Eu amava café. Isso é algo tão certo quanto 2+2=4. Não existe muita coisa no mundo melhor bom café. Minha mãe costumava a comparar as coisas à um café perfeito. Ela dizia "meu dia foi tão bom quanto um café perfeito". Coisa estranha, eu sei. Mas...

Em Londres não é nada fácil achar um bom café, quanto mais um café perfeito, mas aqui estava eu. Sentada em um banco dessa pequena cafeteria de esquina tomando um bom café.

As melodias de John Mayer tocavam no radio em cima do balcão. Um velho senhor estava sentado no fundo da lanchonete lendo um jornal e tomando um suco. O caixa estava praticamente dormindo e a única garçonete que tinha ali estava sentada mexendo no celular. O lugar era estranho, em meio ao centro de Londres, onde já se viu uma lanchonete vazia como esta?

Mas não estava ligando. O café era bom, e isso que importava.

Comprei mais um para a viagem e levantei, pronta para voltar para escola e quem sabe ver um filme, ou talvez até começar a trabalhar na minha coreografia para a proposta da Jennifer. Depois de tantas xícaras de café, nem conseguia pensar em ficar parada. Dançar seria uma boa.

Ia em direção ao metro, estava com sorte, tinha saído da lanchonete minutos antes do próximo partir. Calmamente caminhei para a estação, estranhando um pouco como aquilo estava vazio. Normalmente era cheio até dizer chega. Enquanto ia até a plataforma onde poderia pegar o metro para ir para a academia, ouço aquele som os trilhos se mexendo. Ah, não! Não, não, não!

Corri desesperada em direção a plataforma. Se o meu metro estivesse saído demoraria anos até ter um próximo para me levar de volta. Só corri. Esperava pega-lo ainda a tempo. E bem... Parece que eu não estava com tanta sorte assim.

Enquanto via o metro correr sob os trilhos para longe, minhas pernas não seguiram a ordem do meu corpo de parar. Eu continuei a correr sem querer, batendo em alguém e caindo como uma boneca de pano no chão. Senti meu café queimar minha mão ao ser derramado e uma leve dor no meu tornozelo esquerdo. Calma ai!

Caindo no chão? Chão?! Desde quando o chão é tão macio assim? Sem saber onde me enfiar levantei o rosto e abri os olhos encarando um garoto moreno que me olhava com um meio sorriso.

Merda.

Vergonha era pouco para descrever a situação. Eu não sabia onde me enfiar. Talvez me jogar nos trilhos do metro e torcer para algum deles passar correr sobre meu corpo vermelho de vergonha. Ignorando o pensamento suicida, me levantei sentindo meu rosto queimar.

- Mil desculpas! Eu realmente não estava olhando e... Ai me desculpa! – eu disse completamente sem graça.

- Não se preocupe. – ele disse sorrindo e se levantando. – também estava distraído. – ele se justifica como se a culpa fosse dele.

Fico olhando para ele, sem saber se agora devia dizer algo, virar e ir embora, ficar ali parada igual a uma idiota... A última opção estava sendo usada agora e estava sendo completamente inútil. Até eu ver o estrago que eu tinha causado.

- Oh merda! – exclamei em português e olhei para sua camiseta completamente estragada pelo meu "café perfeito". – A sua blusa... Desculpa por isso! – volto ao inglês e se possível, me torno ainda mais vermelha e constrangida.

- Sem problemas, essa blusa já é velha mesmo. – ele disse dando ombros e colocando as mãos dentro do bolso.

Olho para ele novamente, prestando mais atenção. Ele não me parecia estranho. Era alto, e não moreno como tinha achado de primeira. Seu cabelo era de um tom castanhos mais claro, algo indo para o bronze. Ele era fofo. Tinha um sorriso bonito no rosto e uma barba rala já por fazer.

- Sou Duda. – me apresento de repente e estendo uma mão, sem nem saber por que fiz isso.

Ele me olha franzindo a sobrancelha, mas acaba rindo e aperta minha mão dizendo com um sorriso de lado no rosto:

- Liam. Me chame de Liam.

- Bom, prazer te conhecer Liam.

- O prazer é meu Duda.

Sorrio e me viro indo me sentar em um baco atrás de nós.

- Também estava querendo pegar aquele metro? – pergunto enquanto ele vem se sentar ao meu lado.

- Tinha que encontrar uns amigos em uma espécie de reunião... – ele revira os olhos. – Vão me matar pelo atraso. – ele fecha os olhos em uma expressão torturada e depois olha para mim. – Você?

- Tinha que voltar para ensaiar para a minha apresentação...

Ele assume uma expressão de surpresa no rosto.

- Cantora?

- Só no chuveiro. – eu rio. – passou longe!

- Hum... Atriz? – ele diz franzindo o queixo.

- Só para mentir para meus pais.

- O que então? Pianista?

- Eu?! Não mesmo!

- Guitarra?

- Meu talento para instrumentos musicais é completamente nulo.

- Apresentação para o que então?

- Uma dica: - eu brinco. – sei ótimos movimentos.

Ele joga a cabeça para trás soltando uma gargalhada e me olhos novamente ainda rindo.

- Uma dançarina então?

- A próxima "John Travolta" da história.

- Tão talentosa assim?

- Você não imagina. Quem sabe um dia você não tem a honra de me ver em ação? – eu não sei da onde eu tirava coragem para dizer essas coisas, talvez fosse a cafeína em ação... Apenas fluía, e quer saber? Eu estava gostando.

- Vou aguardar ansioso. – ele disse sorrindo.

- Bom, eu sou uma grande dançarina, e você?

- Eu? Bem... Eu posso dizer que um dia você pode até dançar as minhas músicas. – ele sorri.

- Cantor?

- Cantor, compositor, guitarrista e pianista.

- Um grande musico então.

- O próximo "John Lennon" da história.

- Tão talentoso assim?

- Você não imagina. – ele diz e nós dois rimos.

- E então, o John tem um Paul, George e Ringo? – eu pergunto.

-É claro! Somos os próximos Beatles da história mais um penetra.

- Cinco?! Agora eu estou impressionada! – eu rio.

- Achei que já estivesse.

- Sou difícil de impressionar.

Sim, me culpe. Eu estava flertando com um desconhecido no metro.

- Eu adoro um desafio. - ele me olha fixamente nos olhos, nem tenho coragem de desviar o olhar e quando sinto aquele indicio de aproximação viro o rosto.

- Calma lá garoto! – eu digo rindo e completamente vermelha. – Nem te conheço direto.

- Sabe meu nome e que sou cantor. O que mais de interessante tem para saber?

- Não sei... Me surpreenda. – digo e me levanto ao ver o brilho do farol do metro vindo em direção a nós.

Quando o metro para e abre suas portas m viro para ver Liam ainda sentado me olhado com uma expressão indecifrável.

- Você vem? – pergunto entrando no metro.

Ele se levanta com um sorriso e entra atrás de mim.

Sentamos juntos em um dos bancos e sem dizer mais nada tiro o Ipod da bolsa e ligo em uma playlist que Katherine me fez criar. Devo admitir que mesmo que não conhecesse nenhuma das bandas que ela me fez colocar ali, era bem gostoso o estilo musical.

- O que está ouvindo? – Liam pergunta no meu ouvido, me causando arrepios.

Não saberia responder, por tanto apenas tiro um dos fones e estendo para ele que coloca e então mantenho na musica que está.

- O que é isso? – ele pergunta e pega o Ipod da minha mão ligando a telinha e lendo o nome do artista – Olly Murs? Gosta dele?

- É bom. Minha amiga fez essa playlist, não conheço nenhum dos artistas, mas as músicas são ótimas. – respondo dando ombros. Ele mexeu um pouco no Ipod e em segui soltou uma gargalhada alto e mudou a música.

- O que houve? – pergunto.

- Você é fã deles? – ele pergunta e me mostra o Ipod com o nome da música "Moments" e "One Direction" escrito embaixo.

- São muito bons! Tenho várias músicas deles que Katherine me fez baixar pra ela. Acabou que eu gostei. – respondi dando ombros – Por que? Você não gosta?

- Não. Eles são bons. É só que... é meio... inesperado.

- Jura? Achei que eles eram famosos aqui. – dou ombros.

- E são. Só achei que não era seu estilo musical.

- Acho que errou. – digo rindo.

- É, acho que sim.

Ele deixa a música tocando, e encosta a cabeça na janela do metro, eu apenas aproveito a chance para deitar minha cabeça em seu ombro.

Quando dou por mim já estava na minha estação. Liam também salta ali e parados na frente da estação do metro me despeço com um beijo em sua bochecha.

- Até mais Liam.