Aurora Azul escrita por Dauntless


Capítulo 27
Capítulo 26 - The Legrand Foundation


Notas iniciais do capítulo

2014 is Here!!!
Quero contar pra vocês que eu terminei esse capítulo em poucos dias e que o seguinte já está pronto e que, só falta adicionar alguns detalhes e revisar ;)
Se você estava com saudades do Aurora Vermelha, deve gostar desse capítulo. Boa leitura.



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Depois de acordar na manhã seguinte, Austin preparara três coisas para mim. A primeira foi o bracelete interceptor de sinal, um objeto elástico preto com alguns detalhes em azul. A segunda foi um novo esconderijo, depois que George localizou Will até a casa da periferia, eu não tinha mais nenhum lugar para chamar de lar, já que o mesmo incendiou a outra casa.

Me lembrei de pedir mais dois em caso de mais alguma surpresa, uma para Will e a outra para Hayden, se eles iriam trabalhar comigo, precisariam de toda a prevenção possível. Agora, a minha nova casa ficava em um depósito velho. A terceira coisa que ele me concedeu, foi uma pequena transferência de dinheiro da minha conta para a conta de Dianna Banister. Eu precisava do dinheiro para preparar a festa beneficente onde irei revelar a minha identidade para os convidados de honra da noite, eu não podia fazer nenhum movimento na minha conta original, não iria arriscar. Seria no dia 10 de novembro, em um domingo. Apenas mais alguns dias, porém os convites estavam prontos e seguiam a caminho dos seus respectivos donos. Faltava pouco para eu rever os meus velhos amigos e não saberia como reagir e nem conseguia prever alguma reação da parte deles.

Austin mandou um email codificado para Will em caso de mais espionagem. Para os convidados, ele era o organizador e Will concordou em dirigir o evento.

Após tomar um belo e confortável banho e de colocar roupas limpas, me despedi rapidamente de Austin e voltei para Phoenix. Dirigindo em direção ao apartamento de Hayden, parei em uma oficina para pegar outro carro, não era o melhor deles, mas servia pois seu dono não iria sentir a sua falta.

–Por onde esteve? - perguntou Hayden ás seis e vinte da tarde. Entrei rapidamente para dentro e lhe entreguei o bracelete. Will chegou quinze minutos depois e na mesma hora em que atravessou a porta, pus o bracelete em seu pulso. O breve instante em que minha pele entrou em contato com a dele, senti a onda familiar de conforto que há tempos não sentia e ao olhar nos seus olhos vi a tensão que aos poucos foi embora sendo substituído pelo alívio.

Contei para eles o que tinha acontecido e dei um xeque antes de gritar o mate para garantir que eles realmente estavam comigo. Falei calmamente os perigos e riscos que os segundos dali em diante iriam significar e os dois em nenhum momento demonstraram intimidação ou hesitação. Ambos estavam determinados em continuar ao meu lado nisso e então, conjurei o mate final. Não havia mais voltas, não havia mais tempo para desistir, somente para agir, então seguimos para o depósito nas distâncias da cidade para um treinamento.

Treinamos por um bom tempo, todos os dias até chegar o grande dia. Will me auxiliava na quesito ataque e Hayden na defesa, mesmo que eu tivesse treinado por duramente um ano, não era o suficiente, não para mim. Eu precisava de habilidade para prosseguir e não um estímulo, por isso que ás vezes eu tendia a falhar, e eu não podia mais. Não mencionamos nada a não ser sobre o treinamento e o evento de caridade. Nada fora do assunto que podia nos afastar do foco. Will parecia diferente, mais determinado e senti a sua onda de esforço fluir até à mim. Eu o admirava por isso, sabia que era difícil, tanto para ele como para Hayden, mas os dois sabiam do limite e se esforçavam para trabalharem juntos, esquecendo por um instante os pecados passados.

Algumas vezes, esquecemos que somos humanos, só para satisfazer os outros. É o altruísmo. Ele nos auto destrói. Nós três estávamos tentando proteger aqueles que amávamos. Ou no caso, tentando proteger um ao outro. E a bola de neve aumentava de tamanho a cada dia que se passava, não importava o que estava em jogo, ele levava junto sem ao menos fazer um esforço e teríamos que pará-lo antes que ele se colida e faça um estrago, espalhando tudo o que ele havia recolhido no caminho.

Haviam dias em que Will não aparecia no treinamento por causa de George. Como ele estava nas redondezas, era difícil se esquivar de sua vigília, ainda mais com o evento se aproximando, George e Zachary ficavam cada dia mais curiosos e se perguntavam o que estava por vir. Will não fazia caridades de uma hora para a outra e todos nós temos que tomar cuidado, eu não saia do depósito e Hayden me trazia mantimentos e roupas. Eu estava vivendo como se morasse em um cativeiro, o que não era muito diferente, os segundos pareciam demorar o triplo para passar e a cada dia, estava mais entediada do que nunca. Não haviam muitas coisas para mim lá, o depósito era grande por fora, mas no seu interior havia espaço demais para ser preenchido. Minha cama ficava no subsolo, como o resto das minhas coisas e o térreo era usado como um campo de treinamento, qualquer um que entrasse aqui, não iria encontrar mais do que alguns sacos de areia pendurado no teto e barras de ferro.

PHOENIX, dez de novembro de dois mil e treze. Domingo de sol. Noite para a volta dos mortos.

No dia, sai para a cidade em busca de uma roupa apropriada para a ocasião. Um vestido que não vá chamar tanta atenção como eu já iria chamar. Eu queria um vestido longo, pois era mais elegante e confortável. Primeiro, procurei em butiques por tecidos que me fizessem sentir como se eu pudesse flutuar, e depois de algumas horas caminhando disfarçadamente como se fosse uma cidadã comum, meus olhos brilharam com uma peça incomparavelmente linda. A primeira coisa que eu notei ao encarar o vestido, foi a simplicidade e o mistério que ele transmitia, a energia dos contornos das flores pretas que envolviam o vestido era absurdamente intrigante.

O tecido era de uma cor nude e era tão leve que caia suavemente no chão como um véu, apesar de ser um pouco pesado. Após experimentar, percebi que o vestido colava no meu corpo até o quadril, depois deslizava livremente e valorizava os meus contrastes. Sem dúvidas, era o vestido que eu iria levar. Olhei para o relógio e me perguntei se Will não estava nervoso quanto a hoje á noite. Eu tinha a certeza absoluta que ele não estava se dando o trabalho em olhar a decoração ou os preparativos, tudo foi revisto por mim no computador e o grupo de organização contratado estava ganhando com aquilo.

Se ao menos eu ainda tivesse a minha casa, eu podia poupar um pouco de tempo e terminar com tudo sozinha. Me guiei ao salão por pelo menos mais três horas e minhas mãos suavam por causa do nervosismo do quanto estava perto. Satisfeita com os últimos retoques de maquiagem, voei até o carro e não perdi tempo em chegar até o depósito. Tudo estava muito calmo e vazio. Me enfiei para dentro do vestido tomando cuidado para não rasgá-lo, como já tinha feito milhares de vezes antes e por fim, subi o zíper ouvindo o seu tinido. Estava tomando cuidado também para não suar e estragar o cabelo, que estava parcialmente ondulado e cheirava a chantilly. Já com os saltos dentro do pé e os assessórios nos pulsos e orelhas, me coloquei em frente ao espelho para ter uma visão mais clara de como eu estava. O salto fazia com que o vestido não se tornasse uma vassoura, estava na altura certa e meus olhos estavam destacados pelo contorno de maquiagem preta, em cima dos olhos, uma camada de sombra esfumada e o delineador destacava o verde dos meus olhos. Outra camada de maquiagem, mais especificamente, o corretivo, tampava a olheira debaixo dos meus olhos.

Faltavam poucos minutos para ás oito horas e o sol na minha frente estava quase desaparecendo por completo. Hayden já era para estar aqui, enquanto Will recebia os convidados. Imaginei como Tereza estaria vestida hoje e em como Eric estaria elegante. Não apenas eles, imaginei Zoey com um par de all-star debaixo de algum vestido, típico dela. Meu avô também foi convidado para o evento, mas não enviei o convite no intuito chamá-lo para ir, na verdade, eu não esperava que fosse, mas era um aviso do que eu estava prestes a fazer.

Uma luz iluminou a minha vista e me protegi com uma das mãos, as janelas do carro eram totalmente escuras, então soube que Hayden se aproximava com o carro e abri a porta do passageiro ao lado do motorista antes de deixá-lo sair. Ele estava formalmente bonito, vestia um smoking e a seus botões do paletó estavam separados. Hayden olhou para mim e assobiou.

–Uau, vestido bonito - disse e deu ré para sair daquela direção sem saída.

–Você está atrasado.

–Não me culpe por querer ficar bonito - sorriu mostrando a fileira de cima dos dentes alinhados. - Meu cabelo requer tempo. - Ele não passava muito tempo resolvendo o seu cabelo, mas ficava em frente do espelho se elogiando. Eu já o vi antes, passei um ano aturando essa besta. - Então... você finalmente está largando a máscara não é? Como está se sentindo? - ele parecia um repórter.

–Nervosa.

–Já sabe, como as pessoas dizem, se estiver nervosa, é só imaginar todo mundo daquele salão nus - ele entrou para a avenida principal e senti os batimentos cardíacos do meu coração contando os segundos. Estávamos cada vez mais próximos e quando me virei para olhar a estrada, os carros haviam parado. Engarrafamento.

–Você sabe que isso é mentira, certo? - olhei para ele - Não me diga que você já fez isso? - ele bufou. - Você ás vezes me assusta.

–Sério?

–Não.

Hayden revirou os olhos e girou o volante na curva a seguir.

–O salão está bonito, como você escolheu. Passei lá antes de te buscar e algumas pessoas já estão lá. - Me perguntei se era Tereza. Hayden notou a expressão no meu rosto e disse: - Sim, estão lá. - e meu coração começou a disparar com mais velocidade do que já estava. Eu não sabia se chorava ou ficava feliz, minhas mãos estavam gélidas.

E finalmente chegamos.

[Música]

O evento ficava em uma propriedade, como a festa mascarada da mansão Dark, ambos tinhas muros altos cercando a área e Hayden passou pela entrada com o carro só para acalmar a minha ansiedade. Logo na frente, a placa da fundação que eu estava criando esta noite, estava pendurada no caminho da entrada. O nome era The Legrand Foundation, em homenagem à minha mãe, Legrand era o seu sobrenome de solteira. As pessoas da alta sociedade que conheci nos eventos que frequentei com o meu avô, estavam aqui no intuito de dar apoio ao meu projeto, mas para alguns, Danna Walker estaria voltando dos mortos.

Um convite pairava em cima do painel do carro e estiquei a mão para pegá-lo. Era um pergaminho, do jeito que eu havia planejado, só que sem a caixa que o embrulhava por fora. Soltei a corda dourada e afastei as suspenções para lados opostos verticalmente. Letras em dourado com uma caligrafia formal pairavam no alto do tecido anunciando o nome da fundação e no final, o nome ''William Palmer''.

Hayden parou o carro na rua atrás da mansão e sai com uma máscara no rosto caso alguém nos visse. Eramos duas cabeças loiras na noite. Seria a última vez que iria usá-la.

–Alguns homens de George estão por aqui, melhor nos apressarmos - Era fácil para ele falar quando não estava usando um salto de quinze centímetros, com eles, eu ficavamos na mesma altura.

Empurrei a porta de ferro e entramos no jardim de trás, logo entramos pelas portas dos fundos, que era a cozinha. Pessoas com aventais trabalhavam sem parar, uns corriam para não deixar alguma coisa passar do ponto e alguns tomavam cuidado para não derramar alguma coisa. O cheiro estava delicioso e tive que sair de lá imediatamente para não estragar o visual, ou melhor, não atacar a comida. Hayden estava me guiando pelas portas até que chegamos ao lugar atrás do palco. O que me separava dos múrmuros das pessoas e de suas risadas, era uma cortina vermelha. O que me separava de meus amigos. Logo estarei lá em cima e mais uma vez, senti o barulho do meu coração. Estava chegando a hora. Seguimos para a outra sala e consegui espiar um pouco do grande salão lá fora. Não consegui ver o que queria.

Dentro da sala, o ambiente estava frio e aconchegante com um cheiro de flores. Tirei a máscara e me apoiei em uma mesa enquanto Hayden se misturava na festa para chamar Will. Um instante mais tarde, eles abriram a porta e meu coração saltou pela boca. Estava nervosa demais. Will me encarou e soltou um suspiro.

–Vocês estão atrasados. - disse

–Minha culpa - Hayden ergueu a mão se entregando.

–Danna, - ele se aproximou da mim e senti a presão de seus dedos contra os meus. Sua pele estava fria, também parecia nervoso. - está encantadora hoje. - dei-lhe um sorriso de gratidão. Will estava vestido com um smoking parecido com a de Hayden, só que sem a gravata borboleta. Ele cheirava a cansaço e a Channel número 5. - Está tudo bem? Você está pronta? - Minhas mãos começaram a tremer.

–Eu sinto como se estivesse me preparando para isso por tanto tempo que chego aqui e não sei se me sinto bem. - me solto de suas mãos e me afasto até o sofá que está na lateral da sala encostada na parede. Percebi que toda a iluminação era incandescente.

–Eu estou aqui, vai ficar tudo bem, meus seguranças estão espalhados por toda a mansão, disfarçados e temos uma saída de emergência caso necessário. Você tem certeza disso?

–É agora, ou nunca.

Hayden estava sentado no outro lado, paralelo à mim, em cima do sofá branco de couro idêntico ao meu. Ele olhava focado para o chão e Will se apoiou na mesa atrás dele. Era um momento de reflexão, para ganhar força, porque o que estava lá fora, era o que iria definir os nossos destinos. Podíamos morrer naquela noite.

–Eu não tenho nada a perder. Eu não tenho pais, ou irmãos ou qualquer vínculo de sangue. É por minha conta e eu estou aqui. - disse Hayden com os olhos cansados.

–Então acho que é hora do show.

Nos instantes depois que Will disse aquilo, ele saiu para fora da sala, seguindo com os combinados da grade. Primeiro, seria a apresentação do projeto, eu conseguia ver tudo da tela atrás das cortinas, as imagens apontavam somente para Will e depois dos fortes aplausos, o video vindo de um projetor, começou a se reproduzir no grande telão branco. Uma banda de violinistas estava tocando no canto esquerdo do palco com um maestro conduzindo-os em uma dança de melodias.

Estava chegando a hora, em menos de dez minutos, eu estarei lá no palco e naquele instante eu senti que podia desmaiar. Uma tonteira se apoderou da minha cabeça e Hayden me segurou para que eu não caísse, eu podia sentir meus tornozelos ficando fracos e me vi caída no chão. Não Danna, você tem que se manter em pé, tudo vai dar certo.

Outra onda de aplausos. Que tal enrolarmos um pouco mais até.... Não!

–E isso não é tudo - disse Will no microfone. É agora. - Meus amigos e inimigos - ironizou e algumas pessoas riram - há uma grande cabeça por trás disso tudo, não apenas pela fundação como em muitas coisas boas que vem acontecendo para nós. Com o valor inicial de cem milhões de dólares vindos de sua parte, não há dúvidas que será uma grande ajuda para muitas vidas, principalmente com a ajuda de vocês. - ele clareou a garganta para anunciar. Will parecia estar calmo, mas estava se controlando. - Senhoras e senhores, a nossa anfitriã, Danna Walker.

Meu coração parou por um momento e poucos aplaudiram. Ouvi múrmurios de todos os cantos e por um momento, me esqueci do que devia fazer. Olhei para Hayden e ele ofereceu a sua mão para me ajudar a subir as escadas. Quando atravessei a cortina para subir os degraus do palco, senti meu corpo queimar com a direção dos olhares. Eu sou corajosa, eu consigo. O holofote me acompanhou até eu parar atrás do grande microfone e pela primeira vez, me virei para encarar o público.

Todos estavam me olhando como se eu fosse um fantasma, o que para eles, eu era de verdade. Não consegui encarar Tereza ou Eric, ou Zoey ou muito menos Rogers, mas eu sabia que eles estavam lá. Senti o ar de surpresa vindo de George que estava sentado a três mesas do palco. Xavier, em pé debaixo da soleira, tinha a mesma expressão que eu memorizei de seu rosto. Nenhuma. Consegui conter a tremedeira e sorri olhando para a entrada.

–Este é um grande dia, estou tão contente em poder acudir ao próximo e levar saúde para aqueles que poucos possuem e que não tiveram tanta sorte na vida, como eu - tudo o que falávamos no microfone, era uma mensagem irônica , sorri sem mostrar os dentes e alguns começam a aplaudir. - Hoje, será o início de uma longa jornada, e eu acredito que não só para mim como para muitos que estão presentes - Pela primeira vez, encarei George, depois Zachary que estava sentado na mesma mesa com Crystal, sua esposa, Zoey e Brittany. Eu continuava a sorrir sem mostrar os dentes. Olhei para a direita e dei permissão para que o cheque em tamanho grande e real fosse carregado para o palco. - Eu tenho a asseveração de que os cem mil dólares serão muito bem distribuídos, as nossas primeiras sedes estão quase prontas e em breve, parte da população africana e haitiana terá cuidados pessoais. - lancei um olhar para Will, ele sorriu discretamente para mim - Espero com a contribuição de todos e, aproveitem esta maravilhosa noite. - me abaixei para pegar uma taça de champagne da bandeja de um garçom. - Para a nova era que está por vir! - todos levantaram as suas taças e junto comigo, beberam um gole.

George estava com uma cara tensa e arqueava as sombrancelhas para cima, pasmo com o que acabara de acontecer. Desci do palco e todos começaram a aplaudir novamente. Eu conseguira. Atravessei as cortinas e Will veio atrás, ele me abraçou, sabia o quanto foi sufocante dizer tudo aquilo.

–Você foi muito bem. - beijou a minha teste e soltei o peso do meu corpo.

Eu não sabia porque estava deixando Will me abraçar tão forte. A música começou a sair dos sons novamente e a as vozes se misturaram.

–Você! - levantei num susto -Você... Você... - uma voz veio da entrada das cortinas. Eu sabia quem era. Me soltei dos braços de Will e encarei a cabeça ruiva que me olhava furiosa e com lágrimas nos olhos. - Você não é Danna Walker, não pode ser... - ela se aproximou de mim e me tocou. Eu queria abraçá-la - Puta merda, você é real... você... - ela me encarou, eu não sabia como reagir, seus olhos lacrimejavam e eu queria chorar. Mas nenhuma lágrima veio. Tereza continuou a me encarar e senti uma pontada forte de dor na minha bochecha, ela, ossuda como sempre, me dera um tapa como se sua mão fosse de de algodão e não de cimento - Por que você nos enganou? - passei as mãos na bochecha, que ardia.

–Tereza, não leve as coisas para o lado ruim, eu tive a mesma reação - Will disse atrás de mim.

–Eu não acredito - disse Eric logo atrás de Tereza. - Vocês dois são dois miseráveis - ele cuspiu as palavras como se fossem venenosas.

–Eu sinto muito, eu sinto muito mesmo. - minha voz estava falhando - Eu não fiz isso para deixar vocês dois mal, eu juro que irei explicar tudo, do início ao fim... - e senti outra bofetada na cara, agora no lado direito - Da pra parar com isso?! Eu sei que eu mereço, mas dói!

–Se passaram um ano e meio Danna Walker, eu não te conheço mais. O que aconteceu? Por que você sumiu, tipo, sumiu? Por que não voltou pra casa? Nunca me senti tão mal em ter perdido uma pessoa e... Loira? É sério? Peruas são loiras, falávamos mal das loiras, e agora você se juntou à elas? eu realmente não te conheço mais. Ah, espera, você estava morta. - suas lágrimas cessaram e no lugar, havia raiva. Will estava acariciando as minhas costas, me reconfortando. - Você era a minha melhor amiga, você podia ter mandado notícias. Foi um péssimo ano, eu me senti como um lixo e agora estou com raiva de tudo o que você nos fez passar sendo que estava viva e quero te estrangular até colocar você de volta na cova! Você não tinha o direito de fazer isso, você é uma idiota que merece uma surra! - ela disse a última frase meio chorando, meio rindo e soluçando.

Eu a puxei para mim e a abracei. Não era apenas um simples abraço, eu sentia que estava em casa dentro de seus braços. Tereza continuava magra como sempre, usava um vestido longo vermelho, que combinava com seus cabelos e usava o seu perfume preferido. Algumas coisas nunca mudam.

–Eu senti tanto a sua falta - murmurei para ela.

–Vadia desgraçada, vaca loira... - ela continuou com a sua sequência de xingamentos e com aquilo, eu sabia que estava tudo bem. Eu estava com saudades do seu senso de humor. Olhei para cima e Eric me encarava. Ele não dissera muitas palavras, mas eu sabia que ele não conseguia, então me desgrudei de Tereza para abraçá-lo. Seu abraço era tão reconfortante quanto o de Tereza.

A cortina se abriu mais uma vez. E Zoey apareceu com lágrimas nos olhos, seguido por Rogers. Zoey estava soluçando e se veio ao meu encontro me apertando tão forte quanto um bebê. Quão estranho era aquilo?

–Eu sinto muito, por favor não chore. - nenhuma gota havia se expelido dos meus olhos. Enquanto ela tentava se recompor, lancei um olhar para Rogers, ele parecia furioso. Zoey saiu dos meus braços e foi em direção de Will, lhe dando um tapa na cara e depois vários golpes no seu peito. Will segurou seus pulsos para contê-la - Por que você fez isso? Me larga!

–Zoey por favor, Will não sabia até dois meses atrás. - ela parou de repente e Will a abraçou, alisando os seus cabelos. Zoey realmente estava usando um all-star debaixo do vestido rosa que vestia. Ela estava crescida, suas feições, mesmo com a choradeira, estavam mais definidas. Cada vez mais parecida com Will. Me virei para encarar Rogers outra vez e caminhei em sua direção. Ele não me empurrou para longe como eu esperava. Ele me contornou com o seu braço e beijou o topo da minha cabeça. Como antigamente.

–Você não sabe a falta que fez Danna. - Era bom ouvir a sua voz e sentir o carinho todo que eu estava recebendo - O que aconteceu, docinho? - todos se viraram para mim nessa hora.

–Eu devia ter suspeitado de alguma coisa. Will? caridoso? Qual é, a piada do ano- disse Zoey com um lenço nos olhos.

–Eu vou explicar, mas não aqui. Não é seguro. - me voltei para a cortina e vi George discutindo com Zachary. - Estou arriscando a vida de todos vocês ao me expor desse jeito, há coisas ocultas que vocês precisam saber, mas não direi até que estejamos num lugar seguro.

Todos pareceram pensativos, procurando por um motivo para explicar o meu comportamento.

–Você esteve em Phoenix esse tempo todo? - perguntou Rogers, quebrando o breve silêncio e franzindo o cenho. Ele estava elegante, nunca o tinha visto assim. Estava desconfiado.

–Vim para cá depois da batida - e lá estávamos, todas as pessoas com quem me importava no mundo, todos que eu amava, estavam ali. Eu não podia estar mais feliz. Nunca pensei que esse momento iria acontecer. Ignorei por um segundo os pensamentos negativos e tentei memorizá-los ali.

–Mas o que aconteceu? Como você veio parar aqui? - perguntou Eric. A tensão se fora do meu corpo.

–Eu não sou a última Walker viva. - disse voltando do meu torpor.

–Não me diga que seu pai... - Tereza ficou pálida por um momento e fiz que não com a cabeça. Rogers franziu mais o cenho, ele parecia estar incomodado com alguma coisa.

Voltei a olhar a cortina e para a minha surpresa, a mesa estava vazia.

–Eles se foram. - disse para Will. Ele captou a mensagem e cerrou os punhos. Hayden apareceu na cortina com uma cara não muito boa.

–Estamos com problemas, alguns agentes estão aqui, e não são nossos. - a onda de terror começou a percorrer o meu corpo e olhei para a minha família ao redor.

–Vocês vieram de carro? - antes que eu conseguisse alguma resposta, tiros furaram as cortinas e todos se abaixaram se protegendo com aos braços. Will estava com Zoey nos braços e a virou para protegê-la. - Levem eles para a cozinha! - gritei no meio do barulho estrondoso.

Hayden assentiu e os guiou com o braço.

–O que diabos está acontecendo?! - Mas era tarde demais para dar alguma resposta à Tereza.

Levantei a aba do vestido e tirei a arma presa por uma cinta ao redor da coxa. Quando olhei para o lado, Will já estava com a sua arma. A gritaria começou a ganhar volume e os convidados saiam desesperadamente pela porta. Alguns homens vestidos com colete preto e capacete se espalhavam pelo salão procurando por nós e outros, eram derrotados por nossos agentes. Eles estavam com armas pesadas, enquando carregávamos uma simples arma de mão. Will correu pela escada de trás do palco e se colocou entre a cortina para atirar. Eu fiz o mesmo na parte de baixo.

Eu queria estar com a minha metralhadora tranquilizante, seria um trabalho tão mais fácil e rápido. As pequenas agulhas perfuravam coletes, diferentes das armas de fogo.

O meu primeiro tiro acertou o braço de um agente que logo largou a arma no chão e pude mirar na sua garganta. O segundo não foi diferente. Alguns atiravam em nossa direção, mas era difícil definir o local em que estávamos, então eles lançavam bala para todos os lados. Uma delas acertou o meu braço esquerdo. O sangue começou a escorrer em várias linhas pelo meu braço, até as gotas começarem a manchar o chão. Não estava doendo, apenas uma sensação de incomodo. Continuei a atirar do mesmo jeito, minha mira estava no braço direito e quando o salão fou desocupado por pessoas inocentes, abaixei a arma e na mesma hora em que iria abrir a boca para chamar Will, duas mãos se apoderam do meu corpo, uma na minha boca e a outra em volta do meu ombro.

Will percebeu o movimento estranho e mordi o dedo do agente fazendo com que afrouxe a outra mão e acertei-o com o cotovelo. Will atirou nele e ele desabou fazendo um barulho com o seu capacete pesado.

–Você está bem?

–Estou. Vamos. - caminhamos pelo corredor até a cozinha e mais agentes corriam atrás de nós. Will se virou para atirar enquanto eu empurrava a porta da cozinha. Um arfar de dor. Quando Will entrou na cozinha, fechei a porta e a travei com uma vassoura. Ele estava mancando e sua calça estava manchada com algo molhado.

–Não se preocupe, não foi tão grave. - mais tiros vinham em nossa direção. As duas janelas quadradas foram estilhaçadas e começamos a nos mover por entre os fogões até chegar a porta. Will se sustentava no meu braço direito.

Lá fora, o ar estava mais favorável para respirar. Não deu tempo para comemorar vitória até nos deparar com um meio círculo de agentes nos cercando. Suas armas tinha um lazer vermelho que apontavam para os nossos pulmões.

–Quanto de munição ainda temos? - perguntou

–Não muita. - respirei fundo para poder pensar em uma saída e num minuto, um estrondo seguido de outro.

Todos caíram no chão ao mesmo tempo. Pisquei algumas vezes para ter certeza de que os homens atrás deles não eram de George. Eles chegaram tarde, mas chegaram. Apesar de trabalharem na mesma empresa, tinham alianças diferentes e eu não tinha mais controle nos soldados do meu avô.

Alguns deles entraram na cozinha para terminar o trabalho e nos direcionamos até o portão com alguns deles nos escoltando. A dor no meu braço parecia maior agora. Uma caminhonete preta estava estacionada na estrada com todo mundo ao redor, apreenssivos.

–Por que vocês ainda estão aqui? Já eram para estar longe! - gritei com pavor nos olhos. Will e eu não podíamos sair de lá, não com aquela confusão. O portão era uma saída para despistar os inimigos.

–Eles não queriam deixar vocês - Hayden parecia irritado com aquilo.

–Não queríamos te perder de novo - sussurrou Tereza, que desviou os olhos para o meu braço esquerdo - Jesus Cristo! Seu braço está sangrando! - ela arregalou os olhos

–Não é nada...

–Precisamos de um hospital! Qual é o hospital mais perto daqui? - Ela saiu dos braços de Eric e se aproximou de mim, ao mesmo tempo, notando o sangue na calça de Will. - Eu acho que eu vou desmaiar. - Eric a segurou antes que ela pudesse desabar e Hayden veio rapidamente com a caixa dos primeiros socorros.

–Eu cuido disso - peguei-a da mão dele.

–Precisamos ir, há mais deles vindo - como Rogers podia saber?

–Não vai caber todo mundo no carro - Zoey saiu da escuridão da penumbra.

–Vocês tem que voltar pro hotel, eu preciso ficar para me certificar que todos estão bem. - Will ainda estava com um braço envolta do meu.

–De jeito nenhum! Você vai, eu vou ficar, isso tudo foi por minha culpa. - olhei para ele como se fosse compreender e concordar, mas eu sabia o quanto ele era teimoso. Como eu.

–Vocês dois tem que ir para um hospital, ou vão morrer sangrando! Como podem ser tão idiotas?!- disse Tereza. Ela não sabia. Tenho tanto para lhe contar...

–Se você ficar, eu fico. - eu estava prester a contradizer aquilo, mas não iria adiantar e só perderíamos tempo.

–Então nós dois ficamos. Há seguranças o sufiente aqui, vamos ficar bem. - garanti a eles.

–Vamos voltar assim que tudo estiver bem - ou seja, quando tudo estiver limpo. A imprensa não podia saber disso, tínhamos que fazer alguma coisa. Olhei para trás e tudo parecia mais calmo, os corpos estavam sendo puxados para fora.

–Por favor, só vou conseguir se vocês forem.

Para o meu alívio, eles assentiram e começaram a entrar no carro. Will e eu voltamos para o portão afim de não deixar mais Tereza abrir a boca. Sentei-o na grama e abri a caixa puxando algumas ataduras para enrolar na sua perna. Puxei o pequeno frasco de álcool e joguei antes que ele pudesse protestar. Will não gritou, mas rangeu. O líquido iria evitar uma infecção e logo terminei.

–Obrigado - disse - Agora deixe que eu cuide do seu.

Will se arrastou pra frente e segurou no meu braço, deixando-o examinar a ferida. Não poderíamos tirar a bala ali, não tínhamos tempo, mas ele repetiu o mesmo processo para estancar o sangramento.

Agradeci e voltamos a ser escoltados pelos homens até a entrada da mansão. Will não precisou mais se apoiar em mim, mas desejei que continuasse, apenas para sentir a maciez do seu toque. Era estranho ter esse pensamento agora. Muitas pessoas estavam aglomeradas no grande jardim de grama aparada e algumas estavam sentadas no chão com algum objeto para se abanar.

Os repórteres da festa ainda estavam ali, não permitimos mais do que dois.

E nada que um suborno em gorda quantia não os faça calar a boca.


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Notas finais do capítulo

O Aurora Azul já possui mais de 400 páginas OH MY GOD! Eu fui olhar e fiquei contente e meio assustada ao saber que cheguei até aqui. Se alguém me dissesse que eu escreveria uma estória com mais de 400 págs e com mais de 100 mil palavras há dois ou três anos atrás eu não iria acreditar, até acharia a ideia um absurdo!
E está bem longe - talvez não tão longe - de terminar. Agora que todos já sabem, algumas coisas vão mudar, novas alianças irão se formar e revelações e revelações que você nem devem imaginar. A minha cabeça é meio maluca mesmo, então é normal.

Só vou dizer que talvez o sangue esteja um pouco misturado.

Think about it.



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