Capítulo I

Final feliz?

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Esta é a maneira que nós amamos

Como se fosse para sempre

Então vivemos o resto de nossas vidas

Mas não juntos.

Nenhuma esperança, nenhum amor, nenhuma glória

Nenhum final feliz.

Mika, Happy Ending.

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Março de 2011 – Inglaterra.

Jun estava sentada na grande cama de casal no gigantesco quarto do apartamento de cobertura que pertencera à família de Kakashi. Quando se casaram não sabia o quanto ele também era rico, não tanto quanto ela, porém ele tinha uma renda anual de 25% da empresa Hinday, o que significava muito.

Agora ele era o acionista majoritário da empresa, detendo junto com Jun 75% de todas as ações.

Jun estava fazendo sua faculdade de Biologia em Cambridge e um curso preparatório de gestão de empresas num conceituado instituto. Tudo corria bem, ou talvez não...

Jun já estava sentada na mesma posição pelo menos durante meia hora. Ela estivera observando Kakashi que digitava furiosamente no notebook Apple que ela lhe dera depois de completarem seis meses de casados.

- Kakashi – ela o chamou.

- Sim? – Ele perguntou sem nem ao menos se virar.

- Não vai dormir? Já passa da meia noite. Você tem de levantar cedo amanhã...

- Não, depois eu vou me deitar, apenas apague a luz que eu fico com o meu abajur ligado – ele continuava a digitar enquanto falava.

Jun segurou as lágrimas que queriam cair. Fazia quase dois meses que Kakashi estava agindo friamente com ela. Primeiro foi algo apenas sutil, ele alegou que estava tendo muito trabalho e que precisava adiantar em casa. Depois passou a ser rotina. Fazia dois meses que ele sequer dava mais do que um beijo nela.

- Kakashi... – ela chamou pela segunda vez com a voz entrecortada.

Ele não se virou e nem respondeu, apenas continuou a digitar.

Jun engoliu em seco. Estava feliz não estava? Tudo estava se saindo bem. A empresa havia crescido com Kakashi como diretor e ela tinha ótimas notas tanto na universidade quanto no curso. E Kakashi a amava, não amava? Essa era a dúvida.

- Kakashi, olha para mim – ela suplicou sentindo as lágrimas quentes escorrerem pelas bochechas – por favor.

O jovem parou de digitar e pousou as mãos no teclado negro do notebook se amaldiçoando internamente. Lentamente se virou vendo a esposa sentada de pernas cruzadas no centro da cama de dossel alto apenas usando uma camisola verde. Os olhos estavam vermelhos e o rosto parecia mais magro.

Kakashi piscou e sentiu seu coração encolher.

- Estou olhando – ele tinha vontade de se bater, mas ele a queria bem, e para que ela ficasse bem ela primeiro teria de ficar mal. Essa era a pior parte.

- Kakashi... – ela chamou mais uma vez, como se aquela pessoa que estivesse ali não fosse ele. Ela piscou os grandes olhos verdes e levou as mãos ao rosto, cobrindo os olhos e chorando compulsivamente.

Kakashi teve vontade de consolá-la de dizer que a amava. Mas não podia.

- É alguma coisa importante? – Ele perguntou indiferente às lágrimas dela.

A jovem de madeixas castanhas levantou a cabeça limpando da melhor forma as lágrimas que manchavam o bonito rosto alvo.

- Você não me ama mais – não era uma pergunta, era uma afirmação.

Kakashi nada disse, apenas virou a cadeira e voltou a digitar.

Jun não acreditou no que viu. Kakashi não a desmentiu, então ele realmente não a amava.

- Foi um erro – ela escutou-o dizer ainda de costas – não deveríamos ter nos casado tão repentinamente.

Mais lágrimas escorreram pelo rosto da jovem, porém agora ela chorava silenciosamente. Um choro ressentido.

- Eu... – ela não sabia se deveria ou não dizer isso, havia prometido para si mesma que não tocaria nesse assunto.

- Você? – Ele incentivou.

Ela limpou com as costas da mão o rosto e fungou.

- Eu estive grávida – a morena disse com a voz falha percebendo que Kakashi parara de digitar – quando eu liguei te avisando que ia passar o final de semana na casa da Tenten eu estava mentido. Na verdade eu estava no hospital. Tive um aborto espontâneo.

Kakashi piscava para a tela do computador, estava com a máscara e ela pinicava na sua barba mal feita, tinha vontade de atirá-la longe e embalar Jun, porém não fez nem uma coisa bem outra, apenas suspirou e voltou a digitar.

- Você deveria ter me dito... – ele apertou os olhos e digitou as cegas, imaginando o sofrimento da esposa – Talvez tenha sido melhor assim, uma criança só atrapalharia... – o jovem mordeu o lábio inferior até sentir o gosto do sangue na boca. Ele era um canalha.

- Talvez... – a voz de Jun estava soando vazia e falsa à orelha dos dois.

- Acho que você deveria voltar ao Japão. Seria bom para você.

Jun estacou. Kakashi queria se separar dela?

- Você que ser separar, não é?

- Talvez fosse o melhor. Você não está feliz – ele disse.

- Por que você não olha para mim? – A jovem explodiu descruzando as pernas e limpando furiosamente as lágrimas que de tão grossas a impediam de ver com clareza.

Kakashi não se manifestou. Apenas continuou a digitar e a digitar.

Jun esperou que ele respondesse algo ou que pelo menos se virasse, porém nenhuma das duas coisas aconteceu, apenas o irritante som ritmado dos dedos do esposo em contado com as teclas era escutado. Até parecia que ele sempre digitava a mesma frase.

Ela se cansou de esperar e apagou a luz para em seguida enterrar a cabeça no travesseiro branco, tendo o choro abafado pelo mesmo.

Kakashi ainda continuou digitando por mais ou menos uma hora, até ter certeza de que a esposa estivesse dormindo profundamente e selecionou tudo que escrevera naquela noite apertando o Delete em seguida. Se Jun houvesse se levantado poderia ter visto as centenas de ‘Eu Te Amo’ que Kakashi escrevera. Mas ela não se levantara.

Calmamente ele desligou o computador e apagou o abajur, apenas a luz do corredor da suíte estava acesa, o que deixava o quarto com uma escuridão moderada. Caminhou lentamente para a cama, tendo o cuidado de não acordar a esposa.

O jovem esticou a mão para o cabelo castanho espalhado como um leque sobre o travesseiro e o tocou, sentido a textura macia em seus dedos. Fechou os olhos e suspirou pesaroso. Gostaria de ter elogiado o novo corte de cabelo da esposa, havia ficado muito bom, fora as luzes que ela havia feito, agora Jun tinha pequenas mexas cor de mel misturada com as madeixas castanhas acobreadas.

Recolheu a mão e deitou-se, encarando as costas da amada. Não podia a tocar, não podia a beijar e nem a amar mais. Ela teria de ser uma estranha, alguém com quem não se importar. Fechou os olhos e tentou dormir. Não conseguiu, havia um nó em sua garganta que o impedia de dormir.

Sentiu as lágrimas invadirem seus olhos ao pensar na criança que não nascera. Seu sonho sempre fora ter um filho. Engoliu em seco e dormiu pensando no filho que nunca nasceria.

• • •

O relógio despertou pontualmente as 07h00min da manhã como de costume. Kakashi virou-se na cama para poder desligá-lo, normalmente ele e Jun levantavam-se juntos, porém quando Kakashi desarmou o relógio ele percebeu que estava sozinho na cama.

Levantou sobressaltado. Será que acontecera alguma coisa?

Tateou as cegas procurando uma máscara limpa para trocar, acostumando os olhos a escuridão do quarto que ainda tinha as cortinas negras cerradas.

O jovem foi até o banheiro e fez a higiene matinal, escovando os dentes e lavando o rosto para em seguida ver se ocorrera alguma coisa para que Jun tivesse levantado mais cedo.

Andou até a porta fechado do quarto que daria para o corredor e viu grandes malas na porta do quarto. Engoliu em seco. O que ele queria estava realmente acontecendo, e ele não estava feliz com isso.

- Eu vou embora – disse uma voz as suas costas.

Kakashi se virou deparando-se com a esposa prontamente vestida e penteada. Ela usava um óculos escuro, provavelmente para esconder as profundas olheiras negras e os olhos vermelhos e inchados.

- Para o Japão?

- Yes – ela assentiu.

- Quando?

- Hoje.

Ficaram em silêncio, um silêncio ressentido e infeliz.

O jovem de cãs prateadas suspirou pesadamente e mortificado, não esperava que tudo acontecesse tão rápido. Mas pelo menos ela estaria fora da reta. Ou talvez não...

- Quer que eu te leve para o aeroporto? – Ele perguntou.

- Não precisa – a voz dela começava a enfraquecer – Momo-san disse que vai ficar por aqui, disse que alguém precisa cuidar de você, já Mr. Jofre vai comigo...

Quando se casaram de todos os empregados que serviam a jovem no Japão apenas Momo-san e Mr. Jofre haviam se mudado, a pedido de Jun, para a Inglaterra, deixando a casa aos cuidados da filha e genro de Momo-san.

- Tudo bem. – Respondeu Kakashi dando de ombros. Não se importava com quem fosse e com quem ficasse – Mas eu insisto em te levar. – Pelo menos isso ele faria.

- Tá... – Jun também deu de ombros.

Encararam-se durante alguns segundos até que Kakashi percebeu que ainda estava de moletom e que deveria pelo menos tomar um banho antes da esposa ir para nunca mais para o Japão.

- Vou tomar um banho e daqui a quinze minutos eu te levo, tudo bem? – Ele perguntou receoso que ela recusasse a oferta.

- Tudo bem sim – ela disse suspirando longamente, havia acordado às três da manhã com a resolução de que precisava ir embora. Já havia ligado para a universidade e explicado, ou quase, a situação e que precisava voltar para o Japão, a administração de Cambridge havia sido compreensiva e dissera que as portas estavam abertas para quando ela quisesse voltar.

Jun também ligara para o curso que fazia, fechando a matricula e alegando que tentaria conseguir uma vaga na filial do Japão. Igualmente como a universidade, o curso também dissera que as portas estariam abertas se ela pretendesse voltar.

Tudo já estava pronto para que ela deixasse a Inglaterra, tudo arranjado. Menos o seu coração.

A jovem viu o marido, ou ex, seguir de volta para o quarto e entrar no banheiro. Enquanto ele tomava banho ela desceu e verificou se o carro já estava pronto, e estava. Foi até a cozinha e pediu para que um dos empregados a ajudasse a levar as malas para baixo. Decidira que esperaria Kakashi no estacionamento, não aguentaria mais nenhum minuto ficar dentro daquela casa.

- Mrs. Jun – chamou Mr. Jofre que viajaria na próxima semana para o Japão também.

- Sim? – Ela se virou para poder olhar para o simpático inglês que era seu mordomo.

- A senhora tem certeza de quer realmente ir? – Havia um tom suplicante na voz dele que Jun desconhecia.

- Eu tenho – ela gemeu baixinho a falar as palavras, não queria ser dissuadida a ficar.

Mr. Jofre a olhou e aqueceu sem insistir no assunto, apenas ajudou o empregado a colocar todas as malas no carro de Kakashi, um Jaguar cor de chumbo comprado assim que eles se mudaram para a Inglaterra e que ele amava de paixão. Subitamente Jun teve uma vontade de pegar um prego e arranhar o capô do carro, mais abanou a cabeça retirando essa imagem da cabeça, seria crueldade de mais, além de essa vingança não ter nada haver com ela.

Entrou no carro e esperou que Kakashi aparecesse. Já havia se despedido da bondosa senhora que fora sua babá e governanta e agora tudo o que a prendia ali era a espera para ser levada ao aeroporto, apenas isso.

“Apenas isso...” – ela repetiu as palavras mentalmente tal qual um mantra.

Poucos minutos depois Kakashi desceu pelo elevador que vinha do apartamento de cobertura até o subsolo, onde ficava o estacionamento.

Sem dizer nada Kakashi entrou no carro e deu partida, sem nem ao menos olhar a esposa que apertava desconfortavelmente as mãos de dedos finos e delicados.

A pequena viagem do apartamento até o aeroporto foi feita em pouco tempo e regada a um silêncio desgastado.

Kakashi estacionou o carro e foi em busca de um carrinho para por as malas da esposa, enquanto a mesma ficava dentro do carro com os vidros escuros fechados, uma mania antiga de Kakashi.

Todo o processo de pré-embarque foi feito no mais absoluto silêncio. Kakashi carregando as malas e as despachando para o avião e Jun se informando se o avião atrasaria e se demoraria a ser feito o embarque, recebendo um não para as duas perguntas. O avião já estava pronto para decolar, apenas estava esperando o horário certo.

O casal sentou-se perto do portão de embarque 7, da onde sairia o avião sem escalas para o Japão.

- Primeira chamada para o voo 737, da companhia Air Travel, destino Japão – disse uma voz pré-gravada pelo sistema sonoro do grande aeroporto. Era o avião de Jun.

Jun não se levantou. Por experiência própria sabia que era sempre melhor esperar até que fizessem a segunda chamada para que ela se levantasse e apresentasse a passagem e o passaporte na seção de embarques e passasse pelo detector de metais.

Os minutos passaram até que o segundo chamado foi ouvido:

- Segunda chamada para o voo 737, da companhia Air Travel, destino Japão ­– disse a mesma voz pré-gravada.

Dessa vez a morena levantou-se apertando a bolsa a tira colo ao lado do corpo. Kakashi também havia levantado e a acompanhava de perto em direção ao setor de embarque onde havia uma pequena fila.

- Hmm... – ele murmurou meio desconfortável – acho que aqui que nos separamos – disse Kakashi quando um funcionário pediu o passaporte de Jun e disse que ela deveria colocar a bolsa de mão na esteira para que fosse analisada.

- Sim – ela concordou desconfortavelmente.

Kakashi piscou os olhos e passou os dedos pelo cabelo, não sabia exatamente o que deveria fazer agora. A barba recém feita incomodava, a pele estava vermelha pois fizera com presa e a máscara áspera não ajudava em nada. Aproximou-se de Jun e a segurou pelos braços, dando um beijo por cima da máscara na testa dela. A jovem morena sentiu o papel áspero tocar a sua pele e o aperto quente de Kakashi nos seus braços e suspirou tristemente. Tudo o que passara havia sido em vão?

- Eu vou cuidar da empresa, qualquer coisa sabe onde me encontrar, – ele sussurrou antes de soltá-la – acho melhor você ir agora, se não o povo vai ficar impaciente.

Jun lutou contra as lágrimas e ajeitou os óculos escuros no nariz reto antes de concordar e seguir para o detector de metais. Esse era o fim do seu pequeno para sempre feliz.

Continua...