Marco Zero escrita por Datenshi


Capítulo 7
Passagem 6: Uma Nova Rota a Ser Traçada




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Passagem 6: Uma Nova Rota a ser Traçada


                - Enviada? – questionou Larsh.
            - Nenhum de vocês possui informação suficiente para saber do que se trata a presença de um Enviado nas terras de Marco Zero. – Viollet sentou no chão e acionou a trava de segurança do rifle. – É uma longa história pra ser contada aqui.
            Alcest espreguiçava-se por ter ficado aprisionado em um lugar tão apertado, esticando os braços:
- Deveríamos passar a noite dentro deste paiol por causa da chuva que há. Eu acredito que qualquer ameaça foi extinta...
- Boa idéia!
- Podemos acender uma fogueira? – Melissa sentia frio.
- Não há nenhum problema. Como o Alcest falou, inimigos devem estar longe.
Palha seca era o que não faltava ali. Com mais alguns galhos e pedaços de madeira, Larsh acendeu uma bela fogueira no centro do paiol, certificando-se que não haveria risco algum por causa da abundancia de materiais propícios a ocasionar algum incêndio.
            Todos se reuniram em volta da fogueira exceto Alcest, pois o fogo lhe dava arrepios (não há necessidade de especificar que o seu corpo era forrado por palha). Viollet começou a explicação que estava devendo aos presentes:
            - Ninguém sabe quando surgiu Marco Zero, mas falam que foram necessários quatorze dias para a sua completa criação. Dizem os registros e memorandos mais antigos que toda a organização de informações fora feita por um desdobramento em todas as dimensões, tomando uma forma física que foi revelada a poucos sábios, transformando-se em uma grande influência em todos os membros de todos os planos.
            - Um deus? – Melissa mostrava interesse pela história.
            - Ninguém sabe ao certo. Poderia ter sido um deus, um fenômeno físico ou algum sábio louco que havia recebido um poder maior do que o dos outros. Mas a forma física que falo foi a de uma imensa marca no céu...continuando; como nem tudo é perfeito, existem lugares em Marco Zero que a informação é abundante, por pouco não possuindo limites de armazenamento. Quando os níveis de informação de Marco Zero estão irregulares acontece uma falha no plano dimensional, devido à oscilação de dados no meio: uma “sobrecarga no sistema”.
            - E foi esta falha que me trouxe aqui?
            - A resposta é sim em maior número de possibilidades... Mas as falhas são semelhantes a desdobramentos, estes que são de maior impacto e devastação; tudo o que passa por estes corredores apertados recebe certa influência da força maior que trouxe a informação de todos os lugares para este marco zero do universo. É por isso que Melissa tem esta estranha marca abaixo do pulso.
            - EPA! COMO VOCÊ DESCOBRIU?
            - Somente os Enviados possuem tal marca... sem contar que os meus olhos conseguem ver algumas coisas que pessoas comuns não conseguem notar.
            - Eu tenho medo de você, Viollet. – os olhos de Alcest oscilavam.
            - Não precisa... Alguma pergunta?
            Larsh levantou o braço:
            - Eu! Eu! Eu tenho uma!
            - Sim?
            - O que vamos fazer amanhã?
            - Boa pergunta... – Alcest elogiou sentado em cima de um bloco gigante de palha.
            - Era pra vocês fazerem perguntas sobre a origem de Marco Zero... – Viollet reclamou.
            - Ainda sim é uma boa pergunta... – retrucou o espantalho. – Nós não temos entregas a deixar em Primaria, sabemos que Melissa é uma Enviada e que o Governo está nos procurando...
            Larsh fez uma breve observação:
            - Nosso destino era St. Poltien, para consertar o Alcest, mas ele está novo em folha...
            - Nós poderíamos usar o dom de Melissa para ajudar nos propósitos da JUBILO de libertar Marco Zero da opressão do governo atual. – Viollet sugeriu, lembrando da organização onde trabalhava. – O que você acha disso, Melissa?
            - Se estivermos no lado correto da história eu aceito... mas estou muito confusa sobre tudo isso.
            - O governo de Marco Zero está mergulhado na corrupção. – disse Larsh, apresentando o panorama atual da região para Melissa. – A decisão do conselho de governo foi dividir Marco Zero em províncias, mas isso só fez contribuir mais ainda com a corrupção dos governantes sobre o controle de informações e de poder. O resultado é uma pilha de pequenas províncias, reinos e condados brigando entre si por territórios, informações e privilégios dados pelo poder central, localizado na capital de Cernes.
            Melissa compreendia pouco a pouco o que estava acontecendo naquela terra tão estranha:
            - Mas Gunter disse que iria provocar um golpe de poder em Marco Zero quebrando o meu selo e, de alguma forma, provocando um colapso nas informações que compõem este mundo.
            - Como eu disse, Melissa, o seu selo é derivado do mesmo poder que construiu Marco Zero, ou seja, você é capaz de moldar a informação do meio a qualquer propósito. – Viollet explicou.
            - Isso é fantástico... – disse a garota, ficando cabisbaixa.
            - Qualquer coisa que esteja no alcance dela é maleável? – Alcest se questionava. – Isso não é perigoso?
            - Se Melissa cair nas mãos do governo será. Do mesmo modo com Gunter e suas cobras parasitas.
            - E o que não impede de ser diferente com a sua JUBILO, Viollet? – Alcest perguntou à garota.
            - Ora! Não há porquê para se enganar conosco! Eu sei que existem traíras por lá, alguns muito perigosos, mas eu estou engajada na libertação desse mundo, na distribuição de informações.
            - Se ela fosse do “outro lado” não estaria conosco, Alcest. – Larsh cutucou a fogueira com um pedaço de madeira.
            - Isso é verdade, Larsh. Se a JUBILO conseguir o governo de Marco Zero e fizer a mesma coisa que está nos dias de hoje?
            - Não deixa de ser uma hipótese, meu velho amigo. Porém nós temos Melissa no nosso lado. Ela dará jeito nos traidores, não é?
            - Eu... eu nem sei o que falar... – disse, olhando para o selo no pulso.
            Alcest saltou do lugar de onde estava, se aproximando do grupo.
            - Esta conversa toda está te deixando cansada, não? – indagou à Melissa. – Vamos todos dormir. Amanhã decidiremos qual rota seguir.
            - Não se preocupe, Alcest. – falou Viollet ao notar a certa desconfiança que o espantalho a tratava. – Caçadores de Informação só estouram espantalhos maus.
            A criatura abriu um leve sorriso, passando a mão pelos cabelos castanhos e arrepiados. As fitas que lhe saíam da manga longa da camisa pareciam dançar.
            - Já que você fala, eu fico de guarda nesta noite.
            - Por mim tudo bem.
            - Espantalhos não dormem...
            - Ah...
            - Boa noite, Larsh.
            - Boa noite, Melissa.
            - Bons sonhos, Viollet.
            - Boa guarda, Alcest.
            Depois de ver todos se ajeitando em seus lugares de dormida improvisada, o espantalho saltou para o alto do paiol, sentando no telhado abaixo de chuva:
            - Isso me faz lembrar os tempos em que eu estava crucificado no meio daquele milharal. – a criatura olhou para trás. – Eu perdi o meu sotaque. Melissa está bem. Larsh está cultivando amizades. Viollet está dormindo com o rifle... ela não tira o chapéu pra nada. - (suspiro) - Parece que está tudo bem...
            Alcest observou a paisagem por alguns instantes. A leve neblina caía sobre o campo, escondendo o horizonte, transformando todo aquele ambiente em um clima de mistério. O espantalho saltou repentinamente para o lado de dentro da construção, deixando apenas os olhos oscilantes à mostra de quem estava fora do paiol.
Uma figura vestida de branco dos pés à cabeça de forma que nenhuma parte de seu corpo ficasse à mostra. A face estava coberta por um pano quadriculado, de cor marrom, com pequenos orifícios para a ventilação. Era de se estranhar a bola de luz translúcida que lhe envolvia as mãos. A entidade caminhava pela estrada que cortava o campo de capim avermelhado.
- “Eles”? – Alcest o observava.
            A criatura continuou no seu passo, sumindo pela penumbra. Se mais alguém estivesse acordado, veria Alcest tremendo.
           
            As doze colunas que rodeavam a sala circular eram feitas de um mármore azulado, de textura densa e escura. Fios iluminados por um brilho azul desciam do teto que estava a aproximadamente trezentos metros acima do chão. Por alguns momentos percebia-se o pisca-pisca dos fios iluminar a sala com relâmpagos azuis, porém o brilho era sincronizado com a oscilação de luz proveniente de uma esfera de metal que estava a cerca de cinqüenta metros do chão, no centro da sala. O piso de lajotas brancas estava coberto por tapetes de cor vinho e bordas douradas, com diversos detalhes e bordados persas.
            No centro da sala se posicionava um emaranhado de fios, peças de metal e cabos, mais lembrando a forma de um trono. Uma jovem estava sentada sobre a pequena construção. A sua tez era lívida e o rosto estava coberto por seda vermelha. Estava em um vestido roxo onde a cauda caía em volta do trono, fazendo com que a seda púrpura possuísse aparência viva.  O cabelo, milhares de enormes fios dourados, esticava-se na direção do alto até ficarem presos na esfera de metal do centro da sala. Tal disposição dos fios de cabelo da jovem formava um imenso leque dourado.
            A porta dupla da sala, decorada de entalhes, se abriu. Um homem alto, sem nenhum fio de cabelo na cabeça e olhos vermelhos caminhou pelos tapetes, até parar a poucos metros da jovem do centro.
            - Salve, milady. – Gunter se ajoelhou e reverenciou.
            - O que me te leva a vir aqui, meu servo? – os lábios no rosto da jovem nem sequer se mexiam. Se ao menos se mexessem, a seda vermelha iria denunciar.
            - Das mais importantes, milady.  Vim da minha busca de informações sobre o paradeiro do Enviado às terras de Marco Zero.  A queda aconteceu próxima a Burggin, vilarejo de artesãos e pequenos comerciantes. Na verdade é uma Enviada, como esperado por vossa sabedoria.
            - Somente isso? – a jovem questionou em um tom de voz passivo.
            - A Enviada está em um grupo que eu intitulei de rebeldes contra a vossa causa. Eles resistiram de ataques de uma breve tropa que eu montei. Eu vi com meus olhos o quanto a garota é poderosa.
            Os fios de cabelo se movimentavam serenamente.
            - Este foi o único da minha tropa forte o suficiente para sobreviver aos poderes da Enviada. – Gunter carregava um espantalho nas costas com o terceiro braço. Jogou-o na sua frente.
            - Como ele se chama?
            - Vazzi, milady.
            - O que eu poderei fazer por você... – a jovem levantou a mão.
            Um dos fios de cabelo despencou do alto, caindo bem na testa de Vazzi. Um relampejo de vida o dominou.
            - Qual será o próximo caminho do grupo onde está a Enviada? – indagou enquanto o espantalho sofria convulsões de dor, levando as mãos de palha para a testa.
            - Estão em algum lugar próximo a Quadrinera. – Gunter respondeu, levantando a cabeça em um ar aristocrático para evitar a visão da criatura se contorcendo de dor.
            - Mande-o para cruzar com o caminho do grupo. – o fio dourado entrava na testa de Vazzi, que berrava seu sofrimento. – Ele me será útil até quando suportar a sua próxima condição.
            - Condição? – Gunter perguntou.
            O fio dourado entrou por completo na testa de Vazzi, que não havia agüentado a dor, caindo inanimado no chão.
            A seda vermelha no rosto da jovem deixou revelar um sorriso.

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