Capítulo V

Voltar?

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Eu me lembro das lágrimas escorrendo pelo seu rosto

Quando eu disse "nunca te deixarei ir embora",

Quando todas as sombras quase acabaram com a sua luz

Eu me lembro que você disse "não me deixe aqui sozinho".

Taylor Swift, Safe and Sound.

–

O jovem desceu correndo as escadas do dúplex de cobertura em que agora morava sozinho e foi direto para a cozinha pescar alguma coisa para comer. Estava atrasado, pois dormira de mais, só tinha vinte minutos para comer algo e chegar ao escritório, se não teria de aguentar outro sermão do senhor idoso irritante que pegava no pé dos mais jovens.

– Good morning Kakashi-san – cantarolou Momo-san no seu melhor inglês.

– Bom dia – ele rebateu pegando uma maça de uma cesta de frutas.

– Não vai tomar café? – Perguntou a senhora franzindo as sobrancelhas grisalhas.

– Não tenho tempo, estou atrasado... – Kakashi ia falando enquanto vasculhava a geladeira em busca de algo que pudesse beber no caminho para o trabalho.

– Cadê a sua máscara? – Perguntou autoritariamente a senhora.

Kakashi retirou a cabeça de dentro da geladeira e piscou confuso.

– Máscara? – Ele passou a mão pelo rosto recém barbeado e lembrou-se – A sim! Eu vou colocar no escritório, a caixa de máscaras descartáveis acabou, vou ver se eu compro na volta... – o jovem mergulhou novamente a cabeça na geladeira e afastou alguns potes e um molho de alface, encontrando um iogurte perdido.

– Ano... Kakashi-san... – chamou receosa Momo-san.

Kakashi fechou a geladeira equilibrando a maça e o iogurte em uma mão e a encarou.

– Aconteceu alguma coisa Momo-san?

– Minha filha ligou-me essa manhã e me disse que a Jun passou mal, muito mal... Parece que ela teve uma reação alérgica a um remédio que ela tomou... – a senhora pausou e olhou para o homem a sua frente, vendo que o rosto dele havia ficado lívido completou rapidamente – Mas ela já está melhor, minha filha ligou imediatamente para o médico.

Kakashi assentiu lentamente, sua mente em um turbilhão.

– Ela – ele engoliu em seco – está realmente bem?

– Pelo o que minha filha me disse, parece que sim. Alias... Ela mencionou que ligou umas três vezes de madrugada. O senhor escutou algo?

O jovem sentiu-se sufocar. Então havia sido a filha de Momo-san quem ligara. Por isso aquela sensação de familiaridade da voz.

– Eu... – murmurou fraquinho – Eu preciso ir... – dizendo isso Kakashi saiu em um rompante da cozinha, deixando a senhora confusa para trás.

O jovem empresário entrou no elevador privativo que ia direto para a garagem e se recostou no revestimento em veludo vermelho do cubículo respirando e inspirando fundo até que o coração parasse de martelar nos ouvidos.

Só se fazia dois dias que a esposa viajara e ela já havia passado mal. Não era um bom sinal.

Apertou o botão que o levaria ao térreo e esperou pacientemente que os andares passassem. Por fim, quando chegou ao estacionamento no subsolo vagou por entre os carros até encontrar o seu. Com as mãos trêmulas abriu o veículo e entrou, apertando fortemente o volante até que os nós dos dedos ficassem brancos de tão forte o aperto.

– Kuso... – a palavra saiu involuntariamente dos lábios do jovem que bateu a testa no volante e tentou se acalmar. Havia sido apenas uma alergia a um remédio, apenas uma alergia...

“Desde quando Jun tinha alergias?” – Era o que se perguntava mentalmente. Sabia muito bem que ela tinha apenas alergia a produtos químicos de limpeza e insetos. Nada mais. Ela nunca teve intolerância a nenhum remédio, além de que ela tinha um remédio prescrito pelo neurologista que evitava que ela tivesse dores de cabeça.

– Que droga de remédio foi esse? – Apertou mais forte o volante – Será que está tentando se matar? – Prendeu a respiração e afastou essa possibilidade, Jun sempre fora muito responsável para fazer uma besteira dessas. Ela amava a vida e amara o irmão que dera a vida para que ela continuasse sã. Ela nunca tentaria algo desse tipo. Nunca.

Kakashi continuou pensando em várias possibilidades, porém não conseguiu chegar a uma conclusão. Abanou a cabeça e desencostou a testa do volante respirando ruidosamente. Tinha de ir para o trabalho.

O jovem decidiu que teria de pensar nesse assuntou em outra hora, não poderia sacrificar a empresa de Senji e Jun com um pensamento bobo de suicídio. Jun não era idiota.

Deixando a mente limpa Kakashi ligou o carro e manobrou por entre os outros veículos até chegar à rua movimentada, com um último suspiro começou o longo dia de trabalho.

Momo-san olhava preocupada pela varanda do apartamento e sentiu-se mais aliviada quando viu o carro ir em direção ao centro movimentado da cidade, pelo menos Kakashi não estava negligenciando o trabalho, um bom sinal.

A senhora passou pela sala a passos rápidos e chegou à cozinha, olhou de um lado para outro e tirou o telefone do gancho, discando um número internacional de cor.

– Mochi-mochi? – Atendeu quase que imediatamente a pessoa do outro lado.

– Jun-san! – Arfou Momo-san, não poderia deixar de admitir que já estava morrendo de saudades da jovem.

– Momo-san – cumprimentou alegremente a jovem, também estava sentindo falto da doce senhora.

– Liguei para saber que a senhora já estava melhor, minha filha ligou mais cedo para avisar do que aconteceu…

– Estou melhor sim, passei o dia todo deitada… Um terrível tédio! – De repente Jun emudeceu.

– Aconteceu alguma coisa querida? – Momo-san ficou preocupada com o repentino silêncio da jovem.

– Momo-san…– a jovem parecia escolher as palavras com cuidado – Você contou o que aconteceu ao… Ao Kakashi? – Ela perguntou receosa da resposta.

– Sim. – Respondeu a senhora.

O silêncio pairou durante alguns segundos, Jun queria fazer uma pergunta, porém tinha medo de saber a resposta.

– Momo-san…– começou a jovem, mas foi interrompida.

– A senhora deveria voltar! – Soltou de uma vez a idosa senhora deixando Jun atônica do outro lado da linha – Não é o mesmo aqui sem a senhora, além de que não há ninguém para cuidar da senhora!

Jun sentiu o coração apertar. Ela realmente gostaria de voltar, mas não podia. Só estava a dois dias no Japão, estava decidida há ficar um ano, se preciso, até esquecer Kakashi.

– Eu não posso – sussurrou ao telefone.

– Senhora…

– Eu não posso! – Repetiu, sentindo lágrimas virem aos olhos – Tenho de desligar Momo-san, meu jantar chegou – mentiu deliberadamente, só queria dar um fim nessa conversa.

– Tudo bem, melhoras Jun-san…

A linha ficou muda e Jun recolocou o telefone no gancho ao lado da cama, essa conversa fora desgastante de mais para ela. Afundou nos travesseiros e olhou em direção a grande janela coberta pelas cortinas de cor escura, pode ver por uma brecha que o céu já estava escurecendo; o negro tomava o azul.

Jun afundou-se mais ainda nas cobertas e sentiu a melancolia a invadir. Não queria estar no Japão, queria estar tomando seu café da manhã na Inglaterra para logo em seguida ir para a universidade em vez de estar sozinha no quarto escuro esperando algo intragável como janta. Torceu o nariz ante o pensamento da janta.

Desde o dia anterior só estava comendo mingaus e sopas, e tudo parecia ter gosto de água suja. “Vitaminas!” – dissera lhe a governanta. Sacudiu a cabeça expulsando a visão do prato cheio de algo parecendo jornal molhado e pensou pelo lado positivo: pelo menos estava comendo algo sem colocar para fora. Isso era bom.

Enquanto deixava o pensamento correr solto um som a trouxe de supetão de volta a realidade. O telefone estava novamente tocando.

A jovem esticou a mão para pegar o aparelho não fazendo a mínima ideia de quem poderia ser, e torcendo para que não fosse Momo-san novamente, amava aquela senhora, porém ter uma conversa daquele gênero novamente com ela poderia a fazer ir as lágrimas.

– Alô? – falou endireitando-se na cama.

– Jun?! – Uma voz animada grasnou do outro lado. A jovem reconheceu de imediato a voz masculina. Hidan.

– Oi, tudo bem com você? – Ela perguntou educadamente.

– Tudo sim! – Respondeu efusivo – E você?

– Vou indo… - achou melhor omitir a parte de que estava péssima deitada em uma cama desde o dia anterior.

– Hmmmm… Espero que esteja indo bem, mas eu não liguei para jogar conversa fora como duas comadres, eu liguei para saber se você vai poder tomar um café da manhã comigo no sábado, não se esqueça de que você prometeu!

Involuntariamente Jun sorriu, podia estar melancólica, mas ouvir a voz de um conhecido a alegrara, e porque não dizer sim?

– Claro que eu vou – respondeu prontamente – como você mesmo disse eu já havia prometido.

– Nos encontramos no Gohan’s? É um restaurante novo que tem o melhor café da manhã do Japão! – Hidan disse exageradamente.

– Claro – concordou Jun que já ouvira falar desse restaurante em algum lugar, só não sabia onde – estarei lá.

– Quer que eu lhe passe o endereço?

– Só um segundo – Jun apoiou o telefone entre a orelha e o ombro e vasculhou a primeira gaveta da mesa de cabeceira, encontrando uma caneta e um pedaço de papel – pode dizer!

Hidan ditou o endereço pausadamente e o repetiu, para ter certeza de que a jovem não o anotara errado.

– As 09h00min?

– As 09h00min – confirmou Jun – nos veremos lá…

– Fico feliz que você tenha aceitado o meu convite e espero sinceramente que sábado não tarde a chegar!

Jun apenas murmurou algo indefinido e assentiu mudamente, mesmo que Hidan não pudesse vê-la. Estava feliz em pode sair um pouco de casa, mesmo que fosse com o cara errado. Hidan não era Kakashi. A triste realidade que transpassou o coração da jovem ao desligar o telefone com uma saudação.

Estava só novamente. Ela e seus pensamentos inoportunos do passado quase feliz que tivera. Mas não iria se abalar com isso. Iria tentar ser feliz e conseguiria!

Continua...