Marco Zero escrita por Datenshi


Capítulo 8
Passagem 7: O Ex-Aluno Da Escola Perfeccionista de St. Poltien




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Parte Dois:

Zepelim e Revolucionários de Chapéu.

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Passagem 7: O Ex-Aluno Da Escola Perfeccionista de St. Poltien

                O sol brilhava no topo do céu alaranjado que mais lembrava uma lona de um circo gigante. A estrada de ladrilhos cinzentos cortava as colinas cobertas de capim alto avermelhado.
Sobre o caminho estavam quatro figuras: na frente um garoto de roupas escuras, guiando o grupo; uma jovem enfiada em roupas roxas e com um enorme chapéu violeta, segurando um rifle; uma garota de calça esverdeada, blusa de moletom vermelho de mangas longas e zíper, e simplórios all-stars; seguidos de um espantalho de calças listradas, vestindo uma blusa com um corvo em quebra-cabeças estampado, além dos cabelos castanhos revoltos para o alto e olhos negros oscilantes.
            - O grande problema das estradas daqui é que os caminhos daqui parecem não ter fim. – reclamou Alcest, apoiando os braços na sua cabeça.
            - É desse jeito que você sabe que está perto de St. Poltien. – Larsh falou ao amigo quando subiam a última colina. – Vejam logo ali na frente!
            Quando todos os quatro subiram a colina avermelhada logo notaram a enorme construção:
Uma enorme área rodeada de muralhas altas e espessas, brancas, com tracejados vermelhos ao longo de sua extensão. Prédios de, no máximo, seis andares deixavam suas extremidades expostas a observadores além das muralhas, tantos que várias coberturas de prédios eram vistas de longe por recém-chegados. Diferentemente do primeiro vilarejo que Melissa visitou, St. Poltien parecia abrigar bem mais habitantes do que Burggin, que moravam ali aos milhares.
Em cada direção cardeal das muralhas existia um enorme suporte segurando um gigantesco sino de bronze, sendo quatro no total: todos jogados em direções diagonais, dando a impressão de que estavam parados no tempo. Um imenso prédio roxo estava no centro da cidade, destacando-se dos outros por possuir uma imensa chave de fenda no telhado.
Melissa e os outros pararam por alguns instantes para contemplar aquele ninho de pessoas ligadas à manutenção.
- É estrondosa! – exclamou após um suspiro.
- Não há nada igual a St. Poltien, Melissa, mas existem lugares ainda mais extraordinários. – Viollet colocou o rifle nas costas e pôs as mãos na cintura. – Finalmente chegamos.
Larsh preparou tudo:
- Iremos apenas pernoitar em St. Poltien para falar ao governante sobre Gunter e descansar um pouco. A JUBILO tem base aí?
- A sede mais próxima fica em Quadrinera: dois dias de distância daqui. – Viollet respondeu.
O grupo manteve o passo apressado de ansiedade pela estrada que cortava a grama vermelha até parar nas muralhas da cidade. Um homem enfiado em uma armadura verde e um chapéu alto verde-musgo com uma chave de fenda como emblema surgiu em uma portinhola a seis metros de distância do chão:
- O QUE QUEREM?! – berrou lá do alto o guarda.
- Entrada em St. Poltien!!! – Larsh respondeu. – Somos eu, duas garotas e um espantalho! Viemos de Burggin e queremos dar uma notícia ao governante daqui!
- BURGGIN? CÉUS! Nós não temos notícias de Burggin faz mais de um mês!!! – exclamou o guarda medíocre. – Eu irei abrir os portões!!!
O guarda acionou a alavanca que levantava os portões de madeira. Foi revelada uma imensa praça no centro de vários prédios construídos em estilo românico. Na praça havia uma pequena feira de manufaturas diversas onde mulheres em vestidos compravam de tudo e se protegiam de chapéu do fraco sol brilhante no céu alaranjado. Várias mesas onde vários homens trajados em roupas vitorianas conversavam ao som de um piano e violinos:
- Não! Absolutamente não! Pensar em um modo de deixar os sinos retos transformará a vista desta cidade em uma cena estapafúrdia!! – disse em tom de voz estabanado o jovem de barba grisalha e chapéu preto de listras vermelhas que estava de pé defronte a mesa.
- Ora, Dèjau, por que vai contradizer o nosso método? O único modo de trazer a boa-venturança de volta para esta cidade de mecânicos será este: iremos desfazer a maldição que conjuraram sobre nossas cabeças décadas atrás e trazer de volta o som dos quatro sinos das muralhas! – o rapaz de cabelos negros e olhos azuis bradou, seguido de calorosos aplausos dos demais.
- Germain é o homem que irá liderar esta incrível experiência!
- Bravo! Bravo!
Melissa, Alcest, Larsh e Viollet observavam a cena. Dèjau possuía uma fisionomia muito jovem, apesar da barba grisalha que lhe cobria as maçãs do rosto e da roupa vitoriana que vestia: negra com detalhes vermelhos. Já Germain mostrava sua juventude em seu semblante don-juanista, marcado pelo narcisismo perceptível por suas freqüentes poses, gestos e movimentos, o que o tornava diferente dos demais jovens na mesa de praça, concentrando toda a atenção do local na discussão.
- Esta idéia é ultrajante, Germain! – Dèjau recolheu seus rolos de papéis em cima da mesa. – De onde é que é bem visto este seu plano estapafúrdio? O Governador não irá admitir esta sua intervenção absurda!
- Quero provas, ó bravo estudante da Escola Perfeccionista de St. Poltien!
Dèjau olhou em volta. Melissa chamou sua atenção.
- Vejamos, colegas de classe. Olhem só o carisma desta garota adorável que eu vos aponto. – Alcest, Larsh e Viollet olharam assustados para Melissa, que estava mais assustada ainda. – Creio eu que ela não seja desta cidade, logo sua opinião será importante para a nossa decisão. Como te chamas?
- Melissa. – respondeu ela mirando a face do desconhecido.
- Melissa, hã? Pois dê a sua opinião sobre o que nós estamos discutindo: devemos ou não devemos pôr os quatro sinos desta cidade para funcionar?
- Não faço a mínima idéia.
Um “oooh” foi dito em coro pelos jovens da mesa, depois iniciaram uma sessão de gargalhadas após o ato sarcástico.
- Veja só, Dèjau! Você nem sequer consegue o apoio dos menos informados! – Germain se aproximou do grupo. – Cara Melissa. Desculpe pela intervenção daquele aluno que nem terminou o primeiro ano da Escola Perfeccionista de St. Poltien. Esta cidade fora amaldiçoada tempos atrás com estes quatro sinos horrorosos que pararam no tempo em suas órbitas, nos deixando intrigados com este fenômeno. Devemos consertar os quatro sinos para exibir o nosso potencial em mecânica para todas as outras cidades.
- Germain, vosso líder, pára de cobiçar a recém-chegada e volta para o teu trabalho! – berrou um dos jovens da mesa.
O jovem don-juan abriu um sorriso cínico, que logo desapareceu quando o jovem observou por alguns instantes a face de Larsh. Depois disso, Germain retornou para os seus fiéis amigos.
- Mas o que diabos está havendo por aqui? – Viollet abaixou a aba do chapéu que nunca retirava.
- São da Escola Perfeccionista de St. Poltien. – Alcest apontou para os jovens em trajes vitorianos.
O grupo viu Dèjau recolher seus papéis e entrar em uma das ruas da cidade em um passo triste e solitário, enquanto os rapazes de Germain gargalhavam ao reproduzir os gestos do garoto.
- Vamos deixá-lo sozinho? – Melissa perguntou.
- Eu sei como ele está se sentindo... – Larsh falou.
Todos olharam para o garoto de cabelos negros e oleosos:
- Como?
- Eu também fui um aluno da Escola Perfeccionista de St. Poltien.



- Revisão da matéria da semana: Cálculo Algébrico, nível trinta e oito.
A professora segurou o pedaço de giz como se fosse uma espada e “golpeou” o quadro negro de números complexos, vários incógnitas e caracteres gregos.
- Vocês devem entender por completo toda esta matemática avançada, vocês estão me escutando? – a professora foi respondida por um “sim” em coro. Depois, ela continuou o sermão: Todo aluno da Escola Perfeccionista de St. Poltien deve ser perfeitamente perfeito por obrigação.
Os alunos repetiram:
- Todo aluno da Escola Perfeccionista de St. Poltien deve ser perfeitamente perfeito por obrigação.
Todos falaram o lema da escola três vezes, exceto por um garoto sentado na quina da sala de aula. Estava vestindo uma farda velha, possuía cabelos pretos e oleosos que desciam até o queixo. Os olhos eram baixos, como que desinteressado de tudo.
- LARSH!!! VOCÊ NÃO ME PARECE ESTAR COMPREENDENDO ESTA EQUAÇÃO DO QUADRO!!! – ralhou a professora de óculos de aros grossos.
- E-eu não consigo entender. A senhora poderia me explicar...
- Um aluno da Escola Perfeccionista de St. Poltien precisa ser perfeito!!! Você não está seguindo o nosso lema, Larsh Sievenen!
- Professora, esta equação do quadro é complexa demais... eu não consigo resolver nada do que está no quadro...
Os outros alunos gargalhavam, gabando-se de sua inteligência superior à do colega.
- Já para fora, Larsh Sievenen!
Larsh levantou de sua cadeira e saiu caminhando pelo corredor de mesinhas e cadeiras. Um dos garotos colocou a perna no meio de seu percurso, fazendo-o cair e se esborrachar no chão. Mais gargalhadas vieram à tona.
- Os alunos da perfeição não podem cair! – um dos garotos disse, insultando Larsh.
- Se algum dia você cair, o seu ego inchado não te deixará levantar do chão! – dizendo isto, Larsh chutou a cadeira onde o garoto estava, derrubando-o no chão. O garoto caiu sobre o braço, fraturando o membro.
Um amontoado de garotos se formou sobre Larsh. Minutos depois os médicos estavam dentro da sala de aula, cuidando da fratura no braço do garoto. Ao lado deles estava um menino de cabelos pretos e olhos azuis estava aflito.
-É o meu irmão! É o meu irmão! – falava para os médicos, que não deixavam que se aproximasse.
O menino vestia o uniforme típico da Escola Perfeccionista, onde estava bordado acima do peito o seu nome: Germain Laccos Steinh



- Como assim, Larsh? – Melissa perguntou.
- Eu fui expulso da Escola Perfeccionista por indisciplina. Eu só estava lá por causa dos meus pais. Eu queria  dar orgulho para eles, por ter um filho que havia terminado a Escola Perfeccionista... só que eu não sou perfeito. Então procurei fugi de St. Poltien e procurei trabalho em Burggin como entregador, já que eu sabia de todas as rotas de entrega da região graças aos dias que eu matava aula andando pelas estradas.
- Deve ter sido uma época ruim... – comentou Viollet, enquanto Alcest seguia Dèjau com os olhos.
- Eu não devia ter contado isso. Vamos logo! Alcest conhece a cidade, vá com Melissa até o governador e o avisem da tal ameaça. Eu e Viollet iremos procurar um hotel para passar a noite e procuraremos dar alguma notícia para a JUBILO.
Melisa e Alcest concordaram, subindo a rua principal em direção ao prédio roxo que se destacava dos demais. Já passado algum tempo, Viollet – tirando a trava de segurança do rifle - e Larsh caminharam descendo a rua principal, voltando no ponto em que chegaram.
Mais na frente, Germain e seu bando estavam se aproximando:
- Ei! Garoto de cabelos grandes! – chamou. Larsh e Viollet viraram. – Hahá! Eu conheço a sua face! É-me familiar, sim! Você foi o desgraçado que quebrou o braço do meu irmão! Por causa disso ele perdeu um semestre na Escola Perfeccionista, tempo que o fez ficar mais atrasado que os demais!
- Você não tem nada com isso, Germain! Dê o fora daqui.
- Seu nome é Larsh, não é? Um Sievenen. Daquela família de condenados mal informados!
- Não fale da minha família!
- Você foi culpado pelo atraso dele! – Germain partiu contra Larsh.
Os garotos se entrelaçaram em socos e chutes. Viollet, assustada com o tamanho da confusão, entrou no meio da briga, tentando separar os dois.
- Hei! Parem com isso! Não é hora para brigas, Larsh!!!
- Este desgraçado insultou a minha família!
- Esqueça isto! Deixa de ser pavio curto e pára de brigar!
- Olha só quem fala!
- Tá, eu posso ser pavio curto, mas não chego a tanto!
Um dos garotos do bando de Germain empurrou Viollet, fazendo com que a garota caísse no chão e disparasse acidentalmente o rifle.  Por pouco o chapéu de Viollet não saiu de sua cabeça, entretanto a primeira providência da garota foi com que o chapéu não saísse do seu lugar.
O projétil do rifle atingiu de raspão o braço de Germain, que caiu no chão gritando um berro agudo de dor, porém o ferimento não tinha sido tão grave quanto aparentavam os berros do garoto.
- AAAAAAAAK!
- Seu idiota estúpido e inconseqüente! – Viollet se levantou do chão, pegou o garoto que a empurrou pelo ombro e começou a chacoalha-lo, enquanto ajeitava o seu chapéu com a outra mão. – Retardado inútil! Viu só o que você fez? O meu chapéu!! O meu chapéu por pouco não saiu da minha cabeça! Você é doente por acaso, é!? Garoto burro e idiota!
- Desculpe, moça! Desculpe!
Viollet estava alterada:
- Desculpas!? Que desculpas, seu idiota-lerdo-inconseqüente-estúpido-inútil-imbecil-retardado!? Por que você veio me empurrar?! Hein? Hein? Você tem noção do que é o meu chapéu sair da minha cabeça? Sabe o que isso significa pra mim??
Larsh já se recompusera da briga, levantando do chão e soltando comentários sarcásticos:
- Depois você não é pavio curto....
Dois soldados da guarda de St. Poltien se aproximaram, indagando:
- Quem foi que causou esta confusão?
- Foi ela e aquele garoto, seu guarda! – Germain gemia no chão. – Aquele garoto bateu em mim e aquela garota atirou no meu braço.
- Ei, garota de roxo, você não pode ficar atirando à toa por aí!
- DEIXA DE SER BESTA, SEU GUARDA BURRO! NÃO TA VENDO QUE FOI UM QUASE-ACIDENTE? O MEU CHAPÉU POR POUCO NÃO CAÍA DA MINHA CABEÇA! EU TO POUCO ME LINCHANDO PRO TIRO NO BRAÇO DAQUELE GAROTO RETARDADO! EU QUERO QUE VOCÊ FAÇA AQUELE OUTRO GAROTO PAGAR CARO POR QUASE TER TIRADO O MEU CHAPÉU DA MINHA CABEÇA!!!!!
Larsh já tinha esquecido da sua situação e tentava acalmar a cena atual:
- Viollet, calma! Qual o problema do chapéu ter...
- É O MEU CHAPÉU! NINGUÉM VAI TIRAR O MEU CHAPÉU DA MINHA CABEÇA! ISSO É GRAVE DEMAIS! DEMAIS!!!!
Vieram mais três soldados da guarda e imobilizaram Viollet e Larsh.
- Nós vamos confiar nas palavras do garoto perfeito da Escola Perfeccionista. Esta forasteira está afoita demais e o outro é cúmplice dela! Vamos levar estes dois para a prisão. – disse o último guarda para os garotos de Germain. – Agora me deixe fazer um curativo nesse braço.
Três guardas seguravam Viollet, que estava enfurecida, e um guarda levava Larsh, que estava completamente espantado pelo temperamento da garota.
- EU SOU INOCENTE! AQUELES GAROTOS ESTÚPIDOS QUERIAM TIRAR O MEU CHAPÉU! AAAAK! SOLTEM-ME!!!
Larsh levou a mão à testa:
- Afinal, o que diabos tem debaixo desse chapéu violeta?

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