Capítulo 27 - Erika Foster

O garoto misterioso que salvou James nos conduziu até uma biblioteca particular. Assim que entramos, pude sentir a diferença de temperatura, enquanto ao lado de fora faz uma temperatura agradável, dentro parece mais um congelador de tão frio. Abraço-me numa tentativa de manter-me aquecida enquanto observo os livros. São centenas de exemplares de diversos tamanhos e cores. Fico encantada com o que vejo, quem diria que até mesmo os deuses, com todo o seu poder e status, param um pouco para ler um bom livro.

– Vejo que você e seu amigo gostam do que veem. – o garoto sorri enquanto inclina a cabeça em direção a Howard, que está quase babando na imensa coleção que se encontra nas estantes.

Eu rio.

– Amamos ler. E você tem uma bela coleção aqui.

O garoto me estuda com seus olhos interesseiros, fazendo-me corar.

– Mas nós não. – Thomas nos interrompe e imediatamente recupera a atenção do garoto para si. – Que tal ir ao que interessa...

–E nos dizer quem você é. – Luke termina a frase num tom autoritário. – E o que exatamente está acontecendo aqui.

Para a minha surpresa, o garoto nada diz, apenas senta-se obedientemente na cadeira em que Luke aponta e pousa os braços no colo.

– Receber ordens na minha própria casa, isso sim é novidade.

Thomas e Luke não acham tanta graça e logo o cercam com uma postura rígida. Mayday e Howard observam pasmos a cena assim como eu. O garoto não tinha feito nada de ruim para nós, muito pelo contrário, havia nos ajudado quando precisamos. Por que estão sendo tão rudes com ele?

– Comece a falar... Loki. – Thomas o ameaça.

Quê? Loki?

– Do quê vocês estão falando? – Mayday tira as palavras da minha boca.

– Nós lemos a ficha de Loki antes de vir para cá. – Luke começa, não tirando os olhos do suposto Loki. – Sabemos exatamente quem você é e do que é capaz de fazer. Além do mais, você parece muito com a foto do arquivo.

Para me surpreender novamente, o garoto solta uma risada curta, mas com sincero divertimento.

– Então pra vocês eu sou Loki. – ele repete a acusação, se divertindo com as palavras. – Lamento decepcioná-los, mas não sou o deus louco por vingança. – o garoto morde os lábios. – Aliás, obrigado por dizer que eu tenho a aparência de um lunático.

Luke e Thomas novamente permanecem em silêncio, seus olhos estudam o garoto com evidente raiva. Quando o garoto tenta se levantar da cadeira, Thomas o empurra de volta, fazendo o garoto quase cair no chão junto com o objeto com tamanha a violência utilizada. Mayday, Howl e eu não mexemos um músculo, apenas observamos o interrogatório bruto como três estátuas.

– Mas... – o garoto continua num tom sério. – Devo lembrá-los que ainda sou um asgardiano. – ele olha para Thomas e Luke. – E posso garantir que se continuarem a me tratar dessa maneira, terei que fazer vocês serem mais respeitosos a força.

Ambos os agentes trocam um rápido olhar em si e decidem se afastar do garoto, mas obviamente sem tirar a cara feia dos rostos. O ex-ameaçado parece satisfeito com a atitude e rapidamente se levanta da cadeira com um sorriso no rosto.

– Nada como educação. – o garoto ajeita a roupa roxa e amarela. – Que tal começarmos do zero? Eu começo, e vocês seguem meu exemplo, ok? – ele gesticula para nós e logo depois para as poltronas espalhadas perto da lareira. – Sentem-se, aposto que ficaram em pé por um longo tempo.

Assim que o garoto termina sua frase posso sentir meus pés formigarem. Olho para os lados e percebo que Mayday e Howard já haviam tomado seus lugares, eu os acompanho, entretanto, Thomas e Luke permanecem onde estão, os braços fortes cruzados sobre os peitos inflados.

– Muito bem. – o garoto observa o fogo consumir a madeira. – Meu nome é...

– Eldred? – uma voz feminina vinda da porta de onde entramos o interrompe. – Com quem está falando?

Assim que nos viramos para ver de quem é a voz, nos deparamos com uma mulher alta e com uma postura impecável. Seu rosto cor leite possui uma beleza além da humana com seus traços ultrapassando a perfeição, sustentando lábios vermelhos e grossos juntamente com bochechas levemente coradas. Os olhos são de uma coloração amendoada, quase brilhante, enquanto seus cabelos são negros, lisos na raiz e caindo como uma cascata escura por seus ombros pequenos. Se fossem curtos, seriam idênticos aos de Eldred.

– Mãe, por que não se junta a nós? – Eldred a convida para se sentar na poltrona vazia ao lado de sua própria. – Acho que vai se interessar com o que estamos discutindo.

A deusa nos olha com curiosidade enquanto atende ao pedido do filho, dirigindo-se ao lugar que lhe fora designado. Eldred nos encara enquanto pega na mão da mãe.

– Essa é minha mãe, Lady Sif, a deusa guerreira e uma das líderes sobreviventes ao ataque que ocorreu há 17 anos aqui em Asgard.

Quando o filho menciona sobre a guerra ocorrida, Sif abaixa os olhos por alguns instantes e logo depois volta a nos observar com seus olhos levemente molhados.

– E... Onde está seu pai, Eldred? – eu pergunto, arrependendo-me no mesmo instante assim que as caras de Lady Sif e Eldred se retraem em dor. – D-desculpe-me, não quis...

– Não. – Sif interrompe minhas desculpas. – O pai de Eldred sumiu enquanto lutava na guerra... – a deusa para, a dor é obviamente demais para ela. – Deve ter morrido e nós nunca encontramos seu corpo.

Eldred segura ainda mais forte a mão da mãe e com sua outra livre acaricia sua face, fazendo-a sorrir por alguns momentos.

– O que aconteceu na guerra? O que houve com Asgard? – Howard pergunta aos dois e fico grata que ele tenha resolvido mudar de assunto.

Eldred arqueia as sobrancelhas.

– Por que exatamente deveríamos contar algo do gênero a vocês? – questiona. – Não sabemos nem mesmo quem são vocês ou o que querem. Não deveríamos nem ter dito tanto da nossa família. – ele faz uma pausa. – Além do mais, o que o sofrimento do nosso povo tem a ver com o povo de Midgard?

Lady Sif repentinamente ergue seus olhos novamente para nós.

– Midgard. – ela repete. – Vocês são de Midgard?

– Sim, senhora. – Thomas confirma.

– Como simples seres humanos conseguiram vir a Asgard?

Nós cinco trocamos olhares rápidos antes de respondê-la.

– Não somos “simples seres humanos”. – Mayday diz.

Tanto Sif quanto Eldred franzem o cenho, não entendendo o nosso ponto.

– O que querem aqui? Por que querem tanto saber do ataque?

Howard se ajeita na poltrona.

– Estamos aqui numa busca. – ele começa, mas Sif logo o interrompe.

– E o que sua busca tem a ver com a guerra?

“Deus, como essa mulher faz perguntas!”, penso comigo mesma, desejando apenas que ela cale a boca e nos escute.

Por sorte, Howl sempre teve mais paciência que Mayday e eu.

– Tem a ver, porque... Há dezessete anos nossos pais sumiram, simplesmente desapareceram e nunca mais voltaram.

– Não temos notícias deles desde então. – eu completo.

Nossa explicação ainda estava um tanto vaga quando Sif novamente faz outra pergunta.

– Mas o quê...? – de repente ela para. – Espere um pouco.- seus olhos se arregalam e ambas as mãos cobrem sua boca. – Não é possível.

– Sim, é sim. – Luke logo lhe fala. – Somos os filhos dos Vingadores, aqueles que vieram aqui ajudá-los a vencer a luta, mas que nunca mais voltaram à Terra. – e saca o arco, mostrando-o a deusa guerreira. – Isso a faz se recordar de algo?

Sif toca no arco com cuidado, como se estivesse com medo de que ele a mordesse.

– Gavião Arqueiro... Você é o filho dele, não?

Luke assente.

– Meu nome é Luke Barton.

Eldred nos estuda com certo brilho de medo e admiração nos olhos, como se fôssemos ETs fazendo contato pela primeira vez em seu planeta e ele ainda estivesse indeciso se acreditava ou não no que estava vendo.

– E vocês. – ele se dirige a nós. - Quem são?

Thomas dá um passo à frente.

– Meu nome é Thomas Banner, sou filho de Bruce Banner.

– O Hulk... – Sif sussurra para si mesma.

Howard limpa a garganta.

– Eu sou Howard Stark, meu pai é Tony Stark, mais conhecido como...

– Homem de Ferro. – Lady Sif e Howard dizem juntos.

Todos nós olhamos para Mayday, que cora em resposta.

– Er... Nunca fui boa com apresentações. – ela começa, mas vendo a cara séria de todos nós, ela rapidamente tenta se focar. – May Parker, meu pai é o Homem Aranha, quero dizer, Peter Parker, quero dizer, os dois. – e rapidamente decide ficar quieta.

– Há também o Rogers. – Luke fala.

– O garoto que estava ferido? – Eldred indaga.

– Ele mesmo. – Luke continua. – O nome dele é James Romanoff Rogers...

– Ele é filho de Steve Rogers, o Capitão América e de Natasha Romanoff, a Viúva Negra. – Sif o interrompe. – Ele está ferido?

– Levou um tiro enquanto vínhamos para cá... - Thomas começa enquanto coça a nuca. – É uma longa história.

– E quem é você? – Eldred pergunta para mim, fazendo a atenção de todos cair em mim.

– Chamo-me Erika Foster. – começo, respirando fundo para reunir coragem para falar o que é preciso. – Sou filha de Jane Foster e Thor Odinson.

Sif me olha com certa crítica explícita em suas feições.

– Então Thor teve uma filha com a humana.

Engulo seco com seu tom. Isso foi desdém? Ou será raiva?

– Bem... – Thomas tenta, com sucesso, recuperar a atenção de todos para si. – Acho que agora temos mais que o direito de saber.

Luke se adianta para perto de Eldred e Sif para encará-los bem nos olhos.

– Desembuchem. – diz friamente. – O que aconteceu na guerra? O que aconteceu com nossos pais?