Kami não pôde ouvir o final da frase que Kotetsu dizia, enquanto as lágrimas já escorriam por seu rosto e sua garganta parecia criar um grande nó. A menina saiu correndo, como se a sua vida dependesse disso, não se importando com a direção ou com as pessoas que deixara para trás. Ela queria confirmar com seus próprios olhos aquela notícia, mas o medo não queria deixar que o fizesse. O hokage não poderia estar morto. Seu pai não poderia estar morto.

— Kami! — Shikamaru não teve tempo de agradecer o jounin à sua frente ou lhe pedir mais informações. Decidiu ir atrás da garota, antes que ela fizesse alguma besteira. Teria a chamado de problemática, em qualquer outra situação, mas a verdade era que o choque também dominava o menino.

A Sarutobi apenas parou quando seus pés não lhe deixaram mais prosseguir e só então reparou onde estava. Praguejou por ter ido até aquele lugar, que só piorava toda a situação. As árvores, o intenso verde das gramas, o pequeno pedaço do rio que corria ao fundo, entre as pedras, e até o cheiro... Tudo naquele cenário lhe lembrava sua infância e seu adorado pai. Havia sido ali, naquele exato local, que Kami aprendera as principais técnicas herdadas de seu clã. Havia sido ali que ela aprendera a ser forte e, agora, aquele mesmo lugar estava lhe tomando todas as forças.

Ela escutou os passos atrás de si aproximarem-se devagar, mas não sentiu vontade de olhar para trás. Shikamaru, em respeito à menina e talvez também porque não conseguia pensar em nada que pudesse melhorar o que ela deveria estar sentido, decidiu que era melhor ficar em silêncio. Mas, depois de um tempo escutando o choro incessante de Kami, o desespero lhe tomou conta e o menino envolveu-a, sem pensar, em um abraço desajeitado e tímido, porém forte.

A genin se assustou, mas não tentou sair dali. Na verdade, Kami agradeceu mentalmente pela atitude do amigo. Aquilo fez com que ela se sentisse um pouco melhor, e segura. Os dois permaneceram daquele mesmo jeito por um tempo que pareceu durar uma eternidade, inocentes, sem se quer imaginar o que surgiria daquela relação um dia.

x.x

Sayuri abriu os olhos e encarou o teto branco como se este fosse o próprio sol. Seus olhos ardiam. A menina piscou mais algumas vezes a visão, até se acostumar com a claridade do local, e então olhou para os lados, procurando algo que lhe explicasse o que acontecera.

A primeira coisa que avistou foi uma pessoa. Em pé, encostado na porta, estava Genma. O jounin vinha carregado de seu eterno ar debochado e tinha, como sempre, uma senbon presa em seus lábios.

— Sensei? — perguntou, querendo se certificar de que não estava imaginando coisas.

Ele soltou o ar devagar enquanto dava alguns passos em direção a garota.

— Finalmente acordou. — deixou um sorriso torto escapar por um dos cantos de seus lábios.

— O que aconteceu? — Sayuri tentou se sentar, mas foi impedida por uma das mãos de Genma, que a deitou novamente.

— Você precisa descansar.

— O que aconteceu? — ela repetiu a pergunta, desta vez sem se mover.

— Você foi atrás do Uchiha sem permissão e acabou envenenada por um dos inimigos.

— Por Kankuro. Cadê o Sasuke? E o Naruto? O que aconteceu com o Gaara?

— Tenho uma má notícia. — o jounin segurou a risada enquanto o pânico se instalava no rosto da menina — O Sasuke está aqui no hospital também. Disseram que ele ficará bem, mas infelizmente a sua arrogância é incurável. — terminou a frase com mais um de seus sorrisos tortos.

Sayuri levantou-se de novo, dessa vez rápido o suficiente para que não fosse impedida, e empurrou o sensei com toda a força que conseguiu, o que não foi muito. Genma riu.

— Deite-se! Você ainda não tem permissão de ficar se mexendo.

Ela rolou os olhos, zangada, e voltou a deitar-se, mas dessa vez virando as costas para o Shiranui.

— Eu estava brincando! Estão todos bem, mas Gaara e os outros dois ninjas da areia fugiram.

— Onde estão as meninas? — só então ela lembrou-se que faltava algo ali. O mais certo seria encontrar suas amigas, ao acordar.

— Está todo mundo meio que ocupado, Sayuri. — Genma respondeu muito sério, como poucas vezes fazia. Para uma kunoichi com especialidades sensitivas, aquilo era mais do que suficiente para perceber que havia algo errado.

— Por quê? — perguntou receosa.

— Estão todos no velório do sandaime hokage-sama.

Sayuri sentiu um aperto em seu coração e a necessidade de fechar seus olhos novamente. O hokage estava morto. Como Kami estaria?

— Por que você não está lá? — decidiu tentar não pensar no sofrimento de sua amiga por enquanto.

Ele deu de ombros.

— Eu não gosto de velórios.

— Da última vez que nos falamos você estava tentando evitar uma conversa. - quis mudar de assunto e finalmente tocou naquilo que ainda estava preso em sua garganta.

Flashback

Sayuri havia ido até a casa do jounin após o seu sumiço repentino e o encontrado numa situação bem deplorável. Sua aparência largada denunciava que havia dias que o homem não dormia direito e, a julgar por seu odor, se quer tomara banho.

— Você vai abandonar o time, não vai? — ela perguntou.

Seus grandes olhos azuis acusadores fizeram com que Genma se sentisse verdadeiramente culpado por ter tentando omitir a verdade de suas alunas. Mas ele sabia muito bem o motivo se tê-lo feito! Jamais teria forças para abandoná-las se tivesse que olhar em seus olhos apenas mais uma vez. E, agora, com a genin ali, na sua frente, já estava arrependido de suas ações.

— É complicado. — disse, tentando a todo custo evitar olhá-la.

— Não é complicado! Todo mundo tem o direito de ficar triste, até um shinobi. Você não precisava ter mentido para as meninas. Eu tenho certeza que elas entenderiam!

Ouvir aquele discurso tão sábio vindo de apenas uma garotinha só fez com que o Shiranui se sentisse ainda mais estúpido. Envergonhado, ele fez a primeira coisa que se passou por sua mente.

— Está tarde! É melhor você ir embora. — e dito isso, o jounin abriu novamente a porta de sua casa para Sayuri.

Ela caminhou até lá sem hesitar, porém antes de deixar o local, decidiu dizer uma última frase.

— Pode ficar tranquilo que eu não contarei seu segredo à ninguém. — disse enquanto encarava os olhos fugazes de Genma — Ja nee, sensei.

Fim do flashback

— Não estava tentando evitar. — Genma disse, se sentando em uma cadeira ao lado da cama da Hoshino.

— Sim, você estava. — lhe encarou.

— Eu estava envergonhado. E esse é um dos motivos de eu estar aqui hoje. — ele explicou, desta vez sustentando o olhar da menina. O jounin havia ensaiado aquele momento muitas vezes antes de procurá-la e finalmente havia criado coragem para tal — Quero pedir desculpas.

— Eu já te disse isso antes. Não é a mim que você deve desculpas.

— É sim! Você também faz parte do time Genma. E eu lhe devo desculpas não só por isso, mas por você ter me encontrado daquela maneira.

Sayuri não respondeu, desta vez. Ao invés disso, continuou quieta e encarando seu sensei.

— Você estava certa, é claro. Eu deveria ter ido até vocês e explicado tudo pessoalmente desde o início, mas eu não consegui. E é por isso que eu decidi que eu, realmente, vou deixar o time. O que eu fiz não foi certo e vocês merecem alguém que saiba agir melhor.

A Hoshino queria protestar, mas achou melhor não fazê-lo. Não queria outro sensei, mas sabia que deveria respeitar o espaço de Genma. Se aquela era mesmo a sua decisão final, então ela teria que aceitar.

— Me desculpa. — o jounin se levantou e foi em direção à porta, virando-se novamente para Sayuri apenas para finalizar seu discurso — Não se preocupe, eu mesmo vou contar à Kami e à Yuki desta vez. Descanse!

x.x

Sayuri se recuperou mais rápido do que a ferida invisível de Kami, mas isso já era de se esperar. A Sarutobi aos poucos ia aprendendo a viver naquela nova realidade, embora a partida de seu pai ainda doesse muito. A presença de seus amigos, porém, amenizava um pouco o sofrimento, o que incentivou a garota a manter suas atividades.

Depois de algumas semanas de muito trabalho das três amigas, que depositaram todas as suas forças em ajudar a restaurar a vila, tudo parecia estar voltando ao normal ou se encaixando como podia. O choque foi grande quando chegou aos seus ouvidos o que havia acontecido: A Akatsuki tinha se aproveitado do momento de fraqueza da vila para invadí-la. Aparentemente, o objetivo da organização era sequestrar Naruto, mas eles não obtiveram sucesso. Ao contrário disso, Kakashi e Sasuke haviam ficado feridos. Os dois haviam sido atacados pelo mesmo shinobi, cujo o nome dava a Sayuri calafrios: Uchiha Itachi.

Sayuri e Yuki não pensaram duas vezes antes de irem ao hospital, visitar os dois shinobis, enquanto Kami ajudava Konoha a se organizar para receber sua nova hokage, que chegaria a qualquer momento, trazida por Jiraya, um dos três ninjas lendários, e Naruto.

A Kurama esperou até que a enfermeira deixasse o quarto do jounin. Sua intenção era entrar e sair desapercebida, até mesmo por Kakashi. Só queria confirmar com seus próprios olhos que ele ficaria bem.

Quando a menina entrou no local, seu coração pareceu querer escapar por sua garganta. Nunca imaginou que ver o Hatake daquele jeito, desacordado e aparentemente tão frágil, seria tão ruim. Ela sentiu vontade de abraçá-lo, mas o medo fez com que se contesse. Ao invés disso, Yuki decidiu passar o tempo que lhe restava alí apenas em pé, ao lado da cama do jounin, o assistindo e pedindo para todas as forças do universo que lhe escutavam no momento, que o homem ficasse bem logo.

Sasuke se encontrava na mesma situação de Kakashi, segundo o que uma própria mednin dissera à Sayuri. A ruiva preferiu não vê-lo, mas por todos os dias seguintes acompanhava Yuki até o hospital e perguntava sobre o menino. Por mais que a fuga dos próprios sentimentos fosse uma das características que a Hoshino mais odiasse no Uchiha, ela não podia negar que, de certa forma, tinha o mesmo costume que ele.

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A chegada de Tsunade e seu anúncio como godaime hokage trouxeram à Konoha uma nova esperança. Logo, a terrível morte de Hiruzen Sarutobi deixou de ser notícia na vila e as empolgações voltaram a ser as mesmas. Uma nova era se iniciava e, com ela, diversas mudanças surgiriam.

— Genma-san, a que devo a honra? — Tsunade perguntou não disfarçando sua irritação. Shizune, sua assistente, insistia para que ela atendesse cada uma das mil almas que surgiam querendo falar com a hokage, mesmo que a godaime já estivesse ficando louca apenas com a quantidade de documentos que tinha para organizar.

— Hokage-sama, por favor desculpe o incômodo. Eu vim para lhe dizer que aceito ser um de seus guardas pessoais.

— Ótimo! — disse a mulher, parecendo feliz pela primeira vez, enquanto já empilhava um monte de papeis para entregar ao jounin.

— Mas eu queria aproveitar para te fazer algumas indicações - o Shiranui sorriu - Meu antigo time já foi designado para ajudar a organizar a vila, mas eu ouvi dizer que vocês estão precisando de mais assistentes no hospital.

Shizune encarou o shinobi, interessada.

— Sim, estamos muito!

— Então acho que vão gostar de saber que temos uma genin com muitos talentos mednins aqui em Konoha. Seu nome é Hoshino Sayuri!

— Hoshino? — Tsunade levantou seu olhar da pilha que preparava para encarar Genma - Aqueles dois shinobis que trabalham no hospital?

— Sim. Dizem que ela foi adotada pelo casal quando bebê.

— Que bom! Essa informação será muito útil, Genma-san! — Shizune agradeceu, animada.

— Shizune, quero que chame ela aqui hoje mesmo.

— Hai! — a morena assentiu prontamente.

— E você, Genma, pode levar isto aqui para o arquivo por favor?

O jounin entendeu o que diziam sobre força excepcional da mulher assim que pegou a pilha de seus braços.

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— Ai kami-sama*, será que o Genma-sensei marcou de nos encontrar aqui para anunciar que vai voltar para o time?

Kami perguntou animada, assim que as três genins entraram no Ichikaru.

— Sabia que fica engraçado quando você diz "kami-sama"? Quer dizer, Kami é seu nome. -Yuki gargalhou sozinha de sua própria piada, sendo ignorada pelas amigas.

— Não acho que seja isso, Kami-chan... — Sayuri achou melhor tentar diminuir as esperanças da menina. Ela já havia sofrido um choque há pouco tempo, com a morte do sandaime hokage. Com certeza não precisava de outra grande decepção.

— O que você quer dizer com isso? Você sabe de algo? O Genma-sensei te disse algo? — a Sarutobi questionou enciumada, mas antes que a Hoshino pudesse se defender, a presença mais esperada do dia surgiu.

— Três ramens normais e um vegetariano, por favor! — Genma fez o pedido que já havia feito tantas outras vezes. Aquilo fez com que ele se sentisse um pouco nostálgico, mas preferiu relevar o sentimento. Havia tomado uma decisão e nada que acontecesse o faria mudar de ideia.

— GENMA-SENSEI! — Kami e Yuki disseram juntas, apesar da morena conseguir, pela primeira vez, soar ainda mais alegre que a Kurama. A menina ainda pulou em cima do jounin logo em seguida, lhe dando um abraço extremamente apertado,

— Kami-chan! — Genma teve que segurar o riso — Alguém sentiu saudades!

— Eu também senti. — Yuki disse emburrada por não ter recebido atenção de seu sensei ainda.

— Tenho certeza que sentiu. — ele bagunçou os cabelos alaranjados da Kurama, sentando-se entre ela e Kami, enquanto se livrava dos braços da morena e sorria para Sayuri — Mas não é sobre isso que eu vim falar com vocês. Eu trouxe algumas notícias!

Continua...