Capítulo II

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Os homens que estavam no fundo do estabelecimento começaram um jogo de cartas e o velho Sarutobi pôs-se a secar outro copo. Kakashi se virou para ele.

- Ei, como me reconheçeu?

- Você é a cara do seu pai, como você queria que eu não o reconhecesse? – O velho continuava a secar os copos, porém parou e levantou a cabeça, encarando o jovem – Mas o que lhe trás de volta à esse lugar? Pensei que você tinha dito que nunca mais iria voltar.

- Sim eu disse... – Kakashi suspirou, não voltara lá por opção – Tenho alguns negócios para tratar.

- À meia-noite de uma quinta-feira? – O Sarutobi soergueu uma sobrancelha.

Kakashi riu. Osa-san continuava esperto.

- Vim colocar essa placa na minha antiga casa – disse e ergueu a placa de ‘vende-se’.

- Ah – foi tudo que disse o velho.

- Vim ainda cedo, mas não consegui... – murmurou, mas para ele mesmo do que para o velho a sua frente.

- Não conseguiu passar pela casa do menino Obito? – Perguntou, acertando na mosca.

Kakashi sentiu sua garganta fechar e seus olhos marearem. Era exatamente por isso que não conseguira por a placa. Apenas a perspectiva de passar em frente a casa do melhor amigo já falecido lhe doia o peito.

- Não...

- Bem,  não sei se você sabe, mas agora àquela casa está ocupada – informou o velho e pegou outro copo para secar.

- Ocupada? – Kakashi franziu o cenho. Pensava que a casa ainda era propriedade dos Uchihas.

- Sim, há uns 10 anos mora uma família lá. Logo que os Uchihas se mudaram eles alugaram a casa.

Kakashi não sabia disso. Para ele a casa continuava inabitada, tal qual a sua.

- Quem mora lá? – Perguntou.

- Sabe a menina que acabou de sair daqui? – Perguntou e Kakashi acenou em concordância – Ela e a família mora lá. Uma família tão desgraçada quanto as do Uchihas. – O velho suspirou e pegou o copo que havia acabado de secar, pôs sob o balcão e enche-o com dois dedos com uma bebida castanha – Doso – ofereceu a Kakashi.

Kakashi virou o líquido que desceu pegando fogo pela garganta de uma vez só.

- O que tem a família da garota? – Ficara curioso. Ela parecia vir de uma boa família. Se arrumava bem e o emblema do uniforme era uma uma boa escola particular.

- A mãe da menina foi deixada pelo pai dela quando ainda estava grávida, pelo menos é isso que ela conta. Atualmente sofre de depressão, por causa da morte do filho mais novo, eu acho – Sarutobi deu de ombros – e o padrasto é um porco alcoolatra violento que eu teria gosto que morresse.

Kakashi se surpreendeu. Nunca diria que aquela menina alegre e de bom humor que acabara de cantar para eles vinha de uma família problemática daquelas.

- Você a chama de omago-chan, pensei que fosse sua neta.

- Bem que eu gostaria. Ela é um doce de menina – O velho riu, fazendo com que rugas aparecessem no canto de seus olhos. Suspirou e seus olhos perderam o foco, se lembrando do passado – A primeira vez que eu a encontrei foi quando ela tinha uns sete ou oito anos. Fazia pouco tempo que o menino Obito havia morrido e você se ido.

- E como foi esse encontro? – Ele estava curioso, e se o Osa-san queria falar, ele escutaria.

- Já estava escurecendo, eu vim abrir o bar e a encontrei sentada numa calçada aqui perto. Perguntei a ela o que uma menininha estava fazendo àquela hora na rua. Daí ela me perguntou a hora, eu lembro que estava frio, e ela não vestia mais do que uma blusa fina, por isso sua voz saiu um pouco rouca. Fiquei com pena dela e me aproximei, dizendo que já era o hora do jantar. Aqueles grandes olhos verdes dela se arregalaram, e eu pensei que ela ia chorar, mas não fez...

- Os olhos dela são naturalmente verdes? – Interrompeu.

- Sim, acho que é da parte do pai dela – deu de ombros, e voltou à história – mas enfim, eu perguntei a quanto tempo ela já estava ali, e ela disse que desde que chegara da escola. Não sei se você sabe Kakashi, mas as crianças voltam umas 15h da escola.

- E porque ela ficou todo esse tempo fora de casa? – Ele duvidava que uma criança ficaria sentada no frio porque queria, sabia que pais irresponsáveis eram os culpados por isso.

- Foi essa a mesma pergunta que eu fiz para ela. E ela me respondeu que seus pais ainda não haviam voltado para casa, fiquei com tanta pena dela e a convidei para vir para esse bar. Não é o melhor lugar do mundo – o velho deixou seus olhos correrem pelo estabelecimento, e suspirando continuou – mas pelo menos é mais confortável que uma calçada. Desde aquele dia ela volta aqui todos os dias depois da escola e fica naquela mesa – apontou a mesa do canto onde estavam as coisas dela – estudando, lendo, escrevendo e por vezes cantando.

Kakashi ficou em silêncio. Já havia escutado muitas dessas história. Pais que não ligavam para os filhos e etcétera, porém o que lhe surpreendeu nessa história foi o alegria e simpatia da garota, por algum motivo ela não havia se deixado abalar pelas adversidades da sua vida.

Suspirou. Escutar essa história triste tinha deixado ele mais deprimido do que antes. Parece que a casa em que Obito morou estava amaldiçoada.

- Preciso ir, tenho trabalho amanhã cedo – disse e se levantou, deixando algumas notas sobre o balcão para pagar a bebida.

- Porque não volta amanhã? – Sugeriu o velho – Tente mais uma vez por a placa, na volta pode passar aqui e pedir a música que ia pedir hoje.

- Talvez... – deu as costas para o velho e se dirigiu para a porta, ainda apertando firme a placa.

- Kakashi? – Chamou o Sarutobi – Pegue! – E lançou algo para o jovem que já estava à alguns metros de distância.

Kakashi pegou o quer que fosse momentos antes de acertar o se rosto, e abriu sua palma, para ver o que havia pego. Era uma ficha.

- Obrigada... – murmurou e saiu do estabelecimento, guardando o ficha no bolso.

Caminhou alguns passos até seu carro totalmente negro, e se virou para a direção que era a casa de Obito.

- Amanhã – prometeu – amanhã eu termino isso.

Entrou no carro e jogou a placa para o banco do carona. Pôs o cinto e ligou o carro. Amanhã seria um longo dia...

Continua...