Capítulo 15 - Erika Foster

Eu jamais estive tão confusa e frustrada como estou agora.

Tentei ao máximo organizar os meus pensamentos e bloquear toda a angústia por saber a verdade (se é que ela é mesmo verdadeira) da minha existência.

E tudo o que eu pude deduzir, levando em conta de que talvez Nick Fury pudesse estar me falando a verdade, é que minha vida é uma mentira.

A verdade me assusta. Quero dizer, meu pai não é meu pai, mas sim um cara qualquer que a minha mãe arranjou para cuidar de mim quando o meu pai verdadeiro (que na verdade é um deus nórdico) nos abandonou.

Difícil de engolir. Realmente difícil.

Entretanto, o que me frustra é o fato de que eu fui a única que ficou mais abalada com a notícia. Não sei ao certo o que deveria esperar de James, Thomas ou Luke, eu mal os conheço para supor suas reações. Mas eu conheço bem Mayday e Howard, e a atitude calma de aceitação me deixou desamparada.

Só eu notei que nada fez sentindo algum?

Homens do espaço com o DNA alterado e habilidades assassinas sendo pais? Os nossos pais?

Só de imaginar o homem loiro dos meus sonhos me aninhando em seus braços me dá um calafrio na espinha.

Quando aquela baboseira toda acabou, eu simplesmente não aguentei mais ficar vendo a calmaria nos rostos de todos e sai correndo numa tentativa desesperada de tentar acordar.

“Não é real, Erika, isso é apenas um sonho”, ficava repetindo pra mim mesma, “quando acordar, tudo vai voltar ao normal. Você ainda estará dormindo tranquilamente na sua beliche junto com Howard e Mayday.”

Mas a cada segundo que se passou, eu comecei a perder as esperanças de que eu de fato pudesse acordar desse show de horror gratuito.

Mesmo depois da conversa que Mayday e eu tivemos, eu ainda me sinto confusa. Sim, ela tento me explicar, tentou fazer com que todos aqueles fatos aleatório tivessem alguma ligação com as nossas vidas. Eu até acreditei nela por alguns segundos, mas então me lembrei da minha antiga vida. E eu a quero de volta.

Tudo o que está acontecendo está apenas me dando uma enorme dor de cabeça misturada com desespero e até mesmo agonia.

Quem está certo? Nick Fury ou a minha antiga vida?

Quem sou eu?

E minha dor de cabeça e desespero só aumentam quando ouço Howard dizer.

– Vamos encontrá-los.

– Você não pode estar falando sério. – choramingo para Howard. – Logo você, Howl?

Howard se move na cadeira, adquirindo a postura de um médico contando ao paciente que este pode morrer em alguns dias.

– Olha, Erika... Eu também estava com um pé atrás sobre essa história toda.

– Mas...?

– Mas vendo tudo isso... Tudo o que aconteceu conosco em apenas alguns dias, acho que talvez tudo possa ser real.

Mordo meus lábios numa tentativa estúpida de segurar meu choro.

– Está dizendo que você acredita que seu pai vestia uma armadura de ferro para ficar combatendo o crime?

Howard não me responde de imediato, apenas me encara com os olhos castanho brilhando, um claro sinal de que está pensando sobre o assunto.

– Por que você luta tanto contra a verdade? – James me pergunta, também me encarando com seus olhos azuis.

– Por que você acredita em tudo o que te falam? – rebato.

James não parece se intimidar com a minha frieza.

– Tudo aqui está confirmando as palavras do Fury. Pra quê lutar contra a verdade?

Eu quero correr de volta para a sala e me trancar sozinha com a minha confusão, mas estou cansada de ser chorona, e embora eu esteja perdida e avulsa a tudo isso que está acontecendo, eu tenho que ser forte. Não posso ficar correndo dos meus problemas como uma garotinha assustada, mas sim enfrentá-los como uma mulher.

– Muito bem... Se querem tanto que eu aceite essa história... Quero que me provem que é real.

Os cinco trocam entre si, Luke é o primeiro a se manifestar.

– O que você quer exatamente que a gente prove? Tudo já foi mostrado.

– Ainda não acredito em uma palavra do que Fury disse.

Howard e Mayday fazem um sinal para que Luke se calasse, que tomariam conta do caso.

– Erika, você não acredita mesmo em NADA? Mesmo depois do ataque do Camaleão, de você quebrar o chão e colocar o Thomas pra dormir jogando uma rocha nele... Nada disso convence você? – Howard me pergunta, surpreso.

Seu comentário faz a minha determinação a resistir a essa história toda abaixar. Eles estão certo, como eu iria explicar tudo o que eu vivi de... Anormal durante esses dias? A física e a ciência não estão do meu lado para explicar todos os acontecimentos.

– Digamos que tudo seja verdadeiro. – eu começo, ajeitando-me na cadeira pouco confortável. – Como vocês estão pensando em encontrar os... nossos pais?

Luke sorri.

– Não é simples? Vamos procurá-los onde eles sumiram.

Pisco perplexa.

– Está me dizendo que vocês querem ir para...

– Asgard. – Thomas completa minha frase num tom malicioso. – Vamos procurar nossos pais em Asgard.

– E como pretendem ir para lá?

É a vez de James falar.

– Ainda estamos pensando nisso.

– Não precisa queimar seus neurônios com isso, Agente Rogers. – a voz de Nick Fury se manifesta. Todos nós nos viramos para encarar sua figura parada no batente da porta da sala. – Temos o equipamento necessário para levá-los para Asgard.

– Espere um pouco. – Howard o interrompe. – Está me dizendo que a SHIELD tem o equipamento para viajar para outro mundo?

– Isso mesmo, Sr. Stark.

– Então porque já não foram atrás dos Vingadores?

A pergunta de Howard fez Nick Fury suspirar fundo e fechar seu único olho, como se estivesse tendo uma dor de cabeça.

– Nós mandamos uma equipe de busca quando descobrimos como abrir o portal para ir para Asgard... – ele para, perdido em pensamentos.

– E...? – eu o incentivo a continuar, surpreendendo-me logo depois pelo meu interesse.

– E que eles nunca mais voltaram, Srta. Foster.

Desvio meus olhos para encarar o chão, chocada com a notícia. A equipe sumiu, assim como os Vingadores... O que poderia ter acontecido com todas aquelas pessoas? Estariam vivas? E os seis super heróis? Estariam eles vivos?

– Não podemos desistir. – Thomas diz de repente. – Tivemos um treinamento diferenciado, justamente para enfrentar situações como essas.

Fury ergue uma sobrancelha.

– Os homens que eu mandei para lá eram os melhores agentes que tínhamos na época, Agente Banner. Não eram muito diferentes de vocês.

– Mas somos diferentes. – Mayday se manifesta do lugar afastado ao lado de Howard. – Como você disse, somos filhos dos Vingadores. Temos um diferencial, temos um pouco deles dentro de nós.

– Tocante. – Luke comenta num tom baixo, mas todos nós o ignoramos.

– Então estão dispostos a irem atrás dos Vingadores? Mesmo sabendo que terão que enfrentar o desconhecido sem nem mesmo ter a certeza de que estão vivos? Mesmo que possam morrer durante a missão? – Fury nos pergunta seriamente.

Engulo seco com sua ultima pergunta. Iria arriscar minha vida por algo que nem tenho certeza ser real?

“Pare de tentar ver a razão inexistente, Erika, simplesmente aceite.”, uma voz dentro de mim me aconselha.

E por mais que eu não queria, uma hora terei de ouví-la.

– Eu estou. – Thomas é o primeiro a dizer enquanto se ergue da cadeira

– Eu também. – Howard o acompanha.

– E eu. – James também se levanta.

– Meu pai me deve umas respostas. – Luke fala com um sorriso no rosto. – Não deixarei ele se safar dessa.

Demorou um pouco até que Mayday se levantasse também.

– Eu estou... Quero conhecer o meu pai.

Agora todos olham para mim, provavelmente esperando que eu me manifeste.

– Por favor, Erika. – James me pede. – Agora somos uma equipe. Sem você, não iremos conseguir.

Mordo meus lábios... Será agora uma boa hora para escutar a minha consciência?

Se eu for, como minha mãe vai ficar? E meu padrasto, Donald?

Eles já devem estar desesperados nesse momento, tentando me achar sendo que nem eu mesma sei aonde ao certo estou.

Não tenho escolha... Além do mais, essa seria a prova de se tudo isso fosse para valer. Que fosse real.

Respiro fundo antes de me levantar da cadeira.

– Eu estou.

Nick Fury sorri.

– Excelente. Agora que temos os seis, os treinos começarão amanhã.

– Espera um pouco. – Luke chama a atenção de todos nós para si. – Treinos? Não acha que já nos preparamos por uma vida inteira?

– Acredite, vocês não estão preparados para isso. – Nick responde se dirigindo para a porta, finalizando sua frase num tom que me deixa nervosa e faz me arrepender profundamente da minha decisão. – Nenhum de vocês está. Principalmente quando o risco de morte é mais alto que o de sobrevivência.