Eu estava sentada no chão de uma ponte, olhando o lago e pensando sobre a suspensão que havia levado. Tudo bem, eu sujara meu histórico que até ontem era imaculado, mas me parecia valer a pena. Ambre não vai voltar a me incomodar tão cedo. Eu tomei um susto quando ouvi alguém se sentando ao meu lado, mas um susto maior ainda ao ver quem era.

  - Nathaniel? - perguntei incerta.

  - É, por que a surpresa? - ele me sorriu.

  - Não sei, você só anda na sua sala com os seus papéis... - eu sorri de volta - Está dando uma escapadinha, senhor representante geral?

  - Queria falar com você. - ele disse.

  - Olha, sobre a Ambre, eu adoraria dizer que eu me arrependo e tudo o mais, mas eu não vou mentir. - olhei em seus olhos - Não me arrependo. Ela procurou, ela teve.

  - Eu sei. - ele desviou o olhar - Não queria falar sobre a Ambre.

  - Então sobre o quê? - perguntei.

  - Não sei. - ele olhou em meus olhos - Só queria ficar com você.

 Eu corei.

  - Bem, acho que podemos discutir romances policiais, o que acha? - perguntei.

 Os olhos dele se iluminaram enquanto nós conversávamos sobre os livros que tínhamos lido. Alguns ambos tínhamos lido, outros não, então indicávamos um para o outro, ressaltando os pontos positivos e negativos dos livros. Eu não sei quando ficou tarde, não me lembro de escurecer, só percebi que tinha que voltar para casa quando já estavam surgindo estrelas no céu e uma delas me chamou a atenção.

  - Temos que ir. - eu disse me levantando.

  - Você viu escurecer? - perguntou Nathaniel, parecendo tão chocado com o céu quanto eu.

  - Não, só olhei quando uma estrela me chamou a atenção. - falei.

  - Qual delas? - perguntou ele.

 Eu sorri e apontei a estrela. Ele segurou minha mão e entrelaçou os dedos nos meus.

  - Dizem que apontar estrelas traz coisas ruins. - ele disse.

  - Ah, é? - olhei para o lado para disfarçar o quanto ficara vermelha - O que ruim?

  - Não me lembro. - ele disse - É engraçado, porque eu sempre tenho as respostas. Mas quando estou com você... Elas somem da minha cabeça.

 Então ele se aproximou de mim e colocou uma mecha do meu cabelo para trás. Meu coração palpitou dolorosamente, tão alto que eu achei por um segundo que até ele poderia ouvi-lo. Se ouviu, ele não se deteve. Colocou a mão que não segurava a minha na minha nuca e me puxou para si. Ele se aproximou de mim até que nossos hálitos se misturaram. Não sei se foi por não aguentar mais ou se por saber que ele esperava que eu desse o próximo passo que eu colei meus lábios ao dele. Só sei que foi a decisão certa e que não me arrependeria depois dela.

 Não consegui pensar. Não consegui descrever o que eu sentia. Só sei que foi bom. Muito bom. Até o momento que eu lembrei que estava beijando o arqui-rival do meu irmão numa ponte no meio da noite. Aí foi a parte que eu comecei a me sentir culpada e me afastei dele.

  - Eu tenho que ir, é tarde. - dei minha desculpa esfarrapada - Ou eu vou para casa agora, ou é capaz do Caz vir me buscar pessoalmente.

  - Ah, claro. - ele pareceu voltar à realidade - Mas não posso te deixar ir sozinha uma hora dessas, eu te levo.

  - Não quero incomodar. - falei.

  - Eu insisto. - ele falou, segurando minha mão.

  - Mas... - eu comecei, mas ele colocou um dedo sobre os meus lábios.

  - Sem "mas". - ele sorriu - É sempre assim que começa o drama: a moça bonita indo embora sozinha, aí o ladrão encontra com ela e o seu irmão me mataria se isso acontecesse com você.

  - Está bem. - eu ri.

 E, de mãos dadas com Nathaniel, eu atravessei a escuridão até a minha casa.