Ainda com uma toalha na cabeça, jeans desbotadas e pés descalços, tentava arrumar de forma muito organizada minha zona enquanto jogava as peças para o alto. Onde estava aquela maldita camisa? Os livros já se encontravam em cima da cama desajeitadamente, porém aquilo já me desesperava enquanto o calor proporcionado belo banho quente já se esvaia e o frio me provocava calafrios.

– Samantha! - pude ouvir a voz de Gordon por trás da porta.

– Que? - gritei em resposta

– Abra essa porta, preciso falar com você! - disse ele

Saí saltando para desviar daquela bagunça e fui abrir a porta, Gordon estava parado a minha frente juntamente com Bill e Tom ao seu encalço.

– O que foi dessa vez? - perguntei revirando os olhos.

– Devido a mais um de seus deslizes, teremos que dar a tal festa da qual comentei na mídia. Sinto lhe informar que hoje você não irá a sua faculdade, ficará aqui e ajudará seus irmãos com a organização da festa! - disse Gordon seriamente.

– O que? Como assim? Não vou organizar festa nenhuma! Não vou perder aula por causa de uma festa idiota! - reclamei.

– Samantha, isso não é um pedido... É uma ordem! - falou ele

– O que? - quase gritei - E vocês, não falam nada?

Eles apenas deram de ombros.

– Wow! Que ótimos irmãos eu tenho, um nada e vocês são a mesma coisa, sabiam? - suspirei alto.

– Estamos esperando você no escritório para resolver a lista de convidados, esteja lá em dez minutos! E não se atrase, ou irei vir te buscar pelos cabelos! - falou Gordon retirando-se dali juntamente com Tom.

Bill permanecia me encarando sem pronunciar nada.

– O que é você também? - perguntei irritada - Vai lá atrás deles!

– Sammy, eu... - não o deixei terminar, pois fechei a porta em sua cara, logo em seguida me jogando de cara no travesseiro.

E olha só, quando eu já não preciso mais da blusa, eu a encontro bem embaixo do meu nariz, literalmente! Ainda com o cheiro do perfume que usara anteriormente, não dei bola e vesti a peca de roupa amassada, acabando parcialmente com os meus calafrios. Soltei e penteei meus cabelos negros e rumei sem animo até a porta ao lado da escada no andar de cima. Estava prestes a entrar quando senti o cheiro de pipoca vindo da pequena cozinha da sala de jogos, os G's. Encontrando-os no meio de uma sessão Gust de Star Wars, gentilmente roubei o pote de pipoca de seus braços com um agora animado bom dia. Entrei no escritório compartilhado pelos cinco da casa com meu café da manha extremamente saudável, as mãos meladas e os pés cobertos por uma meia grossa e colorida que destoava com o resto da roupa.

– Bom dia para vocês também - disse irônica enquanto rumava para a cadeira ao lado de Tom e jogava os pés sobre a mesa de mogno.

Gordon poderia ter transformado meus pés em nada além de algo derretido com o olhar que lhes direcionou. Como se não entendesse o recado, passei a examinar as pontas das minhas madeixas até que alguém me dirigisse à palavra.

– Sammy, acho que seria bom se você organizasse maior parte da festa. Você tem um ótimo gosto para decoração e leva mais jeito do que nós três juntos... - falou Bill sorrindo.

– O que? Além de eu ser obrigada a participar disso, serei eu que irei organizar essa festa?! Não, muito obrigada, mas essa eu passo... - respondi - E, aliás, a festa é em comemoração a vocês, então, vocês que se virem!

– Mas Sammy, precisamos de sua ajuda! - pronunciou-se Tom ao meu lado.

– Argh, eu poderia estar fazendo coisas mais construtivas do que isso... Eu mereço! - reclamei jogando minhas mãos para o alto e revirando os olhos, o que fez Bill soltas uma gargalhada. - Tudo bem, eu ajudo nessa festa idiota!

– É sempre com contar com você maninha! - comemorou Bill - Vem cá, me dá um abraço!

– Ok Bill... Sem bajulações ou momentos gay, certo? - falei e ele abaixou os braços fazendo um biquinho fofo - Não, isso não irá funcionar dessa vez!

– Sua chata! Isso sempre funciona! - reclamou ele.

Ignorando a volta à infância do meu irmão, apenas encarei Gordon com deboche e perguntei se o mesmo tinha mais alguma exigência. Ao obter um não como resposta, mandei os garotos irem fazer o trabalho pesado de retirar os móveis desnecessários do andar debaixo enquanto começava as ligações. Posso até reclamar disso algumas vezes, mas o sobrenome Kaulitz em Leipzig realmente facilitava as coisas, talvez pudesse contar com isso no dia em que tivesse que esconder o cadáver de alguém.

Em cerca de duas horas a casa já se encontrava claustrofobicamente cheia, pessoas indo e vindo, montando bares elaborados e decorações exorbitantes escolhidas por minha pessoa. Cansada, chequei a lista de confirmação e a entreguei para o chefe do grupo de homens musculosos e bem vestidos. Três horas para a data de início da balbúrdia... Talvez se eu dormisse apenas quinze minutinhos...

Joguei-me em minha cama apagando logo em seguida, acordei assustada ao ouvir batidas insistentes em minha porta.

– Mas que droga! Querem derrubar a minha porta? - perguntei ao abrir

Era o Bill que me olhava com uma expressão assustada.

– Você ainda não desceu... - disse ele

– Ah não diga?! Pensei que eu estivesse lá embaixo! - notou o meu bom humor quando me acordam né?

– Educada como sempre... Anda, vamos descer logo! A imprensa quer tirar algumas fotos dos trigêmeos. - disse ele

– Sempre a imprensa, sempre a mídia... - reclamei - Já estou indo, agora dá o fora daqui ex-gambá eletrocutado!

Fechei a porta em sua cara, como de costume, e fui me arrumar antes que mais alguém resolvesse vir me encher o saco por causa dessa festa inútil. Conferindo as horas e descobrindo que ainda teria duas horas para me arrumar de forma adequada, apenas vesti um vestido um tanto quanto mais detalhado e coturnos, uma maquiagem menos carregada nos olhos e madeixas... Bem, já desistira de arrumá-las há anos.

Tentando camuflar meu humor pós- fui acordada a força, preguei um sorriso no rosto enquanto me sentia uma boneca a la Coraline. Na sala, dois polos dividiam as entrevistas entre G's e K's, o que sempre me irritava. Lancei um sorriso sincero aos meus irmãos de óculos e cabelos compridos e rumei um pouco contrariada ate o monte de câmeras e cerca de três entrevistadores amontoados.

– Ah! E ai vem a estilosa Samantha! - um homem que aparentava ter cerca de 30 anos saltitou a minha frente.

– Hm. Prazer em conhecê-lo - repuxei os lábios em busca de deixar o sorriso mais sincero, mas logo desisti.

–O prazer é todo meu! - respondeu com um sorriso falso no rosto - Poderia responder a algumas perguntas?

– Claro! - sorri falsamente

– Então, você é a gêmea mais nova... Como seus irmãos lidam com as suas travessuras de adolescente? Eles não ficam preocupados de que lhe aconteça alguma coisa? - perguntou-me.

Mas que droga de pergunta era essa? Travessuras de adolescente?

– Ah, eles nem ligam tanto assim... Já se acostumaram com isso! - respondi

– Bom, você sabe que toda a sua ação se reflete na carreira dos garotos. Você não se preocupa com isso, digo, de manchar a imagem deles? - indagou.

Minha vontade era de pegar aquele microfone e lhe dar uma boa surra, para o meu alívio ouvi a voz de Georg me chamar.

– Com licença, tenho que ir agora! - saí o mais rápido possível caminhando até onde os G's se encontravam.

– Obrigada Ge, você me salvou de ter que bater naquele cara... Mas por que diabos foram convidar a imprensa?! - falei indignada - Essa festa já está me dando nos nervos, e olha que eu não estou aqui não faz nem 15 minutos!

– Haá, essa é a minha maninha delicada... - ele gargalhou antes de me girar pela cintura.

Das profundezas do lago Ness, uma mulher com vestimentas extremamente coloridas caminho sorridente até nós.

– Olá, meu nome é Soraya, me desculpem pelo incômodo, mas... Gostaria de fazer uma matéria diferente e acho que acabei de encontrá-la. - seu sorriso gigantesco se alargou, de forma que o reflexo dos seus dentes extremamente brancos me cegou.

Não vendo problemas, apenas assenti com a cabeça enquanto apoiava a mesma no tórax de Ge.

– Bom Georg, sabemos que você vem namorando há muito tempo e que nunca é flagrado com ela, mesmo afirmando ter uma relação estável... - ela suspirou pesadamente - Algumas fanfics em sites famosos têm como principais assuntos isso, sua namorada enfim se revelando ser Sam.

Engasguei com a minha própria saliva ao ouvir aquilo. Eu e Georg?

– Como fã da banda e leitora dessas fanfics, gostaria de saber se há ou existiria alguma coisa além de amizade entre vocês dois. Amor, quero dizer. - ela pareceu ser sincera e realmente nervosa.

– Mas é claro que não! Nossa relação é apenas de amizade, nada mais além. Até porque o considero como meu irmão! - respondi entre risos.

– Exatamente! E mesmo se nós pudéssemos ter alguma coisa além de amizade, tenho certeza que Bill e Tom me matariam antes mesmo de pedi-la em namoro! - brincou Georg e eu caí na gargalhada

– Obrigada, era o que eu precisava saber! Desculpa o incômodo! - falou um pouco nervosa.

– Imagina... Não foi incômodo nenhum, pelo menos você não é como os outros... - comentei e ela sorriu.

– Muito obrigada mesmo! Até mais! - disse ela logo se retirando dali.

– Agora eu estou imaginando aqui... Vocês namorando seria hilário! E suas brigas com certeza seria por produtos de cabelo... - falou Gustav gargalhando, recebendo um tapa na cabeça de Georg logo em seguida.

– Cala a boca mané! - disse a ele - E as brigas com sua namorada com certeza é por chocolate, coitada dela... Tenho pena até!

– Idiota! - resmungou Gustav.

– Fofo. - respondi lhe apertando as bochechas da forma que sabia que ele odiava.

Sem nada mais a acrescentar, subi as escadas rapidamente e em algumas horas já estava pronta e o recinto lotado. Com meus irmãos em seus respectivos grupinhos, sai em busca do bar antes que aquilo me enjoasse. Minha bebida esta prestes a chegar aos meus lábios quando lhes foi arrancada por Tom.

– Samantha! Você é nova demais pra beber whisky! - exclamou virando o copo garganta abaixo.

– SOMOS GÊMEOS, PANACA! - gritei

– Mas você é uma garota! – retrucou ele

– E o que infernos isso tem haver? Seu moreno falso! – perguntei indignada

– Que garotos podem fazer o que querem e ninguém vai se importar. Uma garota não, ela tem que ser meiga e comportada! – falou ele calmamente

– Ah, claro! Porque as vadias que você pega se encaixam nessa sua descrição. Novidade, você confundiu a irmã. - ironizei

– A discussão é sobre você, e não sobre... Sobre... Eh... Elas. – disse confuso

– Ah, sério? Então eu sou a única que deve ser perfeita, a que nunca pode cometer erros? Isso é a mesma coisa que não viver! - explodi

– Você tem noção de que pode acabar denegrindo a nossa imagem com essas suas farrinhas? – disse ele

– Ah, então na verdade o que você se preocupa mesmo é com a sua fama? Ótimo, obrigada por ser um ótimo irmão e apenas se preocupar com a sua imagem pública! – falei por fim

Peguei uma batida na bandeja de um barman que passava por ali e saí pisando duro. Tom fez menção de me seguir, mas parou no mesmo instante em que lhe mostrei o meu dedo do meio. Avistei Bill vindo em minha direção com um sorriso no rosto, só espero que ele não me passe sermão também.

–O que é? Veio me policiar também para ver se eu não estou acabando com a imagem dos perfeitos gêmeos Kaulitz e de sua banda extremamente famosa? – falei irônica

– Sammy, Tom está estressado com a festa, dê um desconto. - ele sorriu com carinho. - E me dê um golinho. - virou o copo e acabou com metade do líquido.

– Ei! Isso é algum jeito disfarçado de roubar minha bebida, sua lombriga? Já não roubou minha altura o suficiente? – perguntei

– Não, é apenas um jeito mais educado de prevenir que você futuramente tenha um sério problema no fígado! – disse calmo

– Ah, ok. Fala de mim e você além de ter um futuro problema no fígado, terá um no pulmão também! – falei séria

– Eu não fumo tanto assim! - disse

– Não, apenas parece uma chaminé com quase dois metros de altura! - ironizei

– Ah sim, senhorita chamariz! - retrucou

– Oh Bill, me poupe desse papinho e o reserve para as suas fãs babonas. – falei já começando a me irritar

– Me desculpe se tenho sentimentos. Há quanto tempo não namora mesmo? – perguntou-me

– Ah Chaminé, me poupe! Você fala tanto em encontrar a garota perfeita que não a procura mais! O que tem demais em eu tentar? - perguntei

– Mas isso não significa que para encontrá-lo você tenha que sair por aí ficando com todos os que aparecem na sua frente! – falou sério

– Eu só quero aproveitar a vida, o que tem de mais nisso? Antes ser do jeito que eu sou, do que estar há mais de três anos sem saber o que é beijar!

– Aproveitar a vida? O Tom é uma coisa, mas você está começando a ficar falada! Acha que quero isso a minha irmãzinha? – disse ele

– Eu também canso, seu retardado! Acha que eu não quero alguém que me entenda?! - meu berro saiu choroso e tento disfarçar pigarreando - Como se você se importasse realmente, vocês só sabem me julgar, não me deixam ser quem eu realmente sou. Sempre querendo que eu seja perfeita, e para quê? Simples, não afetar a imagem do Tokio Hotel!

– I-Isso não é verdade.

– Não? Claro que não! -soltei o sarcasmo angustiado que embolava minha garganta- Diga a verdade Bill, seja verdadeiro pelo menos uma vez! Seria muito mais fácil se eu não tivesse nascido não é? Pelo menos você ficaria livre desse fardo, porque eu tenho certeza que é assim que vocês me veem!

–Não! Pare com esse drama, algum fotógrafo pode estar olhando... Vá para o seu quarto Samantha!

– Tá vendo só? Eu odeio vocês, eu odeio essa vida cercada por câmeras! Se eu pudesse escolher não ter vocês como irmãos, pode ter certeza que eu escolheria! Eu ainda me pergunto por que eu não sou irmã do Gus ou do Ge... Parece que eu só estou nesse mundo para sofrer e nada mais! – explodi de uma vez - Sinto pena deles, em terem de aturar suas crises de astros! Eles sim são meus irmãos de verdade! Família a gente escolhe! E já pensei que apenas Simone e Gordon me incomodavam, mas nos últimos dias...

– Tudo gira em torno de você, não é Samantha? Não importa o que seus atos podem trazer de mal para os outros. Já chega! Acabou a festa para você, suba para o seu quarto! – falou ele com uma expressão irritada

– Você não manda em mim Bill Kaulitz! Eu não sou mais nenhuma criança! E você não é meu pai! – retruquei

– Não? Então comece a se comportar como uma adulta e te tratarei como merece! – disse ele

Eu já não aguentava todo aquele discurso tão hipócrita e acabei me descontrolando. Dei-lhe um soco no rosto e ele me olhou incrédulo, quando fez menção de reclamar comigo, o cortei dizendo:

– Você é um idiota hipócrita, mal acaba de me pedir desculpas por ter agido daquela forma comigo e já está cometendo o mesmo erro novamente. Só não se esqueça de uma coisa Bill, quando você perceber a burrice que fez, já poderá ser tarde demais e não haver mais volta! – falei em um tom descontrolado

Ele pareceu ficar nervoso e ao mesmo tempo com um certo medo no olhar, mas que se dane! Eu não sou nenhuma idiota, retardada para ele cometer seus erros e depois vir pedir desculpas e assim ficar tudo bem entre a gente como se nada tivesse acontecido.

– Sammy, eu acabei me d... - o interrompi novamente

– Cale a boca! Não acha que agora é um pouco tarde para pedir desculpas não?! Poupe a sua voz para suas entrevistas idiotas para a mídia, ela sim de acordo com você, merece a sua atenção! - explodi - E nem pense em vir atrás de mim, eu posso parecer frágil, mas da próxima vez eu não vou poupar esforços de arrebentar essa sua cara de porcelana!

Peguei outra bebida com o barman e saí caminhando em direção à porta de saída. Eu queria apenas sair daquele inferno, esquecer dessa minha vida de mentiras, de câmeras e tudo o mais, eu apenas queria esquecer de tudo, se possível até me esquecer de quem eu sou.