Capítulo III

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A placa estava apertada em sua mão, ele já estava em pé ali à pelo menos uma hora. O início de uma rua nunca lhe pareceu tão macabro como aquela.

Engoliu em seco. Ele podia ver o telhado da sua casa desse ângulo, mas podia ver também a casa de Obito, que agora pertencia a infeliz família da menina que cantara ontem.

- Eu não consigo... – murmurou com seus botões e se virou, indo em direção ao bar.

Estava derrotado, uma bebida e talvez uma música o animassem.

Adentrou no bar, porém não havia nenhuma melodia ou música no ar.

Os mesmos homens do dia anterior estavam jogando baralho, Osa-san estava secando copos e a menina estava enterrada numa montanha de livros. Uma cena bem bizarra de se ver em uma bar decrepito como aquele.

Sarutobi já havia notado a sua presença, e o chamou com uma mão.

- Yo Kakashi – o saldou – percebo que não conseguiu novamente – indicou a placa com o queixo.

- É o que parece – disse e soltou o ar.

- Acho que hoje ela não poderá cantar, tem uma prova importante amanhã – informou o velho quando percebeu que o olhar de Kakashi havia se desviado para a mesa do canto.

- Okay – disse e se sentou, pondo a placa num dos bancos ao seu lado – acho que vou ficar apenas com a bebida mesmo, deixa a música para outro dia...

- A mesma de ontem?

- Dose dupla por favor.

Depois de algumas doses Kakashi se sentia melhor, não muito, apenas o suficiente. Sua cabeça estava apoiada na sua mão e ele observada a menina escrever, apagar, escrever de novo e riscar qualquer que fosse o dever que ela estava fazendo. Bocejou, já estava ficando tarde.

- Mas alguma dose? – Perguntou o velho Sarutobi.

- Não Osa-san, acho que já cheguei a minha cota hoje. – Se virou para oo velho – Alias, o que ela tanto estuda? – Perguntou e apontou a jovem.

- Ela é bolsista em uma boa escola à umas 7 estações de trêm daqui, para manter a bolsa, ela tem que ter notas altas. Por isso ela está estudando para uma prova que terá amanhã – explicou.

- Entendi. Parece então que não haverá possibilidade de escutá-la cantar hoje... – murmurou essa parte final mais para si mesmo do que para o homem a sua frente.

- Volte aqui amanhã, se chegar mais cedo aqui, eu poderia até por a placa por você.

Kakashi suspirou, se fosse tão fácil assim, ele teria pedido para a imobiliária por a placa, porém isso era algo que ele deveria fazer.

- Não, eu farei isso...

- De qualquer modo, amanhã é sexta-feira, dê uma passada aqui, ela com certeza não estará estudando.

Kakashi assentiu. Ele ainda não sabia direito porque estava voltando ali. Amanhã, se ele voltasse, seria sua terceira visita seguida àquele lugar. Suspirou cansado, amanhã decidiria o que iria fazer.

- Yeah, já vou indo, acordo cedo para trabalhar.

Kakashi pegou a placa que estava ao seu lado e, quando já estava no limite da porta, lançou um olhar para aonde a menina estava, seu olhar, momentaneamente, se encontrou com o dela, antes que ela o desviasse e voltasse para os livros. Kakashi ficou momentaneamente desconcertado, e se sentiu estranho por causa disso. Deveria ser o alcool – pensou e finalmente saiu do bar para a noite fria e estrelada.

***

E lá estava Kakashi pela terceira noite seguida adentrando naquela espelunca que era aquele bar horrível. Suspirou cansado. Ainda não sabia por que continuava a voltar lá.

Lançou um olhar pelo lugar. Por ser sexta-feira, o lugar estava um pouco mais movimentado.

Normalmente apenas uma mesa, sem contar a mesa da menina, estava ocupada. Hoje eram três. Havia também três pessoas no balcão, sendo servidas pelo Osa-san, e qual foi a sua surpresa ao ver que a menina também estava com um avental e secava copos e servia algumas bebidas aos clientes.

Kakashi, também pela terceira vez, estava com a placa de ‘vende-se’ apertada em seus punhos. Desa vez não conseguira nem ao menos chegar no começo da rua. Apenas chegar lá perto já lhe dava ânsias de vomito.

Suspirou novamente e a passadas longas chegou ao balcão, ao qual puxou um banco e se sentou, largando o placa aos seus pés. Com o barulho seco do placa de encontro ao gasto chão de linóleo, a menina, que estava de costas para ele, se voltou em sua direção, olhado diretamente em seus olhos.

Envergonhada, ela abaixou o olhar, e se aproximou.

- Vai beber alguma coisa? – Perguntou, ainda sem encará-lo.

- Vou querer um refrigerante de limão, onegai – já bebera muito esses dias, seu figado iria agradecer por menos álcool.

- Okay... – ela se virou para buscar a bebida, enquanto ela não voltava, Kakashi procurou com o olhar o Osa-san, e qual foi a sua surpresa ao perceber que o velho o observava de longe, com um irritante erguer de sobrancelhas.

Kakashi soergueu suas sobrancelhas em respostas, porém o Osa-san apenas riu e se voltou para um cliente. Essa conversa silênciosa foi o tempo da jovem ir e voltar com o refrigerante.

- Doso – ofereceu a lata de refrigerante e um copo com gelo.

- Arigatou – Kakashi despejou o líquido no copo e deu um bom gole antes de se voltar novamente para a menina, que agora secava algumas facas – Ei... – ele chamou.

- Hai? – Ela se voltou, dúvida estampada nos olhos verdes.

- Eu pensei que era contra a lei colegiais trabalharem em bares.

Esse foi o pior início de conversa que Kakashi já teve na vida, teve vontade de se bater. A única coisa que ele queria da menina era que ela cantasse, porque então ele tinha falado aquelas asneiras? Porém a reação da menina foi totalmente oposta ao que ele pensava. Ele pensou que ela ficaria brava ou alguma coisa do gênero, mas não, ela deu uma boa e longa risada.

- Você está brincando, não é? – Ela tentava abafar a risada com as costas da mão.

- Não, não estou – ele franziu as sobrancelhas.

- E por acaso você acha que alguém se importa se uma colegial trabalha ou não num bar aqui nesse bairro? – Ela continuava a rir – Tenho vizinhas quue fazem coisas que são muito mais contra a lei do que isso.

- Bem, nisso você está certa – ele resmungou – esse lugar foi esquecido pelas pessoas à muito tempo.

- E não é – ela deu um suspiro longo e profundo, deixando de lado os talheres e ficando com o olhar perdido por alguns segundo – mas enfim, não é como se eu trabalhasse aqui – explicou – eu ajudo o Ji-chan nas sextas e sábados, apenas isso.

- Entendo...

- Mas – ela o interrompeu – você tem vindo aqui durante alguns dias, e parece conhecer o Ji-chan. Ele está com algum problema? – Ela perguntou preocupada.

- Não – Kakashi sorriu, durante esses dias ela estivera preocupada que algo estivesse acontecendo com o Osa-san – Não é nada disso. Conheço o Osa-san de outras épocas, e estou aqui pois tenho algo a fazer, porém ainda não consegui.

- Ah! Que alívio! Pensei que você fosse um cobrador ou algo do tipo, já que usa terno e gravata – ela explicou, um sorriso aliviado no rosto.

- Não, não – ele riu com a pespectiva de ser um cobrador – longe disso!

- Que bom – ela sorriu novamente, um sorriso completo, daqueles onde o canto dos olhos se enrrugam e todos os dentes aparecem. Kakashi sorriu em resposta – Ah – ela pareceu se lembrar de algo – você disse que está aqui para fazer algo, mas ainda não conseguiu, se eu puder ajudar, é só me falar – disse sincera. Se aquela era a terceira vez que tentava fazer algo, era porque era algo sério.

Kakashi sentiu um aperto no coração. Ficou tocado pela oferta sincera dela, porém aquilo era um assunto apenas e somente dele.

- Obrigada pela oferta, mas isso é algo que apenas eu posso resolver.

- Então, espero que consiga resolver, pois tenho certeza que deve ser bem incomodo vir para um lugar como esse – ela olhou ao redor.

- Não tanto quanto era quando eu ainda morava aqui – disse ele, fazendo-a se surpreender.

- Você morava aqui? – Ela estava verdadeiramente surpresa.

- Já fazem uns dez anos que fui embora, é a primeira vez desde àquela época que eu volto – deu de ombros.

- Foi mais ou menos nessa época que eu cheguei. Bem... – ela murmurou, Kakashi não sabia se era para ele ou para ela própria que ela falava aquilo – se você conseguiu ir embora, talvez eu consiga.

Embora ele não soubesse se ele podia responder aquilo, ele o fez.

- Se você tiver força de vontade, você poderá fazer o que quiser. A vida é sua, faça dela o que você desejar.

- Gostaria que fosse tão fácil assim... – ela sorriu, ia falar mais alguma coisa, porém uma voz no fundo do bar lhe chamou.

- Ojou-san! – Um dos homens que jogavam cartas chamou – Traz mais duas garrafas de cerveja, por favor?

- Yosh! – Respondeu e se virou para Kakashi – Com licença – disse e se retirou.

Kakashi a acompanhou com o olhar, enquanto ela ia buscar as cervejas e depois, quando ela serviu os homens. Uma menina com uma voz tão bonita não merecia esse tipo de vida.

- Perdido em pensamentos, Kakashi? – Sarutobi perguntou, havia se esgueirado e pego Kakashi observando a jovem.

- Alguém já lhe disse que você é muito bisbilhoteiro? – O grisalho rodou os olhos.

- Sabe, Kakashi, eu sei qual é o se emprego...

Kakashi se surpreendeu. Como aquele velho sabia de uma coisa dessas? Nem mesmo seus amigos próximos sabiam do seu emprego, então, como aquele velhote poderia saber?

- E daí? – Desafiou.

- Você continua a vir aqui por causa dela, não é? – Sarutobi indicou a jovem com o queixo.

- E se for? – O jovem desafiou novamente o velho – O que você tem a ver com isso?

- Ai, ai Kakashi... Você continua o mesmo teimoso de quando era criança – Sarutobi balançou a cabeça sorrindo – Se você quer pedi-la para cantar, o faça, pois essa é a última noite que eu quero te ver aqui – dessa vez ele estava sério.

Kakashi engoliu em seco. O velho poderia ser bem assustador quando queria.

- Eu não posso oferecer um emprego a ela, pois ela é menor de idade, eu iria precisar da assinatura de seus pais autorizando – explicou.

- E quem precisa deles quando se tem a mim? Sou o melhor falsificador de assinaturas da região.

Kakashi se decidiu, ele daria uma oportunidade à ela.

Continua...