A Vida de Uma Garota Nada Popular escrita por Lu Carvalho


Capítulo 21
Pensamentos Pós Arrumação de Mala


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei. Dois meses sem postar. Que vagabunda. Mas uma vagaba que não abandonou vocês e fez um capitulo novinho em folha junto de um trailer saindo do forno!! - ou esfriando, já que faz teeempo que postei no youtube e não divulguei .-.
A boa notícia é que eu amo vocês tanto que obriguei a criatividade entrar na minha cabeça e escrever mais um capitulo, então voilá, mis amores!
TRAILER: http://www.youtube.com/watch?v=gUcpyjlyN-A



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/224626/chapter/21

Ter um irmão, de longe, é uma das melhores coisas do mundo. Enquanto você é filha única, consequentemente, uma hora ou outra se sentirá sozinha. Já quando se tem irmãos, isso não acontece. Eles são obrigados a te amar incondicionalmente até o ultimo suspiro. Assim que verdadeiros irmãos devem se comportar.Por isso me pergunto se Bruna foi adotada.

Amanhã irá fazer três semanas que ela não me olha mais na cara. Nós nunca ficamos sem nos falar por tanto tempo! O nosso máximo foram três dias, mas só por que ela viajou para visitar papai quando tínhamos 13 (quase 14) e 11 anos. Eu sei que é perfeitamente normal e aceitável irmãos brigarem, às vezes até se odiarem, mas esse não é o nosso caso! Qual é? Ela ainda guarda mágoa?!

Se ainda fosse apenas me ignorar, tudo bem, eu não sairia fisicamente prejudicada. Como hoje, por exemplo, em que ela deu descarga enquanto eu estava no banho. Parecia que lava, de tão quente, caía do chuveiro.

Minhas costas ardem até agora.

Bruna também parece estar disposta a não me levar ao aeroporto hoje. Nem se despedir. Ou até nem me emprestar sua mala de viagem (a única grande que temos). Então acho que terei que trazer três malas de viagem pequenas. E morrer com elas. Nem sei se posso trazer tudo isso de mala! Mas isso não é o pior de tudo. O fato das malas. O pior de tudo foi minha oportunidade de emprego cair por água abaixo essa semana.

Eu estava dormindo quando fui chamada para a sala dos diretores. Nossa escola tinha uma diretora e um diretor. Por quê? Deus sabe. Apenas acordei quando Thiago bateu na minha cabeça com um caderno. Cambaleando fui relutante à sala do diretor. O que seria agora? Outro pedido para falar com o presidente? Outra advertência por cometer “atos agressivos com a língua” no meu namorado? Outro sermão sobre começar a levar a sério as matérias da escola? Ou um aviso sobre começar a ser mais social? Praticamente toda a escola era colada em mim agora, “amigos” não eram o que me faltavam.

-Senhorita Sward – levantou da cadeira deixando a mostra sua barriga de chope. – Recebemos as avaliações dos testes vocacionais...

-E eu tirei zero? – o cortei já com uma ótima desculpa formulada na cabeça. Adoeci e naquele dia meu cérebro não estava em condição estável de fazer uma prova. Ou fui abduzida por ETs e quando voltei minha mente foi reprogramada ao alfabeto alienígena.

A diretora, logo atrás, soltou uma gargalhada. Malvada, na minha opinião. Era engraçado como o diretor Deepetor era velho e barrigudo enquanto a diretora Wild loira e jovem.

-Não se tira zero em um teste vocacional – explicou diretor Deepetor. – Mas como eu dizia, recebemos as avaliações e pelo seu perfil de estudante exemplar – Quem? Eu? – uma das opções mais adequadas para você seria como... hmmm... - o senhor de sessenta e poucos forçou um pouco a vista para uma sulfite cor de rosa. -...como... –Astronauta? Artista? Rica? Sei que rica não é profissão, mas não é proibido sonhar. – como... contadora.

O QUÊ?!

Quase pulei da cadeira que estava sentada, mas ela era tão macia e gostosinha que tive dó de deixá-la sem uma bunda para aquecê-la. Eu era absolutamente PÉSSIMA em matemática. Como alguém com MEU perfil pode se tornar contadora?!

-Deve ser algum engano – disse torcendo para que isso fosse verdade. – Eu não posso ser contadora!

Os diretores se entreolharam confusos.

-De acordo com suas respostas essa é a profissão ideal – diretora Wild me estendeu meu teste. – Dê uma olhada.

Rapidamente corri meus olhos para as respostas:

“Quando penso numa profissão, o mais importante para mim é:

Ser um ambiente prazeroso e estável.

Trabalhar em algo que gosto.

Dinheiro.

Se eu tivesse que montar uma empresa hoje, esta empresa seria:

Um ambiente prazeroso e estável.

Algo de que gosto.

Visionada ao lucro

Quando me perguntam sobre minha matéria favorita, sem pensar duas vezes, respondo:

Inglês

Artes

Matemática

Sempre quis ser:

Artista

Professor

Matemático”

Ok. Talvez eu tenha exagerado demais quando fiz o teste. Mas não era para ter resultado em contadora!

-Bom, pode até ser que minha avaliação seja perfeita como contadora, mas isso definitivamente não é o que eu quero.

-Jura? – diretora Wild pegou um papel de sua pasta preta. – Porque eu e o diretor Deepetor achamos que você é uma das melhores alunas dessa escola e merecia uma oportunidade de emprego, ainda mesmo sem fazer a faculdade.

-E é muito bem remunerado – adicionou o diretor Deepetor.

Bom, nesse caso, ser contadora não parece tão ruim.

Será que todo meu esforço valeu mesmo para alguma coisa? Será que perceberam que sou muito melhor do que todos dessa escola? E finalmente, eis minha remuneração?!

No papel qual a diretora me deu mostrava o local de emprego (no Empire State building!), o ambiente de trabalho (um escritório fechado, porém com uma decoração ficaria lindo!), as pessoas felizes falando ao telefone, detalhes sobre a EmpacTell (a empresa do meu possível trabalho) e o salário (com MUITOS zeros nele).

Até arregalei os olhos.

-Nossa! – disse por fim. – Acham mesmo que mereço isso?

Tinha um largo sorriso no rosto.

-Apenas você uma outra aluna nossa tiveram esse exato perfil que a EmpacTell procura – anunciou diretora Wild.

-Uau! – falei surpresa, já certa da minha capacidade. – E o que fizeram vocês me oferecerem o emprego em vez dela? – perguntei esperançosa por um grande elogio. Tá certo que eu não era cem por cento em todas as matérias, mas eu me esforçava sim. Principalmente em artes. Até me entristeceu que meu ramo não era artístico, mas aqueles zeros todos logo compensaram minha tristeza.

-Devido a seu histórico, determinação – começou diretor Deepetor. – carisma, por ter salvado o presidente...

A felicidade dura pouco.

-Opa, opa, opa! – interrompi. Uma onda de vergonha e raiva me invadiu. – Vocês vão me dar um emprego como tratamento especial por ter salvado o presidente? Isso é errado! Com certeza a coitada da outra menina deve ser uma aluna nota dez, que realmente se esforça e é digna desse trabalho, enquanto eu não sou nada disso e ainda assim levo vantagem! Eu já entendi que salvar o presidente foi uma coisa legal e tal, mas não preciso ser remunerada. Não desse jeito. – e com pesar na consciência fiz o que realmente achava certo: - Por mais que me doa dizer não a todos esses zeros...– Olhei determinada aos diretores. – ...Muito obrigada pela oferta, mas eu não vou aceitar.

Segundos intermináveis se passaram em silencio. A porta atrás de mim abriu. Virei a cabeça para checar quem era o inoportuno que entrava sem bater e me deparei com Anne que sorria malignamente.

-Uau. –exclamou a diretora Wild enquanto ainda encarava Anne sem saber o porquê de aquela loura oxigenada estar ali. -Isso foi... hm...

-Burrice – completou a dona do sorriso maligno. – Diga olá a outra contadora, Sward.

Um tremelique tomou conta de mim.

-Quer saber? – retornei a cabeça aos diretores. - Retiro o que eu disse. É completamente justo isso, afinal eu levei um tiro. Mereço dinheiro. Tchau Anne! Vamos aos negócios diretor Deepetor e diretora Wild.

-Não, criança. – disse o insano mental do diretor Deepetor. Qual é? Eu mereço esse emprego! Eu salvei o presidente, será que ele se esqueceu?! Sou muito mais qualificada! – Você tem razão. É errado fazer isso.

-Não, não, não! Não é não! É perfeitamente normal fazer isso! Normal e justo! Os políticos fazem isso o tempo todo!

-Mas, Mari, o que está acontecendo? – perguntou Anne com cara de inocente e ingênua.

Revirei os olhos.

-Anne, estamos resolvendo negócios, será que pode tirar sua bunda daqui?

-Acho que é melhor você voltar para a classe de aula, senhorita Sward.

-Eu não mereço nem fazer um teste antes de vocês me despejarem? – implorei para a diretora Wild.

Os dois trocaram olhares contemplativos – demorados demais pro meu gosto – e disseram que iriam pensar. Mas eu já sabia que tinha posto por água abaixo minha primeira – e provavelmente uma das únicas – oportunidades de emprego. Agradeci educadamente - Tá, valeu. Tchau. – e saí cabisbaixa.

Bom, foi assim que deixei meu emprego para Anne. Espero que quando eu voltar ela já tenha sido despedida. Falando nisso, quando eu voltar, será que minha mãe já estará aqui na cidade? Ontem nos falamos por Skype, e adivinhe, ela disse que encontrou um cara muito interessante. Fiquei muito feliz por ela. Bem rapidinho. Na língua das mães; Estou vendo alguém interessante = Vou demorar mais tempo para voltar. Creio que ela deve estar vendo esse cara há um tempinho. Nas nossas conversas ela sempre parece um pouquinho distante, às vezes dando risadas do nada.

É. Estranho.

Mas isso não importa tanto. Eu deveria estar me preocupando com minha vida amorosa, não a da minha mãe. Por exemplo, o quanto sei que estou magoando Thiago indo viajar. Ai, Deus, isso não deveria ser tão complicado. Não quero que ele pense que não o dou atenção o suficiente ou coisa do tipo. Eu adoro ele. Gosto muito dele. Gosto mesmo. Mas será que ele sabe disso?

Combinamos dele vir até aqui em casa antes de me dar carona, daqui a meia hora. Já até imagino a cerimônia toda que vai ser. “Divirta-se em Miami. Compre presentes para mim. Para de drama, meu Deus. Mas eu não disse nada! Ah, sim. Compre presentes para mim, Mari. Vê se não esquece que tem namorado, viu? Volta logo pra casa. Eu realmente quero presentes. Então você não vai sentir minha falta? É lógico que eu vou, mas... Ei, para com isso. Parar com o que? E blá blá blá blá”. Argh. Não tenho cabeça para isso.

Literalmente, não tenho mais cabeça para isso. Passei as ultimas duas semanas desenhando, desenhando e desenhando para que conseguisse, finalmente, o desenho perfeito. Até agora não consegui. Não tenho ideia! O bloqueio de criatividade nunca me atingiu tão fortemente. Quero tanto, mais tanto, meu desenho naquela exposição que sempre que estou no meio da criação paro e penso que não está bom o suficiente.

E EU NÃO CONSIGO MAIS DORMIR.

Já estava na hora de descer e me encontrar com Thiago. Ou seja, quase hora de viajar! Sair da cidade, faltar na aula, ir à praia... Estou tão ansiosa!

Resolvi fazer apenas uma viagem e trouxe as três malas de uma vez junto comigo. Desci as escadas – tropeçando em meus próprios pés – até que consegui chegar sã e salva na cozinha. Hora de abastecer.

Feliz, comendo um pedaço de pizza de ontem e dançando o quadril sem compromisso, me deparei com um Bruna sentada assustadoramente na poltrona. Quase caí de susto. Ela se levantou, de queixo erguido, e caminhou até mim. Se for possível, acho que suava frio. No duro, ela estava me aterrorizando. Levantou a tela do celular e posicionou-o na minha frente. Depois de se tocar que a tela estava bloqueada me mostrou a foto de um casal gay se beijando. Não entendi bulhufas. Então, meio impaciente, apontou para uma pulseira no pulso do homem que estava se atracando no outro. Continuei sem entender nada até quando reconheci aquela pulseira.

Oh. Deus. Aquela pulseira era de Bruna. Oh Deus. Um presente seu para o Johnny.

O Johnny estava traindo Bruna. Com um homem.

Fiquei sem reação. Nenhuma sequer. Bruna lacrimejava de testa franzida, prestes a desabar. Fiz a primeira coisa que me deu na cabeça; abracei-a. Aí é que meu ombro se transformou em piscina. Ela me segurava muito forte, soluçava muito alto e chorava muito desesperadamente. Dei alguns tapinhas em suas costas e disse pra ela que logo mais riria de tudo isso. Devia ter ficado quieta. Ela saiu bruta do abraço e disse/gritou que isso já estava acontecendo há tempos e estava cansada de esperar a hora da risada. Paralisei. O que mais eu podia dizer? Bateu o pé e disse que traiu, sim, Johnny. Com vários. Apenas para se vingar dele. Disse que não era certo isso, e devia ter pensado melhor antes. “E VOCÊ ACHA QUE EU NÃO SEI?!” foi a ultima coisa que ela me disse antes de subir correndo as escadas e trancar a porta.

Certas coisas não se vêm todo o dia.

Depois desse choque, Thiago logo chegou em casa. Disse para sairmos o mais rápido o possível, já que eu não aguentava mais ficar em casa.  Cientemente, ele me obedeceu e fomos para a estrada até o aeroporto. Ele dirigindo, enquanto eu quase adormecia...

Até que comecei a sonhar. E Matheus é o primeiro quem vejo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comente se ainda gosta da história mesmo depois de dois meses ou recomenda se quer continuação! Brincadeirinha. Amo vocês!