No segundo dia de aula, eu estava lendo numa boa quando alguém sentou ao meu lado, colocando a mão no encosto do banco. Eu ergui meus olhos do livro.

  - Ah! - sorri - Olá, Ken!

  - Olá, Nathalie. - ele me sorriu - Sinto muito pela sua mãe.

  - Tudo bem. - falei.

  - Eu vou sentir saudades dos biscoitos de chocolate dela. - ele disse.

  - Ah, eu lembro que você se lambuzava todo com eles. - eu sorri.

  - Bom dia, flor do dia! - exclamou uma feliz Layla sentando ao meu lado.

  - O que foi, viu um passarinho roxo? - perguntei erguendo uma sobrancelha.

  - Acordei de bem hoje. - ela me sorriu tanto que os olhos quase se fecharam.

  - Eu duvidava que alguém conseguia sorrir tanto que os olhos quase chegam a fechar. - falei ao cutucar sua bochecha com um dedo.

  - Ah, você é muito séria, Nathalie! - ela revirou os olhos e se virou para Ken - Ela sempre foi assim?

  - Não, quando a mãe dela era viva ela era muito mais engraçada. - ele disse.

  - E quando minha mãe era viva você usava óculos e era pequeno. - falei sorrindo de canto.

 Agora Ken era muito alto, um metro e noventa. Ele não se deixava mais abalar por nada que não fosse importante e era muito mais musculoso.

  - Touché! - ele riu.

  - Vocês são amigos de infância? Que fofo! - Layla sorriu.

  - Ah, não diga isso na frente do Castiel. - eu balancei a cabeça e meus cabelos negros escaparam do pau no qual eu havia os enrolado.

  - Seus cabelos são lindos. - Layla sorriu.

  - São naturais. - eu dei de ombros ao marcar o livro e fechá-lo para prender os cabelos novamente - Eu queria até pintar...Minha mãe tinha cabelos longos e morenos, como o meu.

  - Sinto muito. - ela falou, meio sem jeito.

  - Você não sabe lidar com a morte, não é? - perguntei.

  - Não, fico muito esquisita em funerais. - ela balançou a cabeça e sorriu - Vamos, a aula já vai começar!

 Estávamos andando juntos no corredor quando eu vi Nathaniel e Castiel quase brigando. Corri até eles, puxando meu irmão.

  - HEI! - gritei ao puxá-lo - O que está acontecendo aqui?

  - Ele quer que eu assine a folha de ausência estúpida dele. - Castiel falou.

  - A folha de ausência é um documento enviado pela escola, Caz, não tem nada a ver com ele. - eu falei calmamente.

  - É, mas com essa eu posso ser suspenso, e eu não vou assinar! - ele parecia furioso.

  - Então não assine. - falei - Não precisa ficar brigando com o representante, Caz. É só falar "Eu não vou assinar isso, peça para alguém que se importe".

  - É por isso que eu te amo. - falou Castiel ao depositar um beijo na minha testa e sair andando calmamente.

  - Ele é muito cabeça dura para assinar algum papel enviado por você. - eu disse ao me virar para Nathaniel.

  - Mas isso não é um papel meu, é... - eu o interrompi.

  - É um procedimento da escola, eu sei, eu era representante geral na minha antiga escola. - revirei os olhos - Fale a diretora que ele não quis assinar, Nathaniel. Ela provavelmente vai dar jeito por ela mesma.

  - Você era representante? - ele perguntou confuso.

  - É, eu era. - falei coçando a nuca.

  - Como você conheceu o Castiel? - ele perguntou - Não que seja da minha conta, mas...

  - Quando eu tinha quatro anos, minha mãe me levou ao parque. - eu sorri - Eu caí, me machuquei e o Castiel veio me ajudar. Ele cuida de mim desde então.

  - Ele cuida de você? - Nathaniel pareceu surpreso - Nunca achei que Castiel pudesse cuidar de alguém assim.

  - Ele é um ótimo irmão mais velho. - falei estreitando os olhos - Você duvida de mim?

  - Não. - ele ergueu as mãos como quem se rende - Acho melhor você ir, sua aula vai começar.

 Supirei e encarei a porta.

  - É, eu acho que tenho que aguentar mais um pouco de tédio.

  - Você acha as aulas entediantes? - ele perguntou.

  - Eu já sei tudo do que eles falam. - revirei os olhos - Castiel me ensina nas horas em que não estamos rindo... Ou discutindo. Tenho que ir, a professora chegou.

 Então eu entrei na sala para assistir três aulas. E morrer de tédio.