Aurora Azul escrita por Dauntless


Capítulo 26
Capítulo 25 - Protocolo D


Notas iniciais do capítulo

Presente de Natal!
Vocês vão entender um pouco do que é o Protocolo D, me digam se suas suspeitas estavam certas :D



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Depois de deixar Peter em casa, dirigi rumo ao centro de treinamento de Phoenix, aquele que sofreu um ataque recentemente na minha tentativa vitoriosa de tirar Will de dentro da base. Ainda pensava para mim mesma se eu fiz a coisa certa naquele dia. Para mim, eu não estava ajudando Will, e sim, ajudando um ser humano a sair de uma tortura e tirando-o de uma fria. Eu ainda não tinha enfrentado Robert e na verdade, não estava preparada para aquele momento. Eu podia sentir que ele sabia de tudo o que eu fazia, e me deixava ainda mais furiosa saber que ele sabia -exatamente- aonde eu estava. Era aquela droga de chip que implantaram em mim quando eu era um bebê, aquele que acelera o meu sistema celular fazendo com que eu me cure mais rápido do que o normal.

De uns tempos para cá, ele está se tornando cada vez mais eficiente, dependendo da gravidade do meu ferimento, posso me curar em algumas horas. Por alguma razão, o chip foi apenas ativado quando levei um tiro, há um tempo atrás, nas ruas de Brooklyn. De alguma forma, aquele tiro me levou á beira do precipício entre a balança da morte e da vida, como se fosse decidir se eu iria morrer ou viver e toda vez que eu estava quase deslizando para dentro da morte, eu via a minha mãe, e conversava com ela. Na verdade, minha mãe me dava conselhos e me alertava sobre os perigos que estavam por vir e suas profecias não eram calúnias, já vi muitas delas acontecerem e aquilo atingia o auge da minha espinha.

Estava evitando pensar nas horas anteriores com tanta determinação que bloqueei qualquer tipo de pensamente relacionado á coisas banais, até que cheguei a uma conclusão: Eu queria aquele chip fora do meu corpo. É claro que ele me trazia benefícios, mas eu não queria que a privacidade fosse tirada de mim e muito menos minhas escolhas. E é por isso que irei tirá-la, essa será uma escolha minha e não de outros que decidem o que é bom para mim. Estava cansada de ser controlada como um fantoche.

Meu sapato não consegue mais carregar pedras, não se cabe mais nenhuma entre muitas das outras que eu ainda não tirei, mas de algum jeito, Peter conseguiu deslizar para dentro delas e agora, preciso carregar mais um problema. Era assim que você via ele? Um problema? Sem sombra de dúvidas. Na volta, ele não conseguia parar de pedir por explicações e eu não o culpo por se sentir traído. Eu havia envolvido uma pessoa inocente para dentro dessa história e a única maneira de ter controle da situação, é pedindo pela sua confiança. Se Peter confiasse em mim, tudo estaria bem. Eu prometi à ele que lhe explicaria tudo, mas eu estava blefando e mesmo que doa pensar nisso, eu não poderia o ver novamente, ou procurá-lo novamente.

Guiei o meu segundo carro roubado para dentro da estrada solitária e parei no mesmo local onde se podia ver uma fileira de saguaros gigantes. O céu estava escuro e eu caminhava lentamente na calada da noite, no meio do nada, qualquer barulho que eu fizesse, seria alto o bastante para ser ouvido de longe refletindo em um eco sem limites. Era incrível que, naquela noite, nem mesmo os bichos ousaram emitir algum som, apenas as aves que sobrevoavam silenciosamente pelo céu. Mesmo sem a iluminação, consegui chegar á pedra que abria o portão para dentro e ao me aproximar dela, a porta camuflada se abriu automaticamente.

Eles estavam esperando por mim.

Mas é claro que sim, eles me localizavam e sabiam que eu estava perto. Entrei para dentro e a luminosidade cegou os meus olhos por um instante, logo atravessei o corredor e cheguei até o elevador. Me lembrei da primeira vez que estivera aqui, o quão assutada estava e procurei ao máximo não transparecer o que eu estava sentindo agora. A verdade é: Eu não estava assustada pelo fato de enfrenter o homem que era no mesmo tempo assustador e acolhedor, mas sim, pelo o que ele iria me impedir de fazer. Robert tinha um dom em colocar coisas nas cabeças dos outros e persuasia aquilo que queria.

O lobo mau em pele de carneiro.

Quando as portas do elevador se abriram, o ambiente parecia ter voltado ao normal. Nenhum sinal de que alguém iria me atacar, como na última vez, ou nenhum sinal de que esse lugar fora atacado. Mas havia uma coisa, as pessoas não estavam trabalhando, mas sim, retirando os equipamentos e eu entendi o por quê. Depois da invasão, era preciso fazer uma evacuação o mais rápido possível e como ninguém esperava por aquilo - já que era tão seguro - irá levar um tempo.

–Danna Walker, siga-me - um agente com uma voz grossa falou ao meu lado e se virou na mesma hora, demonstrando ser uma ordem. Se eu estava encrencada? Imagina. O agente não me referiu como Sta. Walker e sim Danna Walker, o que era pior. Me perguntava se Austin ainda estava aqui.

Caminhamos por longos corredores até a sala no andar de cima, ou melhor o escritório do meu avô. Mais seguranças que o normal cercavam as paredes de vidro e quando me avistaram, abriram espaço para que eu pudesse passar, junto com o agente. Eu consegui notar algumas caras novas por aqui, deviam ser agentes de outros estados, como Seattle.

Quando a porta transparente deslizou para o lado, Robert me encarou com um olhar incompreensível. Suas sobrancelhas estavam arqueadas para cima e ele jogou o seu corpo para trás, erguendo o seu rosto para me encarar. Como sempre, usava as mesmas vestimentas modesta que tinha, calça, sapato sociais e seu famoso pulôver, que hoje era da cor verde.

–Eu estava me perguntando, - deu uma pausa e alisou o queixo de modo pensativo - quanto tempo levaria até que a nossa querida Danna voltasse para casa. - disse sem humor algum. Era assustador.

–Depois do que aconteceu na última vez em que estive aqui, acha que eu voltaria?

–Bom minha querida, - fez uma pausa para clarear a gargante - você está aqui agora. Sente-se por favor.

–Eu estou com pressa.

–Precisamos ter uma conversa civilizada e você compreende isso, não compreende? - ele se aproximou da mesa e apoiou seus cotovelos em cima delas formando um triângulo com os dedos e com as pernas cruzadas. Arrasto a cadeira de metal para trás e me afundo nela sentindo a minha traseira congelar. - Acredito que saiba sobre o responsável do incêndio.

Tantas coisas para conversar e ele começa com esse assunto.

–E eu aposto que você também sabe. - ele me observou por mais alguns instantes e a sua garganta emitiu um breve som de ''hum''. - Sugiro que reveja a sua lealdade.

–E eu também recomendo que você o faça. Na última vez em que eu estive aqui, seus agentes me atacaram.

–Era um treinamento, Danna, estávamos testando os seus limites, como sempre fazemos.

Minha raiva cresceu e eu apertei as laterais da cadeira para poder me controlar.

–Você já não me testou o suficiente? Eles estavam tentando me matar para valer, as armas deles eram bem reais, eu te garanto isso. - eu estava começando a me tornar um problema para ele também, sua expressão não se suavizou, apenas continuou a mesma e eu sei que ele estava inquieto por dentro apenas com o seu olhar. Eu fui treinada por ele, sei mais do que deveria saber.

–Compreendo a sua posição. Fomos atacados no dia, houve uma falha na segurança e alguns homens do Palmer conseguiram entrar, mas já cuidamos da situação. Como você pode ver, estamos nos mudando.

–Para onde?

–Não poderei te contar até que você assuma a sua posição de antes. Danna minha neta, você não acha que eu não sei sobre você e o Palmer? Não acha que eu não sei que vocês dois se aliaram, ou que foi você quem resgatou ele daqui? - meu sangue congelou, eu não sabia que ele iria jogar tudo isso em uma fala só.

–Você está certo. - meu coração acelerou no mesmo momento em que soltei aquela frase - Mas você sabe porque eu cheguei a isso? Porque você se escondeu atrás das mentiras. Se tivesse me dito a verdade, eu não teria me aliado à ele. - Aquilo não era verdade.

–Mentiras? Me conte uma. - ele relaxou o seu corpo novamente para trás da cadeira, com as pernas na mesma posição. Era intimidador.

–Que meu pai estava congelado embaixo da minha casa? - aquilo soava estranho demais para ser dito em voz alta. - Mas que agora tudo se foi depois do incêndio, ele não está mais lá.

–É claro que não. Tirei-o de lá alguns dias atrás. A questão é, seu pai estava morto para você, dizer que seu corpo ainda estava conservado, não o traria de volta, ele ainda estaria morto.

–Você mais do que ninguém devia saber que é importante. E... realmente... você não vai me contar para onde isso tudo está indo? - apertei os lábios para intimidá-lo, o que não deu certo.

–Negativo. Esses são os meus termos.

–Então vamos começar a mudar algumas coisas para os meus termos.

–Isso é uma ameaça? Está tentando demonstrar alguma coisa?

–Estou tentando mostrar que eu não vou fazer o que você quiser agora, eu vou seguir pelo meu próprio rumo, sem mentiras. Não posso dar o que você quer.

–Está claro, Danna. - Robert se sentou com postura na cadeira, ombros para trás, pulmão pra frente e olhou para as suas mãos, que estavam esticadas para a frente e desviou o seu olhar novamente para mim. - Quando você tiver consciência do que está fazendo e voltar para o seu eu verdadeiro, venha me procurar. Eu não a culpo por ter se iludido dessa maneira, é drástico até mesmo para você. Nenhum homem te amará como a sua própria família, e nenhum homem será digno de seu amor. Ao se juntar para a colmeia, se certifique de que não levará um ferroada.

Analisei a sua frase por um momento, Robert estava me alertando para que eu tomasse cuidado e também estava me tirando da equipe...

–Não tirarei nada de você, tudo o que você possui é seu por direito.

Me levantei da cadeira, prestes a sair quando me lembrei do verdadeiro motivo de ter vindo. Dei uma volta de cento e oitenta graus e encarei Robert.

–Preciso falar com Austin.

–O menino prodígio não está mais em seus serviços. Você teve todas as suas chances.

–Por favor, é a última coisa que irei pedir.

Robert apertou os olhos pensativo e depois pegou um papel do seu bloco de anotações em cima da mesa e escreveu alguma coisa.

–Ele está em segurança. - Esticou o braço para me entregar o papel, era um endereço.

–Obrigado.

Me virei e dessa vez, não olhei para trás.

Eu esperava que não fosse tarde para aparecer e dizer um ''oi'' para Austin. O endereço me levaria para um bairro distante.

Florence ficava há aproximadamente duas horas do centro de Phoenix. Eu não estava surpresa por Austin estar escondido em um lugar tão distante e próximo ao mesmo tempo. Phoenix era cercada por montanhas grandes e rochosas, uma cidade construída no meio de altos relevos, era de se esperar que o lugar seja tão atingido por tempestades de areias. Ao contrário de Phoenix, Florence ficava isolada na periferia, onde moravam parte dos caipiras locais.

Parei por um momento no posto de gasolina para abastecer antes de seguir viagem. Eram onze e cinquenta e dois da noite de acordo com o relógio dentro da loja de conveniências. Um homem gordo de boné estava sentado atrás do caixa, com os pés em cima da mesa lendo uma revista em quadrinhos, quando o sino em cima da porta tocou, ele ergueu o seu olhar para mim e me observou demorando um pouco na altura dos meus seios.

Ignorei-o e caminhei em direção das geladeiras para pegar algum sanduíche frio. Dois já era o suficiente para me satisfazer por toda a viajem de ida, não havia comida nada desde cedo. Não abri mão das guloseimas quando passei pelo corredor de doces e peguei alguns sacos de alcaçus, aquilo poderia me manter alerta. No canto da loja bastante iluminada, peguei uma caixa de energéticos caso eu precisasse ficar acordada por um tempo a mais. Joguei tudo em cima do balcão e esperei que o funcionário calculasse o preço total, mas aos invés disso, ele guardou a sua revista em cima de uma caixa de papelão e me encarou com um olhar de desejo.

–Sozinha a essa hora da noite? - perguntou se jogando um pouco para frente. Olhei ao redor e percebi que não haviam câmeras de segurança.

–Sim, algum problema? - há um tempo atrás, eu mentiria e diria que o não estava sozinha e que o meu namorado estava no banheiro. Mas eu não tenho mais medo desse tipo de pessoa.

–É claro que não, só queria saber porque que uma dama como você está desacompanhada - O homem tinha bafo e me afastei um pouco para afastar o mau cheiro. Ele se esticou mais para cima revelando um avental.

–Por favor, estou com pressa. - eu normalmente não era tão educada.

–Qual é a pressa? Por que não fica aqui e me faz companhia?

Coloquei a mão no bolso e tirei uma nota de cem e deixando-a em cima da mesa.

–Pode ficar com o troco. - antes que eu pudesse juntar as coisas e levar até o carro, o homem barrigudo segurou o meu pulso e apertou. Eu estava começando a ficar irritada, se é que eu já não estava.

–Eu não quero o seu troco. - disse com um sorriso malicioso e amarelo. - Sabe, não é todo dia que uma moça tão bonita como você vem me visitar. De que cor são os seus olhos? Azuis? Verdes? Ou será que são cinzas? - a minha pequena parada no posto de gasolina havia se resultado em um pré-não-estupro.

–Hum... - disse com êxtase - Por que não vamos para os fundos que eu te conto? Ou melhor, eu posso te mostrar. - pisquei para ele e sem pensar duas vezes, o homem abriu na lateral da loja, uma porta. Quando ele me conduziu para dentro, uma sala bem escura, esperei que ligasse as luzes para lhe dar um soco certeiro no nariz. Com as mãos sobre o nariz e se contorcendo de dor, chutei a lateral da sua cintura e depois, o seu amiguinho lá em baixo.

Um belo de um chute no saco o faria lembrar de mim toda vez que tentasse alguma coisa com outras garotas?

–Qual é a cor que você está vendo agora? Hã? Deixa eu adivinhar, você está vendo a escuridão, porque a dor está confundindo a sua visão e a sua cabeça. - Dei outro chute, agora mais forte no seu saco e ele caiu no chão se contorcendo e com as duas mãos no lugar - Da próxima vez, o que eu espero que não haja uma, você vai olhar para uma garota e vai se lembrar da dor que está sentindo neste momento, e nunca mais tentará nada, com ninguém. Você entendeu? - eu estava pegando leve com ele. - Você. Me. Entendeu? Estarei de olho. - ele conseguiu murmurar um ''sim'' entre os gemidos de dor e sai dali passando por cima dele. O relógio indicava meia noite e dezenove.

Recolhi as coisas e fui diretamente ao carro.

Eu tinha a certeza absoluta que precisava de um banho. Quando terminar os meus assuntos com Austin, será a primeira vez que poderei respirar. Ainda no carro, abri a embalagem de plástico do sanduíche de atum e dei um mordida, que pareceu cobrir o pão todo. Até aquele momento, não sabia que estava com tanta fome.

Parti para a estrada.

A placa que indicava ''Welcome to Historic Florence'' passou ao meu lado há exatos uma hora e meia depois, levou menos do que o esperado e eram quase duas horas da madrugada. Duas latas de energéticos se foram e o GPS continuou a me guiar pelas ruas indicando o caminho certo do endereço.

As casas com os estabelecimentos ao meu redor tinham largos espaços entre elas, cerca de quinze metros até a outra casa comercial, e eram totalmente baixas, não possuíam um segundo andar. Poucas luzes iluminavam as ruas, o que tornava aquilo um pouco assustador, apesar do número na entrada estar indicando dezessete mil habitantes, eu não conseguia ver nenhum. Dirigindo por mais alguns quilômetros, finalmente parei em frente a uma casa pequena e branca. Desliguei os motores e sai para bater na porta da frente. Demorou cerca de dez minutos até que alguém aparecesse na porta.

Uma mulher baixinha de roupão estava sonolenta ao abrir a porta e acabei me sentindo um pouco culpada.

–Pois não?

–Oi é... desculpe incomodar mas eu preciso falar com Austin Bellefleur, ele está?

–Quem é você?

–Me chamo Danna, Danna Walker e...

–É claro que sim, meu menino não pode ter paz que logo me aparece uma... - a mulher parecia desconfortável. Juntei as sobrancelhas afim de parecer mais inocente. - O que você quer com o meu filho senhorita Walker? - de repente, ela não parecia tão sonolenta. Aquela era a mãe de Austin.

–Eu não estou aqui por causa de Robert Walker, prometo ser rápida, ou assim espero. - A sra. Bellefleur abaixou a cabeça para pensar por um instante e voltou a erguer o seu olhar para mim.

–Entre. - ela largou a porta me deixando um espaço para entrar e depois a fechou.

A casa estava silenciosa, assim como estaria a minha se eu estivesse dormindo, ou, se eu tivesse uma casa.

–Deixa eu te dizer uma coisa. O Austin tem apenas doze anos e vocês já tiraram muita coisa dele - ela batia na altura do meu ombro e seu rosto estava cheio de rugas, principalmente nas laterais dos olhos. Seus cabelos um pouco grisalhos estavam presos em um coque e seu rosto magro me encarava esperando que eu reivindicasse. Mas ela estava certa. E eu estava prestes a quebrar tudo aquilo de novo. - Ele ainda é apenas uma criança. - A mãe sussurrou aquilo como se estivesse cansada de repetir a mesma frase várias e várias vezes.

–Me desculpe sra. Bellefleur, eu gostaria em poder ajudar com isso, mas há câmeras por aqui e eles iriam saber se eu tentasse tirar vocês daqui.

–Eu não estou pedindo por isso. Tudo o que eu queria era ter uma vida normal com o meu filho - eu também. - Queremos aquilo que o dinheiro não compra - eu também. - Você entende minha filha?

–Mas é claro. Sinto muito que tudo isso esteja acontecendo, é apenas injusto tirar isso de alguém, eu te entendo perfeitamente. - olhei para ela tentando lhe passar conforto. - Mas eu não tenho mais ninguém para ocorrer, Austin é a minha última chance. - Pensei sobre aquilo no mesmo instante em que falei as palavras mais sinceras que havia dito desde ontem e logo me arrependi. Eu não estava sendo justa. - Desculpe, eu acho que eu devo ir... - Eu não podia fazer eles abrirem mão da paz e da tranquilidade para me ajudar em uma coisa dessas. Agora eu entendia o por quê de Florence. Apesar de tudo, aqui parecia ser aconchegante, cheirava a lar e era seguro.

–Você veio de tão longe até aqui. Não seria a atitude certa eu mandar você embora.

–Está tudo bem, eu...

–Espere aqui, eu vou acordar o meu garoto. - olhei para ela, grata - Enquanto isso, você quer um cafezinho? Ou um chá... chocolate quente? - ela sorriu para mim. Talvez ela tivesse notado o quão cansada eu estava. E ela estava me dando aquilo que eu mais precisava no momento: hospitalidade.

–Eu agradeceria muito, por favor - retribui o seu sorriso e ela se foi pelo corredor.

A sala era pequena, os móveis eram coloridamente neutros e ficavam num espaço central da sala. Eu não pude resistir e me sentei numa parte, sentindo a minha cabeça latejar e deslizar até cair de cansaço. Pouco tempo depois, Austin apareceu no corredor, também com um roupão e limpou os olhos com as costas da mão para me ver melhor.

–Danna?

–Oi. - dei meio sorriso para ele.

–Você está bem? O que faz aqui? Como me achou? - ele se sentou ao meu lado.

–Robert me deu o seu endereço. Era o meu último favor, eu não estou mais com ele.

–Você o que? Como? Ele... você tem que tomar cuidado Danna, ele não dá favores dessa forma...

–Está tudo bem, eu sei quem ele é. Logo isso vai terminar, eu prometo.

A sra. Bellefleur apareceu para colocar uma bandeja com vários copos de chocolate quente em cima da mesa de centro. Seu andar fazia um barulho familiar de chinelos.

–Obrigado. - sorri pra ela agradecida.

–Eu vou me deitar, se precisarem de alguma coisa, é só me chamar. - ela se aproximou de Austin para lhe dar um beijo na testa.

–Mãe, você está me fazendo passar vergonha! - resmungou.

–Não durma tão tarde, eu quero ver você na cama daqui há uma hora. - e ela desapareceu na escuridão.

Estiquei a mão para pegar o copo e bebi um gole. Mesmo que estivesse super quente, consegui engolir absorvendo o seu gosto doce, que me dava energia.

–Sua mãe é adorável. - ele revirou os olhos - Eu não quero te atrapalhar... na verdade, - franzi o cenho apertando os lábios e encarei-o - O que você sabe sobre o meu chip? - falei de um modo que parecia mencionar um robô.

–É um assunto confidencial na verdade... - Austin desviou o olhar para os copos de chocolate e coçou a sua nuca, que era recheado por um cabelo cacheado castanho, cuja a escuridão ocultava a sua oleosidade.

–Austin, eu preciso que você tire isso de mim.

O que eu acabara de dizer pareceu chocar ele. O menino gordinho se levantou e começou a gritar comigo, histérico.

–Danna! Você tem noção do que você está falando? Você só pode estar brincando... - ele parecia verdadeiramente inconformado - Se eu tirar isso de dentro de você, há uma chance de oitenta por cento do treco explodir! Você não tem noção do que você carrega, não é? Você não tem a mínima ideia... Ai meu Deus, eu não posso...

–Se acalme. - disse, puxando o seu braço para baixo, o derrubando no sofá. - Você sabe que eu não sei. E é por isso que eu estou aqui, eu preciso que me conte.

–Eu não posso. - Ele indicou com a cabeça, a câmera que estava na lateral do teto. Eles estavam vigiando Austin, aquilo me deixou furiosa por dentro, eu queria poder subir e tirar aquele objeto do inferno, mas eu não podia.

–Vamos dar uma volta até o meu carro - ''meu'' carro roubado.

Ele concordou com a cabeça e gritou para a sua mãe que estaria ali do lado de fora da casa. Descemos os degraus da casa completamente distraídos para disfarçar qualquer tipo de suspeita. Quando entramos no carro, senti um alívio no peito, era o local em que podíamos ter mais privacidade do que qualquer outro no momento.

Olhei para Austin. Ele estava com medo de me contar.

–Seja o que for, você pode me contar, por favor. Você quis dizer que eu carrego uma bomba dentro de mim, é isso? - meu coração acelerou.

–Mais do que isso. - o sangue começou a subir - Você carrega um chip de dez bilhões de dólares. Danna, o que você tem dentro de você é... fantástico, você é praticamente uma imortal. - olhei para ele com ainda mais pavor - Desculpe, não é bem isso, grande notícia, você ainda pode morrer... O.k. não é uma grande notícia. Mas o que eu estou tentando te dizer é que... Você é o Protocolo D.

Alguma coisa chutou o meu coração mais uma vez.

–Eu não entendo... Uma vez me disseram que era...

–Esqueça tudo o que já te disseram antes, era tudo mentira, os quais seu avô criou, mas a verdade é que, o que você carrega dentro de você, tem um segredo, ninguém sabe sobre ele a não ser seu avô. Ele guarda a resposta desse segredo em apenas um lugar.

–Aonde?

–Em sua própria cabeça. Como eu disse, só ele sabe. - ele estava suando, ainda vestia o seu roupão e sua pantufa. Liguei o ar para que ele se sentisse mais confortável. - Mas essa não é a pior parte.

–Ainda tem uma pior parte?

–Eu não sei se devo te dizer, é muito para carregar para si só. - e mais uma vez, ele desviou o seu olhar.

–Eu preciso saber Austin, para terminar com isso, eu preciso saber.

Eu não sabia no que pensar, a minha cabeça não conseguia procurar por uma janela por onde ela pudesse contornar as ideias. Tudo estava se encaixando, mas ao mesmo tempo, tudo estava se quebrando.

–Eu estou com medo por você Danna, do que você possa fazer.

–Como assim?

–Todas as guerras, tudo o que George e Zachary tem feito até agora, foi para pegar o Protocolo D. Mas eles não sabem do que estão correndo atrás, eles acham que é um objeto, quando na verdade é você.

Austin acabara de declarar que tudo o que George e Zachary tem feito foi por causa de mim. A raiva subiu rapidamente e minhas veias criavam relevo debaixo da minha pele, prestes a estourar. Joguei o meu corpo para trás contra a poltrona e levei as minhas mãos ao meu rosto. Austin acabara de me dar mais um motivo para querer vingança e acabar com eles.

Meu pai havia morrido por causa de mim.

Minha mãe havia morrido por causa de mim.

Inocentes haviam morrido por causa de mim.

Eu não conseguia contar quantos, mas era tudo por causa de mim. Eu preferia estar morta do que carregar esse peso.

–Me desculpe. - disse ele.

–Não precisa se desculpar Austin, você é o único que está sendo honesto comigo. Sinto muito por ter que me contar isso... É só que, eu estou tão cansada... tão exausta... meu corpo não consegue mais aguentar. - ou a minha cabeça, que latejava. - Me conte mais sobre o chip e por que eu? Mais de sete bilhões de pessoas no mundo e por que eu? - Austin piscou algumas vezes com intervalos bem breves antes de me dar uma explicação.

–Eu não sei exatamente o que Robert Walker queria quando fez o chip. Mas você foi predestinada a isso antes mesmo de nascer, o protocolo D foi feito para proteger o ser humano dos enfermos causados pelas pragas que a caixa de pandora trouxe a terra, essa é uma boa história para se explicar, eu li isso uma vez nos arquivos da A.A.S.S. mas eles me proibiram de entrar em qualquer arquivo secreto. Porém a ideia de tentar tirar o chip tem que ser descartada, senão você morre. O chip está em seu coração.

Eu não sabia o que dizer à ele. Eu estava assustada, podia jurar que estava pálida. Agora eu sei o porque das dores súbitas no meu coração. Eu queria chorar para ver se afogava com tudo isso, mas era difícil tirar alguma lágrima minha. Eu dificilmente chorava de verdade ou por algum sentimento fútil. Robert tirou isso de mim. Parece que a cadeira elétrica fez um belo trabalho.

– Posso saber sobre os seus planos?

–Vou me revelar para todos, inclusive George e Zachary. Em pouco tempo, todos saberão que Danna Walker está viva. Para terminar o que eles não conseguiram acabar. Por isso preciso que você o tire de mim, não quero ser um ser humano rastreável.

–Isso é muito arriscado... eu acho que eu posso resolver o seu problema. - disse pensativo.

–Qual deles? - murmurei desanimada.

–Posso te dar alguma coisa para interferir o rastreamento. Toda a tecnologia usada nesse tipo de processamento é igual, todos podemos passar por interferências então sei como fazer um objeto que dificulte qualquer tipo de sonda, só pode levar um tempo...

–Eu posso esperar. Austin... você não sabe o quanto está me ajudando... eu não sei como retribuir...

–Eu quero que você descanse. Faça isso por mim. - ele pôs a sua mão em cima do meu ombro para me confortar.

–Eu preciso voltar...

–Não! Eu aposto que você não dorme desde a última vez que nos vimos.

Virei a minha cabeça para olhá-lo e assenti.

–Eu não vou deixar uma amiga desse jeito. Vamos, vamos para dentro da casa, você vai dormir e assim que estiver pronto, você volta.

Antes que eu notasse que estava em uma cama. Meus pensamentos estavam divididos em duas coisas. Não era sobre o Protocolo D. Era Peter e Will, o tigre que podia me dar o que eu não podia ter e o leão, que me dá o que eu me recuso a ter. Me perguntei o que os dois estariam fazendo agora. Eu sou uma idiota, só isso. Uma idiota. O mundo estava se estilhaçando e os pensamentos foram direto para os dois.

Mas eu precisa de um porto seguro para me segurar também. Para que eu não desmorone como o resto dos problemas da minha vida.

Eu sabia que depois de hoje, as coisas não seriam as mesmas.


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Notas finais do capítulo

-POV Will

''Danna não havia voltado para o apartamento, muito menos ligado para avisar aonde estava. Era típico dela e eu odiava quando fazia isso. Me faz sentir impotente para protegê-la ou ajudá-la de alguma forma.

Teria que pensar em outras maneiras de ficar perto dela.''

Eu queria desejar um feliz natal e um próspero ano novo e pedir desculpa por todas as demoras e dizer que sinto muito por fazer vocês esperarem tanto, eu queria me tornar uma autora anônima integral, daí eu postaria em tempos menores, mas eu infelizmente não posso :/ E ganhei mais obrigações do que eu tinha há uns anos atrás e eu agradeço pela paciência que vocês tem comigo. Não me dar um tchau já significa muito pra mim, eu tento crescer como escrito e vocês me ajudam pra cacete.
Só digo uma coisa: Ano que vem vai ser uma era nova e essa era com certeza vai pegar fogo (!!!)
Mais uma vez, obrigado, eu amo vocês



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