Capítulo XLV 

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Ela piscou seus grandes, molhados e agora vermelhos olhos verdes e em seguida abriu a boca, mas apenas um esgar saiu. Ela engoliu com dificuldade e tentou novamente.

- Kakashi... – Murmurou o nome dele, sendo apertada nos braços dele em seguida.

- Eu estou aqui! – Disse em resposta.

- Você... – Ela tentou. As palavras estavam difícies de sair, mas aos poucos ela estava se recuperando. – Você sabia que ele era o meu pai?

Kakashi respirou fundo, e deixou o ar sair ruidosamente antes de responder.

- Eu descobri ontem. Antes era apenas uma suspeita. – Disse e começou a afagar as costas da menina. – Eu não fui no osan apenas por causa da placa. Eu fui lá para perguntar o nome do seu pai.

- Noah Campbell... – Jun murmurou.

- Sim. Era esse nome que estava naquele papel que o osan me deu ontem. Se lembra?

- Lembro. – Jun assentiu e deixou pender a cabeça no peito de Kakashi. Havia chorado tanto que não tinha nem mais forças para sustentar a própria cabeça. – Eu me lembro...

- Me desculpe por isso. – Kakashi disse, realmente arrependido. – Eu não queria que você houvesse descoberto dessa forma e...

- Tudo bem. – A menina o cortou. – Não tem problema, realmente não tem e... – Lágrimas começaram a transbordar novamente dos olhos verdes de Jun.

- Oh Jun, por favor, não chores. – Kakashi pediu, aflito. Algo que ele não suportava era ver aquela expressão de dor no rosto de Jun. Ela era tão nova, tão inocente, tão pura. Esse tipo de expressão nunca deveria estar no rosto dela. Ela deveria estar com um dos seus grandes e inocentes sorrisos no rosto.

- Gomen. – Ela disse e passou as costas das mãos pelo rosto, apagando as lágrimas.

- Não se desculpe. – Kakashi se inclinou e lhe deu um beijo na bochecha, recolhendo um lágrima que havia escapado. – Quando eu digo para não chorar, não quero dizer que não é para você chorar. Eu não quero lhe ver chorando. Eu quero lhe ver sorrindo. – Seu peito doía ao ver as lágrimas de Jun. – Consegue me entender?

- Sim... – Jun deu um fraco sorriso. – Eu consigo lhe entender. Foi exatamente por isso que eu passei ontem, quando nós famos a sua antiga casa.

- Sim. – Kakashi assentiu. – Lhe ver machucada, me machuca também.

- Eu sempre pensei que eu estivesse preparada... – Jun começou a divagar. – Sempre pensei que iria abrir um grande sorriso quando conhecesse o meu pai... Mas olha só o que aconteceu? – A jovem deu um riso sem humor e algumas lágrimas rolaram pela sua face, sendo em seguida, recolhidas pelas pontas dos dedos de Kakashi.

- Tudo bem Jun, foi apenas uma reação natural, não precisa ficar resentida com isso.

- Eu sei mas... – Ela balançou a cabeça, descontente. – Eu sempre sonhei em conhecer o meu pai. SEMPRE. Mas agora... – Suspirou e se aconchegou mais a Kakashi, que cerrou seu braços mais apertadamente ao redor dela. – Eu estou com medo, Kakashi.

- Medo? – O grisalho perguntou sem entender.

- Sim, eu estou com medo, receio. – Fungou. – Dezoito anos se passaram desde que Noah e minha mãe estiveram juntos pela última vez. Ele nunca chegou a me conhecer. Por que ele iria querer conhecer uma filha que já é quase uma adulta? A única coisa que eu seria para ele, é um incômodo. Nós nunca deveríamos termos nos encontrado!

- Não diga uma coisa dessas! – Kakashi a repreendeu. – Noah queria sair correndo atrás de você, eu que não o permiti. Achei que seria melhor você se recuperar primeiro antes de se encontrar com ela.

- Me encontrar com ele? – Jun disse, quase que em pânico. – Eu não posso me encontrar com ele!

- Mas ele quer te conehcer, Jun.

- Mas...!

- Eu não sei o que aconteceu no passado. – Kakashi a interrompeu. – Mas eu pude perceber que ele não fazia a mínima ideia da sua existência. E pelo que eu saiba, ele não tem filhos. Mas ele guardou com carinho a memória de que a primeira filha que ele tivesse, teria o nome de Jun. O seu nome.

- E se fosse menino... – Jun continuou. – Seria Junichi.

- Como? – Kakashi disse, sem entender.

- Eu descobri sobre o meu pai quando eu tinha cerca de sete anos e estava mexendo em algumas caixas da minha mãe. – Jun susrpirou e continuou. – Em uma dessas caixas, eu encontrei uma agenda da época em que minha mãe fazia faculdade, essa agenda era quase que um diário. Haviam também várias cartas, todas elas tendo Noah Cambell como remetente. Apenas uma carta, a última datada, havia sido escrita pela minha mãe. Ela nunca foi enviada, Nessa carta... – A voz de Jun falhou.

- Shiiiiu... – Kakashi embalou a menina. – Não precisa me contar. Não precisa...

- Eu nunca contei isso para ninguém... – Jun segredou-lhe. – Talvez me faça bem, finalmente compartilhar isso com alguém. Você me escutará? – E Jun levantou o seu rosto, olhando diretamente nos olhos de cores diferentes de Kakashi.

- Claro que eu vou escutar. – Kakashi deu um leve sorriso para Jun, e viu um pouco da luz dos olhos verdes dela voltar. – Vá falando com calma, eu estarei aqui, tudo bem? – Jun assentiu e Kakashi tocou-lhe o rosto, livrando-o de mais algumas lágrimas.

- Por meio dessas cartas e da agenda eu descobri que meus pais, Noah e Miho, namoraram durante, praticamente, todo o período da faculdade. Noah veio da Inglaterra para estudar aqui e minha mãe entrou na faculdade por meio de uma bolsa. O típico casal de classes sociais diferentes. – Jun disse e fez uma pausa para engolir o bolo que estava se formando na sua garganta.

- Com calma, com calma... – Kakashi murmurou.

- Noah estava aqui, pois, assim que ele terminasse o faculdade, ele iria ficar responsável por uma gravadora, filial da gravadora da Inglaterra, que pertence a família Campbell. – Jun continuou. O rítmo cardíaco de Kakashi estava começando a acalmar. – E ele pretendia ficar aqui e se casar com a minha mãe. Mas algo aconteceu.

- O que aconteceu? – O grisalho perguntou, começando a ficar curioso pela história.

- A gravadora da família Campbell entrou em falência.

- Falência?!

- Sim. – Jun assentiu. – E por causa disso, Noah foi chamado as pressas para voltar para a Inglaterra para fechar um contrato. Só que ele não sabia que esse contrato era um contráto matrimonial. Noah, que possuia o famoso nome Campbell deveria se casar com a filha de uma família que possuia dinheiro, mas não tanto destaque.

- E o que aconteceu?

- Sem alternativa, Noah aceitou. – Jun deixou um longo e ruidoso suspirou sair. – Só que minha mãe já estava grávida. Ela tentou encontrar em contato com ele, mas a noiva inglesa dele descobriu a minha mãe, e com medo do escândalo que seria, ela nos ameaçou. Ameaçou a minha mãe e ameaçou a mim. Dizendo que, se Noah viesse a descobrir da minha existência, quem iria sofrer seria eu.

- Como essa mulher pôde ameaçar um bebê ainda por nascer?! – Kakashi se viu indignado. Como ainda podiam existir pessoas desse tipo?

- Sabe-se lá, mas ela ameaçou. Minha mãe era nova e imatura nessa época. Ela se assustou com a ameaça da inglesa e fez o favor de sumir da vida do Noah. Eu sei que ele tentou entrar em contato, mas a minha mãe se recusava a falar com ele, e quando eu nasci, nós nos mudamos para o interior. Só voltamos para cá quando eu tinha cerca de cinco anos, que foi na mesma época que minha mãe conheceu o Kazuki. – Jun fez uma careta. – Não que eu não goste do meu padrasto, mas ele mudou depois que meu irmão morreu.

- Sim. – Kakashi assentiu. – Osan me falou sobre isso.

- Você acredita que o Noah veio ao Japão quando soube que minha mãe ia se casar? – Jun quase riu disso. – Eu me lembro que ele apareceu na cerimônia. Eu tinha uns seis anos de idade, e ainda não entendia muitas coisas, mas achei estranho minha mãe me esconder durante todo o casamento numa salinha.

- Você ficou todo o casamento escondida? – Kakashi perguntou, sem acreditar. – Por que a sua mãe faria algo desse tipo? Era a oportunidade perfeita para ela contar ao Noah da sua existência!

- Mas ela não o fez. – Jun deu de ombros. – Eu já parei de tentar entender as atitudes da minha mãe.

- Mas...

- Eu sei, Kakashi. – Jun disse com um suspiro. – Não faz sentido. Eu sei. Mas as atitudes da minha mãe nunca fizeram sentido. Ela sempre tentou se proteger. Uma prova disso é a relação fria que nós temos. Sempre que ela olha para mim, ela se lembra do meu pai, e por isso, ela me mantem distante. Eu parei de tentar entendê-la.

- Eu sinto muito Jun... – Kakashi murmurou, contristado. – Eu realmente...

- Você já disse isso ontem, baka! – Finalmente a morena estava começando a se recuperar, e aos poucos, o sorriso voltava aos seus lábios. – Pare de ficar repetindo que sente muito! Isso é estranho!

- Gomen. – Kakashi disse com um sorriso também. E ia falar mais alguma coisa, quando passos se fizeram ouvir do lado de fora.

Continua...