Cielo escrita por Selene L Tuguert


Capítulo 8
Fim do Prelúdio


Notas iniciais do capítulo

Minnnaaaaaaaa! Me perdoem pelo atraso!!!!! Mas a cada capítulo Cielo está ficando mais difícil de escrever devido ao tanto de informações, além disso, a Faculdade anda exigindo um pouco mais de mim do que antes. Começo a cogitar a possibilidade de deixar sábado e/ou domingo como dias fixos para as novas postagens...
Bem, sem mais enrolação:
KHR pertence a Akira Amano-sensei, apenas o enredo é meu!



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End of Prelude


Um mês e três semanas antes

Era só mais uma reunião, apenas mais uma reunião irritante entre Famiglias. Pela irônica décima vez, Tsuna resiste à vontade de massagear as têmporas. Seus orbes castanhos-avelã lançam uma vez mais um olhar de esgueira para os ponteiros do relógio na parede aos fundos da sala de reuniões, no Hotel que o Décimo com frequência usa para tais eventos localizado no centro de Palermo. Mal havia passado das 17horas e Tsuna sente como se o dia estivesse sendo terrivelmente longo - e sua Hiper Intuição chutando sua cabeça e abrindo buracos em seu estômago desde a hora em que acordou, não estava ajudando a aliviar o seu humor. E essa reunião que já se arrasta por mais de 1hora e meia está triturando sua paciência.

De pé, no canto direito, um pouco mais para trás de Tsuna, Gokudera lança um olhar piedoso para o seu Jyuudaime precioso. A aura, naturalmente poderosa, emanando de seu corpo em quantidades cada vez maiores, é um sinal claro que todos os Guardiões já conhecem - o Jyuudaime está ficando impaciente e irritado. O que é de se esperar, afinal, as três Famiglias - Carbo, Disaro e, a mais recente em firmar uma aliança com a Vongola, Nocera - representadas por seus respectivos chefes, Muzio Carbo o Terzo chefe, Orazio Disaro o Quinto chefe da Famiglia, e a única mulher na sala – uma vez que Chrome ficou do lado de fora no corredor, atualmente junto com Hibari, que por algum motivo desconhecido decidiu vir junto - Adalina Nocera, a Secondo a liderar a Famiglia, estão discutindo sobre futilidades como o aumento recente na importação de mercadorias que já são produzidas na região, e sobre como os investimentos na nova expansão do porto irão afetá-los a curto e longo prazo. Não foi em vão que Hibari abandonou a sala vinte minutos após o início da reunião, resmungando algo sobre ‘excesso de herbivorismo’ – embora Gokudera tenha de admitir que o fato da Nuvem solitária, que adora morder pessoas até a morte, resistiu tanto tempo em ‘aglomeração’ e saiu da sala sem enviar alguém entre a vida e a morte para o hospital, merece reconhecimento, e, é claro, o brilho de advertência que o Jyuudaime lançou em direção ao ex-prefeito não tem nada a ver com isso.

__Se essas são todas as reivindicações, irei analisar o assunto e buscar uma possível solução. Mas, tenham em mente que a Vongola não governa o país, problemas como esses que englobam a economia exigem um pouco mais de manejo do que simples exigências. – fala Tsuna em seu modo-chefe, sua voz firme e não abrindo margens para mais discussões – Agora, se não há mais nada a ser abordado, termino esta reunião. Passar bem, senhores e senhorita. Gokudera. – chama, levantando-se e caminhando em direção à porta.

__Hai, Jyuudaime. – fala, já adiantando-se e abrindo a porta para dar passagem a figura imponente do seu precioso chefe.

Os dois ganham o corredor, onde Chrome, descartando um copo de café expresso, os espera.

__Oi, onde está o Hibari? – indaga Gokudera, não encontrando a presença do outro Guardião.

__Hibari-san disse que iria buscar o carro. – informa ela, vestindo um terno negro que possui uma saia ao invés de calças e uma camisa índigo por baixo do blazer – Boss, está tudo bem? – questiona ao ver a expressão séria e, principalmente, sentir a aura muito mais densa que o normal ao redor de seu chefe.

__Eu gostaria de dizer que sim, mas minha intuição está dizendo o exato oposto. Então, quanto antes voltarmos para a Mansão, melhor. – responde em um tom relativamente baixo, uma vez que sente os outros chefes se aproximando.

Gokudera imediatamente eleva o nível de sua atenção para o máximo, enquanto Chrome aumenta o aperto sobre o tridente materializado em suas mãos. Os dois seguem silenciosamente Tsuna, sem questionar a sua escolha de descer os sete andares de escada ao invés de usar o elevador, uma vez que já estão acostumados com as ações aparentemente sem motivos de seu chefe, que sempre se provam medidas de segurança verdadeiramente efetivas. Em poucos minutos os três alcançam o térreo. Assim que a figura de Tsuna surge aos olhares de todos transitando no glamoroso hall de entrada do hotel, suspiros, gritinhos, olhares cobiçosos, sorrisos luxuriantes e alguns atrevidos tirando fotos com celulares ou mesmo câmeras, explodem ao redor da pequena comitiva. Ignorando toda a comoção que sua presença está causando – algo que simplesmente desistiu de tentar evitar, e, principalmente, entender - o Décimo avança liderando o caminho.

O longo manto negro, descansando imponente sobre o terno preto que Tsuna está vestindo, feito no mesmo estilo ao que pertenceu ao Vongola Primo, com detalhes em tecido vermelho e em ouro puro, que Reborn pessoalmente mandou que preparassem para que ele usa-se na festa que o tornou oficialmente o Décimo Vongola - e que o obriga a usar em ocasiões como essa – rufla quando uma súbita ventania os atinge ao ganharem a rua, outro sinal de que uma tempestade está por vir, pois o céu antes azul, agora está mais escuro, e grossas nuvens ameaçam romper-se em uma pesada chuva. Com facilidade o trio avista a BMW parada próximo a calçada com Hibari escorado na porta do motorista, claramente dizendo que ele é quem vai dirigir – o que consegue ser duas vezes mais rápido até do que Ryohei atrevesse a acelerar, o normalmente mais extremo no volante de um carro na família do Décimo, e está à retaliação da Nuvem por não poder morder ninguém até a morte depois de ficar preso em uma sala cheia de ‘herbívoros’. Com a visão, Gokudera assume uma expressão muito parecida com a que adquiria sempre que ouvia sobre a culinária de sua meia-irmã, Chrome estremece um pouco, ela já ouviu de Yamamoto e Kusakabe, e mesmo de Mukuro-sama, sobre as habilidades de direção do Guardião da Nuvem, enquanto um suspiro escapa dos lábios de Tsuna, já prevendo a pilha de multas de trânsito que vão se empilhar em sua mesa no dia seguinte – como se ele já não tivesse quatro pilhas da papelada maldita esperando por ele na Mansão.

Uma vez dentro do confortável automóvel, com a Guardiã da Névoa timidamente sentada ao seu lado esquerdo, enquanto os outros dois ocupam a parte da frente do veículo, Tsuna finalmente permite-se massagear suas têmporas, movimento que não escapa aos olhos afiados de Hibari, que observa-o rapidamente pelo espelho retrovisor. Assim que o carro começa a se mover em alta velocidade, grossos pingos de chuva irrompem do céu sobre a cidade. Tsuna, com os olhos fechados, descansa sua cabeça no banco de couro, decidido a ignorar a direção em alta velocidade de Hibari. O silêncio instantaneamente instala-se dentro do veículo, quebrado apenas pelo som da chuva batendo no carro e pelos limpadores de para-brisa escoando a água para facilitar a visibilidade seriamente comprometida. Já haviam se afastado da estrada principal há alguns minutos e tomado o caminho que conduz pela floresta até a mansão a cerca de três quilômetros, logo, não há movimento na estrada, que pertence a uma propriedade privada – a sede Vongola - quando subitamente o carro faz uma parada brusca, chaqualhando todos – que fizeram a sabia decisão de usar os cintos de segurança.

__Oi! O que pensa que está- a frase de Gokudera perde-se no ar, quando ele finalmente a vista o grande caminhão que vem derrapando pela estrada molhada em direção a eles.

__Segurem. – resmunga Hibari, dando marcha ré e fazendo uma virada brusca, afundando o pé no acelerador, só para ver-se frear novamente, com Tsuna gritando, instantes antes de uma grande cratera surgir no asfalto, no local exato em que estariam se o carro não tivesse parado.

__Emboscada! – grita Gokudera, e imediatamente os quatro saltam para fora do carro caindo no asfalto molhado.

Um novo disparo, cujo ruído é encoberto pelo som da forte chuva, e a BMW explode em chamas. Instintivamente, Tsuna usa sua capa para protege Chrome, caída sobre seu peito, que puxou quando saltou do carro, porém, Gokudera já havia acionado seu sistema C.A.I. que espalhou-se ao redor dos três, enquanto Hibari tem Roll, sua arma Box, em forma de esfera cheia de espinhos como uma blindagem, ao mesmo tempo em que os kanjis para Flutuante, Nuvem, Morder/Bater, Matar, podem ser vistos ruflando ao longo do lado esquerdo do chouran alterado que faz parte da Câmbio Forma do Gear da Nuvem.

__Estão todos bem? – indaga Tsuna, correndo os olhos de Chrome para Gokudera e para além da pilha de metal retorcido e fumegante que instantes antes era um de seus carros, para ver sua Nuvem já de pé e com tonfas nas mãos.

__Hai, Boss. – informa Chrome, sentindo as bochechas corarem um vermelho brilhante devido à proximidade entre ela e seu chefe.

__Sim, Jyuudaime.

Um pequeno aceno com a tonfa direita é a única resposta que o Décimo recebe da Nuvem. O grupo não tem tempo para distrações, quando se veem cercados por homens armados, sejam com armas envoltas em chamas de diferentes atributos, ou por armas de fogo comuns, alguns montados em motos, outros a pé, porém, todos saindo de dentro da floresta e de dois furgões que estacionaram a poucos metros de distância. Hibari é o primeiro a saltar para o ataque, disferindo golpes com suas tonfas, o que resulta em pilhas de homens estirados no chão, todos com passagem de graça para o hospital com fraturas múltiplas espalhadas pelo corpo. Recebendo um aceno de Tsuna, Gokudera começa atacar com as dinamites do seu Gear da Tempestade, enquanto incontáveis pilares de fogo surgem desencadeados pelas fortes ilusões de Chrome, que também se juntou a luta. Tsuna puxa as luvas de seu bolço dentro do paletó, e assim que as coloca, uma chama vem à vida em sua testa, enquanto seus punhos, agora cobertos por um par de luvas vermelhas, tornam-se envoltos pela mais pura Shinu Ki no Honoo do Céu. Derretendo o cano da arma de um dos seus atacantes, enquanto desvia de uma chuva de balas, Tsuna junta-se aos seus Guardiões na briga.

Com os quatro lutando, em pouco mais de cinco minutos, pilhas de corpos inconscientes foi o que sobrou da breve batalha.

__Tch! Isso foi uma tremenda perda de tempo! – rosna Gokudera, com um olhar irritado, enquanto a chuva que cai sem trégua insiste em escorrer por seus corpos encharcados – Esses idiotas ainda não aprenderam que nos emboscar é inútil?! – completa, pegando seu comunicador para chamar alguém na mansão para vir busca-los, uma vez que seu celular encharcado ficou inútil.

Tsuna parado ao lado da Chrome começando a tremer, retira seu manto, que devido ao material impermeável ainda está seco, e deposita sobre os ombros da pequena figura da Guardiã da Névoa.

__Boss? – indaga ao sentir o manto engolir seu corpo em um calor reconfortante.

__Você está tremendo de frio e eu não estou molhado. Além disso, sou mais resistente a resfriados do que todos. – informa com um sorriso, compreendendo a pergunta na verbalizada pela jovem.

__Obrigada, Boss.

Enquanto Chrome se aconchega desfrutando do calor do manto, Tsuna volta a concentrar sua atenção em sua Hiper Intuição, que mesmo após o fim do ataque continua a perturbá-lo. Correndo os olhos ao redor, vê Gokudera berrando para o pequeno comunicador em sua orelha direita, coisas como ‘sim, Shibafu, fomos emboscados e o carro foi explodido’ e ‘não, não foi eu quem explodiu o carro’, finalizando com ‘cala a boca e manda o Yamamoto vir nos buscar logo, antes que todos peguem um maldito resfriado’ seguido por uma série de maldições em italiano, enquanto Hibari ocupa-se em algemar os vários atacantes inconscientes – que certamente irá interrogar mais tarde de formas nada gentis. Subitamente sua intuição lhe informa de uma nova presença hostil vindo em sua direção. Sua súbita movimentação imediatamente chama a atenção de Hibari, que desviando os olhos para seu chefe tem o vislumbre da ponta de um silenciador surgindo de debaixo de uma pilha com três corpos que ainda não tinha checado.

__Sawada!

Antes mesmo que a voz de Hibari atinja os ouvidos de Tsuna, o jovem Décimo puxa Chrome para trás de seu corpo e imediatamente uma dor aguda atinge o lado esquerdo de seu abdômen. Escuridão. Absoluta escuridão foi o que envolveu seus sentidos de uma forma aterrorizante, enquanto sente algo começando a espalhar-se por dentro de seu corpo como se ansiando por corroê-lo de dentro para fora.

__-udaime! Jyuudaime!

A voz de Gokudera foi a primeira coisa que penetrou seus sentidos atordoados, embora parecesse vir de muito longe. Resistindo a onda de tontura engolfando seu corpo e querendo jogá-lo na completa escuridão outra vez, Tsuna abre seus orbes lentamente. Pairando acima da sua cabeça – atualmente repousando sobre as pernas de Chrome - estão a jovem e Gokudera, ambos com uma expressão que mesmo seus olhos embasados são capazes de discernir como pura preocupação e uma ponta de medo. Movendo um pouco os olhos para o lado, pode ver Hibari com uma tonfa ensanguentada, que, como se sentisse seu olhar, volta-se para a sua direção. Um olhar predatório ainda brilhando no rosto de seu Guardião da Nuvem foi à última coisa que viu, quando a tontura finalmente conseguiu arrastá-lo de volta para a escuridão.

Um par de orbes negros e costeletas sob um chapéu de fedora, onde um camaleão descansa tranquilamente, foi a primeira coisa que perfurou seus olhos, enquanto um pequeno sorriso surge em seus lábios.

__Você não conhece o termo ‘bolha individual’, Reborn?

__Se já pode falar bobagens significa que está bem. – comenta o Arcobaleno, calmamente recostando-se a cadeira em que estava sentado ao lado da cama de Tsuna, voltando a beber seu café expresso – Ser atingido por um tiro depois de toda a formação infernal que tivemos nos últimos dez anos, é uma vergonha, dame-Tsuna.

__Estou bem, Reborn. – fala, sentando-se e recebendo um olhar que muitos considerariam recriminador ou mesmo perigoso, mas que na verdade lhe diz que o Hitman está feliz em vê-lo bem e desperto – Quanto tempo estive apagado? - indaga, reconhecendo as paredes brancas como as da enfermaria.

__Pouco mais de três horas. Antes que pergunte, Gokudera e os outros estão assistindo o interrogatório do sujeito que atirou em você. Acho que não preciso dizer que ele foi o mais violentamente espancado por Hibari. Ele até permitiu que Ryohei curasse o homem o suficiente para que pudesse manter a consciência durante o interrogatório. É claro, atualmente o infeliz já deve ter sido espancado à popa novamente. – comenta sem esconder a satisfação que está sentindo, o lado sádico de seu tutor arranca um suspiro de Tsuna.

__Reborn, sobre a bala usada. – estreita os olhos assumindo uma expressão mais séria, enquanto fixa seu olhar no Arcobaleno.

__Ah. Shamal não conseguiu encontrar sinais dela em seu corpo, e Gokudera e Chrome afirmam que viram algo como uma fumaça surgir de dentro do seu ferimento. – responde puxando um pouco a fedora de seu chapéu – Também não conseguimos encontrar nada nas outras armas e todas as outras balas eram comuns. E a arma usada para alvejá-lo estava vazia. Tudo o que podemos fazer agora, é esperar pelos resultados dos interrogatórios.

Erguendo um pouco a camisa branca, limpa e seca que veste, pousa seus olhos sobre o local em que horas antes levou um tiro. Mesmo após anos recebendo o tratamento com a Shinu Ki no Honoo do Sol, ainda é incrível a capacidade de cura que tais chamas possuem, o ferimento havia desaparecido por completo, nem mesmo uma cicatriz havia ficado no local. Pousando os dedos levemente sobre o abdômen, sente sua Hiper Intuição chutar-lhe a cabeça – algo está errado.


~~~Ҳ~~~


Hibari suspirou. Sim, o Hibari Kyoya suspirou. Não fazia nem 24 horas que havia voltado à mansão Vongola, e já era a segunda vez que seu espaço privado – uma de suas exigências para viver na sede da Famiglia na Itália – foi invadido, ironicamente, por outro herbívoro de cabelos prateados. Seu rosto, geralmente sem expressão – uma vez que seu olhar afiado e sua aura assassina falam por sua face – reflete claramente seu pensamento ‘irritante’, enquanto o herbívoro-boxeador barulhento não para de jorrar comentários e disparates sobre os últimos dias, sendo que a maioria resume-se aos treinos que obrigou os recrutas ‘pouco extremos’ da Varia a fazer.

Não é que Hibari estivesse prestando atenção, é só que o outro fala tão alto que é impossível não escutá-lo. Em pensar que até momentos antes ele estava desfrutando tranquilamente de uma xícara de chá verde, quando a porta que conduz aos seus aposentos pessoais na mansão, bateu aberta e o herbívoro-boxeador barulhento fez seu caminho para dentro da sala sem a menor cerimônia, seguido de perto por seu braço direito visivelmente em pânico – e agora encontra-se a um movimento de morder ambos até a morte, o boxeador por ser barulhento e Kusakabe Tetsuya por não fazer o seu trabalho devidamente. Com a ideia tornando-se mais e mais tentadora, um brilho predatório se espalha por seu rosto bonito – por que sim, Hibari Kyoya é um homem bonito, e se não fosse pela aura assassina que o circula, ele também viveria cercado por mulheres, é claro, não tanto quanto o patrão, porque com Tsuna ninguém consegue competir, apesar de que o Décimo parece ignorar esse fato.

__Hibari, conhecendo você, sei que já percebeu sobre Sawada. – tão rápido quanto o brilho de morte surgiu em seu rosto, desaparece.

__Hn. – resmunga em concordância.

__Talvez você não saiba, mas... Sawada esteve muito doente uma semana depois de vocês saírem para sua última missão. – fala com amargura indisfarçável.

__Kusakabe Tetsuya já me informou dos detalhes. – declara sem rodeios.

Sim, o braço direito do ex-prefeito havia lhe contado o que descobriu com Yamamoto e Gokudera, ele o informou pouco antes de ir para a reunião que o Décimo havia montado em seu escritório horas antes, quando Hibari o interrogou após receber a visita não desejada de um irritado e superprotetor Gokudera Hayato – outro que não mudou muito depois de tudo – pouco antes da hora do almoço.

__Então toda aquela conversa sobre o que aconteceu nos últimos dias era uma desculpa para falar sobre Sawada Tsunayoshi e sua saúde. – comenta, erguendo uma sobrancelha em irritação, embora, observando atentamente seu rosto, o nível de raiva da Nuvem Vongola tinha recuado um pouco e atualmente paira em órbitas mais seguras, fato que arrancou um suspiro de alívio de Kusakabe.

__Hibari, não fale como se isso não lhe afetasse! Sawada é extremamente seu chefe também!

__Chefe?! Eu não tenho tal coisa como um chefe. – fala em tom zombeteiro.

__Mesmo que não admita que ele é nosso chefe, Sawada ainda é nosso amigo e sua saúde afeta a todos! – retruca, com os olhos queimando enquanto cerrando os punhos enfaixados.

__Hn. Então, o que quer de mim? Não me lembro de ter me tornado médico.

Com a resposta de seu chefe, Kusakabe pisca, uma, duas, três vezes, em descrença. Afinal, o Hibari Kyoya que não se liga a ninguém, a Nuvem solitária, não havia refutado o comentário de que ele e o Décimo Vongola são amigos. Kusakabe resiste à vontade de beliscar-se para ter certeza de que não está sonhando – certamente se fizer algum movimento que chame a atenção da Nuvem, ele será mordido até a morte por seu próprio patrão.

__É só que Sawada não parece estar realmente bem, e com tudo que está acontecendo, precisamos ter certeza de que algo como aquilo não aconteça novamente. – falando de seu precioso amigo e chefe, o extremo Guardião do Sol finalmente parece acalmar-se um pouco, afinal, só o Céu pode controlar o Sol.

O mais forte Guardião da Vongola encara sem expressão o homem sentado à moda oriental – sobre as pernas – à sua frente. Essa é a segunda vez que ouve algo nas mesmas linhas dos dois barulhentos herbívoros – é claro, o outro claramente o estava ameaçando, ao passo que esse soa como um pedido, o que em ambos os casos cai em seus ouvidos da mesma forma ‘proteger Sawada Tsunayoshi’, algo que está verdadeiramente começando a afetar a sua paciência.


~~~Ҳ~~~


No silêncio de seu escritório, agora vazio, Tsuna mentalmente analisa todas as informações adquiridas e os fatos recentes, na tentativa de organizar sua mente superlotada. As informações do relatório de Hibari ainda nem haviam sido completamente assimiladas e Ryohei veio trazendo mais problemas. Ainda perdido em pensamentos, não percebe a mensagem de nova chamada piscando na tela de seu computador. Apenas após alguns segundos, e três mensagens, a mente de Tsuna arrasta-o para fora de seus pensamentos e de volta para a realidade.

__Olá, Shoichi! Desculpe demorar a atendê-lo. – fala, abrindo um sorriso caloroso para a imagem de mais um dos seus preciosos amigos, e também o chefe de estratégias da Vongola.

“Não tem problemas, Tsunayoshi. E é bom vê-lo de novo.” – cumprimenta o ruivo, abrindo um sorriso ao ver Tsuna – “Eu já analisei os dados que você me enviou antes e sinceramente eu não tinha ideia de que a situação tivesse se complicado tanto”.

__Pois o que já estava ruim ficou um pouco pior. – fala, soltando um suspiro cansado – Sete subordinados de Xanxus foram emboscados da mesma maneira que Hibari e quatro não sobreviveram. Onii-san disse que teve um momento difícil para curá-los.

“Então são as tais chamas negras outra vez.” – Shoichi solta um suspiro de sua própria autoria, enquanto sente as dores estomacais aproximando-se – “O que pretende fazer agora? Você sabe, a próxima etapa do plano ainda não está completa.”

__Ah. Mukuro ainda não deu retorno sobre sua missão, então precisamos esperar e ficar em alerta.

“Falando nele, Mukuro-kun entrou em contato comigo, ele queria que conseguíssemos as plantas de um prédio em Milão, ele disse que o local parecia suspeito e não queria ser pego de surpresa em um lugar que ele não conhece.” – comenta Shoichi, arrumando o óculos com um olhar sério.

Então ele decidiu ouvir meu aviso. – pensa Tsuna, enquanto um pequeno sorriso surge em seus lábios.

“Devo admitir que um local com tanta segurança realmente parece suspeito. Giannini e eu levamos algum tempo para conseguir burlar a segurança e baixar uma cópia das plantas do prédio. Além disso, a parte exterior daquele prédio claramente não é tudo o que há para ver. E depois de analisar com cuidado o projeto todo, de uma certa forma, ele me lembrou das memórias que recebi sobre o tempo em que eu estava no comando da base Merone, só que em uma escala e complexidade significativamente menor, mas ainda assim, é algo a se considerar.”

__Só espero que Mukuro não faça nada precipitado e principalmente, não subestime nosso inimigo. – comenta, com o mesmo olhar preocupado que Reborn apelidou de ‘Hiper Proteção versão Vongola Décimo’.

Mukuro, é melhor que continue levando meu conselho a sério, caso contrário, as consequências podem ser bastante desastrosas.


~~~Ҳ~~~


À primeira vista, o longo prédio de dois pisos, em uma área pouco movimentada mais ao leste do centro de Milão, parece tranquilo, só mais uma clínica que presta serviços para um pequeno punhado de Famiglias que nem mesmo completam todos os dedos de uma mão. Sim, uma clínica particular para membros da máfia. Considerando o tanto absurdo de Famiglias que vivem espalhadas por toda a Itália, encontrar clínicas como essa não é nenhuma surpresa, na verdade, até mesmo alguns hospitais são comandados por Famiglias maiores – a própria Vongola a mando do Décimo, tem um centro médico completamente equipado que atende não só membros da Aliança, mas, principalmente, os cidadãos comuns. Porém, o que deveria ser apenas mais uma clínica de uso do submundo, despertou a curiosidade de um certo ilusionista de olhos bicolores. A pedido de Sawada Tsunayoshi, ele esteve mantendo um olho sobre uma Famiglia cuja recente movimentação acabou caindo no radar da Vongola, e após ver uma reunião entre os representantes da dita Famiglia, tomou conhecimento desse lugar que atualmente tornou-se seu mais novo alvo.

A recepção estava vazia, apenas uma mulher vestindo uma blusa turquesa com um grande decote, pendurada falando ao telefone enquanto lixa as longas unhas vermelhas, indica que o local ainda está em funcionamento.

__Aí, eu disse para ele ‘querido, se você não tem condições de me manter, eu não tenho motivos para continuar vivendo com você’. – comenta em voz alta ao telefone, quando as portas automáticas se abrem – Espera Mirella, chegou alguém. – avisa, voltando-se para a entrada e deparando-se com o vazio – Tch! Eu já disse aquele porco que eu quero mudar o meu turno para o dia! Não, não estou falando com você. É só que a porta abriu e eu pensei que tinha alguém... – volta a falar no telefone, despreocupadamente.

__Kufufufu. Se toda aquela segurança for por nada, vou me certificar de prender aquele coelho ruivo e a bola em algumas ilusões verdadeiramente sangrentas pelos mesmos cinquenta minutos que eles me fizeram esperar pelas plantas do prédio. –murmura Mukuro, com sua risada assinatura vazando sinistramente, enquanto o kanji em seu olho muda novamente.

Tirando um pequeno aparelho de dentro do bolso – a última geração de computadores portáteis desenvolvidos pelos técnicos da Vongola, que o Décimo deu a todos os Guardiões – com poucos toques na tela, uma planta completa do prédio aparece. Com suas ilusões interferindo com as câmeras de vigilância, caminha pelo corredor sempre mantendo um olhar atento para as plantas da construção. Subitamente depara-se com uma parede lisa.

__Oya?! Parece que encontrei a primeira surpresa. – murmura, enquanto um sorriso de satisfação começa fazer seu caminho através de seus lábios.

A imagem na pequena tela indica que naquele local exato deveria haver uma porta que conduz para o subsolo, mas ao invés disso, há apenas uma parede, o que significa que ele não é o único ilusionista no prédio. Materializando seu tridente, toca o chão e imediatamente uma névoa começa a recuar da parede revelando uma porta de metal, usando um de seus anéis Hell para ampliar suas ilusões, abre a porta que lhe revela uma escadaria. Sendo presenteado por um corredor mal iluminado ao final da descida, enquanto um forte odor que, apesar de parecer familiar, seu olfato não consegue identificar o que seja. Ignorando o cheiro queimando suas narinas, segue silenciosamente pelos corredores. Subitamente o som de vozes desperta a sua atenção. Usando uma ilusão esconde a sua presença e segue as vozes a fim de encontrar a sua origem. Alguns passos para a frente e depara-se com uma parede de vidro revelando um grande laboratório um andar abaixo, com cientistas vestindo jalecos brancos trabalhando em algum tipo de pesquisa estranha. Olhando ao redor, localiza uma porta. Abrindo-a recebe as boas vindas do mesmo odor que sentiu antes, só que em uma concentração maior.

Gritos. Gritos estridentes perfuram seus tímpanos. Gritos de dor e agonia, enquanto seus olhos arregalam-se consideravelmente com a cena que se desenrola diante de seus orbes bicolores, e então o odor forte que estava sentindo desde que desceu até o subsolo, ganha um explicação – cheiro de carne humana sendo queimada. Com os gritos de agonia ecoando em sua mente, seu sangue ferve enquanto memórias desagradáveis - que os anos de convívio com Sawada Tsunayoshi e o bando de desajustados que o Décimo chama de família, haviam quase completamente apagado - vem à tona. Memórias de quando a maldita Famiglia Estraneo usou-o junto com Ken e Chikusa e tantas outras crianças, como cobaias para suas experiências. Cerra o punho com mais força ao redor do tridente, enquanto o desejo para repetir o massacre que fez quando ainda era um garoto a fim de escapar das garras daqueles malditos de jaleco e fugir para a liberdade, começa a corroê-lo por dentro. É por coisas como essa que ardentemente odeia a máfia. É por coisas como essa que quer destruir a máfia. É por coisas como...

“Tenha cuidado e em hipótese alguma baixe a sua guarda.” – o aviso de Tsuna ecoa em sua mente arrastando-o de volta para a realidade, é quando outra voz penetra seus ouvidos.

__Mais um fraco que pode ser descartado. – uma figura completamente vestida de branco com cabelo Black Power, sorri enquanto observa alguns homens retirarem um corpo de uma das mesas usadas nos testes, não mais do que dez metros de distância de onde Mukuro encontra-se.

Um sorriso sinistro faz seu caminho através dos lábios de Mukuro.


~~~Ҳ~~~


Chrome estava na cozinha junto com Pizio ajudando-o a preparar um bolo para o café da manhã. Ela havia acordado cedo e depois de conversar um pouco com Kyoko e Haru no dia anterior, sentiu a súbita vontade de relembrar o tempo em que as três, ainda na escola, se reuniam para comer alguns bolos, mesmo que fosse uma ocorrência um tanto rara, levando-se em conta que ela morava em Kokuyo junto com Mukuro-sama e os demais, e não próxima as suas únicas amigas – uma vez que M.M verdadeiramente a detesta. Por isso, pediu a ajuda do cozinheiro da mansão para fazerem um bolo para todos, especialmente para o Boss.

Verdade seja dita, foi uma surpresa para todos descobrir que o Décimo tem um grande fraco por coisas doces. Gokudera foi quem descobriu essa peculiaridade do jovem chefe, cerca de dois meses após terem se mudado para a sede da Vongola na Itália, quando por três vezes seguidas o encontrou comendo bolos ao invés de fazendo a papelada maldita – escusado será dizer que o Arcobaleno não ficou nada feliz com isso, e por duas semanas inteiras obrigou Tsuna a fazer treinamento extra. Por algum motivo, tal descoberta deixou o leal braço direito do Décimo um tanto incomodado e, principalmente, preocupado, uma vez que o Boss parecia render-se aos doces com uma maior frequência quando estava muito estressado ou quando sua intuição começava a perturbá-lo. Reborn foi quem surgiu com uma possível explicação, parece que a paixão por coisas doces é algum tipo de traço hereditário naqueles com sangue Vongola, e provavelmente está ligado a Hiper Intuição dos chefes da Famiglia, e Tsuna por possuir, entre todos, uma intuição muito mais apurada e ser um descendente direto de Primo, parece ter desenvolvido um maior amor pelas coisas doces – desnecessário dizer que, depois de incontáveis horas extras de treinamento espartano, o jovem chefe foi capaz de superar seu fraco por doces, embora, não raro Tsuna e Lambo ainda sejam vistos juntos comendo bolos e outras coisas do gênero.

Enquanto Chrome e Pizio estão distraídos na cozinha, um forte tremor abala a mansão, chegando a derrubar algumas panelas. No terceiro andar, Gokudera que relaxava lendo a última revista que comprou sobre fenômenos sem explicação, quase cai da poltrona quando Uri salta da cama em seu colo enquanto a mansão estremece. Imediatamente deixando de lado sua leitura, ganha o corredor para se deparar com um sonolento Lambo, ainda vestindo um pijama com estampa de vaca, e com Yamamoto, que tinha uma escova de dentes na mão e um olhar sério no rosto.

__Neh, o que é todo esse barulho? Estamos sendo atacados ou o que? – resmunga Lambo, esfregando os olhos e soltando um bocejo.

__Gokudera.

__Sem dúvidas está vindo da sala de treinamento. – responde a Tempestade, a pergunta não verbalizada pelo espadachim, enquanto o trio alcança as escadas.

Adentrando o corredor que conduz para a sala de treinamento, logo avistam Hibari e Ryohei parados diante da porta de aço duplamente reforçada – uma precaução que Tsuna tomou para manter o nível de estragos do lado de fora da sala o menor possível, muito embora, na única vez em que os Guardiões testemunharam seu chefe realmente irritado, com um chute ele derrubou uma dessas portas sem nem mesmo estar no Hiper Modo.

__Então é mesmo Sawada que está fazendo um treino extremo como esse. – comenta Ryohei, quando os outros juntam-se a dupla.

__Tch! Como se alguém além do Jyuudaime pudesse fazer a Mansão inteira estremecer sem derrubá-la – fala, lançando um olhar de canto para o Guardião da Nuvem, que claramente o ignora.

__Neh, está tudo bem deixar o Vongola treinar desse jeito, sozinho?

__É claro que o Jyuudaime prefere treinar sozinho quando Reborn-san não está, ele não quer que ninguém acabe ferido.

__Bem, não é sobre isso que estou falando, é só que esta é a primeira vez que ele está treinando sozinho desde aquele dia.– imediatamente todos voltam sua atenção para o jovem Guardião.

__Lambo está certo, talvez devêssemos ver como Tsuna está.

__Se vocês interferirem de forma descuidada só vão conseguir um ferimento e deixa-lo com uma aura de herbívoro o resto do dia. – resmunga Hibari, escorado na parede com os olhos fixos na porta.

__Tch! Você fala isso, mas também veio verificar o que está acontecendo. – retruca Gokudera.

__Só vim ver quem interrompeu o meu sono para depois mordê-lo até a morte por me acordar. – resmunga com uma expressão em branco, que parece trair suas palavras de uma luta sangrenta.

__Maa, maa. Discutir agora não vai ajudar a resolver- Yamamoto para, estreitando os olhos – Já tem um tempo que o barulho e os tremores pararam. – completa, com uma expressão séria.

Todos disparam um olhar para a porta, enquanto Gokudera corre para abri-la. Porém, antes que a Tempestade possa tocar a porta, essa abre-se, revelando uma bagunça de cabelos castanhos emoldurando um rosto com algumas gotas de suor e um par de orbes castanho-avelã que os encara enquanto um sorriso surge em seus lábios.

__Bom dia, minna! Desculpe por acordá-los.

__Jyuudaime!

__Sawada, esse foi um treino extremo!

__Tsuna, você está bem?

__Ah. Estou um pouco suado, e certamente precisando de um banho, mas estou bem. – fala aumentando o seu sorriso – Minna, sei que estão preocupados, mas estou me sentindo bem, além disso, Reborn está para voltar em breve e se ele descobrir que eu não me exercitei nem um pouco nos dias em que esteve fora, ele certamente vai intensificar ainda mais os meus treinos. – com o comentário, uma pequena careta se forma em seu belo rosto, enquanto recebe alguns olhares piedosos de Lambo, Yamamoto e Gokudera, além de um punho lançado ao ar de Ryohei seguido de um grito de ‘extremo’, enquanto Hibari só estreita os olhos em sua direção.

__Se Vongola está bem, vou voltar a dormir. – murmura Lambo, com outro bocejo, quando uma mão agarra a parte de trás do colarinho de sua camisa.

__Oi, Ahoushi, onde pensa que vai? Você e eu temos treino hoje.

__Geh?! Goku- Gokudera-shi!

__Sem mais, vá trocar-se para o café da manhã! – rosna a Tempestade Vongola.

__Lambo, eu vou subir com você, preciso de um banho e de roupas limpas. – avisa Tsuna, juntando-se ao mais jovem do grupo, que parece se animar um pouco com a companhia de seu ‘nii-chan’.

__E ele chama isso de exercício. – resmunga Hibari, retornando para seus aposentos.

Ao ouvirem o comentário da Nuvem, os três se voltam para a sala ainda aberta. Dos cinco Strauss-Mosca que Spanner havia construído para auxiliar nos treinos de Tsuna, apenas um ainda era reconhecível, enquanto os outros viraram amontoados de metal e fios, com peças espalhadas por toda a sala, que também ganhou muitas crateras nas paredes, além de marcas de queimado.

__Tch! Normalmente Jyuudaime não vai tão longe quanto destruir os Moska quando está se exercitando.

__Ah, mas desta vez, Sawada extremamente aniquilou-os.

__Tsuna deve estar mais incomodado com a situação do que imaginávamos.

__É por isso que quando eu pegar os bastardos responsáveis por tudo isso, eu vou ter certeza de exterminá-los completamente. – rosna Gokudera, cerrando os punhos.

__Ah! Você está extremamente certo, Takorēto! – grita Ryohei, lançando um punho enfaixado para o ar.

__Eu também concordo. Ninguém perturba nosso Boss, e sai impune.


~~~Ҳ~~~


Como na maioria dos últimos dias, Tsuna sente sua Hiper Intuição perfurando sua cabeça, foi por causa dessa sensação que ele recorreu à sala de treinamento para distrair sua mente e, como bônus, aliviar um pouco do estresse formado dentro do seu corpo. Desde que entrou em colapso a primeira vez cerca de três semanas antes, Reborn havia aliviado um pouco o seu treino usando a Shinu Ki no Honoo e focado mais em trabalhar seu físico, o que lhe rendeu um pouco mais de massa muscular, além de algumas distensões e concussões - uma vez que os métodos de treino do Arcobaleno sádico não são os mesmo que um preparador físico usa em uma academia, algo que incluiu rebater balas de canhão, disparadas por um, com um bastão de aço pesando mais de cinquenta quilos, desnecessário dizer que tais treinos renderam uma pilha inteira de papelada com despesas sobre os reparos feitos no jardim cheio de crateras, em algumas paredes esburacadas da mansão, a reposição do chafariz e da estátua que fica sobre o mesmo, que foram completamente destruídos quando Tsuna sem querer rebateu uma das balas de canhão na direção de ambos, isso sem contar na quantidade absurda de árvores que o Décimo acabou derrubando e que tiveram de ser replantadas. Mas hoje, depois de dias sem usar suas luvas e suas chamas, Tsuna decidiu treinar usando-as, e como resultado, acabou destruindo completamente os Strau-Mosca que Spanner construiu especificamente para ajuda-lo a exercitar-se quando não há um companheiro disponível, ou quando Tsuna simplesmente não quer companhia.

Parece que minhas chamas ficaram um pouco descontroladas depois de tanto tempo sem uso. Isso, ou... – pensa, soltando um suspiro, enquanto adentra a sala de jantar para o café da manhã onde todos – com exceção da Nuvem solitária – já o aguardavam.

O café da manhã começou como qualquer outro dia, risos, conversas nonsense, Lambo quase dormindo sentado, discussões entre Gokudera e Ryohei, que ficou na Mansão a pedido de Tsuna, com Yamamoto tentando pará-los, até que a expressão de Tsuna instantaneamente escureceu, fazendo a temperatura da sala despencar alguns graus. Porém, antes que qualquer pergunta fosse feita, Lorenzi apareceu na sala, seguido por dois homens que Gokudera e Yamamoto logo identificaram como Uffo Andreani e Vonny Carli, respectivamente o líder de um dos esquadrões da Chuva e o líder de um dos esquadrões da Tempestade. Os dois homens, Andreani, o mais baixo com um longo cabelo esverdeado prezo em uma trança, vestindo o tradicional uniforme da Chuva, calça preta e casaco azul, e Carli, com cabelos cor de chumbo cortado estilo militar, com o uniforme da Tempestade, calça preta e casaco vermelho, parecem desconfortáveis e pálidos, e a aura poderosa envolvendo a sala só piora a situação.

__Desculpe interrompê-los, mestres, Décimo-sama. – introduz-se Lorenzi.

__Tch! O que estão fazendo aqui?! – rosna Gokudera, já prevendo que algo está errado pela atitude do Jyuudaime.

__Maa, maa, Gokudera. Eles devem ter algo importante a dizer para ter vindo até aqui à esta hora. – fala Yamamoto, embora sua expressão não esteja tão tranquila quando normalmente é.

Um suspiro vindo da ponta da mesa faz todos voltarem sua atenção para o jovem Décimo. Os dois recém-chegados não são capazes de evitar estremecer, quando um par de orbes cintilando um tom alaranjado sobre um castanho-avelã recai sobre eles. Embora não houvesse ninguém no submundo que nunca tive ouvido falar sobre o poder desse olhar, estar na presença do já lendário Vongola Decimo é algo verdadeiramente arrepiante, mesmo que os dois homens são cinco centímetros, no caso de Andreani, e cerca de nove, no caso de Carli, mais alto do que o patrão, a aura com um grande poder emanado de sua figura o torna imponente e exige respeito acima de tudo.

Mesmo percebendo o desconforto que está causando nos dois pobres homens, certamente portadores de más notícias - uma vez que a única exceção para interromper as sagradas horas das refeições em família do Décimo, é quando algo verdadeiramente urgente está acontecendo – Tsuna não consegue evitar sentir irritação, afinal, uma vez mais sua Hiper Intuição está avisando-o de mais problemas.

__Minna, desculpem por isso, mas receio que teremos de passar o café da manhã. Gokudera e Yamamoto tragam os líderes de seus esquadrões, vamos para o meu escritório, Ryohei, avise Hibari que quero vê-lo, Chrome, por favor, entre em contato com Mukuro e verifique sua situação, depois venha para o meu escritório. Fuuta, entre em contato com Basil, deixe-o de sobre aviso para uma reunião hoje à tarde, e Lambo, hoje estou abrindo uma exceção, você também fará parte da reunião, o mesmo vale para você Fuuta.

Um coro de compreensão ecoou pela sala e logo todos se dissiparam para as suas respectivas funções. Seguindo os Guardiões, os dois líderes de esquadrão lançam olhares curiosos e apreensivos para a figura liderando a pequena comitiva pelos longos corredores da mansão, até pararem em uma sala ampla, bem iluminada, com uma grande janela de vidro, próxima a uma mesa onde algumas pilhas de papelada descansam impiedosamente. O Décimo assume o seu lugar atrás da mesa em uma confortável poltrona de couro e cruzando os dedos sobre a mesa, volta sua atenção para os dois recém-chegados, que uma vez mais estremecem.

__Então?

Um silêncio pesado, e de certa maneira constrangedor, forma-se na sala. Enquanto os dois líderes sentem suas gargantas secarem.

__Oi, o Jyuudaime lhes fez uma pergunta! Se só vieram até aqui para ficarem parados sem dizer nada. – a ameaça não verbalizada faz os dois estremecerem, afinal, todos conhecem os estranhos temperamentos que possuem os terríveis Guardiões Vongola, mesmo o mais jovem entre eles, sentado em silêncio ao lado de Yamamoto, pode ser muito perigoso.

__Maa, maa, Gokudera. Intimidá-los não é a melhor forma de persuadi-los. – mesmo dizendo algo gentil, a aura emanada pelo espadachim não parece tão amistosa quanto as suas palavras – Neh?! – completa, estreitando um pouco os seus orbes caramelo, enquanto Gokudera revira os olhos.

__Bem... – Carli é o primeiro a tomar coragem, depois de quatro anos como líder de um dos esquadrões da Tempestade, ele já está mais adaptado com o temperamento tempestuoso de seu chefe, além disso, o patrão está ficando impaciente, como indica a temperatura da sala caindo mais a cada minuto – Noite passada nós recebemos um pedido de ajuda de duas Famiglias da Aliança, as Famiglias Cavasin e Fregnani, ambas são relativamente pequenas, e como consta em nossas ordens para sempre prestar socorro quando um pedido de ajuda é recebido através do código secreto fornecido para cada Famiglia individualmente.

__Acionamos nossos respectivos esquadrões e junto com alguns membros do esquadrão do Sol fomos fornecer ajuda, o esquadrão da Chuva ficou encarregado da Famiglia Fregnani, enquanto a Tempestade responsabilizou-se pela Cavasin. – prossegue Andreani, ainda hesitante – quando chegamos à sede da Fregnani, os inimigos em sua grande maioria já haviam fugido, o que facilitou a remoção e tratamento dos muitos feridos.

__Mas quanto a Cavasin, a situação foi um pouco diferente. Quando chegamos eles estavam em pleno ataque. Homens encapuzados portando lâminas estranhas cobertas por chamas negras, estavam atacando sem hesitação alguma. Houve várias baixas do nosso lado, mas a Famiglia Cavasin foi quase toda dizimada. – completa, cerrando os punhos, fúria fervendo em seu interior, enquanto evita encarar as figuras dentro da sala.

Houve silêncio. Um silêncio pesado e espesso. Até mesmo o som das respirações pareciam ter parado. Um silêncio ensurdecedor que se apegou a todos, enquanto as palavras há pouco ditas estavam sendo digeridas e assimiladas.

__Gokudera. – a voz aveludada em um tom sério, transbordando um sentimento que há muito os Guardiões não haviam sentido, o de ira, quebrou o silêncio auto-imposto – Avise a todos que o Décimo está convocando uma reunião de emergência com a cúpula da Aliança Vongola, hoje na primeira hora da tarde. Apenas deixe Enma e Shoichi que eu pessoalmente irei avisar. – movendo os olhos para o fundo da sala, concentra sua atenção nos outros três Guardiões e em Fuuta, que haviam chegado assim que a situação começou a ser explicada, que permaneceram ouvindo em silêncio – Ryohei, informe Xanxus da reunião, vir ou enviar um representante é com ele, mas eu quero alguém da Varia aqui, depois reúna os esquadrões do Sol e deixe-os de prontidão, o mesmo vale para todos os outros líderes de esquadrões, após a reunião de hoje eles irão receber novas ordens que devem ser seguidas rigidamente. E para todos, o aviso que dei no dia em que Hibari voltou estará em vigor até que toda esta situação se resolva.

Outra vez um coro de compreensão ecoou pela sala, enquanto um a um todos foram se retirando, o último a sair foi Yamamoto que conduziu os dois líderes de esquadrão ainda abobalhados com toda a situação. Logo o silêncio presenteou Tsuna, que levantando-se lança seu olhar pela janela, o outro céu, claro e de um azul vibrante, parece não compartilhar de suas aflições.

__Sawada. Você sabe que não pode manter isso por muito mais tempo.

Ao ouvi-lo, um pequeno sorriso brinca nos lábios de Tsuna, sua Nuvem só o chama dessa forma em dois momentos raros, quando está irritado e os dois estão sozinhos e quando está muito preocupado e os dois estão sozinhos, e parece que hoje os dois momentos se aplicam - claro que Hibari nunca admitirá sua preocupação, mas ações como essa o traem.

__Ah. Eu sei.

__Vou ficar na mansão. E é melhor se esforçar mais em disfarçar, os herbívoros barulhentos estão começando a me irritar sobre a sua saúde. – comenta, movendo-se em direção à porta.

__Estou morrendo.

Hibari congela. O Hibari Kyoya congela com a mão segurando a maçaneta da porta, seus olhos ampliados de uma forma que seria cômica se a expressão em seu rosto não fosse de choque absoluto. A cor de sua face drenada até um branco que quase compete com o do homem parado diante da janela, as mãos nos bolsos da calça, sua expressão encoberta pelos cabelos castanhos. Hibari não tem certeza de quando ele abandonou o que estava fazendo, tudo que sabe é que encontra-se encarando seu chefe como se ele tivesse dito a coisa mais absurda que já ouviu. Até que aquela frase realmente afunda em sua mente.

Talvez eu tenha sido direto de mais. – pensa Tsuna, ao virar-se e encontrar o olhar em branco de seu Guardião.

__Sinto muito. Mas achei que você iria descobrir logo.

__Quanto tempo? – a voz de Hibari soa mais baixa do que costuma ser, ainda assim, há a exigência por uma resposta, enquanto seu rosto assume a expressão habitual, embora seu olhar traia sua aparente indiferença.

Um pequeno suspiro vaza dos lábios de Tsuna.

__Sawada Tsunayoshi. – a suavidade de sua voz havia desaparecido, em seu lugar a irritação começa a borbulhar.

Parece que já se recuperou. Como esperado de Hibari Kyoya.

__Shamal não sabe. O diagnóstico ainda não é definitivo, mas se não descobrirmos o que está me afetando e encontrar uma cura, então ele será.

__Então?

__Segui o conselho de Enma e enviei uma amostra do meu sangue para Verde, pedi a Mammon para entregar-lhe em segredo um dia antes de você voltar.

__O Shimon também sabe.

__Ah. Eu contei a Enma assim que Shamal me deu o diagnóstico.

Com Hibari mergulhando em seus próprios pensamentos, um breve silêncio se forma no escritório. Então, como se algo se encaixasse na mente da Nuvem, Hibari fixa seus olhos azul-cinzento sobre seu chefe, uma aura perigosa começando a emanar de seu corpo.

__Se eles estão por trás disso. Então aquilo não foi uma emboscada.

__Imaginei que também chegaria a essa conclusão. – comenta Tsuna, os orbes castanhos-avelã sendo engolidos por um tom alaranjado.

__Hn. Irei usar a sala de treino por um tempo, certifique-se de manter os herbívoros longe.

__Ah.

Observando sua Nuvem sair do escritório com um olhar predatório no rosto, Tsuna suspira uma vez mais.

Parece que logo terei papelada extra para fazer. – pensa, voltando seu olhar para o céu azul.


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Notas finais do capítulo

Certo Minna, para aplacar um pouco a raiva de vocês - e fazê-los chorar como eu chorei - assistam os vídeos dos links abaixo na ordem em que estão - acho que coloquei na ordem certa ¬¬" - e me digam mais tarde o que acharam!!!
Então, deixem-me saber suas opiniões e até o próximo capítulo! Ciao, ciao!
http://youtu.be/SLh01f4sTEQ
http://youtu.be/MVX7vgffmv4
http://youtu.be/vDirmvRBLB0
http://youtu.be/1r8L8yOW4fQ