Marco Zero escrita por Datenshi


Capítulo 13
Passagem 12: Maquinaria Pesada




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Passagem 12: Maquinaria Pesada

                O zepelim de ferro voava o mais rápido possível, cortando o céu de nuvens vermelhas, tostadas pelo sol poente.
            - A que velocidade nós estamos? – Melissa teve que perguntar em um tom de voz muito alto por causa do som das hélices.
            - Duzentos e alguma coisa! Zepelins deste porte não voam tão rápido quanto os corsários granadianos ou as rapinas de investida... – Janni respondeu no mesmo instante em que manipulava alguns comandos no painel de controle abaixo do timão. – Estaremos perto de Quadrinera daqui a meia hora. Nem é tão difícil conduzir um zepelim como este. Olha só, vou te explicar pra que serve cada comando desses...
            Enquanto Melissa assistia Janni pilotar o zepelim de ferro, Alcest e Larsh conversavam na borda esquerda do convés:
            - Você acha que Melissa é capaz de controlar a força que carrega? – indagou o garoto enquanto observava as marionetes carregarem coisas de um lado para o outro.
            - Não sei bem... Talvez ela consiga, mas não agora. – o espantalho falou o seu palpite e sorriu. – Será breve o dia em que ela conseguirá controlar todo o potencial do selo, não?
            - Pelo jeito dela, parece que Marco Zero está agradando a sua visão em tudo... Nós contaremos ao Janni sobre o dom dela?
            - Isto é uma coisa que apenas Melissa poderá decidir. Por enquanto vamos ficar de boca fechada. – os olhos de Alcest oscilaram. – Que tal irmos dar uma olhada no que a Viollet está fazendo?
            Um berro veio dos fundos do convés:
            - NÃAAAAO!!! PELA TRIGÉSIMA NONA VEZ: NÃO É DESTE JEITO QUE SE SEGURA UM RIFLE!!!
            Viollet estava diante de dez marionetes. Todos estavam segurando rifles.
            - O que vocês estão fazendo? – Larsh se aproximou do grupo e Alcest pegou um rifle e segurou-o do mesmo modo que Viollet.
            - Estou tentando ensinar estas criaturas a segurarem um rifle em posição de ataque.
            - Mas marionetes como eles não foram feitas para segurarem rifles e atacar! – protestou.
            - Você já viu o estado das armas deste zepelim? E se estes pobres coitadinhos forem invadidos por piratas granadianos? E se eles voltarem algum dia para as suas casas, como vão defenderão suas famílias dos perigos da noite?
            Alcest tentava imitar a “coreografia do rifle” feita pelas marionetes.
            - Ninguém vai ensinar nada à tripulação deste zepelim! – Janni gritou da proa da embarcação.
            Viollet quase caía no chão:
            - Mas e se... E se...
            - Ao menos se lembrem que estão aqui de carona... – Janni direcionava o timão para a esquerda.
            - Ele tem razão. – Larsh concordou.
            - Eu ainda continuo achando que ele guarda um chicote para maltratar a tripulação... – Viollet se esgueirava entre Alcest e Larsh.
            - Hei, moça, eu já disse que achei o seu rifle muito bonito? – o capitão berrou.
            - Sério!? – rapidamente Viollet ficou sorridente.
            - É só falar do rifle? – Alcest indagou para si próprio, olhando para a arma que segurava.
            O zepelim aumentou a velocidade:
            - E QUANTO AO RESTO DA TRIPULAÇÃO, TRATEM DE DEIXAR AS CAIXAS DE ENTREGA PARA QUADRINERA NO COMPARTIMENTO DE CARGA, OU NÃO TEM JANTAR PRA NINGUÉM!
            Todos os bonecos de ventríloquo largaram as armas e foram continuar o que estavam fazendo antes do “aulão”. Marcielu surgiu ao lado de Janni.
            - Capitão, eu acho que o senhor não lembrou disto, mas é que nenhum de nós precisa se alimentar...
            Janni suspirou.
            - Macielu? – chamou.
            - Sim, Capitão.
            - Providencie uma lista do que vocês podem ou não podem fazer, entendido?
            - Sim, Capitão. – o boneco retirou um bloco de notas do bolso e começou o seu trabalho, escrevendo uma lista de tópicos. – Necessidades Fisiológicas... Sentimentos Amedrontadores... Condições de Manipulação...
            - Coloque tudo o que for ameaçador... Você sabe que eu preciso manter o controle sobre todos os outros, não é?
            - Sei, senhor, mas acredito que o Vitorillu é o mais tapado entre nós.
            - Onde ele está?
            - Está guardando a pólvora dos canhões em caixas de madeira.
            - Avise para ele ter cuidado com o atrito, ou então...
            Ouviu-se um estouro forte vindo dos compartimentos inferiores do convés.
            - QUEM MANDOU ELE FAZER ESTA DROGA DE SERVIÇO!?
            - Você, Capitão Janni.
            - E nós pensávamos que o coitado do Vitorillu era o mais tapado aqui...
            Narcissu chegou correndo ao encontro do capitão:
            - Capitão, Capitão!!!
            - Mais um esbaforido chegando?! Não! Eu não quero saber o que você vem me avisar, Narcissu. Já basta a burrada que o coitado do Vitorillu fez nos armazéns...– Janni se agachou na frente de Narcissu, ficando “olho a olho” com a criatura. - Vá dar uma olhada nos armazéns para ver se o Vitorillu ainda está inteiro, certo?
            - Sim, Capitão! Mas e a notícia que eu estava trazendo?
            - Depois você me fala! Ei, moça, a senhorita quer acompanhá-lo ao interior do convés? – indagou o capitão à garota.
            - Claro!
            Nacissu saiu correndo pelo convés e Marcielu sentou no chão. Estava muito concentrado em fazer a lista que o seu chefe havia pedido. Melissa seguiu o outro boneco de ventríloquo por toda a extensão do convés até uma portinhola na popa.
Entrou.
Deparou-se com um corredor de ferro, repleto de lampiões ao longo das paredes, que possuía uma bifurcação e duas estreitas escadarias: uma para o alto com uma placa sinalizando “Cabine do Capitão – Marionetes que não estejam trabalhando não são aceitos!”, e uma escadaria para baixo com outra placa preenchida com a mensagem “Armazéns, Casa de Máquinas, Compartimentos de Carga, Depósitos de Armas e Refeitório – Marionetes rulez”. Melissa seguiu Narcissu, que desceu as escadas.
- Cuidado com a sua cabeça. Pode bater com a testa no teto... – avisou o boneco. Melissa curvou o corpo para frente.
Estavam em mais um jogo de corredores que mais lembrava um labirinto de ferro e lampiões que dançavam conforme o zepelim balançava. Por sorte, as portas dos armazéns estavam próximas. Melissa sentiu o odor de pólvora tostada entrar por suas narinas. Levou o pulso ao rosto, cobrindo nariz e boca.
Tic-Tac!
“Mas o que foi isso?” – indagou para si mesma ao notar o barulho típico de um relógio vindo do seu pulso.
Ela parou de acompanhar a marionete e observou o pulso na frente de um lampião.
            Tic-Tac!
            “De novo!?”
            A garota notou algo estranho. O barulho não vinha do relógio que cobria o selo que havia ganhado quando entrara em Marco Zero. O barulho vinha do próprio selo.
            - Ô, moça! A senhorita poderia se apressar um pouco? – Narcissu estava bem mais à frente do que Melissa.
            - Desculpe! É que aconteceu um pequeno imprevisto aqui...
            - Posso ajudá-la?
            Tic... Tac... Tac...
            - Não... Digo, tudo bem, eu já resolvi. – Melissa cobriu o selo com a manga da camisa. Lembrou que Janni estava procurando um Enviado. Não sabia ao certo qual era a sua verdadeira intenção.
            Ela correu por alguns metros e alcançou Narcissu. Ambos estavam diante de uma porta de ferro com a placa “Armazéns” na sua frente. Abriram-na. O ambiente não poderia estar mais negro do que estava. Caixotes de pólvora estavam quebrados, alguns alimentos estavam espalhados no chão: aquela desordem que se tem quando acontece uma explosão das grandes. No canto da sala estava uma enorme marca negra, denunciando que o acidente teria acontecido ali. A parede de ferro ao lado da marca estava com um grande buraco, provavelmente fruto da explosão.
            - Eu escapei por um triz!!! – Vitorillu saiu de dentro de um caixote que guardava nabos frescos.
            - Seu boneco louco! – berrou Narcissu, indo acudir o companheiro. – O que aconteceu por aqui? O Capitão parece que não gostou do barulho que escutou lá de cima.
            - Eu estava levando cinco caixas de nabos para o refeitório. O Lestorillu havia pedido que eu fizesse esse favorzinho para ele para que o Capitão Janni pudesse comer torradas com geléia de nabo no jantar. Eu não vi quando um dos nabos caiu do caixote e, quando eu estava levando o penúltimo caixote, tropecei no nabo estúpido e a caixa saiu voando por causa da queda...
            Narcissu não deixou o boneco terminar a explicação:
            - Já sei: a caixa de nabos se chocou contra um barril de pólvora e a coisa explodiu.
            - Não!! Isso foi bem mais tarde! Eu apenas quebrei o maldito caixote de nabos e tive que prestar contas com o Lestorillu, que é o cozinheiro do zepelim.
            - Diacho! E como aconteceu a explosão?
            - Calma! Você não pediu que eu dissesse o que havia acontecido por aqui? Estou narrando o que aconteceu desde de manhã.
            Melissa levou as mãos ao rosto para esconder o riso. Janni e os outros estavam realmente certos: Vitorillu era um tremendo tapado.
            - Eu não quero saber o que você andou fazendo! Quero saber como aconteceu a explosão que houve agora a pouco.
            - Aaaah! Essa explosão não foi culpa minha. Veio de fora.
            Melissa congelou. Narcissu perdeu o controle:
            - DE FORA?!
            - Foi! Deve ter sido um tiro de algum corsário granadiano. Sorte que eu escapei, ao contrário da maioria das caixas de pólvora que caíram lá em baixo...
            O boneco de ventríloquo tremeu:
            - Corsários granadianos! Estão se aproximando, nos atacaram e ninguém notou!!! – ele olhou para Melissa. – Moça, rápido, peça para o Azevillu, que está na Casa de Máquinas, colocar mais força nas hélices! Eu irei checar os canhões no Depósito de Armas.
            Melissa concordou. Ora! O que diabos eram estes granadianos? Por que estariam atacando o zepelim?
            - E depois, o que eu faço, Narcissu?
            - Suba o mais rápido possível. Ficar por aqui em baixo é perigoso, moça.
            Melissa saiu correndo do Armazém. Procurou a porta da Casa de Máquinas pelo corredor.
            -É a última porta do corredor! – Narcissu passou correndo por ela. O boneco alertava aos outros companheiros que estavam no corredor. – Granadianos a caminho! Vão para os seus postos e façam o que o Capitão manda fazer quando isso acontece!
            - Nuvens! Granadianos estão vindo! Façam o que o Narcissu mandou!
            Vários bonecos de ventríloquo corriam de um lado para o outro. Melissa correu pelo corredor. Havia avistado a porta que deveria entrar. Uma estranha luz avermelhada saia de suas frestas, desencorajando qualquer visitante. Melissa respirou fundo. Abriu a porta levemente.
            - Quem é você? – perguntou a marionete que estava sentada em uma banqueta de ferro. Possuía um nariz avermelhado, olhos baixos e era, talvez, a única marionete a ter cabelo: liso e escorrido, de cor azul-marinho. 
            - Eu sou Melissa e você deve ser o Azevillu. – o boneco concordou com as palavras da garota. - Isso não importa muito na nossa situação! – Melissa fechava a porta. – Querem que você ponha uma força maior nas hélices!
- Ninguém aparece por aqui... De um jeito ou de outro isso contribui para a minha depressão constante. Por que querem que eu aumente a força?
- Granadianos estão a caminho!
- Ótimo... Granadianos! – espreguiçou-se. – Estava um tédio tão grande antes de você aparecer, sabia? Achei a vida tão entediante que pensei em suicídio, mas lembrei da minha condição de operador da casa de máquinas... Tédio!
- Ei, faça alguma coisa! – Melissa já estava começando a ficar nervosa por causa do jeito de Azevillu. – Daqui a alguns minutos vão nos atacar e você fica se lamentando aí?!
- Ah... – bocejou. – Vão nos atacar? Vamos todos morrer... vamos todos morrer...
- QUER PARAR DE SE LAMENTAR E FAZER ALGUMA COISA?!
O boneco encarou Melissa por algum tempo.
- Quem sabe manusear os comandos desta Casa de Máquinas sou somente eu e mais ninguém. Eu ainda aposto que nós vamos morrer depois desta. Vamos todos morrer...
Melissa já não via saída para convencer aquele boneco a trabalhar. Porém, algo iluminou a sua mente:
- São ordens do Capitão!!!
- Por que você não falou isso desde cedo, han?
Azevillu tratou de trabalhar. Correu para um lado, ligou sistemas de botões, puxou alavancas, correu para o outro lado da sala, digitou alguns comandos em uns painéis já velhos, puxou mais alavancas, acionou alguns botões. Parou, de súbito, e olhou para Melissa.
- Se nós não morrermos, a senhorita pode me visitar algum dia?
A garota sorriu sem jeito. Que boneco mais pessimista!
- Acho que posso vir te visitar algum dia...
- Avise ao Capitão que eu aumentei a força das máquinas três vezes mais do que estavam operando. Esses granadianos são malvados, sabia? Miram bem no centro da casa de máquinas...
- Eu irei avisar. Eu prometo.
Melissa se retirou da sala. Ainda conseguiu ouvir Azevillu falando sozinho
- Nós vamos morrer? É, nós vamos morrer... Ao menos eu não vou ficar entediado... Ao menos foi uma ordem do Capitão...
E se morressem?
Melissa queria deixar a sua promessa cumprida, mesmo que fosse apenas uma promessa a uma marionete.
            - Merda! Estouraram a nossa pólvora! Malditos sejam estes granadianos!
            Janni tentava manter o controle do zepelim. A dificuldade aumentou quando as hélices passaram a girar bem mais rápido.
            - Preciso de defesas aqui no convés e quatro pequenotes nas armas das laterais! – berrou, da proa. – Deixe aquela lista para depois, Marcielu, e trate de ver se as armas estão prontas.
            - Sim, Capitão!
            Alcest, Viollet e Larsh se aproximaram do capitão. Estavam todos aflitos.
            - De onde saíram esses granadianos? Nuvens! Ainda conseguiram atirar e destruir a nossa pólvora a uma distância imensa!!!
            - Certamente estamos com problemas, não? – Alcest não parava de observar o corre-corre das marionetes.
            - Sim, caro amigo de palha! Estamos sem ataque! Vamos ficar apenas na defesa do zepelim.
            - Eu posso atirar nas maquinarias voadoras dos granadianos! Eu me ofereço. Tenho várias medalhas de tiro pela JUBILO. – Viollet segurou firmemente o rifle.
            - Boa sugestão, moça! – Janni deu uma batida leve no ombro de Viollet e se virou para trás. – TRATEM DE AJUDAR A MOÇA DO RIFLE!!!
            Vários bonecos se apresentaram. Viollet desligou a trava de segurança do rifle:
            - Muito bem, garotos! Peguem as suas armas e vamos mandar chumbo quente contra aqueles granadianos!
            Viollet se afastou com a sua pequena tropa de atiradores. Larsh mal conseguia esconder a sua aflição:
            - E o que nós vamos fazer, Janni?
            - Hum... Procurem abrigo dentro das instalações. Vocês irão ficar muito expostos se continuarem por aqui.
            Larsh protestou:
            - Nós iremos nos esconder? Mas todos estão fazendo alguma coisa para salvar o zepelim!
            - A tripulação deve obedecer às ordens do capitão! Tratem de fazer o que eu estou mandando! É para o bem de todos!
            Larsh ficou paralisado por alguns instantes, porém Alcest o pegou pelo braço.
            - Vamos! Este momento não é lugar para nós, Larsh!
            - Mas...
            - É a lei da embarcação. Não vamos atrapalhar o Capitão, Sievenen!
            Alcest e Larsh cruzaram o convés até as entradas para os compartimentos inferiores. Passaram por Melissa, que estava indo de encontro a Janni, quando o espantalho a barrou.
            - O que pensa que vai fazer? Você tem que se proteger!
            - Eu tenho uma mensagem para o Capitão! – disse, desviando do caminho dos seus dois amigos.
            - Volte rápido, Melissa!!
            Janni estalou os dedos das mãos. Sorriu:
            - Se vocês vieram até aqui para derrubar o meu zepelim... – o Capitão girou o timão com toda a força, desviando a embarcação da rota para Quadrinera. Todos no zepelim sentiram a imensa velocidade em que o veículo se moveu, dando meia volta e indo de encontro às maquinarias granadianas. - ...com certeza não vão derrubá-lo com facilidade!!!
            - Capitão! Azevillu aumentou a potência das hélices! – Melissa tentava descansar da correria.
            - Perfeito! Darei um prêmio para ele em outra ocasião por fazer que nós estejamos aptos a desviar da maioria das bombas granadianas!
            - Procure abrigo, Melissa! – Janni tapeou o timão. Uma série de painéis subiu do chão do convés, ao redor do capitão. Ele digitou alguns comandos nos teclados rústicos.
            Melissa não procurou abrigo. Continuou ali, observando a cena. Quatro portinholas se abriram nas laterais do casco, de onde saíram quatro suportes com marionetes montadas em poltronas equipadas com armas de repetição. Giravam em meia circunferência, agitando-se para o inimigo que estava por vir. No convés, Viollet liderava uma tropa de doze marionetes, todos com rifles e munições. Empunhavam as suas armas em posição de ataque. Havia uma metralhadora giratória na popa do convés, controlada por uma marionete, e outra na proa, onde Marcielu estava no comando.
Um grito veio da lateral esquerda:
            - ESTÃO VINDO!!!
            Todos mantiveram suas atenções na proa. Via-se borrões negros no céu, aproximando-se cada vez mais até assumirem formas definidas. Melissa notou que as maquinarias granadianas eram espécies de geringonças voadoras, montadas com pedaços de diferentes coisas, talvez sucatas e pedaços de outras maquinarias voadoras. Não havia padrão para aquelas máquinas: todas eram diferentes umas das outras, sendo oito no total. Algumas delas eram completamente armadas de estranhos lançadores de projéteis, outras possuíam turbinas muito grandes e algumas tinham asas enormes, cobertas de espinhos e furadeiras mecânicas. Era um pesadelo.
            O zepelim aproximava-se cada vez mais. As maquinarias vinham do lado oposto, de encontro ao alvo em uma velocidade incrível. Melissa e os outros escutavam os motores  e turbinas granadianas rangerem e pipocarem, como um mau presságio. Chegavam mais e mais próximo.  Uma ansiedade fora do comum dominava a todos. Estavam perto demais...
            - Agora!!!
            Viollet ordenara. O grupo da Caçadora lançou uma saraivada de tiros contra as máquinas voadoras, que passaram direto. Toda a tripulação virou o rosto para a popa do convés.
            As maquinarias continuaram voando até descerem no céu, subir e ir à direção contrária, a favor do zepelim.
            - Eles estão usando uma estratégia de perseguição! – Janni avisou a todos. - Cuidado com as laterais!!!
            As naves granadianas se aproximaram. As metralhadoras das laterais do zepelim atiravam contra as maquinarias, amassando a proteção das naves inimigas. Duas aeronaves revidaram o ataque, explodindo uma metralhadora de defesa do zepelim. Marcielu girou a sua arma e atingiu em cheio a maquinaria que passava pela frente do zepelim, fazendo-a explodir pelos ares.
            - AAArgh! – o boneco não parava de tremer quando atirava.
            Uma das aeronaves invadiu o convés, atirando para todos os lados. Melissa tentou se proteger dos projéteis. Viu-os cair na sua frente, como se parassem de súbito no ar quando estavam na direção do seu corpo. Misteriosamente foi salva.
            - O que foi isso?!
            Todos no zepelim sentiram o impacto de uma explosão na lateral do casco.
            - DESGRAÇADO!!!– Janni não parava de metralhar os inimigos. Conseguiu expulsar do zepelim a maquinaria que invadira o convés pouco antes da mesma explodir com os danos causados pelo armamento do capitão. – Um deles se jogou contra a casa de máquinas!!!
            Melissa ficou espantada. Um ataque suicida? Lembrou das palavras que a marionete da Casa de Máquinas, Azevillu, disse sobre a perversidade dos granadianos.
“Se atingiram a lateral do casco, só podem ter atingido parte da Casa de Máquinas.”, refletiu, no meio de todo o conflito. “Aquela marionete tinha razão...” Melissa olhou para o próprio pulso. “Malditos... sejam lá o que forem... Malditos granadianos!”
            Viollet e o seu bando de atiradores não perdiam tempo ao atingir as máquinas granadianas. Uma das aeronaves chamou a atenção da garota:
            - Eu não vou perder você! – Viollet estava com o alvo na mira do seu rifle. – Eu vou acertar... Eu vou acertar... Eu vou acertar!!!
            BANG!
            A aeronave titubeou. Fumaça saiu das frestas nas asas antes que aquela máquina despencasse do céu.
            - ACERTEI!!!
            Ela deu dois saltos de felicidade pelo sucesso. Entretanto, Viollet não havia percebido o momento em que uma das maquinarias serrou uma das vigas de ferro que havia no convés com as serras e brocas que carregava nas asas.
            - VIOLLET!!! – Melissa gritou, próxima do local.
A peça de ferro deslizou rapidamente. Estava prestes a esmagar Viollet e parte do seu bando. Viollet e as marionetes notaram a sobra da ameaça se projetando sobre o chão. Viraram suas cabeças e observaram, por instantes, a viga de ferro indo ao seu encontro. Todos os bonecos cobriram suas cabeças com os braços, enquanto Viollet, amedrontada, apontou o rifle para o objeto.
A viga de ferro havia parado no ar.
Tic... Tac... Tic... Tac…
Melissa estava com a mão estendida na direção da viga. Suas mãos estavam envoltas em uma aura luminosa. Melissa segurava a viga de ferro que pesava centenas de quilos. Sentia como se estivesse segurando um lápis qualquer.
Fagulhas saltavam da marca em sobre o seu pulso. O selo havia acordado.
            - ATRÁS DE VOCÊ!!! – Viollet gritou para a amiga.
            Uma maquinaria granadiana se aproximou da garota, aprontando as armas para destruir a ameaça ao ataque. Melissa lançou a viga de ferro contra a aeronave, espatifando-a sem piedade.
            Tic! Tac! Tic! TAC! TICTAC! TICTAC!
            Janni havia observado tudo. Estava fascinado. Melissa estava parada, no centro do convés, com o corpo envolto em uma luminosidade bela. As engrenagens e os ponteiros do selo no seu pulso não paravam de girar, realizando movimentos elípticos em alta velocidade. Os olhos da garota exibiam um brilho cinzento e flamejante.  As maquinarias que voavam perto do zepelim reduziram a velocidade para observar que fenômeno era aquele.
            Sem falar absolutamente nada, Melissa estendeu as mãos para duas máquinas inimigas. Sentiu, como mágica, que estava segurando-as firmemente em suas mãos. Chocou uma contra a outra, explodindo-as no ar.
            Ainda faltava uma maquinaria granadiana.
            Todos os combatentes do zepelim concentraram as suas atenções na máquina inimiga. Rajadas de tiros e projéteis foram suficientes para explodir a aeronave inimiga.
Após o último inimigo ter sido eliminado, a tripulação de bonecos que estava no combate soltou o grito da vitória. Janni e Viollet, sorridentes pelo êxito alcançado, correram até onde Melissa estava para comemorar a vitória junto da principal combatente do confronto que se sucedera. Alcest e Larsh abriram a porta dos compartimentos inferiores, onde estavam abrigados junto com parte da tripulação, e foram saber o que havia acontecido.
Um vento agitado dançava pelo céu onde o zepelim havia parado. Melissa continuava dominada por um manto luminoso. A sua visão palpitava em formas multicoloridas, completamente desordenadas.
- Meus olhos!
- O que está havendo, Melissa? – Viollet parecia preocupada. Todos se mobilizaram ao notarem o estado lastimável da garota.
- Meus olhos!!! – exclamou, levando as mãos para o rosto.
Ela lembrou do que havia acontecido antes da chegada em St. Poltien.
As vozes de Larsh, Alcest, Viollet, Janni e todos os outros, o barulho das hélices, do zepelim cortando o ar, o ranger das vigas de ferro: tudo se transformou um baque uníssono e incompreensível. Melissa sentiu novamente os seus tímpanos afundarem. Os olhos foram pressionados para dentro. Tudo à sua frente se contorceu em um único túnel de imagem seguindo em alta velocidade, imergindo a fundo na substância retumbante do som. A sensação era muito pior do que a anterior. Melissa não caía no chão e nem sentia o mesmo. Sentia-se sugada para o ponto central do seu corpo.
A agonia atingiu o seu ápice.
Perdera a consciência.

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