessoas, disputando os últimos ingressos a venda. E milagrosamente, eu consegui os meus dois ingressos, pagando mais de cem reais por cada um. E foi ai que percebi a confusão que eu havia me metido. Eu tinha apenas dois ingressos e mais de dez familiares querendo ver o show, que obviamente ficariam super magoados se eu não entregasse o ingresso para qualquer um deles. Foi difícil, mas acabei decidindo pelo gosto musical. Aquele seria um show de jazz internacional e o Daniel odiava jazz, ao contrario do Lucas que adorava. Teria apresentações do Saxofonista Joshua Redman e os músicos Arturo Sandoval, Aléx Acuña, Michel Camilo e Abraham Laborial.

Os portões do estádio se abriram às cinco horas, mas já havia muitas pessoas esperando do lado de fora às duas da tarde. O show começou às oito horas, com um atraso de quase meia hora, deixando todos ainda mais ansiosos.

- Você está gostando? – Perguntei para o Lucas, tendo que gritar para ele me escutar, depois que o saxofonista que ele queria ver terminou de se apresentar.

- Muito! – Gritou de volta. – E você?!

- Amando!

Aproveitamos à música por mais algumas horas. O Show estava previsto para terminar á meia-noite. Na troca de roupas dos músicos, algumas bandas e músicos nacionais se apresentaram, fazendo o publico delirar.

Eu estava dançando, curtindo a música na minha, quando um rapaz de aproximou. A principio, fiquei um pouco constrangida.

- Nossa, hein, você é a nora que a minha mãe pediu a Deus. – Ele disse, se aproximando, com um sorrisinho desdenhoso nos lábios. Era um rapaz alto, de rosto um pouco agressivo demais e músculos saltados, apesar da jaqueta disfarçar um pouco. Fiquei sem reação. Eu, como toda boa brasileira, estava acostumada a receber cantadas como essas, mas por algum motivo, fiquei envergonhada.

- É o que o meu namorado diz. – Falei, tentando não dar muita atenção. Ele pareceu não se incomodar.

- E cadê o “corno”? – olhei para ele, surpresa, e ele sorriu.     

- Por perto. – Respondi séria.

- Ele deve ser um idiota, para deixar uma princesa como você solta por ai. Isso é um perigo. – Parei de dançar. Aquele cara estava começando a me incomodar. Eu ia respondê-lo, mas alguém fez isso por mim.

- Perigoso mesmo vai ser se você não se afastar dela. – Disse o Lucas, se colocando entre mim e ele. Ele olhou para o Lucas e então sorriu.

- Desculpe pivete, esse é um papo entre adultos.

- Como a moça já disse, ela está acompanhada, então faça um favor para si mesmo e se afaste dela, eu não quero arrumar confusão com ninguém, mas se você continuar a incomodá-la eu não vou mais ser tão bonzinho. – Sua voz estava diferente, assustadora, de um jeito que eu nunca havia visto antes. Os pelos dos meus braços se arrepiaram. O rapaz olhou para ele, parecendo querer desafiá-lo. Eles eram quase da mesma altura, eu reparei.

- Por favor, nós só queremos ver o show. – Pedi.

Ele bufou.

- Tudo bem, você não vale a pena. Relaxa amigão, pode ficar com ela. – Riu e virou de costas. Respirei fundo, me sentindo aliviada.

- Hey cara. – O Lucas falou, olhei espantada para ele. O rapaz se virou para ver do que se tratava e o Lucas aproveitou para esmurrar o seu rosto, acertando o soco bem na lateral da boca do sujeito. Eu gritei, algumas pessoas olharam assustadas, vendo o homem caído no chão. – Isso foi para você aprender a ter mais educação com as mulheres. – Falou, limpando a mão na calça. O rapaz o olhou assustado, levando a mão à boca, estava sangrando.

- Você está maluco cara? – Ele gritou, vendo a mão suja de sangue.

Olhei para o Lucas e ele me olhou, senti sua mão segurar a minha e ele me puxar pela multidão, nos afastando.

- Porque você fez aquilo? – Perguntei, quando já estávamos longe o bastante. Ele deu de ombros.

- Aquele cara é muito folgado. Alguém precisava ensinar bons modos para ele.

- Você podia ter se machucado... Ele podia estar armado!

Ele respirou fundo.

- Eu odeio gente folgada. – E sorriu, o sorriso mais lindo que eu já havia visto.

(...)

Setembro de dois mil e sete.

Eu realmente não entendia por que estava fazendo aquilo. Sentada na minha escrivaninha, de frente para o meu notebook, abri uma pasta no Word e comecei a escrever o tal livro. Quando o Daniel deu a idéia, é claro que eu achei absurda, mas depois de tantos meses, a minha opinião começou a mudar. Depois do grande sucesso e do aumento que eu recebi pelas crônicas falando sobre o aborto no Brasil na ultima semana, eu estava muito animada e confiante. Por isso, a mudança de opinião. Eu já havia pesquisado em alguns sites como funcionava a publicação dos livros; e para a minha surpresa, descobri que se o livro realmente for bom, o escritor não vai precisar dar nenhum centavo para a sua publicação, isso é responsabilidade da editora, e em troca, ela ganha uma porcentagem em cima dos lucros da venda, o que achei bastante justo. Mas o difícil mesmo era ganhar essa aceitação. Milhares de livros são rejeitados anualmente pela industria literária, enquanto alguns escritores, ficam ricos por causa das suas obras. Mas a maioria desses escritores famosos tem duas coisas que eu não tenho: Um nome conhecido e experiência. Ainda mais aqui no Brasil, um país que não valoriza seus escritores e só os renegam a sociedade. Entretanto, mesmo sabendo disso, lá estava eu, escrevendo.

     O que me assustou mesmo foi que depois de pensar algumas vezes, a idéia de publicar um livro me pareceu bastante natural e até mesmo, já esperada.

Enquanto eu estava sentada escrevendo, percebi que aquilo era bastante fácil. Eu não via dificuldade em criar, não via dificuldade em inventar coisas, personagens, cenários, o problema mesmo era mostrar isso para as pessoas de um modo que elas entendessem. Eu gostava de escrever, mas não me sentia a vontade com as pessoas lendo o que eu escrevia. Achava que era algo muito pessoal, muito “meu”. Mas eu estava decidida a tentar, mesmo que não desse certo, eu iria tentar ser uma escritora. E quando eu coloco uma coisa na minha cabeça, é difícil esquecê-la.

(...)

05/12/2007

Eu havia acordado cedo naquela sexta-feira. Estava ansiosa e cheia de expectativa.

Ás duas horas, o Daniel passou na minha casa para nos buscar. Eu estava vestindo um vestido formal azul, salto-alto e havia passado no salão de beleza para fazer um penteado, me depilar e fazer as unhas. O Daniel estava vestindo terno e o Lucas uma calça social e uma blusa branca social de mangas compridas de cetim. Os dois estavam muito bonitos. Quando chegamos à escola, encontramos com a Karol, o Felipe e os seus dois filhos. A Raquel estava esperando o Lucas de frente ao portão da escola, vestindo um vestido preto com flores de renda bordadas e um colar de borboleta no pescoço. Deixamos o Lucas ir cumprimentá-la e fomos nos sentar com os outros pais. Estavam todos muito ansiosos, afinal, não é todo dia que um filho se forma no colegial. Ao longe, vi alguns alunos vestidos com as suas tradicionais batas azuis e chapeuzinhos, tudo muito bonito. A escola havia preparado um palco na quadra, onde os alunos subiriam para receber os diplomas, e de frente ao palco, havia as cadeiras para os formandos e depois as cadeiras dos pais.          

Antes da entrega dos diplomas, alguns professores falaram, o coral cantou e houve o discurso de um rapaz ruivo, que apesar de estar visivelmente muito nervoso, fez um belo discurso. Em seguida houve a chamado dos nomes, as entregas dos diplomas. Quando o Lucas subiu, reparei que algumas garotas gritaram; o que me fez rir por causa da expressão da sua namorada. Depois do evento, os alunos se abraçaram e outros choraram, em despedida.

Caminhamos até o carro.

- Bom, que tal uma reuniãozinha em casa para comemorar? – Perguntei quando ele e a namorada se aproximaram. Ele olhou para mim com uma expressão um pouco estranha.

- É que eu estava pensando... – Ele começou.

- Iii, Susan, acho que fomos trocadas. – Disse a Karol.

- Que foi Lucas?

- É que vai ter uma festa, e nós estávamos pensando em ir. – Disse a Raquel, se apressando em explicar.

- Festa aonde?

- Vai ser na casa do Rafael.

- Hm. E a mãe dele está sabendo?

O Felipe riu.

- Está sim.

Olhei para o Daniel, ele deu de ombros.

- Ah, tudo bem... Mas voltem antes das dez!

- Tudo bem. – Respondeu, sorrindo. – Então nós vamos indo. Tchau.

- Tchau pessoal. – Disse a sua namorada.

- Se cuidem. – Disse o Felipe.

- E não façam nada que eu não faria! – Brincou a Karol.

- É. Nós cuidamos deles, educamos, alimentamos, e é isso que recebemos como retribuição: Um pé na bunda. – Resmunguei.

- Relaxa, deixa o menino se divertir. – Disse o Felipe, sorrindo.

Olhei para o Fernando e o Pietro, depois para a Karol.

- É melhor você aproveitar enquanto eles ainda se importam com você, porque um dia esse amor todo vai acabar. - Ela me mostrou a língua.

- Cala a boca. Os meus filhos nunca vão sair de perto de mim! Eu os proíbo. – Ela pegou o Pietro do carrinho de bebe. – Não é amor? – Perguntou para a criança dormindo.  

(...) - 2008

As coisas já não estavam muito bem entre eu e o Daniel quando o Ano começou, por isso, decidimos terminar aquela piada de relacionamento. Eu estava surpresa com o tempo que aquela brincadeira havia durado, quase dois anos. Com o passar dos meses, ficou claro para mim que ele não queria nada comigo. Eu era o segredo dele. Em dois anos de namoro, ele nunca havia me apresentado para a família (a não ser o próprio irmão); não havia me pedido em namoro (não oficialmente), não havia sequer dormido um dia na minha casa. Não, eu que sempre tinha que ir dormir na casa dele, e o máximo que ele fazia era me trazer de volta de vez enquanto. Eu me sentia usada, me sentia como o seu brinquedinho. E eu não pedia muita coisa, eu só queria me sentir segura naquela relação. Queria alguma atitude que provasse que ele tinha planos para nós dois. Mas em dois anos de namoro, ele não fez nada. Nós dois costumávamos sair, e era legal, eu gostava de estar com ele, mas depois de um tempo, isso não era suficiente. Eu precisava mais do que um bom sexo. Eu precisava de amor.

Estou com trinta e cinco anos, em março faço trinta e seis, sou uma mulher adulta, trabalhadora e acredito de coração que mereço ser feliz. Eu não sou mais uma adolescente e nem meu corpo é o de uma adolescente, não posso ficar perdendo meu tempo ao lado de pessoas que só querem se divertir as minhas custas. Não sou velha, mas sei que não tenho a vida inteira pela frente. O tempo está passando rápido demais, eu tenho que tentar acompanhá-lo, se não um dia eu vou acordar e perceber que a minha vida já passou, que estou velha e sem nenhuma conquista. Eu sei que tenho o Lucas, mas ele não é o meu filho, não de verdade. E eu quero muito ter uma criança, uma que nasce de mim, que tenha os meus olhos ou o meu sorriso... Uma criança que possa dar continuidade a minha família, ao meu sobrenome, ao meu sangue e modo de ver o mundo. Se não, qual seria a razão de eu existir? Porque Deus teria me mandado para cá? Eu não acredito que tenha sido para sofrer. Não, ele tem planos para mim. Planos que estão além da minha compreensão. Eu tenho que acreditar nisso, se não, não me restará nada, além do meu próprio reflexo envelhecendo no espelho.  


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Notas finais do capítulo

O que acharam?



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