Marco Zero escrita por Datenshi


Capítulo 4
Passagem 3: Na sombra das árvores


Notas iniciais do capítulo

Com Larsh e Alcest ao seu lado, Melissa agora pode explorar, até então desconhecido, Marco Zero. As pressões sobre Alcest mostram que o espantalho cometeu algum grave delito no passado, além da explícita amizade com o jovem Larsh Sievenen. Por enquanto, estas lacunas vazias ficam para serem preenchidas mais tarde.
A pergunta que nós devemos fazer é:
"O que atacou Larsh na floresta?"



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Passagem 3: Na sombra das árvores


Melissa sentou na campina ao lado de Larsh. Abriu a mochila, verificando seus pertences:
- Meu caderno ainda está aqui... – suspirou, aliviada.
- Caderno? – Alcest perguntou enquanto sentava na grama junto deles.
- É! Um caderno! Um bloco enorme de folhas e páginas que...
- Eu non sou tão burro assim! É óbvio que sei o que é um caderno! Fico pensando como este caderno, assim como outras coisas suas, foram parar nas mãos de pessoas daqui...
- Faz sentido. O velho Iglio disse que achou o caderno de Melissa no jardim dele, hoje cedo. – lembrou Larsh.
Pararam por alguns minutos. A garota contemplou o céu alaranjado, limpo feito vitrine de loja. Então seguiram pela estrada de terra.
- Onde fica Primaria? – ela perguntou. – É muito longe daqui?
- Acho que deve ser a uns quinze quilômetros daqui. – Larsh respondeu.
- Isso tudo?
- Não é problema... uns dois dias e nós chegamos por lá.
-­ Problema vai ser a passagem pela floresta...
- Aquelas abominações não irão aparecer para nós, Alcest! Tenho certeza...
- O que te dá tanta certeza? Sua bicicleta foi arrasada por aquelas monstruosidades...
- Bem, agora não sou apenas eu que vou pela floresta! – sorriu. Lembrou do antigo patrão. – Queria devolver tudo o que aquele velho havia me dado...
- Gastou todo o dinheiro do seu salário? – Melissa perguntou a Larsh.
- Dinheiro? Haha! – o garoto abriu um sorriso enorme. - Isso acabou faz tempo por aqui...
- Hã!?
- Por toda extensão de Marco Zero impera um modelo de governo chamado Infocracia. A base de troca comercial é a informação. Toda a economia das províncias de Marco Zero é sustentada pela sabedoria de seus habitantes e pela quantidade de informação adquirida e compilada pelas mentes dos governantes. Somente aqueles que possuem sabedoria suficiente são mandados para o governo. Os ricos são os que têm acesso a um grande número de informações.
- Isso é... isso é... Perfeito! – Melissa exclamou empolgada.
- Non...
- Não...
- Como não? É perfeito não existir dinheiro aqui, nem as pessoas se matarem por dinheiro ou por petróleo, ou qualquer outra coisa que proporcione lucro e dinheiro! Não há gente roubando cédulas de dinheiro dos outros ou matando por isso!
- Tens certeza, Melissa?
- Claro!
Todos sentiam o cheiro de mato quando se aproximavam cada vez mais da floresta à frente. Alcest suspirou e disse:
- Pois as coisas non funcionam deste jeito por aqui. Do mesmo modo como deve ser de onde você veio, os habitantes daqui também se matam, roubam, são corruptos e fazem guerras por informação. Todos querem saber mais e mais, ficarem informados ao máximo e por completo...
- O vilarejo de Burggin é um ponto abastado de informações. – completou Larsh. - Ignorantes sem informação são os pobres daqui, ficam largados em vilarejos escondidos embaixo da terra...
- Que triste...


O velho Iglio estava fechando a sua loja. Quando colocou a placa na porta de vidro com o aviso “Parada para almoço, volto daqui a duas horas.”, percebeu que um sujeito o observava do alto do telhado laranja da loja:
- Ye, velho! – saudou abaixando a cabeça. Mesmo com a forte luz do dia, sua aparência não foi revelada.
O velho Iglio empalideceu.
- O que faz aqui!? – indagou assustado.
- Recebi informações de que andaram saltando a Linha Divisória, e isso aconteceu nessa região. – sua voz grave e rouca assustava cada vez mais o velho.
- Eu não tenho n-nada com isso, nem falo com recém-chegados!
O sujeito estranho girou o cajado que carregava e, em um movimento brusco, atirou-o contra o velho carrancudo. A arma fincou no chão, por pouco não atravessando o corpo largo do alvo.
- Não quero saber com quem você fala, velho! – retrucou. – Quer continuar vivo para administrar este comércio desataviado!? – o cajado retornou à sua mão em um movimento mágico. - Quero informações agora ou não vou errar de propósito na próxima vez!!!
- Aquele espantalho maldito fez amizade com uma recém-chegada de sapatos estranhos. Eles saíram daqui junto com  meu ex-assistente e estão indo até Primaria. – respondeu o velho, tremendo da cabeça aos pés.
O cajado voou até colidir violentamente na testa do velho Iglio, que caiu no chão inconsciente.
- Nunca fale mal de espantalhos, velho pacova. – ele saltou do telhado para o chão. – Quer se alimentar um pouco? – indagou ao cajado. – Vamos lograr as informações dessa mente vazia...
O homem estranho se agachou diante do corpo caído e escancarou a bocarra imensa, fazendo movimentos com as mãos para sugar a energia azul que saía dos olhos do velho.


A floresta era composta basicamente de pinhos enormes e arbustos de dois metros de altura. Uma estrada de terra cortava caminho entre a floresta. De vez em quando, fagulhas azuis brilhavam subindo pelo alto das árvores ou cortando o chão.
            Melissa olhou para o relógio de pulso. Viu que seus ponteiros congelaram.
“Meu relógio não funciona aqui...” pensou. Retirou o objeto do pulso. Abaixo de onde estava o relógio havia a marca dos dois ponteiros com cortes e esferas pintadas em laranja. Melissa tentou passar a mão por cima, porém não surtiu efeito algum. Decidiu ignorar a marca e, com receio de ser algum sinal aziago, recolocou o relógio por cima.
- O que são essas luzes? – indagou, tentando distrair-se.
            - Fibra Óptica... – Alcest respondeu em um tom fora do comum. Havia lembrado de alguma coisa que não queria revelar.
- Já está ultrapassada demais. – completou Larsh. - O Governo pronunciou-se dizendo que iria trocar estas ligações velhas pelo sistema novo.
- Eles non trocarão nada aqui...
- Por que não?
Movimento nos arbustos. Não era o vento.
- Esta floresta está infestada de delinqüentes...
Um bando de seis sujeitos saltou na frente de Larsh, Alcest e Melissa. Todos eram muito pálidos e esguios. Vestiam calças de linho sujas, em tom marrom, e túnicas velhas com linhas verticais de cor verde, preto e azul; sempre com palhas saindo das extremidades. Galhos de madeira saíam das cabeças flexíveis, com os olhos negros demonstrando sadismo e com suas bocas costuradas por espessas linhas de barbante preto.
- Ora, ora, se não é o rapazote do moinho!!! – gritou com a voz esganiçada o espantalho ruivo que era o líder do bando. – “Mui, mui!!!” – ele estalou os dedos, levando-os à boca. - Como vai o sotaque, heeeein? 
Os capachos gargalhavam sem controle, batendo com os pés no chão ou caindo de tanto rir.
 - Pensei que seu bando havia diminuído, Vazzi. – Alcest retrucou. – Cada vez mais idiotas iguais a você estão surgindo?
Vazzi deu uma olhadela em Larsh e Melissa, berrando:
- Huuuum... Que graça a garota!!! – olhou para os comparsas. – Ei, inúteis, não é o guri que nós atacamos hoje? – todos concordaram. – Como vai, Larsh Sievenen? Hiehieha!!! O que vieram fazer por aqui, serem atacados por nós?
- Você vai pagar caro pelo ataque de hoje!!! – bradou Larsh ao espantalho estranho.
- Hahaha!!! Estamos em maioria! O que irão fazer contra isto? – o delinqüente ruivo fez com que uma lâmina espinhada crescesse da sua mão. – Vamos lá! Peguem os outros gralhas e tragam-me o que tiverem de interessante!
Os galhos das mãos de todos os malucos do bando cresceram instantaneamente, tomando a forma de lâminas afiadas. Eles avançaram insanos contra o trio.
- Espantalhos se entendem com espantalhos... – Alcest falou a Larsh.
O garoto compreendeu a mensagem e puxou Melissa pelo braço:
- Corre!!!
Melissa não havia entendido, contudo, o instinto de sobrevivência a fez correr junto do amigo, se enfurnando na mata florestal. Logo atrás, Alcest se encontrava agachado, sibilando frases ritualísticas:

M'enlève, I déjà ne soutient pas plus!
Mes désirs d'âme de me laisser déchirant ma viande!!!

Lâminas afiadas de madeira rasgaram a pele de pano do espantalho, retalhando os corpos dois espantalhos delinqüentes de uma só vez. Os outros três saltaram por cima das lâminas e perseguiram os fugitivos. Alcest estava com os olhos queimando em brasa e de sorriso sarcástico. Avançou contra Vazzi, que defendeu os golpes da lâmina afiada.
Três espantalhos dementes corriam atrás de Larsh e Melissa. O demente que estava mais adiantado saltou em cima de Larsh. O garoto foi mais esperto e puxou um isqueiro do bolso – um dos pagamentos do antigo patrão. -, incendiando o corpo de palha do inimigo. Um outro espantalho correu até o garoto e deu-lhe um golpe certeiro na cabeça, fazendo-o cair inconsciente no chão.
Melissa estava sozinha, correndo com todas suas forças através da floresta escura. Os espantalhos corriam atrás, saltitantes, gargalhando toda sua infâmia. Um deles chegou a alcançar a garota, porém ela o golpeou com sua mochila com os grossos livros de geografia e química. O saltimbanco caiu desnorteado. Já o que havia sobrado saltou nas costas da garota e a imobilizou no chão:
- Hiehiehie! Eu sempre quis ver como é um humano por dentro. Que tal abrir o seu corpo com minhas próprias lâminas?
“É o meu fim. Tudo acaba aqui.”
Ela pensou em fechar os olhos e agüentar a dor da lâmina cortando seu abdome, quando viu a cabeça do espantalho delinqüente desintegrar-se em questão de segundos. O primeiro impulso que Melissa teve foi de jogar o corpo decapitado para longe de si, e o fez. O outro demente se levantou aterrorizado:
- Aaargh! – saiu correndo em retirada.
Um rifle apareceu na visão de Melissa, que ainda estava paralisada no chão.
- Eu vou acertá-lo. Eu vou acertá-lo. Eu não vou perder aquele idiota da minha mira...
Um baque surdo. Mais à frente, o delinqüente estava olhando abismado para o enorme buraco que atravessava o seu corpo.
Caiu morto, ainda sorrindo feito bobo.
Melissa virou a cabeça para trás e viu, de ponta cabeça por causa de sua visão, uma garota de cabelos negros caindo até as costas, de roupas com listras verticais de cores variando do roxo à lavanda, segurando um rifle enorme. Ela levantou a aba do chapéu roxo de ponta alta.
- Tudo bem contigo? – indagou a moça.
- Er...
- Você está bem??? – insistiu.
- Er...
- O.k. Está em estado de choque…
- Aham...
- Vai ficar aí parada?
- Eu me chamo, Melissa. – levantou-se. – Você matou dois deles brincando...
A luz da lua reluziu no rifle prateado. A moça abriu um sorriso de uma ponta a outra do rosto:
- E eu me chamo Viollet.


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