A Princesa E O Alienígena escrita por Beto El


Capítulo 9
Capítulo 8




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Eu o pego pelo colarinho, e seu olhos aterrorizados fazem o meu deleite.

“Não, não!” o filho da puta implorava, mas eu não estava nem aí, quebrava cada ossinho dos braços dele, sem dó alguma... eu queria que ele sentisse muita dor, implorasse para eu matá-lo.

E foi o que aconteceu... a partir de um momento, ele começou a implorar para que eu simplesmente acabasse com aquilo, o matasse.

Minha visão de calor se incendiou e ele virou cinzas, escapando de minhas mãos.

Mas, Clark... o que foi que você conseguiu com isso?

– Unnhh...

Eu acordei, colocando minha mão sobre meu rosto. Mais um maldito pesadelo... até quando essa merda vai acontecer? Me levanto e sento na cama.

– Kal...?

Ao meu lado, uma monumental ruiva acordou. Ela está nua, e instintivamente cobriu seus seios com o fino lençol de um avançado tecido kryptoniano.

– Vá dormir, Shay... não foi nada.

Seu nome? Shayera Hol, uma general do exército thanagariano radicada na Terra, depois de deserdar dali. Nos conhecemos há um ano e meio, quando eu ouvi um ritmo cardíaco diferenciado. Shay também é esperta, ela, não sei como explicar, tem uma espécie de 'sexto sentido' que também captou minha presença por perto, ainda que eu estivesse disfarçado de Clark Kent.

Não preciso explicar o porquê de ela estar na minha cama, certo? Não, ela não é o amor da minha vida ou algo assim. Na verdade, nós conversamos, nos demos, e, numa noite qualquer, rolou um beijo e decidimos manter uma relação de 'amigos com benefícios'.

É bom para nós dois.

Ao contrário das outras humanas, eu posso sentir prazer com Shay, que é mais resistente e forte; com Lois, por exemplo, acredite, eu tinha de fingir ter atingido o orgasmo... Não por não querer fazer nada, mas é que... como vou explicar? Se eu me empolgasse, eu a mataria! Mesmo com Shay eu preciso maneirar.

Shayera começou a massagear minhas costas. Isso é inútil, eu não sinto nada.

– Kal, eu sei que você teve outro pesadelo.

Eu nada respondo.

– Meu amigo querido, você tinha de aprender a desabafar com quem gosta de você...

– Shay, sinceramente, eu não quero aborrecê-la com essas besteiras. Esses problemas são meus.

Minha amiga me olhou com um ar compreensivo e sorriu de leve para mim.

– Kal... quando você achar alguém em quem confie e goste de verdade, tenho certeza de que esses traumas desaparecerão.

Shayera se levantou e vestiu seu uniforme militar thanagariano. Ela se inclinou levemente sobre mim, beijando-me a bochecha.

– Hoje foi ótimo, Kal... vamos repetir depois?

Eu assinto com a cabeça.

– Aproveitando e mudando um pouco a pauta do assunto... acho que há outro como nós neste planeta.

– Como assim? – perguntei, curioso. Pensava que éramos os únicos aliens da Terra.

Shay pegou sua maça com a graça habitual, acoplando-a em seguida às suas costas.

– Dia desses, eu estava a passear na minha identidade civil pelas ruas de Coast City, quando me deparei com aquela mesma sensação que tive quando te vi, Kal. Eu consegui distinguir de quem vinha essa sensação – era um homem alto de cabelos castanhos – mas, quando resolvi segui-lo, ele entrou em um beco e simplesmente desapareceu.

– Será um kryptoniano?

– Não. Um kryptoniano não conseguiria me despistar dessa maneira. Parece que o homem desapareceu no ar... Mas vou continuar pesquisando. Bom, preciso ir.

– Não quer carona, Ave Paraíso? - esse é apelido carinhoso pelo qual eu a chamo.

– Não, preciso exercitar minhas habilidades com as asas e o metal enésimo. Mas obrigada.

– E o emprego que eu consegui para você, está gostando?

Shayera sorriu para mim.

– Pra quem foi general do mais poderoso exército de Thanagar, ser segurança é … como vocês dizem... 'sopa no mel'. Até, Kal.

E assim a minha amiga colorida sai voando pela abertura automática da minha Fortaleza, que volta a ser da Solidão. É bom conversar com alguém de fora do planeta, dá um alento.

Mas... mesmo assim, me sinto só. Shay ainda tem o planeta dela, tem família em Thanagar. Eu, não... sou o último kryptoniano vivo. Em meus ombros, repousa toda a cultura kryptoniana que restou.

É... difícil.

Mas eu aposto que não é sobre isso que você quer ouvir, certo? Quer saber o porquê dos meus pesadelos?

Bom... tudo começou quando eu era moleque, 14 anos, para ser mais exato. Àquela época, eu não sabia que era de outro planeta. Meus poderes ainda não tinham se desenvolvido, também. Eu tinha aproximadamente 1/100 da minha força atual (só conseguia erguer um caminhão, veja só), e, dos meus outros poderes de agora, só era mais resistente e tinha audição apurada, mas mesmo esses poderes eram menos desenvolvidos.

Meus pais me encontraram em algo que eles disseram ser parecido com uma gosma. Nós sempre pensamos que eu fosse um experimento científico russo ou de Cuba, ou talvez um mutante abandonado...

Descobri que era diferente com cinco anos, quando ergui o carro do Papai numa brincadeira.

Depois disso, foi difícil me controlar... lembro-me de ter quebrado uns dois braços de coleguinhas, totalmente sem querer.

Meus poderes foram se desenvolvendo com o passar dos anos.

Mas isso não ajudou a salvar meu pai. Papai morreu quando eu tinha dez anos, de um ataque cardíaco fulminante. Sabíamos do seu problema, e ele até resistiu demais, os prognósticos dos médicos eram de que ele não durasse até os 35, mas ele morreu com 40.

Já Mamãe... sua partida não foi tão calma.

Em uma noite, encontrei-a semi-consciente no meio da floresta, depois de procurá-la por horas... minha maldita superaudição não era tão forte, eu não consegui rastreá-la. Mamãe estava muito ferida, e... não gosto de lembrar isso... mas tinha sido estuprada.

Ela balbuciou algumas poucas palavras, “cuidado”, “olhos vermelhos”... Deduzi que ela estava delirando. Pouco depois, ela morreu.

Eu me lembro claramente da sensação terrível que me tomou, um desespero sem igual percorreu minha espinha, e soltei um grito tão forte que fez os pássaros que estavam abrigados saírem voando.

Não sei se por causa do estresse, ou por pura coincidência, mas pouco depois desse episódio tive toda a revelação da minha origem. É difícil explicar, mas... é como se eu ficasse em transe, e tudo viesse de uma só vez. Agora sei que tudo foi fruto de um implante mental, colocado em minha mente pouco antes de eu ser lançado de Krypton.

De repente, conheci meus verdadeiros pais, Jor-El e Lara, costumes, ciência, enfim, tudo. Foi daí que consegui construir esta Fortaleza da Solidão e toda a tecnologia embutida nela.

Mas eu me ocupei com isso depois.

Depois da revelação do implante, descobri a gama de poderes que eu tinha, e por um acaso, olfato apurado era um deles. E eu me lembrei exatamente do fedor que circundava a região onde eu encontrara minha mãe.

Daí, foi fácil.

Consegui rastrear o maldito e, o que aconteceu foi o que você presenciou no meu pesadelo, que, aliás, tem me assombrado desde a morte da minha mãe.

Mas, devo confessar... em um primeiro momento, me rejubilei. Depois, no entanto, veio um vazio, que, sinceramente, não foi preenchido até agora. Quando chutei o cu daquele Sinestro, pensei que esse vazio seria mandado pro inferno, mas, agora, depois de ter socado alguns super-seres, eu me sinto... vazio de novo.

Me levanto e caminho pela sala, até o monitor principal da Fortaleza.

– Computador, mostre-me imagens de Argo.

Na tela, surgem vídeos de como Argo, minha cidade kryptoniana natal, costumava ser. Homens (sem grande diferença para as pessoas daqui) caminham entre avançados corredores que levavam a população de um lado para o outro. Para quem era abastado, modernos veículos trafegavam por vias milagrosamente sem um pingo de tráfego.

Você deve estar se perguntando “Por que eles precisavam de veículos e corredores?”. Bom, na verdade, fisiologicamente eles eram iguais a mim. Só que alguns detalhes são diferentes: Krypton orbitava um sol vermelho, mais velho do que o da Terra, e também tinha uma gravidade muito maior do que esta. O 'nosso Sol' é mais novo, do espectro amarelo, e ele dá poderes a um kryptoniano. Assim, viro um super-homem aqui.

– Chega. Está bom.

Com um pensamento, meu uniforme azul recobre meu corpo. Não gosto de ficar remexendo no passado desse jeito.

Queria ter alguém com quem conversar sobre perda de pais, talvez o Wayne fosse o indicado, mas o babaca não quer falar comigo...

Um sinal vermelho começou a piscar na tela do monitor. Hum. Problemas na América do Sul, uma briga imensa entre torcedores do Brasil e da Argentina... Engraçado como há rixas entre países... Se você for ver, todos são humanos, não teria o porquê fazer isso.

Mas, resolver alguma coisa até que é legal. Vou dar uns sustos na galera e esquecer por alguns minutos os meus problemas.

– Para o alto e avante!

Sei, é clichê essa frase.

Mas eu ouvi uma criança falando isso outro dia e achei da hora.

Tem alguma coisa contra?


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Notas finais do capítulo

Espero estar ficando bom! Obrigado pelos comentários!



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