Sophie

Sophie ignorou ao máximo que pôde os comentários engraçadinhos de todos no acampamento durante o dia. Seus irmãos não falavam nada sobre Jack quando ela estava por perto, mas ela sabia que todos murmuravam algo por suas costas.

- Que ótimo. – Ela resmungou enquanto caminhava para os estábulos.

Equitação em pégasos. Ela adorava essa aula, mas tinha a certeza que hoje seria particularmente desagradável. Afinal, os comentários da mesa de Afrodite foram os mais audíveis e essa aula era supervisionada por algumas delas.

Sophie trincou os dentes e entrou nos estábulos, não havia ninguém ali, a não ser Amélia Lamour, uma das mais antigas no acampamento. Sim, era um tanto engraçado uma filha de Afrodite ter o sobrenome que significava “amor”, mas o lugar vazio fez com que Sophie desconfiasse de algo.

- Onde estão os outros? – Ela perguntou enquanto acariciava o focinho do pégaso mais próximo.

- Estão com Megan nos bosques. – A garota respondeu rapidamente. – Eu fiquei para esperar por você.

Sophie abriu a porta da baia e ia levando o pégaso para fora quando a voz da outra garota a parou.

- Você pode dar o troco, você sabe.

Sophie virou lentamente, o tom de voz dela deixou bem claro o que significava ‘dar o troco’ e ela não gostou disso.

- Não sei do que você está falando! – Ela disse e voltou a levar o pégaso para fora enquanto esperava a raiva passar.

Sophie sentiu a mão da outra garota em seu ombro e ela a empurrou para longe.

- O que você quer? – Ela disse bruscamente e se virando para encarar a outra garota.

- Que você quebre o coração do Filho de Apolo. – A outra disse com simplicidade.

Sophie recuou ao som daquelas palavras como se a garota houvesse batido nela e sua raiva dobrou.

- Porque eu faria isso? – Ela cuspiu na cara da filha de Afrodite ao dizer as palavras.

- Por que ele gosta de você, por tudo o que um dos preciosos irmãos dele fez com você... Preciso mesmo fazer a lista Sophie? – O tom de voz da outra garota era malicioso e possuía certo toque de crueldade tão comum quando uma daquelas crianças falava em partir o coração de alguém.

Como se o sentimento de outra pessoa não importasse.

- Não importa! Não vou fazer isso com ele! – Sophie gritou e fechou as mãos em punhos. – Não vou fazer o que um dos irmãos dele e o que um de seus irmãos fizram comigo e você sabe que por causa disso eu perdi minha vida antiga.

A garota deu um sorrisinho cínico.

- Que pena, você era a melhor aposta, mas não se preocupe, em breve iremos conseguir alguém que faça isso. – Disse e começou a se afastar como se Sophie não fosse mais digna de sua atenção.

Sophie não pensou muito no que fez em seguida, quando percebeu, seu braço direito prendia a outra garota em uma gravata e sua mão esquerda prendia ambos os pulsos da garota para trás, estava com vontade de dizer umas boas verdades na cara da filha de Afrodite, mas nessa hora sentiu uma dor intensa no pé e soltou a garota que se voltou para ela com as mãos em punhos.

Sophie escondeu sua surpresa quando a garota reagiu sem puxar seus cabelos ou arranhá-la toda. Mas brigar não era algo para crianças frágeis que sabiam combinar maquiagem e sapatos.

Logo ela estava com o antebraço sobre a garganta de Amélia e a mão em punho bem próxima ao rosto dela.

- Avise a suas irmãs para todas ficarem longe de Jack Sunarper. – Ela falou baixa e perigosamente. – A menos que os sentimentos sejam verdadeiros, não vou permitir que nenhuma de vocês se aproximem.

Sophie estava tentando conter a onda de satisfação ao ver o olho roxo da garota fitando sua mão pronta para bater nela novamente. Ela afrouxou o braço na garganta dela e saiu dos estábulos rapidamente, antes que ela fizesse algo ainda pior.

Não foi muito longe, havia alguém indo na direção do chalé 11. O xale preto indicava que era Rachel.

Sophie suspirou. Talvez conversar com ela fosse melhorar seu humor.

- Hey! – Ela chamou e o Oráculo de voltou para ela. – Tudo bem?

A mulher assentiu e de repente seus olhos se arregalaram. Sophie só teve tempo de virar rapidamente e convocar o florete antes de ver um homenzinho feio, feito de barro e que pelo cheiro podia muito bem ter passado anos em um lixão.

Ela se afastou dele e foi para o lado da mulher, que estava estranhamente quieta.

Olhou ao redor e viu que havia mais dois as cercando.

Que maravilha.Pensou amargamente. Procurou por mais alguém, mas não havia ninguém a quem pedir ajuda. Será que alguém escutaria se ela gritasse? E como aqueles monstros conseguiram passar as fronteiras do vale?

Ela manteve o florete em punho e avançou para o monstro mais próximo, cortando ele em pedaços.

- Agora só faltam dois. – Disse para si mesma enquanto virava.

Apenas para sentir uma dor esmagadora na parte de trás do crânio e notar suas forças indo embora. Olhou para o Oráculo, seus olhos assumiram um tom de verde assustador e Sophie perdeu a consciência.