Marco Zero escrita por Datenshi


Capítulo 6
Passagem 5: O Selo da Forasteira




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Passagem 5: O Selo da Forasteira

            - Todos nós sabemos quem é você, Gunter! – Viollet alegou, com o rifle firme nas mãos. – Não há necessidade de apresentações!
            - Você divulgou uma informação errada, caçadora. – Gunter sorriu, exibindo seus dentes retos e perfeitos. - Existe alguém aqui que chegou recentemente em Marco Zero. Provavelmente esta forasteira não sabe quem sou...
            Melissa congelou por alguns segundos. Como ele sabia?
            - Eu fiz o meu trabalho pelas redondezas: coletar informações para o Governo e, é claro, lograr meu pagamento. Vocês sabem que ninguém entra neste lugar sem a fiscalização do Governo. Passem a garota para cá e nós cuidaremos de seu registro em Marco Zero.
            Larsh deu um passo a frente:
            - Quem é bem informado sabe muito bem que o Governo não registra quem atravessa a “barreira”! Vocês se aproveitam da ingenuidade dessas pessoas para arrancar todo o conteúdo de informações que possuem em suas mentes, adicionando ao banco de dados do Governo.
- Não se arrisquem por mim! – Melissa avisou aos amigos. – Eu irei!      
- Nós iremos te proteger  a qualquer custo, Melissa! Não deixaremos que você caia nas mãos dos interesses sujos dos superiores de Gunter!!! – berrou a garota com o rifle.
- Eu irei fazer o que for preciso! – Larsh disse, armando-se com uma foice que estava encostada na parede.
O Coletor rangeu os dentes.
- A garota possui um selo.
Um silêncio se propagaria pelo local se não fossem as vozes esganiçadas dos espantalhos delinqüentes.
- Mentira! – bradou Viollet, apontando o rifle para qualquer espantalho que fizesse algum movimento brusco. Isso fazia com que a garota não parasse de se mexer, fazendo o cano da arma dançar. - Como saberiam de um possível selo?!
- Esperamos por alguém assim há tempos. O Governo já está fraco, corrupto demais. O próximo passo para uma fortificação do patrimônio da Elite de Marco Zero será o Golpe. A Rainha se erguerá, esplendorosa, diante de todos aqueles que compõem Marco Zero. As informações que correm à solta serão apenas dos privilegiados que cultuarem a nossa Rainha.
- Uma Rainha?! – indagou Viollet, perplexa.
- Exatamente. E para o Golpe acontecer será preciso quebrar o selo que esta garota carrega. – Gunter apontou para Melissa, que estava completamente assustada. – A quebra do selo irá iniciar uma coleta completa de informações, uma verdadeira hecatombe de mentes desnecessárias. Assim somente aqueles que a Rainha escolher terão as informações que quiserem.
Melissa olhou para o relógio. Tinha certeza absoluta de que o selo estaria abaixo do relógio, no pulso. Era a estranha marca que havia ganhado depois de chegar em Marco Zero.
Larsh coçou a cabeça:
- Espera um minuto. Por que está falando tudo isso pra gente?
- Não se preocupem com nenhuma entrega. Conversei com o velho Iglio, o dono da loja. Neste momento as suas lembranças estão comigo... Já o corpo dele está apodrecendo em alguma esquina de Burggin... - o seu terceiro braço ergueu-se das costas, desenhando com tinta duas sobrancelhas expressando raiva no rosto. – Não haverá como entregar a tal encomenda em Primaria. Este plano que falei corre pelas mentes de poucos. Nem mesmo os membros do Alto Governo sabem disto. É uma informação privilegiada! Por isso vocês todos devem morrer porque souberam demais. – virando-se para Vazzi. – Trate de capturar a garota com o selo. Leve-a intacta até a capital Cernes. Enquanto aos outros... Bom divertimento com os pedaços de cada um...
            Gunter recolheu o cetro de serpente e fez breves movimentos com as mãos. A boca da serpente se abriu, fazendo surgir uma aura vermelha ao redor do Coletor, que desapareceu nesta.
            - Vocês ouviram o lorde. –  gritou Vazzi aos seus comparsas. – Tratem de não ferir a moça! – o espantalho ruivo esfregou as mãos, sorrindo, enquanto virava-se para os três jovens. - Quanto ao Sievenen e à Caçadora, deixem que eu abra as suas próprias cabeças. Eu deixo as tripas deles para que vocês se divirtam! Hahahaha!!!
             Risadas esganiçadas preencheram dolorosamente os ouvidos de Melissa, Viollet e Larsh. Era de se imaginar que a poeira de sadismo levantasse depois que o Coletor fosse embora.
            - São muitos! – Larsh disse às duas garotas. Ele segurava firmemente a foice.
            - Somos setenta e três!!! HAHAHAA! Que vantagem! – Vazzi se acabava em gargalhadas sádicas.
            - Não importa! – Viollet abastecia seu rifle de munição. – Tenho munição suficiente para atacar estes delinqüentes.
            - Eu não sei como usar este selo! – Melissa esfregava a mão sobre o pulso, local onde estava a estranha marca.
            Os loucos espantalhos empurravam uns aos outros para ver qual seria o primeiro a atacar. Os que foram empurrados recuavam, de tão estúpidos que eram.
            !BANG!
            Pedaços de um espantalho azul voam pelos ares.
            !BANG!BANG!BANG!BOOM!BANG!
            Todos atacam. A foice de Larsh corta os corpos dos delinqüentes como se estivesse cortando manteiga. Cápsulas vazias são exauridas a cada instante do rifle de Viollet. Melissa, desesperada, busca  um modo de ativar o selo em seu pulso.
            - Morram! Morram! Nenhum de vocês vai tocar em um fio de cabelo meu!!! – berrava Viollet, rangendo os dentes e com o corpo impulsionado para trás por causa dos tiros do rifle.
- Não vamos agüentar! – Larsh já estava com dificuldades para segurar a foice. Alguns espantalhos estavam agarrados na lâmina da arma.
Os mesmos delinqüentes que estavam na arma do garoto foram explodidos pelos tiros do rifle da caçadora de informações. Porém isso não adiantou a conter o ataque. Era uma verdadeira muralha de delinqüentes em forma de espantalhos.
Por trás dos seus comparsas, Vazzi tomou distância e correu. Saltou por cima da cabeça de um dos espantalhos da tropa e, aproveitando o impulso, fincou as garras no teto do galpão. O espantalho ruivo avançou pelo teto, fincando garra por garra. Em poucos instantes ele conseguiu atravessar a barreira de espantalhos loucos, observando do alto o confronto que estava acontecendo. Observou o seu alvo e saltou bem na frente de Melissa, assustando-a.
- Me acompanhe, moça, ou nada de ruim acontecerá aos seus amigos! – disse sorrindo com a boca fechada por costuras e retraindo as garras das mãos. Ouviam-se estalos a cada movimento seu: algo assustador.
- Você está mentindo! – Melissa se afastou do espantalho ruivo. Algo se mexeu na sua mochila jeans.
- Bravo! Você é bastante esperta... HÁ-HÁ-HÁ... AGORA VENHA COMIGO!!!
Ele a puxou forte pelo braço. Algo resistiu nas entranhas de Melissa. Ela socou o rosto da criatura.
- Fazendo-se de difícil!!! – gritou o espantalho. Atrás dele o cerco de outros delinqüentes contra Viollet e Larsh aumentava cada vez mais. – Acho que assim eu não vou conseguir cumprir com o trato de te levar inteira...
“Funciona! Funciona! Funciona!” Melissa repetia, pensando na marca do selo.
A garota sentiu um novo movimento nas suas costas, dentro da mochila jeans. Parecia que estava se desfazendo por dentro, como se alguém desfizesse as costuras puxando um fio qualquer do tecido. Algo na mochila ganhava volume, fazendo com que o peso desta aumentasse absurdamente.
Vazzi esticou os braços franzinos na direção da garota. Os dedos já se transfiguravam novamente em garras de madeira...
“Eu não acredito! É...”
Subitamente,  um dos braços do espantalho ruivo caiu no chão. Fora cortado por garras bem maiores do que as do dono. Melissa caiu no chão com o impulso. A mochila não existia mais. O caderno, que a garota carregava, estava no chão também. Um sujeito estava entre Melissa e Vazzi. Haviam pedaços de jeans costurados na roupa, além das mãos estarem transfiguradas em afiadíssimas garras de madeira. Melissa reconheceu aquele cabelo arrepiado de algum lugar.
- Alcest!!!
Ele virou o rosto de perfil, exibindo uma costura no pescoço que mais se assemelhava a uma cicatriz azul. Os olhos extremamente negros oscilavam com a respiração ofegante.
- Me desculpe pela sua mochila, Melissa...
- Sem problemas!
- Vasos ruins nunca quebram... – Vazzi segurava o braço cortado com a mão, impedindo que a palha do seu forro escapasse. Alguns segundos depois e a palha já sofria uma espécie de simbiose com o braço cortado, recompondo o membro de volta no lugar. – FRANCÊS BASTARDO!!! Você irá sofrer o mesmo que fiz antes com este seu corpo! Depois de te cortar novamente e de levar a garota para o lorde, eu terei quanta informação quiser!!! “Non” é?
- Você tem apenas vento nessa cabeça, Ruivo Estúpido! – Melissa e Vazzi espantaram-se pela dicção de Alcest. Estava completamente mudada. – Eu NÃO tenho mais sotaque.
Os dois espantalhos partiram para o ataque. Lutavam com suas garras, fazendo palha pairar no ar a cada intervalo curtíssimo de golpes. Melissa retirou o relógio e viu que a marca no pulso se mexia. Os ponteiros de moviam rapidamente, além de pequenas engrenagens que davam voltas e mais voltas em órbitas elípticas ao redor do selo.
Tic...tac...tic...tac...tic...tac...
- Está funcionando!!! ...como eu uso isso?
- Deseje! – Alcest respondeu com um grito, ainda se confrontando com seu rival.
- Hei, é o Alcest! – berrou Larsh, contendo a  “muralha” de espantalhos insanos.
Por causa do desvio da atenção, o garoto não viu quando um dos delinqüentes se aproximou e tentou fincar as garras na sua perna. Por pouco não fora atingido. Quase no mesmo instante, Viollet estourou a cabeça do louco que o havia atacado:
- Concentre-se no nosso combate, Sievenen!!! – ralhou. Ela tateou a cintura em busca de mais munição. - Minha munição já está acabando. Mas que merd...
“Eu devo me concentrar...” Melissa colocou a mão sobre o selo. “Eu não sei o que isso vai fazer, mas estou torcendo para que seja algo bom para nós!” Ela posicionou a mão na sua frente, ainda sentada no chão de areia do galpão. “Todos não desistiram até agora. Eu também não vou desistir.”
Fagulhas saíram da marca no pulso da garota. Segundos depois, raios luminosos saíram de cada fresta na madeira das paredes, dando a impressão de que uma bomba de luz houvesse explodido no interior do galpão, que foi consumido por uma esfera de luz.
A chuva caiu lá fora.
...
- Eles... Eles foram embora.
- O que aconteceu aqui?
- Todos estão bem? Onde estão aqueles malditos espantalhos?!!?
- Melissa? Larsh? Quem é você, de violeta?!
Melissa, Larsh, Viollet e Alcest estavam parados, olhando uns aos outros.
- O que aconteceu? – Larsh caiu com o traseiro no chão. Não agüentou ficar de pé.
- Eu usei o selo...
- Olhem para o alto! – Alcest falou.
Pequenos filetes escarlates brilhavam, pairando pelo ar. O efeito estava ainda mais bonito por causa da chuva que caía. Era noite. Provavelmente o paiol era a única coisa iluminada das redondezas.
- Isso é...palha! – Larsh conseguiu pegar um dos filetes.
- São os espantalhos que estavam aqui há poucos instantes... – Alcest mirou Melissa, assustado.
Viollet arregalou os olhos para a garota. Havia uma imensa marca, idêntica à do selo, ao redor de onde fora acionado o selo.
- Então ela é capaz de moldar qualquer coisa como quiser.
- Moldar informação ao modo como quiser?
- Exato.
Melissa observava toda a atenção concentrada pra si própria. Viollet continuou:
- Gunter estava certo. Melissa carrega algo muito importante para o destino  deste lugar. Ela é uma Enviada.

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