Capítulo XXXIV

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Kakashi queria matar Itachi da forma mais lenta e dolorosa possível. Mas respirou fundo e tentou se acalmar, fazer isso não resolveria seus problemas. Na verdade resolveria, mas só traria mais problemas ainda. E pensar que ele havia indicado Itachi para ser o produtor de Jun quando ele não estivesse mais ali... Isso só o deixava mais furioso ainda!

Pisou no acelerador e cortou alguns carros, queria chegar logo na sua sala e quebrar algumas coisas enquanto escutava algum rock pesado. Não tinha melhor coisa do que isso para começar o dia.

Finalmente, depois de mais algumas manobras perigosas, ele chegou ao estacionamento da Yamaha.

Deixou o seu carro e se pôs a andar a passos rápidos para dentro do prédio. Estava um frio cortante ali, principalmente pela grande quantidade de neve que havia nevado na noite passada.

Enquanto ele rumava para o elevador costumeiro, Kakashi, sem querer, esbarrou num alto e jovial senhor já entrando na meia idade.

– Gomen... – Pediu e se agachou para pegar alguns papeis que o homem havia deixando cair quando Kakashi esbarrou nele.

– Sem problemas! – Disse com um forte sotaque britânico e Kakashi levantou o seu rosto para ele.

Os cabelos castanhos claros desse homem estavam começando a ficar grisalhos nas têmporas, e havia linhas de expressão na sua face. Mas fora isso, ele parecia tão jovem e saudável quando Kakashi, que estava chegando aos trinta.

– Perdão novamente... – Kakashi se ergueu e estendeu os papeis, sorrindo.

– Como eu disse, não há nenhum problema!

Kakashi abriu a boca para responder-lhe, mas as palavras travaram na sua garganta quando ele encarou aquele homem nos olhos pela primeira vez.

Aqueles olhos...

Ele conhecia aqueles olhos!

Claro que ele conhecia aqueles olhos.

Ele estava encarando os olhos de Jun.

Balançou a cabeça.

Isso não era possível.

Aqueles ali não podia ser os olhos de Jun, talvez o contrário...

E foi aí que a compreensão lhe deu um tapa na cara.

Jun havia dito que ela era filha de um estrangeiro, não havia dito muito mais do que isso, mas nem precisava. Ele podia apostar que estava encarando os olhos de um parente dela já que olhos verdes eram tão raros, 1% da população os tinha e no Japão, onde predominavam os olhos de tonalidades castanhas.

Com certeza aquele homem tinha alguma relação com Jun.

– E-Eu... – Kakashi gaguejou, um pouco nervoso. Queria conseguir alguma informação daquele homem, mas não sabia como poderia conseguir isso. – Eu realmente sinto muito... – E uma ideia lhe surgiu na mente quando sentiu seu estômago se agitar, reclamando por comida. – Eu poderia lhe pagar um café, como pedido de desculpa? Não quero que fiques com uma má impressão dos japoneses... – Sorriu. Claro que aqui não era verdade, ele pouco se importava com que qualquer um pensava dos japoneses, mas esperava que aquilo surtisse efeito naquele estrangeiro.

–Ah! – Ele pareceu pensar. – Ok, eu vou aceitar o seu convite. Eu sei o quão sérios os japoneses são em relação a pedidos de desculpas e essas coisas... – Disse e riu. Kakashi respirou aliviado, agradecendo aos céus por aquele senhor ter conhecido japoneses tradicionais.

– Então me acompanhe por favor, virando naquele saguão, há uma pequena confeitaria. – Kakashi o guiou pela hall de entrada, seguindo prédio adentro. – Fazia tempo que eu não via um britânico por aqui... – Kakashi comentou, tentando inicar uma conversa e conseguir informações.

– Parece que meu sotaque me denunciou! Haha. – O homem riu. Até a risada dele lhe lembrava a da Jun, e isso era muito bizarro.

– Sim, ele o denunciou completamente. Estive um tempo na Europa, e passei um ótimo tempo na Inglaterra, mas tenho que confesssar que eu preferi a Irlânda. – Kakashi sorriu, mas calmo pela conversa estar fluindo.

– Oh meu jovem! – O homem riu mais uma vez, ele ria bastante se comparado a Kakashi. – Você não é o único que prefere a Irlanda. Possuo uma propriedade lá, e sempre que posso, dou uma escapada haha.

– Queria poder dizer o mesmo... – Eles finalmente haviam chego ao estabelecimento que ficava dentro daquele prédio. Kakashi guiou o estrangeiro pelo pequeno local e se sentaram nos bancos que davam direto para o balcão.

– Me sugere alguma coisa? – Perguntou o homem, observando alguns bolos na vitrine de maneira cobiçosa. – Todos parecem deliciosos!

– Bem... – Kakashi coçou a nuca, um pouco desconcertado. – Eu não podria lhe sugerir nada, pois eu detesto coisas doces. Mas se quiser a sugestão de algo salgado, aí sim, disso eu entendo. Gomen.

– Eu já escutei essa conversa antes... – O homem que estava atrás do balcão, provável proprietário disse, uma jovem ria atrás dele.

– Ohayo Teuchi-san! – Kakashi disse para o senhor de cabelos grisalhos. – Ohayo Ayame-chan! – Cumprimentou a jovem, que havia saído de trás do seu pai e agora sorria para Kakashi e seu acompanhante.

– Já que o Kakashi-san não pode lhe indicar nada... – Disse Ayame, um jovem de cabelos e olhos castanhos, um avental preso ao corpo. – Eu indico!

– Ótimo! – O estrageiro sorriu e bateu palmas. – O que a senhorita poderia me indicar?

– Bem... – Ela pensou. – Esse musse de chocolate está divino! Meu tou-san passou várias horas junto ao fogo até que o chocolate atingisse o ponto ideal! – Teuchi sorriu com isso. – Mas... Eu recomendaria esse pudim de claras! Fui eu mesma quem o fiz com a receita da minha kaa-san. Claro, não quero desbancar o tou-san, mas eu sou muito melhor na preparação de doces do que ele... – Segredou.

–Ayame!

– O quê tou-chan? – A jovem se virou e inocentemente encarou o pai. – Estou apenas respondendo a pergunta do cliente!

– Maa, maa, calma, calma... – Disse Kakashi. Ele conhecia Teuchi e Ayame a muitos anos para saber que logo uma discussão se iniciaria para averiguar quem era melhor na preparação de doces. – Enquanto o meu amigo não se decide, eu vou querer aquela torrada no capricho que só você, Teuchi-san sabe fazer! E um café preto e sem açúcar para acompanhar, por favor.

– Yosh! – O homem concordou. – Ayame, atenta o senhor, onegai shimasu. E nada de falar mal dos meus dotes culinários!

– Hai, otou-san!

– Parece que você vem muito aqui, não é? – O estrangeiro se dirigiu a Kakashi.

– Sim, a uns dez anos mais ou menos...

– Uau! – Se espantou. – Dez anos? Bastante tempo. Ah... Falando em tempo, não vou deixar a Ayame-san esperar por toda uma vida pelo meu pedido. Vou querer uma fatia do seu pudim de claras para comer agora e uma fatia do musse de chocolate do seu pai para a viagem, por favor.

– Alguma bebida para acompanhar? – Ayame podia não dizer nada, mas Kakashi sabia que aquele sorriso no rosto dela era um sorriso vitorioso porque o cliente havia preferido o doce dela ao do seu pai.

– Um chá da sua preferência!

– Ok! – Ayame concordou e foi fazer o chá. – Volto logo.

– Well... – O estrangeiro murmurou, e Kakashi percebeu pela primeira vez que ele ainda não havia se apresentado.

– Que falta de educação minha! Eu não me apresentei. – Disse e estendeu a mão. – Hatake Kakashi desu.

– Campbell Noah. – O homem aceitou a mão de Kakashi e lhe deu um aperto firme. – É um prazer conhecê-lo Hatake-san.

– Ah, por favor! – Kakashi teve um dejà vu. Jun o havia tratado da mesma forma quando o conhecera. – Não me chames assim. Só Kakashi está bom!

– Okay. – Noah sorriu. – Então me trate apenas por Noah, meu caríssimo Kakashi!

Kakashi sorriu. Seria mais fácil falar com esse homem do que ele pensara.

Continua...