Aurora Azul escrita por Dauntless


Capítulo 21
Capítulo 20 - Trabalho comunitário




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Apenas alguns grilos faziam a sua ronda pela minha casa á noite, a luz que entrava pela minha janela era impecavelmente bonita, aliás, tudo estava parecendo mais bonito após o que aconteceu há algumas horas atrás. O beijo me fez querer pular por toda a festa e abraçar todo mundo que estava lá, ao notarem o meu sorriso bobo na cara, eles souberam que algo de bom aconteceu. Não me lembro de ter me sentido tão lúcido e vivo na minha vida, meu coração, que estava escuro e apodrecido, se tornara vermelho e trabalhava com mais veracidade. Eram apenas duas da manhã, voltara mais cedo para pensar ou para caso estivesse sonhando. O beijo selou os meus lábios de algum modo. O jeito que ela havia me beijado era apaixonante e suave e doce.

A cama parecia o paraíso naquela hora, mas eu não queria dormir, não antes de receber a ligação que ela me prometera, eu não sabia o que Dianna estava fazendo, isso me fez perceber que não sabia muito sobre a sua vida pessoal, além de mim. Dianna nunca havia permitido a minha entrada para o lado obscuro de sua vida, talvez ela não confiava em mim ou apenas esperava o momento certo para me deixar entrar. Todavia, eu confiava nela e confiava que quando ela estivesse pronta e confiante o suficiente iria me dizer sobre todas as coisas. O que éramos? Não podemos ser ficantes, era mais que isso, mas também não éramos namorados, pelo menos... não sabia se ela queria ser a minha namorada. Eu queria ela na minha vida, não importava se ela apenas fosse a minha amiga.

Depois de esperar mais quarenta minutos sem receber a ligação, me levantei da cama e pulei para o corredor descendo as escadas e abrindo a geladeira. Estava com fome e a essa hora minha mãe estava dormindo. Abri a gaveta de baixo e peguei uma maçã para lavar, era incrível a minha mania de comer frutas á noite, ela parecia ser suculenta e mais doce. Após lavar, subi novamente para o meu quarto e tranquei a porta. Miranda foi estranhamente legal comigo ao deixar o carro livre para a noite do halloween, aliás, não teria que ir de skate ou pedir carona. Mas isso não era o mais estranho, na manhã de ontem, Harry viera para a minha casa com Phillip e dissera que compraria um carro novo para mim... O velho estava tentando conquistar a minha confiança outra vez. Esbocei um sorriso com o pensamento. Porém eu não iria deixar as coisas tão fáceis, já era ruim morarmos perto um do outro, agora me subordinar com um carro em troca de uma família linda e feliz? Não muito obrigado.

Nunca seríamos uma família feliz novamente, não com sua nova esposa e o garoto ruivo que gosta de infernizar a minha vida. Eu tentava manter isso longe do alcance das pessoas e manter uma reputação boa mas as coisas desmoronaram quando ele começou a frequentar o Arcadia. Mas não importa o que ele vá fazer, eu posso enfrentá-lo, forte e destemido agora que Dianna estava do meu lado. Até agora, ele não fizera nada para mim mas acredito que ele planejava uma bomba para o final. Depois de terminar a maçã, fiz todas as minhas necessidades no banheiro e me joguei para debaixo das cobertas, olhei para o celular mais uma vez e apaguei.

-//-

Era de manhã, eu sentia. Fui tolo o suficiente para não abaixar as cortinas ontem á noite, mas já estava acordado do mesmo jeito. Minha cabeça doía por causa do sono que ainda sentia e do cansaço por ter dormido ás quatro da manhã. Não que eu não tenha dormido alguma vez em um horário mais avançado, mais tarde que isso, na verdade, já passara vinte e quatro horas sem dormir. Cobri a minha cabeça com o cobertor mas não adiantava, eu estava começando a ficar com calor e quando o pingo de suor deslizou pelo meu rosto, desisti e me levantei bambo para ir no banheiro. Eu batia em todos os cantos e acabei chutando no vaso sem querer, sentindo a pontada forte da dor nos dedos. Tombei no chão por um momento, tentando me recuperar e me deitei em cima do tapete. [N/A: isso já aconteceu comigo ok?] Depois de um longo tempo adormecido, um forte barulho veio da porta.

-Peter você está aí? - era a minha mãe batendo com seus dedos na madeira e girando a maçaneta, tentando abrir.

Bocejei mais uma vez e me apoiei, afundando o meu cotovelo na tampa do vaso até ficar em pé e depois, me apoiei na pia, jogando toda a água fria possível na cara.

-Já vou descer. - falei meio grogue. Me olhando no espelho, meus cabelos curtos estavam rebeldes, com fios para cima e para os lados, tão descontrolados como um tsunami. Meus olhos refletiam um castanho quase dourado ao ser iluminado pela flecha de luz solar da janela. Fora isso, meu rosto magro parecia normal, mas meu humor estava além do termômetro.

Após jogar cerca de meio porcento da água potável da Terra na cara, desci com o meu eu que estava cinquenta por cento acordado e cinquenta por cento dormindo, mais para dormindo.

-O que foi? - perguntei bocejando mais uma vez.

-Nada, só achei estranho que esteja acordado ás oito da manhã - legal, dormi apenas metade do tempo que deveria ter de sono.

-Oito horas? Sério? - arfei me sentando no banco em frente a bancada da cozinha

-E, - deu uma pausa para tomar um gole de café da xícara que segurava. Eu não conseguia ver como as coisas estavam realmente ao meu redor, meus olhos ainda insistiam em estar fechados e nem sabia realmente se aquela mulher era mesmo a minha mãe - essa carta chegou para você hoje de manhã - ela empurrou a carta para mim em cima da bancada - o endereço remetente é o da polícia local. Peter, você está com problemas outra vez?

De repente isso me fez despertar e a ter calafrios. Minha barriga começou a contrariar e levantei a cabeça para olhar a carta.

-Eu não sabia que os carteiros trabalhavam domingo.

-A questão aqui não é essa. Me diga, você está com problemas de novo? No que se meteu dessa vez? Será que você nunca irá aprender... - ela soou autoritária mas a cortei.

-Não é nada, eu não me meti em nada, eu juro. - menti - Deve ser algum engano, você acha que se fosse algum problema, eles não falariam diretamente com você e aliás, tenho dezoito anos agora, posso ser julgado como maior de idade. - Esse pensamentos fez a minha espinha tremer.

-Tudo bem, mas só dessa vez. - apontou o indicador e olhou séria para mim. - Eu não surportaria te ver jogando a sua vida fora, parando atrás das grades.

-Eu disse para não se preocupar. - Peguei a carta e subi com ela para o meu quarto, agora o trancando pra valer.

Aquilo não podia ser algo agradável, no fundo sabia que tinha alguma coisa haver com o parque... Abri a carta branca pela lateral, tomando cuidado para não rasgar a folha e joguei a tira e o envelope na cama, para ler o que a polícia queria, porque me parabenizar por um ato heróico não era.

''O juiz que apura o caso de número 392137346 decidiu que, o estudante Peter Jofrey Mayer deverá cumprir uma pena por seu ato, mandante da invasão de um local privado''

A primeira frase tirou toda a cor do meu rosto. Teria que cumprir uma pena pelo o que eu havia feito? O resto do pessoal também recebera esta carta? O que eu faria agora? Por que diabos o juiz mudou de idéia se é que esse caso está sendo monitorado por um juiz. O resto da carta era blah blah blah falando do procedimento, e apenas no final que afirmava exatamento o que eu teria que fazer.

''O estudante terá que fazer um trabalho comunitário para o local que sofreu a invasão, por durante três meses, sem receber qualquer quantia a seu favor como lucro''

O quê? Isso é uma piada? Mas que inferno estava acontecendo? Peguei o meu celular e disquei o número de Potato. Dianna não havia me ligado ainda.

-Qual é a sua? - atendeu depois de um minuto - SÃO OITO E POUCO DA MANHÃ PLAYBOY, VOCÊ FICOU MALUCO? - gritou no outro lado da linha.

-Então você ainda não viu? - perguntei sentindo o calafrio vir e ir.

-Ver o quê? Do que você está falando? - soou irritado e com a voz abafada.

-Da carta. Recebi uma carta hoje de manhã sobre a invasão do parque, ela diz que vou ter que fazer um trabalho comunitário, sem receber nenhum dinheiro! - falei espantado com a situação, já que, setenta por cento de mim estava acordado.

-Mas isso é um absurdo! Vou checar se alguma coisa chegou para mim, espera - ouvi o celular sendo deixado para trás e o barulho de seus passos. Depois de seis minutos ele voltou falando mais calmamente. - Eu não recebi nenhuma carta...

-Não? Será que está atrasada? - Um troço começou a surgir dentro de mim, uma sensação de agonia.

-Eu acho que não, nós temos um ótimo serviço de correios e as cartas chegam mais rápidas para essa região. Tem certeza que a carta fala sobre isso? Você não está vendo coisas por causa do que aconteceu ontem?

-Não! Eu li ele várias vezes e se você quiser, eu tiro uma foto e te mando, isso não é uma brincadeira! - O desespero cresceu em mim e Potato sugeriu que eu ligasse para o restante da banda.

Nenhum dos dois tinham recebido a carta, parece que eu era o felizardo da semana que ganhara na loteria do azar. Era estranho... eu não havia comandado nenhuma invasão e naquele dia, eles haviam nos soltado com apenas um aviso... soltado de uma maneira muito estranha... Algumas coisas começaram a surgir na minha cabeça, mas preferi aceitar e deixar esses pensamentos irem para o mais longe possível, ou que talvez façam uma viagem para a lixeira. Eu com certeza não iria contar para a minha mãe, eu jurei que não havia feito nada e sentia em desapontá-la. Eu precisava falar com a Dianna, será que ela havia recebido uma carta? Será que havia terminado com o que tinha que fazer e se esqueceu de mim? Não era a primeira vez que ignorava as minhas ligações, talvez... chega de talvez. Suspirei e vesti uma roupa leve como um par de jeans e uma blusa normal para sair de casa e resolver isso.

Desci sem comer alguma coisa e, sem perguntar para Miranda se podia, peguei o carro e dirigi calmamente em direção ao parque. Os primeiros raios de sol ainda estavam para surgir, mas mesmo os mais fracos, eram quentes. O céu estava completamente limpo e o ar, um pouco gelado, parecia que flocos de neves grudavam na minha pele como sanguessugas.

Depois de estacionar no outro lado la rua, bati no portão com correntes novas e mais resistentes do que aquelas que havíamos rompido. Dentro dele, não havia nenhum sinal de movimento, o chão de pedras -que agora na luz- parecia mais nítido, alguns pedaços estavam fora do lugar. Alguns carros se movimentavam com pouca velocidade atrás de mim, alguns deles carregavam famílias com um destino de lazer. Não me lembrava da última vez que eu e minha mãe nos aventuramos em algum lugar para nos divertir.

Na terceira tentativa, um homem gordo, com um macacão jeans, baixo e com uma longa cabeleira grisalha abriu um lado do portão e me encarou com uma carranca. O homem estava longe de abrir um sorriso ao me ver.

-O que você quer rapaz? - perguntou com a sua voz grossa.

-Eu é... - clareei minha gargantava para que minha voz não falhasse. Retirei o papel de aviso do meu bolso e desdobrei-o para lhe mostrar - Essa carta chegou na minha casa hoje de manhã...

-Você é o que vai fazer o trabalho comunitário? Já estava na hora rapaz, e está atrasado. - O que ele queria dizer com atrasado? O homem afastou um poucos os postões e fez um sinal com a cabeça para que eu entrasse.

-Você pode me explicar o porquê estou fazendo esse trabalho comunitário? - disse entrando e me juntando a ele.

-Como se você não soubesse.

-Meus amigos não receberam a carta. - olhei para ele confuso.

-Não resolvemos problemas com cartas. O correio faz sua parte e nós fazemos a nossa. Agora comece a arrumar as barracas de algodão doce, ou as coisas vão ficar pretas pro seu lado, rapaz - o homem parou e me deixou em frente a uma enorme barraca cor de rosa. O tempo em que ele se afastara, foi o suficiente para que eu desse uma boa olhada nos outros conjuntos de barracas. Eu não era o único que estava com um trabalho, muitos outros adolescentes e, alguns até mais velhos do que eu, estavam arrumando a parte de fora com enfeites, típicos de festivais. Me perguntei se aquelas pessoas também estavam fazendo trabalhos comunitários.

Eu continuava sem entender. Tirei o meu celular do bolso para ver se alguém deixara alguma mensagem, mais especificamente Dianna. Porém ela não me ligou, nenhuma vez, talvez tinha se esquecido, ou talvez ela não ligava para o que tinha acontecido ontem á noite. Suspirei para tirar toda a tensão do meu corpo e encarei a barraca rosa, refletindo no que eu realmente havia me metido.

Talvez se eu disser a minha mãe que, estava trabalhando, poderia ser a primeira vez que teria um pingo de orgulho de mim.


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Notas finais do capítulo

Tem alguma treta nessa coisa toda de carta... hum...



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