Acordei com o barulho de algo se espatifando sobre o chão do andar de baixo. Suspirei após olhar os números vermelhos no criado mudo ao lado da cama viúva gorda em que me acolhia de forma desajeitada. 08h00min teria cerca de duas horas até ter de me arrumar para a faculdade, mas nunca conseguia reembarcar no sono e já não me recordava do que estava sonhando anteriormente.

Levantei como uma preguiça e me espreguicei ainda de olhos fechados, talvez para evitar a visão do caos com o qual não havia me preocupado na noite passada, mas agora teria que ser limpo se eu tivesse alguma esperança de achar meu material e uma roupa não amassada. Droga, abri os olhos. Ouvi mais alguma coisa se espatifando e desci as escadas apressada, finalmente acordada.

– Tom, sua besta, um prato já não é o suficiente?- a voz de Georg soou risonha vinda da cozinha.

– Bom dia. - murmurei sem ânimo, olhando em todos os rostos menos o de Bill. - Tom! Mas que droga você está fazendo? - indaguei com as sobrancelhas erguidas diante de sua proeza.

Com um prato de plástico na mão direita, Trancinhas recolhia os cacos de porcelana no chão com tédio evidente no rosto. Calado.

– O senhor bonzão resolveu fazer malabarismo com os pratos e acabou os quebrando. Duas vezes. - Gust riu e fez sinal para que me sentasse na cadeira ao seu lado.

Analisei o caminho cheio de pequenos cacos até Gustav e então meu olhar baixou para meus pés desnudos, não iria dar certo. Hm. Em meio à cozinha branca, um balcão se posicionava ao meio, um armário perto da porta e os eletrodomésticos logo à frente, um caminho entre as cadeiras me levaria até a que eu queria me sentar, longe de Bill. Minha tentativa que eu julgava que eu a executaria perfeitamente, saiu totalmente ao contrário. Desequilibrei-me e se não fosse pelo Georg que estava perto, eu teria levado uma queda daquelas...

– Mas o que diabos você estava tentando fazer Sammy? Estava tentando se matar por algum acaso? - perguntou ele pondo-me no chão ao lado da cadeira que eu queria sentar

– Não exatamente, você acha se eu estivesse tentando me matar eu iria fazer isso? Com tantos outros meios mais eficazes de morrer, você acha mesmo que eu iria fazer isso? - perguntei arqueando uma sobrancelha - Me poupe Ge. - disse pulando mais uma cadeira e me sentando ao lago de Gust, que me abrigou em seus braços logo em seguida. O abraço dele era quente, e o sono voltava a me atacar, de forma que minhas pestanas logo começaram a tombar. Estava quase aceitando a viagem de vassoura com Ron Weasley quando algum ser primitivo me chacoalhou de forma brusca.

– Acorda Samantha! Acabou de acordar e já estava quase enfiando a cara no prato! - brincou Tom.

– Obrigada Tom, por me fazer realmente enfiar a cara no meu prato! Idiota! - sim, eu me assustei quando Tom falou e fui chacoalhada, o que resultou em meu rosto dentro do prato, minha sorte havia sido que ainda não havia comida nenhuma ali.

Todos ao redor estavam rindo de mim, inclusive Bill, que ate então estava calado.

– Já que esta com tanta fome maninha, quer algo pra comer?- ele perguntou de forma meiga. Estranho.

– Na verdade sim. - cantarolei ignorando minha vontade de erguer o dedo em sua direção.

– Ótimo! Eu vou querer um ovo frito ok? - sua voz passou a um tom mandão e ele fechou a expressão. - Os ovos estão na geladeira, e todo o resto que você vai precisar para fritá-lo esta ali sobre o balcão. - ele deu de ombros.

Iria comeara xingá-lo quando a ideia surgiu:

– Claro Tommy, mas estou descalça e você é o pior faxineiro da Terra, então poderia me trazer alguma coisa para calçar

– Ok. - ele saiu correndo, feliz e sem desconfiar do fato de eu aceitar seu pedido de café da manha gorduroso.

Ri pensando em como ele iria achar algo em meio à bagunça do meu quarto, porém ele logo chegou com minhas pantufas de pata de jacaré de pelúcia. Quando as mesmas foram entregues em minhas mãos, bati a sola dura contra sua cabeça.

– Ai pirralha, isso dói! Só por isso terá que preparar meu café da manhã de amanhã também!- retrucou ele.

– Não vou preparar nada! O Gust prepara para nós! - balbuciei indignada.

– Eu? Estou fora! O Georg prepara! Ele tem mais dotes culinários! - gritou Gustav.

– Como? Eu não, meu cabelo vai ficar cheirando a óleo frito!- disse Georg - o Bill prepara e esta decidido!

– Não, por favor! Eu não quero morrer envenenado, sou muito jovem para isso e há mulheres a minha espera! - nem preciso dizer quem soltou essa pérola não é?

– Nem eu! Bem capaz de eu me entalar com um lápis de olho enquanto como os ovos fritos! - ironizei e cai na gargalhada, sendo seguida pelo restante menos o Bill, óbvio.

– Parem com isso! Ninguém irá morrer envenenado ou engasgado com um lápis de olho! Para informação de vocês, eu cozinho muito bem! - retrucou Bill furioso, de modo que podia ver a fumaça saindo de suas orelhas.

– Claro que cozinha Bill... Quando a água do seu miojo não borbulha... Agora você já pode acordar ok? - brinquei e todos riram menos Bill mais uma vez.

– Vocês vão ver seus invejosos... Eu sou o melhor chef de cozinha que vocês já conheceram! Depois que experimentarem da minha especialidade, vão implorar por mais!

– Você tem uma especialidade? - Georg se espantou.

– T-Teenho! - ele empinou o nariz e caminhou ate o balcão, logo vestindo o avental que tinha ganhado no Hormiguero e se enfiando na geladeira em busca de ingredientes.

– Então Bill, mostra aí suas habilidades culinárias pra gente! - brincou Georg.

Bill virou-se para o fogão e foi pegando alguns ingredientes. Eu só queria ver no que isso iria dar... Espero que ele não exploda nada pelo menos.

Depois de sermos expulsos da cozinha, ficamos os quatro nos debatendo enquanto nos dividíamos entre olhar pela fechadura e pressionar o ouvido contra a porta de vidro. Depois de alguns barulhos preocupantes de metais, a porta foi aberta e eu caí em cima de Tom, que caiu em cima de Georg, que caiu em cima do Gust.

– Ah rá! Peguei vocês! Bonito isso, espiando pela fechadura hein?! - Bill disse colocando as mãos em sua cintura fina

Nos levantamos e eu empurrei todos para trás, seguindo para o cheiro inacreditável de panquecas e...Parando no meio do caminho com um grito que mais pareceu um rosnado. Os cacos de vidro porcelana não tinham sido devidamente varridos por Tom, como suspeitava.

– Tom! Seu filho da... Fruta! Se você trabalhasse como faxineiro iria morrer de fome e ir morar debaixo da ponte! - resmunguei

O sangue escorria por meu pé e eu tinha a impressão que haviam jogado pimenta no meu corte, pois estava ardendo muito.

– Seu irresponsável! Por que diabos não varreu esse chão direito? - perguntou Bill - Vem Sammy, vamos cuidar disso antes que infeccione...

Iria começar a argumentar, mas fui literalmente carregada até a bancada da cozinha enquanto os garotos iam procurar a caixa de primeiros socorros. Depois de um silêncio desconfortável, Ge chegou com a pequena caixa branca de plástico e Bill a abriu com certo receio. Meu irmão chapinhado resolveu me abandonar com a desculpa de que precisava avisar Gustav para encerrar a procura e novamente me encontrei sozinha com a vara de cutucar estrela. Quando uma gase era finalmente pressionada contra a sola do meu pé, o silencio foi quebrado:

– Sammy, eu... Por favor, me perdoe pela minha atitude de ontem e pelo tapa no seu rosto. Eu bem que mereci aquele soco... - falou ele sorrindo de canto.

– Bill... O que você fez ontem foi horrível... Sei que falei todas aquelas coisas, mas... Simplesmente não da para colocá-las em prática. Você é meu irmão e mesmo que eu queira ficar longe de você, sempre haverá algo nos ligando um ao outro.