A Vida de Uma Garota Nada Popular escrita por Lu Carvalho


Capítulo 24
Viagem a Miami


Notas iniciais do capítulo

heeeeeey gente capt novo!!!!
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O avião já havia pousado quando me dei por conta.

Os demais passageiros estavam se levantando, pegando suas malas e murmurando uns com os outros. Espreguicei-me ao máximo, atingindo sem querer Lauren à minha esquerda.

–EI - esbravejou. - CUIDADO COM OS MOVIMENTOS.

–Pelo jeito a Mari acordou - Matheus, ao meu lado, ao pegar sua bagagem de mão.
Logo levantei, deixando a coluna ereta e evitando qualquer tipo de movimento brusco. Assim como o ato de bocejar, considerando-se o provável bafo grotesco que se encontrava em minha boca.

–Chegamos? -indaguei sem quase abrir a boca e pressionando minhas têmporas, já que estava enjoadíssima de estar no avião.

–Sim - respondeu Matheus, curvando-se em minha direção, e segurando minha única bolsa. - Aqui - jogou-a para mim. - Vamos sair logo daqui.

Sair?

Quase que no mesmo instante eu já estava correndo em direção à saída, atropelando o resto dos passageiros, que praguejavam nomes bem ofensivos. Matheus vinha logo em seguida, murmurando desculpas ao outros.

–FINALMENTE, TERRA FIRME! - gritei, após descer as escadas. Meus joelhos cessaram e acabei por ajoelhar e pender as mãos no asfalto frio. Mas tudo bem. Eu saí do avião!

Matheus soltou algumas risadas sem graça e pousou a mão direita no meu ombro, meio que me escondendo dos que passavam abismados olhando para mim.

–Fadiga de viagem - explicava.

–Podemos ir pro hotel? - levantei bruscamente.

–Calma, - disse, me envolvendo nos braços a fim de que eu caminhasse até um mini ônibus. - ainda temos que pegar as bagagens e assinar alguns papéis para participar da exposição e ligar para casa e...

Atuei minha mão direita como uma arminha e atirei no meu maxilar. Minha vontade de viver era menos dois. A imagem de Thiago no aeroporto estava estagnada em minha mente como um chiclete no sapato. Na minha fantasia de garota sonhadora, Thiago deve ter chorado dirigindo por todo caminho de volta. Sua mãe, que me amava, quando o vira chegar em casa, todo destruído emocionalmente e sujo de lama no tapete da porta - assim como todos os caras ficam nos filmes de Hollywood ao deixar o amor verdadeiro partir- deve ter desabado em choro também, abraçando o filho, que murmurava coisas sobre suicído. Isso, obviamente falando, enquato "Wish you were here" do Pink Floyd tocava no fundo. Entretanto, era muito provável que ele houvesse ido para casa, jogado vídeo game e caído no sono.

O que me entristece, porém dá um alívio melhor.

Matheus suspirou e ficou um tempo sem comentar nada. Entramos no onibus que nos levaria ao aeroporto e nos posicionamos de pé, pela falta de assentos disponíves. Ele ainda estava com o braço por cima de mim. Percebi uma Lauren olhando maliciosamente para mim. Então, resolvi me desvincular, envergonhada.

Carrie McDonson anunciou em seu altofalante colorido e nada espalhafatoso toda a papelada que deveriamos assinar e o endereço do nosso hotel, na Ocean Drive. Disse mais algumas coisas, quais eu não prestara atenção.

Matheus balançou seus cachinhos a fim de que saíssem de sua visão. Porém um cilho seu caiu direto em seu olho direito. Ficou piscando incessantemente. Sendo a boa amiga que sou, aproximei-me, depois de pedir gentilmente para que parasse com aquele pisca-pisca insistivo, e assoprei fronte a seu olho para que o cilho saísse. Sem querer, cuspi nele.

–Eca - disse esganiçado.
Puta merda, pensei. Comecei a tagarelar uns milhões de desculpas, e ele riu. Riu. RIU da minha cara. Mas risada dele era engraçada, tanto sincera. Acabei por rir com ele.

–Desculpa, prometo não cuspir outra vez. - continuo rindo. De novo, assoprei seu olho. Sucesso. -Prontinho. - dei leves tapinhas em seus ombros, pelo menos vinte centímetros maiores que os meus, ainda rindo. E ele também.

–Tem sorte de eu confiar em você.

–Fazer o que, se sou privilegiada.

Rimos mais um pouco. Lauren me fitava maliciosa. Dei três passos para trás. Matheus me olhou com uma sobrancelha levantada.

–Então - totalmente sem graça, dei um soco em seu estomago, que logo presumi que fora meio forte, já que ele fez um ai bem sofrido. Uma risada soou atrás de mim. - Ai, Deus.
O ônibus para e Carrie McDonson nos avisa para que tenhamos cuidado ao sair. Isso, enquanto todos corriam ferozmente direto para a entrada do aeroporto.
Ao sair daquele veículo extremamente apertado e sem ar condicionado, demos de encontro a um pátio super lotado.
Eba. Mais gente.

O curioso dessa multidão era que a maioria estava equipada com algum aparelho fotografico. E vozeavam coisas como juras de amor e boas críticas de arte.

Assim que Carrie tomou a frente do grupo, deixou seu queixo cair por completo.

–Qual o problema com ela? - sussurrei para Matheus.

–Não sei. -disse desatento, com os olhos fixos na multidão. - Mas, agora, faça o que eu disser: Assim que os paparazzis chegarem, apenas ignore e continue and...

–Paparazzis? - intervim.

–Câmeras profissionais. Cara de latino. E insistência irritante. - indicava com a mão. - Papparazzis.

–Pelo seu tom, acha que estão atrás de você. - debochei em desdém. Mas ele continuava sério. - Ah, não. Realmente acha que é por sua causa?!

–Duh. Eu sou o filho do presidente.

Considerei socá-lo por um instante. Mas já passou.

–Não passou pela sua cabeça que talvez estejam aqui por mim? Hello, eu salvei a vida do presidente.

–É... Pouco provável.

Acho que socá-lo não soa uma ideia ruim agora.

Uma garota baixinha correu por nós, praticamente nos atropelando, super animadinha, murmurando um “É hoje Deus, é hoje”. Tive que correr até ela e perguntar o que era tudo isso.

–E-LOREN! - berrou, cuspindo na minha pálpebra. - E-LOREN TA AQUI, AGORA, DE CARNE E OSSO, AO VIVO E A CORES.

–E-LOREN? - berrei. - VOCÊ QUER DIZER O E-LOREN ARTISTA RUIVO E GENIAL?

–SIM!

Virei para Matheus:
–Ha!
E corri direto para a multidão junto da baixinha.

–E-LOREN! - gritávamos. Mas a única coisa que eu ouvia em resposta eram seguranças altos dizendo "Back off!". Isso era inacreditável. Eu estava no mesmo aeroporto que E-Loren! RESPIRANDO O MESMO AR. Agora a probabilidade de encontrarmos-nos estava mais alta do que nunca! EU ESTAVA QUASE INFARTANDO!

Matheus apareceu do meu lado, atordoado. Disse:

–Acabei de falar com um dos seguranças. Ele me disse que E-Loren já saiu do aeroporto há uma hora.

–O que toda essa gente está fazendo aqui então?

–Estão fingindo que ele realmente está aqui, para que ninguém o incomode.

Uma ponta de pura indignação me envolveu:

–Incomode? Os admiradores de seu trabalho o incomodam?

–Olha, eu só te falei o que o segurança me disse...

–Não, não - intervim. - Se é isso o que E-Loren acha, bom, quem sou eu pra contrariar?! - revoltada, saí bruscamente do amontoado de gente. - NEM EU ME INCOMODO TANTO ASSIM A PONTO DE ESCONDER-ME DOS OUTROS, E OLHA QUE EU SALVEI O PRESIDENTE.

Como num ímpeto, todos se calaram e giraram em minha direção.

Vish.

FLASHES, PERGUNTAS ASTONTEANTES, SUOR E CONTATO HUMANO pra cima de Matheus e eu. É verdade que você ganhou milhares de dólares após salvar o presidente? Como é a relação sua para com os outros do governo americano sendo uma dupla espiã?

Carrie McDonson surgiu das trevas e berrou num tom imperador para que todos se afastassem, e que ela precisava trazer seus alunos inteiros e a salvo até o hotel, portanto não queria nenhum babaca nos rondando. Lógico, ninguém a deu ouvidos. Foi então que ela nos pegou pelos pulsos e saiu praguejando furiosamente.

–Todos já estão na van a caminho do hotel, enquanto as duas estrelas aqui atraem jornalistas como ÍMÃS!

–Desculpa? – Matheus disse baixinho.

Carrie o fitou com os olhos pegando fogo.

–Só... só vamos.

***

Nosso hotel era super mega luxuoso. Até fiquei meio sem graça de aparecer num local daqueles com uma cara de zumbi canibal e fedendo a onion rings do Burger King. Isso me fez lembrar-se daquela vez em que meu pai veio nos visitar e, como compensação do longo tempo ausente, nos levou até um restaurante cinco estrelas da Quinta Avenida. Eu tinha uns catorze anos, e estava na minha fase gótica. Minha mãe estava lotada de trabalho, mas fez questão de me levar a uma loja de grife para comprar um vestido lindo. Não entendia o porquê de gastar 200 dólares em um vestido já que a situação lá em casa havia declinado desde que meu pai se mandou. Vim a descobrir apenas mais tarde que o real motivo era mostrar, mesmo que indiretamente, para meu pai que estávamos passando muito bem sem ele.

Tive quase um ataque.

Bruna se aproveitou da situação para ficar com dois vestidos de grife. Inclusive, ela os guarda até hoje, embora não caibam mais. De qualquer jeito, naquela noite, só por birra mesmo, fui vestida completamente de preto enquanto minha irmã parecia a Cachinhos Dourados. Maquiagem excessiva de emo, cabelo escorrido, sobretudo, meia calça rasgada e coturno. Essa era eu. E todos me fitavam abismados. Posso admitir hoje que foi uma péssima ideia dar uma de adolescente rebelde em um lugar tão chique, porém pelo menos eu ganhei vinte pratas de um senhorzinho.

Ah, é. O hotel. Muito chique. E eu, de costume, muito mixa.

A divisão dos quartos foi entre meninos e meninas. O que, sinceramente, me assustou. O único com quem eu possuía amizade era menino. E eu não sou boa em fazer amizades, ou sequer ser social perante outros seres vivos. Ou seja, eu ficaria sozinha.

Outra vez.

Carrie disse para que fossemos a nossos quartos e descansássemos até 12h. E foi o que fizemos.

Nosso quarto era semelhante a um apartamento. Há a área da cozinha, mesa de jantar de vidro escuro, lavanderia, banheiro com uma banheira giiiiiiiiiiiiigantesca e três quartos com quatro camas de solteiro cada. Sem contar os doces super glicogênios colocados em cada travesseiro, ao lado de um pássaro de origami de toalha. Descobri que ficaria no mesmo quarto que Lauren, uma menina loura sardenta e uma negra altíssima. Eu meio que já esperava ficar no mesmo quarto que Lauren, visto que o universo adorava nos colocar juntas num mesmo lugar.

Eram, tipo, seis da manhã quando chegamos. Eu terminara de arrumar minhas coisas ás 7:12. Eu deitei na cama ás 7:20. Olhei no relógio frustrada por não conseguir dormir ás 7:21.

Minha cabeça martelava-se com pensamentos estúpidos. Eu deveria ter trabalhado mais naquele desenho. Eu não deveria ter sido tão idiota com minha irmã. Eu não podia ter deixado minha única chance de ganhar dinheiro pra uma menina super asquerosa. Eu não deveria ter aceitado namorar com Thiago. Minha mãe parece que nunca mais vai voltar pra casa, já que faz semanas que está em Chicago. Eu odeio meu pai. O que aquela carta de Matheus quis dizer?

Precisava tomar um pouco de ar.

Desci no propósito de atingir o hall do hotel, porém terminei por estar na piscina do prédio. Essa piscina olímpica de, no mínimo, 30 metros, estava vazia. Ao seu redor há cadeiras de praia, provavelmente, banhada a ouro. Fui até a borda da piscina para molhar meus pezinhos fedorentos e lá fiquei.

E a sensação foi muito boa, sabe? Ficar sozinha. Sentir que eu podia descansar. Totalmente confortável.

Apesar de meus dedinhos estarem congelando.

Quando cansei de ficar olhando pro nada, decidi ir conversar com o Thiago.

Oi! Cheguei sã e salva :D

Depois de uns dez minutos, respondeu:

Que bom. São 8 da manhã, sabia?

Desculpa se eu queria falar com vc ¬¬

Zuera ♥ Como foi seu voo? Já to com sdds, quando voce volta msm?

Own.

Meu voo foi bom. Um bebe ficou chorando no meu ouvido a viagem inteira e meu coração quase pulou do corpo quando levantamos voo J Eu volto daqui a uma semana, lembra? E Tb to c sdds. N tanta pq meu hotel aqui é maravilhoso. Mas sim, eu to c um pouquinho de sdds

Que bosta. Pelo menos seu hotel é bom :D E vlw por tanto amor comigo. Até chorei aqui.

Idiota :P O q vc ta fazendo?

......... jogando..........

Ignorarei.

Sabe uma coisa inesperada que quase aconteceu hoje?????????????

Voce salvou o presidente????????????

Sorte sua q eu n to ai pra te dar um tapa. N, n foi isso. Eu quase vi o E-Loren!

Ahhh sei aquele artista que voce gosta. Que legal, mari! Mas pq isso quase aconteceu?

Pq, tipo, qndo eu cheguei no aeroporto ele n tava mais lá. MAS se meu voo houvesse chegado com uma hora de antecedência a gente se topava, e ctz q na hora ele ia simpatizar cmg e me chamar pra trabalhar c ele.

Hahahaha com ctz.

Olhei no relógio e conclui que já podia subir. Ainda falando com Thiago, fui em direção ao elevador. Eu não prestava muito atenção ao redor porque eu realmente adorava falar com o Thiago. Sempre adorei! Quando nos conhecemos, no sétimo ano, nem nos falávamos direito. Ele era super amiguinho de infância da Anne, então eu achava que era melhor manter distancia. Até que eu vi que ele era também amigo de Liam. Tentei conversar com ele depois de tal descoberta. Mas ele não sabe disso, então não abra a boca, viu?

Nossa primeira conversa foi um fiasco. Era recreio, acho. Sentei perto dele logo ao partir de seus amigos. Ofereci meu Danone pra ele. Ele disse que era alérgico a lactose. Daí eu perguntei se isso era verdade. E ele disse que não. Mas que achava engraçada a cara das pessoas quando ouviam isso. Depois, eu meio que fiquei calada, porque eu não sabia mais o que dizer. E um silêncio super mega constrangedor imperou dentre nos. Entretanto, depois desse dia, por mais surpreendente que fosse, ele voltou a falar comigo. E, pra ser sincera, não sei quando é que ficou tão natural nossa amizade. Acho que, provavelmente, depois que eu parei de andar com ele a fim de conseguir sei lá o que com o Liam.

E, pensando aqui, não me lembro muito bem porque os dois pararam de andar juntos. Lembro apenas de quando um dia aí ele me perguntou de quem eu gostava. E eu disse a verdade, né. E ele ficou meio bravo, sei lá. Ele foi pra casa, dando a desculpa de dor de cabeça, e ficou uns 3 dias sem falar comigo. E eu tinha ficado totalmente perdida na vida, porque ele era meu único e melhor amigo. Só sei que, quando voltamos a nos falar, ele e o Liam já não jogavam bola juntos.

Apertei o botão do elevador e esperei, ainda falando com Thiago. Chegou. Tirei os olhos da tela do smartphone. Uns caras parrudos de preto saíram. Eles estavam cercando E-Loren, que estava bem ali na minha frente.

Opa.

Pera.


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