Capítulo XXXVIII

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“Ok.” A morena pensou. “Sasuke piscou. PISCOU!”

Afinal, qual era o problema desses Uchihas? Jun estava começando a ficar sem paciência com eles.

E falando em Uchiha... Jun apenas podia imaginar o que raios Itachi estava aprontando, pois o moreno não havia dado as caras até agora, e provavelmente, não a daria até o final do dia.

Jun suspirou e segiu os meninos que iam um pouco mais a frente.

Iria ignorar Sasuke e suas meias palavras e fingir que nada havia acontecido, era a melhor coisa a se fazer. Tudo com o que ela deveria se preocupar agora era com o seu debut, que por sinal, estava MUITO próximo! E o melhor, é que ela logo entraria nas férias de inveno e poderia dedicar-se totalmente aos ensaios e etcétera.

E pensando em ensaios... Jun se lembrou de algo. Lembrou-se de algo que estava faltando.

A décima terceira música.

Kakashi nunca mais havia comentado sobre essa música. Será que ele realmente seria capaz de teminá-la? Jun suspirou novamente. Ela deveria afastar os problemas da sua cabeça, e não ficar lembrando deles a toda hora.

Descontente e um pouco confusa, seguiu pelo corredor e entrou na mesma sala que Gaara e Sasuke havia entrado.

Teria uma terde cheia!

***

- Kakashi?! – Jun se surpreendeu vendo o grisalho caminhar pelas ruas cobertas de neve do seu bairro. – O que você está fazendo aqui?

- Ah! – Kakashi também havia se surpreendido de encontrar a jovem, pelo horário ela deveria estar correndo com Gai. – Eu estava indo no osan. – A placa de ‘vende-se’ mais uma vez apertada no seu punho. – E você? Não deveria estar correndo?

- Nevou muito durante todo o dia, e não conseguiram tirar toda a neve, por isso Gai-san me mandou mais cedo para casa. – Jun explicou e se emparelhou com Kakashi, afinal, estavam indo para o mesmo lugar.

- Vai aproveitar e dar uma passada no osan? – Kakashi perguntou, observando Jun.

Ele a via todos os dias, mas a ver ali, naquele lugar, sempre tinha um impacto diferente nele. Observou as bochechas coradas, talvez por causa dele, talvez por causa do frio e sorriu. Era bom estar naquela situação informal novamente, assim como havia sido nos primeiro dias que eles haviam se conhecido.

- Hai. Faz bastante tempo que eu não o visito. – Virou-se para Kakashi sorrindo. O coração da jovem batia descompassado, mas ela estava fazendo o melhor para tentar soar natural.

- Ele vai ficar feliz com a sua visita.

- Hai!

E seguiram o resto do percurso em silêncio até o estabelecimento.

- Omago-chan! – O velho Sarutobi esclamou quando viu Jun adentrar no bar, que por sinal, estava completamente vazio, nem moscas haviam.

- Jii-chan! – Jun correu para os braços magros estendidos do velho e o abraçou. Estava com saudades dos abraços calorosos do seu jii-chan. – Estava com saudades!

- Aa... – Concordou. – Eu também! E vejo que... – Sarutobi quebrou o abraço e olhou por sobre o ombro de Jun, encontrando os olhos de Kakashi. – Trouxestes companhia.

- Na verdade... – Kakashi sorriu perante o olhar sabido do velho. – Nós nos encontramos por acaso pouco antes de virar a esquina.

- Hm... – Sarutobi murmurou, não acreditando muito na história. Sabia que Jun era apaixonada por Kakashi, e sabia que Kakashi também tinha sentimentos por Jun, por isso essa história estava lhe cheirando um pouco suspeita.

- É verdade jii-chan! Eu  vim de trêm direto do centro para cá e encontrei o Kakashi quando estava virando na esquina da casa do Ebisu!

- Eu acredito em você Omago-chan. – O velho mostrou o seu sorriso cheio de dentes e voltou para trás do balcão.

- Ano jiji... – Kakashi resmungou. Acreditava em Jun, mas não acreditava nele? Velho desgraçado.

- Hein, jii-chan, será que rola aquele chocolate quente no capricho? – Jun tirou o sobretudo e o cachecol, os deixando em cima da sua típica mesa de canto junto com sua bolsa. A jovem vestia uma calça jeans de cor escura enfiada por dentro da bota própria para neve, que ia até a metade da sua panturrilha, e uma camisa até o punho verde. Que combinava perfeitamente com o tom dos seus olhos.

Kakashi suspirou e também retirou o seu sobretudo e chachecol. Ele estava com uma camisa de botões de manga longa branca e gravata vermelha, uma calça social escura completava o look. Calça essa, que por sinal, estava com a barra toda molhada por causa da neve. Suspirou mais uma vez e se sentou ao lado de Jun no balcão. Observando as suas tão típicas marias-chiquinhas que balançavam conforme ela movimentava a cabeça para falar com o velho.

- Mas é claro que ‘rola’! – Ele fez aspas com os dedos e riu em seguida. Não conseguia acompanhar aquelas gírias jovens. – E você Kakashi? – Se virou para o grisalho, ainda desconfiado se Kakashi e Jun aparecerem juntos era ou não coincidência. – Vai beber alguma coisa?

- O mesmo que a Jun. – Deu de ombros.

- Ok... – Murmurou Sarutobi. – Vou preparar as bebidas... Então Jun... – Se virou para a menina. – Por que você não canta alguma coisa enquanto eu preparo o chocolate-quente? Estou com saudades de escutar a sua música.

- Hai! – Em um pulo Jun pôs-se de pé se aproximando da máquinha. Ela já havia vindo preparada para cantar, por isso tinha uma ficha no bolso trazeiro da sua calça. – Alguma música em especial? – Perguntou para o velho Sarutobi.

- Apenas me alegre com a sua voz, Omago-chan!

Jun assentiu e inseriu a ficha, sendo observada de perto por Kakashi.

Nem parecia que ele conhecia Jun à apenas algumas semanas. Ele sentia como se sempre houvesse conhecido a jovem.

Kakashi não conseguia mais imaginar uma vida onde Jun não estivesse presente, rindo, cantando e corando. Era estranho pensar que isso acabaria em poucos dias.

Suspirou pela milésima vez, deveria tirar esses pensamentos da cabeça, já tinha preocupações demais na sua mente. E ao pensar nas suas preocupações, seu pé esbarrou na placa de ‘vende-se’ que até hoje ele não conseguira colocar na sua antiga casa. Mas ele tinha que se apressar e fazer isso logo, afinal, ele ia embora. Queria ir embora com a consciência tranquila, queria deixar todos os fantasmas do seu passado para trás e devidamente enterrados.

E enquanto estava tendo essa batalha interior, a bela voz de Jun preencheu o lugar, levando todos os seus pensamentos para longe.

Kitto kitto bokutachi wa

(Com certeza, com certeza nós)

Ikiru hodo ni shitte yuku

(Quanto mais sabemos)

Soshite soshite bokutachi wa

(E então, e então nós)

Ikiru hodo ni wasureteku

(Mais vamos esquecendo)

“Ah, que bela canção...” Kakashi pensou. Ele continuava a se surpreender todas as vezes que Jun abria a boca para cantar. Focou a sua atenção na jovem, que de olhos fechados havia se entregue a música. A voz melodiosa ecoando.

Hajimari ga aru mono ni wa

(Coisas que começam)

Itsu no hi ka owari mo aru koto

(Um dia sempre terminam)

Ikitoshi ikeru mono nara

(Se os anos passarem arrumarão)

Sono subete ni

(Tudo isso)

Como a música dizia, as coisas que começam, um dia terminam. E era isso que ele predendia fazer hoje. Pretendia finalmente conseguir por a placa de ‘vende-se’ na na porta da sua antiga casa e virar aquela página da vida. Queria deixar seu passado doloroso para trás e apenas se ater as boas lembraças.

Moshimo kono sekai ga shousha to haisha to no

(Se este mundo de ganhadores e perdedores)

Futatsukiri ni wakareru nara

(Fosse dividido em duas metades)

Aa boku wa haisha de ii

(Ah, eu seria um perdedor)

Itsudatte haisha de itain da

(Porque sempre quis ser um perdedor)

“Ah...” Pensou e fechou os olhos. “Com certeza era um perdedor.” Sorriu com o pensamento. Tudo o que ele havia feito no passado havia resultado em fracaços. Por isso se considerava um perdedor. Um grande e tolo perdedor.

Mamorubeki mono no tameni

(Para nos proteger)

Kyou mo mata nanika wo gisei ni

(Hoje, novamente, temos que nos sacrificar)

Ikitoshi ikeru monotachi

(Os anos passarão e arrumarão)

Sono subete ga

(Tudo isso)

Mas os anos haviam se passado, e em algo ele não havia se tornado um perdedor.

Abriu os olhos e encarou Jun, que ainda de olhos fechados, balançava ao som da música que cantava.

Ele não poderia se tornar um perdedor agora, ele simplesmente não podia se tornar um perdedor, não quando ele tinha o futuro daquela menina nas mãos. Ele a protegeria. A protegeria dele mesmo, de Itachi e de qualquer outro que se atrevesse a lhe ameaçar.

Essa, além do fato de que ele iria para os EUA, era um dos motivos deles não ficarem juntos. Se aquilo caísse na imprensa... Se o fato de que ele tinha um ‘relacionamento’ com alguém menor de idade e que ainda por cima estava sendo produzida por ele caísse na imprensa... Seria uma desgraça para a carreira da jovem que ainda nem havia começado.

Para proteger, temos que sacrificar. A música dizia algo desse tipo também...

Kakashi suspirou e deixou de pensar. Pensar era muito complicado, e sempre que ele tentava pensar em alguma coisa, ele acabava ficando deprimido, por isso limpou a mente e deixou a imagem da menina de marias-chiquinhas que cantava o preencher completamente, apagando todo o mundo ao redor.

Moshimo kono sekai ga shousha to haisha to no

(Se este mundo de perdedores e ganhadores)

Futatsukiri ni wakareru nara

(Fosse dividido em duas metades)

Aa boku wa haisha de ii

(Ah, eu seria um perdedor)

Itsudatte haisha de itain da

(Porque sempre quis ser um perdedor)

Jun sorriu ao cantar essa estrofe.

Jun também se considerava uma perdedora. Mas isso era no passado. Agora ela poderia se considerar uma ganhadora. No período de poucas semanas ela havia se apaixonado, reencotrado um amigo do passado e tido a melhor e maior oportunidade na vida, ser cantora.

Ela não era mais uma perdedora.

Boku wa kimi ni nani wo tsutaerareru darou

(O que eu posso lhe contar?)

Konna chibboke de chiisana boku de shika nai

(Sou apenas uma pequena pessoa, desamparada)

Ima wa kore ijou hanasu no wa yametoku yo

(Isso é tudo o que eu digo agora)

Kotoba wa sou amari ni mo

(Porque às vezes palavras)

Toki ni muryoku dakara.

(São completamente impotentes)

A jovem abriu os olhos e sorriu ao encontrar o olhar de Kakashi sobre si. Sim, com certeza ela não era uma perdedora. Nunca mais estaria desamparada. Ela tinha a Kakashi e ao seu jii-chan a zelar por ela.

E mesmo que Kakashi nunca houvesse dito as palavras, as palavras que ela queria tanto ouvir, ela podia enxergá-las no fundo dos olhos dele. Pois o olhar que ele lançava sobre ela, não deixava dúvidas.

Palavras não eram necessárias.

Sorriu e finalizou a música.

Continua...