A Vida de Uma Garota Nada Popular escrita por Lu Carvalho


Capítulo 10
Dutos, Baba e Bombinhas!


Notas iniciais do capítulo

Dedicado à Jamile, que me fez fazer esse capt =3 Bjs e espero q gostem!



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Esfreguei as mãos na cara uma ultima vez antes de sair do quarto. Sei que deve ser meio um pecado americano dizer isso que vou dizer agora, porém... é a mais pura verdade; não estou com a mínima vontade de ir à Casa Branca.

Sim. Deve ter sido um choque para você, ou não. Mas, sim, é sério. Não estou com vontade de ficar por três horas em um carro indo de Nova York para Washington. Isso é claro se estivermos a 250 km por hora.

Além do mais, havia minha mãe. Deus, só eu que penso em como ela deve estar morrendo de preocupação? Quando aparecermos para ela de volta há duas possíveis reações que ela poderá ter:

Primeira, nos abraçar e depois preparar biscoitos de comemoração.

Segunda, nos abraçar e depois nos matar.

A segunda opção me parece bem mais provável.

Então, ou eu voltava para minha mãe e vivia mais três meses até meus dezessete anos ou faria um tour (provavelmente chato) pela Casa Branca.

Cautelosamente, fui até a porta do quarto e abri uma frestinha sua para ver se Matheus e Bruna estavam ainda lá. É, eles estavam. Mas apenas fisicamente. Bruna estava teclando no celular igual a uma louca enquanto Matheus estava ouvindo musica e via o vento passar por seu nariz. Nenhum dos dois olhava para a porta semiaberta da garota que se arriscou pelo presidente. Nenhum. Nem mesmo pareciam se importar. Que tipo de preocupação é essa?!

Mas, que isso, beleza. Tudo bem para mim. Eu não precisava dos dois se importando comigo e minha dor. Alias, é bem melhor para mim que nenhum dos dois esteja prestando atenção em mim, na coitada de braço engessado. Porém... Se Thiago estivesse aqui não tiraria os olhos de mim. Nem sairia do quarto. Mas, tuuuuudo bem. Os dois estavam distraídos, não é? Perfeito para meu plano de fuga.

Espere um minuto... Plano de fuga?

Fechei a porta de repente. Eu tinha ideia do que pensei em fazer agora? Pelo jeito, não. Sei lá, eu estou com raiva. Muita raiva. Quando se está com raiva você pensa em coisas como simplesmente fugir do homem que representa sua nação para ir encontrar a mulher que representa a fúria em pessoa.

Mais conhecida como “mamãe”.

É... Eu preciso de um psicólogo.

Peguei minhas coisas (que, na verdade, era apenas meu casaco) e respirei fundo.

Antes que perdesse a coragem, fui. É. Isso mesmo. Eu saí do quarto de hospital para fugir da Casa Branca.

Mas... Não pela porta. É claro. Pelo duto de ventilação.

Pensei que como era pequena não seria um grande problema para eu percorrer o hospital todo até a saída. Mas, PÉÉÉ. Conclusão errada! O duto de ventilação é pequeno demais até para uma formiga, apenas rastejando eu conseguiria me locomover por lá. E, além disso, o irônico do duto de “ventilação” é que não tem muita ventilação por lá. Mas isso não é um (grande) problema, eu posso respirar pela boca.

Eu... acho.

Antes de continuar meu trajeto rumo minha casa para não morrer jovem, tirei uma das janelinhas que havia espalhada pelo duto e dei uma última espiada no corredor onde os dois estavam. Nenhum deles percebeu. Então, em uma medida desesperada, coloquei a cabeça para fora. Nada também.

Consideração; zero.

Voltei ao duto com um longo suspiro. Agora, aqui em um lugar apertado e sem ventilação, percebi como Thiago faz falta. Não sei dizer ao certo, mas quando estou com ele não me sinto tão careta como descrevem. Sinto-me mais ou menos como me senti na Bill Rocks com Matheus, sabe?

Thiago não é uma má pessoa, na verdade, é bom até demais às vezes! Por exemplo, se fosse eu quem fosse convidada para ir a sua casa e o sujeito ainda me pedisse para trazer pizza e Coca é lógico que eu não traria. Ele já trouxe. Uma Coca de 2 litros. Tem que ser muito legal, não é? Sem falar disso, o LP. Deus, e aquele taco da semana passada! E quando estava chovendo e ele me deu seu guarda chuva... E quando me deu um presente por “aniversario de amizade”... E quando levou detenção no meu lugar... E, nossa. Thiago é legal mesmo.

Quando menos me dei conta, não havia mais lugar para onde ir no duto. Por sorte havia uma grade para que eu pudesse sair de lá.

Por sorte ou por azar, sei lá.

Em um movimento ninja, saí rápida e barulhosamente do duto. Consegui cair bem de bunda no chão (acho até que fraturei o quadril). Bem quando minhas nádegas tocaram o chão consegui sentir um choque percorreu por todo meu ser e pareceu por um momento que um flashback da minha vida inteira se passou por meus olhos. Pensei que estrelinhas estivessem rodopiando por minha cabeça, mas então me lembrei de que isso daqui era vida real. Com a visão turva consegui avistar uma porta que parecia ser a porta do céu; o elevador.

Quando ele estava prestes a fechar tentei gritar um “Guarde o elevador para mim!” e uma mão que pareceu vir do além segurou a porta. Levantei pesadamente e, com passos sofridos, consegui chegar ao elevador. Ufa.

-Valeu – disse com minha voz desgastada sem olhar direito a quem havia segurado o elevador.

-De nada, fujona.

Droga. Conheço essa voz.

Levantei cautelosamente o olhar para Matheus, e lancei um sorrisinho sem graça.

-O que você faz aqui?

Minha mãe possivelmente pode me matar se não tiver nenhuma noticia das filhas em menos de algumas horas e, além disso, ninguém se importa comigo, minha voz esganiçada e meu braço ferido. Então, sim, eu estou fugindo. Isso era o que eu gostaria de dizer, mas o que eu disse com minha pouca voz foi...

-Banheiro.

-Conta outra! Você não quer ir para Casa Branca, não é?

Fiquei quieta, afinal eu estava sem voz.

-Não está mesmo com a mínima vontade de ficar por três horas em um carro fechado para Washington.

Abri a boca para dizer não, mas... sim, era mais ou menos isso.

-Eu sabia.

Quando estava pronta para me explicar, ele interrompeu:

-Não. Tudo bem. Eu só vou ter que contar para o meu pai cancelar as limusines que nos levariam até seu jatinho particular que tem uma piscina dentro... Ah! Vou ter que pedir que cancelem o jatinho também.

Uma culpa enorme me consumiu em cheio. Um silêncio mortal se fez enquanto me sentia totalmente envergonhada, provavelmente corada, até quando Matheus começou a rir.

-Brincadeira – falou no meio das risadas. – Só tenho que cancelar a limusine mesmo – outro silêncio começou, então Matheus riu de novo. – Brincadeira.

Ufa, pensei.

-Vamos lá. Quero te mostrar um lugar – disse Matheus, apertando o botão do “Subsolo Um” no elevador.

-Onde? – perguntei com a voz rouca, quase se recuperando.

-Você vai ver...

Oh-oh.

Tudo o que começa com “Você vai ver” nunca acaba muito bem. Igual àquela vez em que o Tio Simon disse-me para esperar no carro, e que ele já voltava da mercearia. Eu havia perguntado “O que você vai trazer, tio?”, e ele respondeu “Você vai ver...”. Foi quando ele assaltou uma loja.

Olhei surpresa para Matheus e mandei:

-Não vai assaltar uma loja, não é?

-Ahn... Não.

-Então, ok.

De repente, o barulhinho do elevador soou, e Matheus pegou em minha mão.

-Bora.

***

Sei que minha mãe me ensinou a nunca pegar carona com estranhos, nunca ir a qualquer lugar com estranhos e muito menos sem saber qual é esse lugar. Acontece que era Matheus, o filho do presidente. Ele não era estranho, e nem irresponsável. Ahn... acho. De qualquer jeito, ele estava me levando de carro para algum lugar, e eu temia que fosse algum lugar de encontro ao presidente, ou de Bruna. Era constrangedor demais para mim, sabe, ir perguntar a ele onde estávamos indo, porque assim eu pareceria assustada e medrosa. E eu não quero que ele pense assim. Embora seja mais ou menos verdade. Havia que encarar esse fato como alguém que tivesse 17 anos, já que daqui a três meses e cinco horas eu vou ter 17! Tinha que treinar desde já.

-Então... – comecei, com minha voz ainda rouca e ruim. – você tem pirulito?

Ele me encarou por alguns segundos, mas depois começou a rir.

E não me respondeu.

Ou seja, nada de pirulitos.

De repente, o carro parou. Momento para entrar em pânico.

-Chegamos - anunciou Matheus, que depois olhou para mim com um sorriso divertido no rosto. Parecia até que ele pensava ser engraçado me ver desesperada. E isso é o que eu chamo de insensibilidade.

Saí do carro e olhei para onde estávamos; Em frente de um prédio. Pensei que poderia ser lá onde encontraríamos o presidente, e lá onde Matheus me deduraria. Eu tinha quase toda certeza do mundo.

É, quase.

-Pronta? – perguntou Matheus, chegando ao meu lado.

Fiz que não com a cabeça. E ele riu. Mas não era para ser engraçado.

Ele cobriu meus olhos com suas duas mãos gigantes, então começou a me levar para dentro do prédio. Como não estava enxergando nada (contra minha vontade) só consegui perceber que pegamos um elevador, e depois de uns dois minutos, subimos um lance de escada. Até quando, em passos cautelosos, Matheus parou de me guiar. Continuava com as mãos nos meus olhos, mas parou de andar. Ouvi o barulho de um molho de chaves soando e, então, latidos. Em seguida, baba por todo meu pé.

Matheus começou a rir e acabou tirando suas mãos de meus olhos para pegar o monstro babento que estava nos meus pés.

-Quero lhe apresentar, meu apartamento – anunciou, todo orgulhoso de si. – E, ah! É claro. O Thor – levantou o Bulldog a minha altura (ou seja, não tão alto) e ele começou a lamber meu nariz. – Parece que ele gostou de você.

Soltei um espirro.

-Oh-oh – fez Matheus. – Chega de Thor, certo?

Bulldog soltou um longo choro, até quando Matheus pegou uma bolinha vermelha e a jogou, em seguida exclamou “Pega a bolinha!” e o cão começou a correr. Caiu algumas vezes, mas mesmo assim correu.

-Heh, que fofo – comentei meio sem graça, com a voz ainda ruim.

-Comprei ele assim que me mudei para cá porque achei ele engraçado. No meio dos filhotes ele era o único que sempre caía. E, babava. Muito. Era hilário. Mas, enfim, bem vinda ao meu A.P!

Dei alguns passos a frente, então assim consegui ver melhor sua sala. E, Deus... que sala. Digna de um filho de presidente que se muda para Nova York. Havia uma teve gigante de LCD grudada na parede, uma vista incrível da Times Square, um sofá verde enorme, mesa de pebolim e uma casinha de cachorro escrito “Aqui jaz Thor, o cão que baba”.

-Que... Uau

-Se você gostou disso, vai curtir esse outro quarto – outra vez, pegou minha mão, e então me trouxe correndo para outro quarto.

Realmente, o outro quarto era melhor. Assim que encontrei inúmeros quadros, nanquins, desenhos, tintas, papeis e mais papéis pensei que amor à primeira vista fosse talvez verdade.

-Oh. Minha. Nossa. – foi tudo o que consegui pronunciar.

Tentava achar a palavra certa para definir tudo o que era fantasticamente maravilhoso naquele quarto, mas parecia que tudo era pouco demais. Entre todos, havia um desenho do Thor com um ursinho de pelúcia rasgado em sua boca que me chamou a atenção. É que era tão engraçado e fofo ao mesmo tempo!

-Sabia que ia gostar – mandou Matheus. – Enquanto te esperava acordar da coma pós-cirurgia fiz um desenho para colocar aqui. Quer ver?

Assenti com a cabeça.

Ele fuçou em sua mochila por um tempinho, até que, de repente, gritou um “Ahá!” e tirou um pedaço de papel de lá. Era eu. Era eu quem ele tinha desenhado. Só que por algum motivo eu estava com o cabelo todo desarrumado, estava esperneando e com queijo na boca... Ah. Não era eu.

-Jenny Lewis. Chamei esse desenho de “O lado sombrio de Sward”.

Tá, pelo menos o nome é meu. Uh... Espere um minuto. Ele colocou meu nome em um de seus desenhos. Meu Deus, ele colocou meu nome em um de seus desenhos. Mas, pfft. E daí? Um de seus desenhos tem meu nome, isso não é nada. Hmm... Na verdade... É meio que uma honra, não é?

Enfim, o desenho estava ótimo.

Abri a boca para dizer que tinha gostado, mas bem na hora minha garganta travou. Sério. Travou geral. Comecei a tossir igual a uma demente e me faltou ar. Matheus ofereceu ajuda, e correu para pegar um copo de água. Não sabia se a água iria ajudar muito, a não ser que fosse um tipo de água milagrosa ou sei lá, mas aceitei do mesmo jeito. O único probleminha é que eu acabei cuspindo a água. É, eu sei. Péssimo. Mas minha situação era pior ainda. Continuava engasgando com a própria saliva, não sei como! Pareceu que Matheus ficou tão preocupado que uma hora disse para esperar um pouco que chamaria uma pessoa para ajudar. Qual foi a primeira pessoa em que pensei? Lógico que o presidente! Então é que minha situação piorou mais. Tentava gritar não, mas ele apenas dizia para eu fazer silêncio e me acalmar. Péssima coisa a se dizer para alguém que não está calmo. Depois voltou correndo e disse que a ajuda chegaria em dois minutos e eu tinha apenas que tentar me recuperar.

Foi então que me lembrei de algo que não se pode esquecer; minha bombinha de ar.

Droga.

-B-bombinha! – disse em meio das tossidas.

-Eu não tenho isso! Mas... Espere! Já sei! – Matheus veio até mim heroicamente e chegou bem próximo de minha boca. – Aprendi que quando há falta de ar tem que se fazer isso, então... lá vamos nós.

Oops.

De repente tudo pareceu ficar mais calmo, como se o tempo desacelerasse em um instante, porque depois tudo aconteceu mais rápido do que quando salvei o presidente. Quando Matheus estava prestes a fazer a respiração boca a boca uma garota loira de uns 17 anos (que carregava uma mala de primeiros socorros) chegou, e paralisou Matheus. Consequentemente a mim.

-V-vamos! – disse Matheus depois de um freeze completo. – Ela perdeu o ar.

A garota veio até mim e, como se já houvesse previsto, tirou da mala uma bombinha. Ufa. Sagrada e milagrosa bombinha!

Depois de um tempo respirando com a bombinha tudo se acalmou. Menos Matheus, é claro.

-Você ta melhor? – perguntava sem parar.

Assentia com a cabeça, mas ele não parecia convencido o suficiente.

-Pelo jeito cheguei bem na hora – disse a garota loura, com um sorrisinho no rosto.

Assenti também.

-Valeu, Jessie – Matheus disse. – Você é a melhor namorada do mundo.

No mesmo momento, acho que perdi a respiração de novo.

O quê?


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