Capítulo 31 - Luke Barton

Às vezes James faz força para ser um imbecil. Além de ser cabeça dura, o garoto é perito em desaparecer por um longo período de tempo.

Ninguém mais o viu desde ontem com seu ciúme em cima de Eldred e Erika, o que não me deu escolha senão ficar com os mesmos, preso numa das salas de reunião juntamente com Lady Sif, Banner, Einstein II e claro, a Ruiva.

– Os muros estão cada vez mais fracos. – Lady Sif declara, a preocupação tomando conta tanto de sua voz quanto de suas feições. – Não iremos resistir por muito mais tempo.

– Alguma estimativa? – Howard pergunta. – Até que o muro ceda?

– Uma semana – Eldred responde, uma vez que Sif parece não ter mais cabeça para a discussão. – Talvez menos – ele aponta para uma visão limitada dos muros que temos pela janela. – Somos poucos contra uma ameaça que com certeza está além da nossa força. Seremos massacrados facilmente.

– Mais um motivo para acharmos nossos pais o mais rápido possível. – Mayday fala. – Tenho certeza que eles ajudarão a manter o muro em pé.

– Um ataque aqui é questão de tempo. – Eu me manifesto do meu lugar na mesa, que é o mais longe possível que encontrei de Eldred e Lady Sif. – Não há como impedir uma vez que o inimigo já está aqui batendo na porta.

– Luke! – Erika me repreende.

– Mas é a verdade, Erika! – Retruco, sem me importar com seu olhar raivoso. – Temos que ser realistas, Asgard será atacada.

– Você tem razão. – Eldred concorda comigo. Mas é claro que eu tenho. – O que nos resta agora é nos preparar para a guerra... De novo.

– Vamos ajudá-los. – Einstein promete. – Assim como nossos pais.

– Se eles não estiverem mortos. – Sussurro, no entanto, não baixo o bastante para passar despercebido por Mayday.

–Qual o seu problema, garoto? – Ela questiona, tão brava quanto Erika. – Por que está sendo tão pessimista?

Reviro os olhos.

– Não é pessimismo, ruiva – digo-lhe. – Estou apenas sendo realista.

– E chato.

– Uma pena que te incomodo – devolvo enquanto me levanto da cadeira. – Eu não sei vocês, mas eu já acordei para a realidade. Nossos pais morreram! – Eu berro e saio da sala batendo meus pés e ignorando as apelações de Howard e Eldred para que eu voltasse.

– “Você está sendo chato, Luke.” – Resmungo comigo mesmo o que a Ruiva havia me dito. – Quem se importa com a sua opinião, Mayday?

Sigo em direções aleatórias até me deparar com uma varanda gigantesca. Rapidamente me dirijo ao local e fecho as portas, agora somos apenas eu e Asgard. Sem muito interesse, volto meus olhos para a movimentação abaixo de onde estou, tudo está tranquilo, as criaturas daqui, que agora estão parecendo formigas, andam normalmente enquanto o seu velho inimigo tenta novamente tomar sua amada terra.

– Qual o problema dessa gente? – Eu me pergunto. – Será que os deuses podem ser tão estúpidos quanto os seres humanos?

É fazendo-me esse questionamento que percebo o quanto eu sinto falta de casa. Estou aqui há apenas três dias e quero mais do que tudo voltar para a Terra, voltar para Nova York, voltar para a SHIELD e querer dar uma surra em Nick Fury e Maria Hill por terem permitido que meu pai viesse pra cá, sabendo que não ele não tinha chances contra uma ameaça espacial.

– Não acredito que você possa estar morto agora. – Falo com as estrelas que compõem o céu de Asgard. Quem sabe meu pai não está junto delas nesse instante, me olhando, implorando silenciosamente por ajuda? – Eu juro que vou te dar um soco se eu tiver vindo pra cá à toa.

De repente, sinto algo rolar por minha bochecha. Quando a toco, retiro uma gotícula de água que acabou de sair dos meus olhos.

– Você pode ser durão por fora, Luke, mas sei que está sofrendo por dentro. – Uma voz vinda detrás de mim se manifesta.

Quando me viro para encontrar sua dona, dou de cara com uma menina de mais ou menos treze anos de idade. Têm cabelos marrons longos e encaracolados, seus olhos são de um azul incomum, assim como a sua pele violeta. Eu até poderia achá-la bonitinha se não fosse por suas vestes negras e um tanto macabras para alguém de sua idade. A garota me encara com certo interesse em suas feições infantis.

– Quem é você? – Pergunto-lhe. – Como entrou aqui?

– Pela porta. – Ela dá de ombros, apontando para a porta semicerrada.

Luke, você é um idiota.

– Meu nome é Geirahod, sou uma das Valquírias servas de Odin.

Continuo observando a garota Geirahod, esperando que ela me contasse mais, mas como ela não o faz, decido eu mesmo arrancar informações.

– E onde está o seu senhor agora? – Indago. Odeio estar em desvantagem quando o requisito é o conhecimento do seu interlocutor.

Geirahod senta-se defronte a mim no peitoral da sacada, como se quisesse se sentir mais alta e superior para falar comigo.

– Não está em Asgard.

– Obrigado por me falar o óbvio.

Ela não parece se importar com minha resposta atravessada.

– Não perca as esperanças, Luke, seu pai ainda vive.

Sinto meu coração vacilar com suas palavras.

– O que foi que você disse?

– Que seu pai está vivo.

– Como pode saber disso?

Geirahod não me responde de prontidão, apenas me observa com seus pequenos olhos chamativos.

– Sei de muitas coisas, entretanto, não, eu não sei onde eles estão. – Uma nova pausa de dez segundos surge. – Eu não vim aqui para falar disso com você, vim aqui alertá-lo sobre o seu destino, Luke.

Desvio minha atenção da garota e volto a observar o movimento de Asgard.

– Desculpe, queridinha, mas “Luke” e “destino” nunca se encontram na mesma frase.

A garotinha me dá um sorriso sem qualquer emoção.

– Deveria acreditar em destino, pois eu sei exatamente qual é o seu, Luke Barton. E você está marcado.

Não me dou ao trabalho de virar minha cabeça para olhá-la, apenas observo Geirahod de soslaio.

– Fui marcado? Isso é para ser algo bom?

– Não.

Respiro fundo.

– Se é ruim, então deve ter uma maneira de me ‘desmarcar’. É por isso que está aqui?

Geirahod sacode a cabeça.

– Lamento, mas quando se é marcado, não há como reverter.

Respiro fundo novamente. Eu estou começando a ficar de saco cheio dessa garota.

– Mesmo eu mudando o meu destino?

– Você não fará isso.

– E posso saber por quê?

– Primeiramente porque não se muda o próprio destino, você apenas irá atingi-lo com um caminho novo. – Geirahod pousa uma de suas mãos em meu ombro. – Segundo, pois se fizer isso, você nunca irá achar o seu pai.

Observo suas feições com cuidado.

– Você não gosta de esboçar muitas emoções, não?

A pequena não responde a minha pergunta, apenas desvia os olhos para o horizonte, onde a Lua está juntamente com a Ponte Arco-Íris, formando uma daquelas imagens que você acha no Google quando digita “arco íris, universo”. Não, eu nunca fiz isso, apenas reza a lenda de que isso acontece.

– Nos veremos em breve, Luke. – Ela se aproxima de mim, fazendo meu coração acelerar. – Mais cedo do que imagina.

E eu acordo. Estou completamente empapado pelo meu suor ao mesmo tempo em que meu corpo treme por estar largado no chão frio do castelo juntamente com o vento congelante da sacada me acariciando com suas invisíveis mãos.

Argh, que dor de cabeça!

– Barton! – Escuto a voz de James me chama e rapidamente sinto seu toque em meus ombros. – Você está bem?

– Conhece ele? – Uma voz feminina desconhecida pergunta a Rogers, que acena positivamente para o lugar onde uma mulher loira do estilo “Barbie” se encontra. – É melhor levá-lo a um lugar mais quente, ele parece estar congelando.

– Venha, Luke, vamos tirar você daqui. – James me ergue do chão e coloca um dos meus braços em volta de seu pescoço. – Céus, Barton, você está gelado!

Será que foi tudo um sonho? Não creio, era tudo tão real, tão... Absurdo.

Geirahod disse que eu havia sido marcado.

Marcado pra quê?