-Você vai comer essa banana podre? - perguntei à Carls.

-Não está podre, ela é assim meio marrom mesmo! - levantou e mostrou a fruta nojenta para mim - E aí, vai me contar?

-Pra quê, você já sabe!

-Queria que minha amiga me dissesse!

-Carly, eu passei vergonha na frente de todo mundo! Fui educada, você viu o que deu? Nem sei se o amo mais!

-Não fala isso, claro que ama!

-É complicado! Quer saber? Vou à minha casa para ficar sozinha um pouco. EU te ligo, tá?

Saí batendo a porta e Carly me chamou de teimosa e insensível. Esperei um pouco antes de sair e ela continuava resmungando sozinha. Desci o elevador e me surpreendi com um cara.

-Oi Sam. Tá melhor?

-Ah, o Freddiota! Quer me encher de novo?

-Nossa, pelo jeito melhorou mesmo!

-Não me pertuba que hoje eu não estou bem, eu estou te avisando!

-Qual é, Sam. Que dia você tá bem?

Perdi minha paciência e dei um empurrão nele que Lewbert foi esmagado no balcão. Os dois reclamavam mas eu nem me preocupei. Corri para a Schneider's Bakery e me lembrei do tal gato que eu apelidei de Jeff, não sei por quê.

-E aí, loirinha! Tá atrasada!

-Eu? Nem sabia que você estava aqui!

-Sério? Nossa, que estranho, achei que você saberia já que a gente marcou ontem, né?

Me sentei e rimos juntos.

O tempo passava enquanto falávamos de bobeira. Eu queria saber de onde o conhecia e descobri que ele também morava no Bushwell desde moleque, mas parecia que não era só isso.

-Estava indo para algum lugar quando "acidentalmente" passou aqui?

-Sim, eu tenho muitas coisas para fazer, sou ocupada! - falei brincando.

-Oh, claro. Quer dar uma volta comigo?

-Bem, como já disse, sou ocupada mas até aceito a sua carona para uma de minhas ocupações mais ocupadíssimas!

-Tudo bem, eu te mostro meu bebê.

Bebê! O que seria esse "bebê"?

Me levou a um estacionamento atrás do prédio da Carly e me mostrou uma moto incrível.

-Essa moto é sua?

-Moto? Isso não é uma moto! É uma Kasinski Comet GT 650R com 6 velocidades e 198kg de pura perfeição! Chama isso de moto? Eu chamo de maravilha que Deus me deu! Ou posso chamar de Sam se quiser...

-Nossa, sério? Que legal, fiquei até sem graça, quer dizer... que homenagem!

-Isso não é nada! Quer pilotar?

-Não, eu não sei. A última vez que subi numa moto foi há uns 4 dias. Me arrebentei e atropelei um nerd que ficou com a orelha sangrando num hidrante, mas não vale a pena falar dele.

-Você gosta dele?

-Quê?! Não, claro que não!

-Sei. Então sobe aí que eu te levo pra casa.

Subi na garupa sem capacete e mostrei o caminho de meu apartamento que dividia com minha mãe louca. Não era muito longe, ainda mais com aquela super Sam, que eu particularmente achei o nome muito adequado. Ninguém nunca tinha feito nada tão fofo pra mim antes. Foi bem... demais.

-Chegamos - disse colocando o pé no chão em frente ao meu prédio.

-Então até mais, loirinha.

A moto acelerou e eu fiquei feito boba o admirando até perdê-lo de vista. Aqueles poucos momentos com Jeff foram tão especiais e incríveis que Freddie nunca poderia fazer. Jeff parecia tão decidido e alegre. Além de ser tão musculoso quanto o nerd chato. Aaaah, que coisa! Nem falando dos outros consigo tirar o estúpido da cabeça!

Subindo as escadas, ouço um "BAZINGA!" e recebo uma mensagem da Carly.

"Obrigado pela ligacao, viu?

Eu aqui preocupada com uma certa melhor amiga e voce ai em deus sabe onde!

Ja se resolveu com o freddie?

me liga. Te amo."

Bloqueio a tela quando ouço outro "BAZINGA!".

" E ai, Sam? Aqui eh o Spencer.

Estou muito muito longe de casa e nao queria falar com a carly sobre isso. Fala p mim?

Stefany esta comigo. Peça para ela nao se preocupar pq eu sou um adulto, ou quase, mas sei me virar sozinho.

flws"

E agora? O que esse Spencer estava fazendo, e onde? Devia ligar pra Carly, mas quando teclei o primeiro número, Freddie me envia uma mensagem. Hoje estou popular, hein?

"Foi mal por ontem, Carly me disse que vc pegou mal.

Agi por impulso e nao devia ter feito isso.

A gnt ta legal?"

Aquela eu não poderia deixar passar em branco. Sentei na escada e respondi todas as mensagens.

Primeiro, Carly.

"Desculpa não ligar, tô em casa. Vou aí talvez amanhã. Bjs"

"Spencer, eu ate falo com ela mas vse vai ter que dizer onde vse ta. Oq tá aprontando dessa vez? Sam."

"Claro que eu peguei mal, achou que eu ia pegar bem? Vse me deixou sozinha quando eu tentei ser legal! E a vergonha em público? Devia te dar uma surra nerd!"

Dois segundos depois, Freddie me responde:

"Eu ja te disse, agi por impulso! Qual é, ne Sam? Fica legal cmg, vai...”

“Tá, que seja.”

“Valeu Sammy! Te vejo amanha”.

“Claro q ve... :)”

Encostei a cabeça na escada de cima e depois de uns 20 minutos, me levantei e entrei no apartamento. Mais um bilhete da minha mãe dizendo que tinha saído e havia pizza no microondas. Meia portuguesa, meia 4 queijos, como eu adoro. Devorei a pizza e me deitei na cama, já tomada banho e com os dentes escovados.  Coloquei meus fones no ouvido e uma música aleatória.

“Did I tell you I knew your name
           But it seems that I’ve lost it
           Did I tell you it's my own game
           This is not your problem…”

Bem aquela música que trazia lembranças. Ótimas, se eu posso dizer. Quando senti seus lábios pela primeira e única vez. Aquele garoto que eu sempre perturbei, que eu sempre odiei mas no fundo não sabia que o amava.

E aquela música simbolizava muito pra mim, não conseguiria esquecer aquele momento nem se quisesse...

“…I keep running away
          Even from the good things…”