Cielo escrita por Selene L Tuguert


Capítulo 7
Declaração de Guerra


Notas iniciais do capítulo

Salve minna-san!
Estou de volta (>.<)/
Um grande obrigada por todos os comentários, vocês enchem meu coração de alegria!
Ah, este é o maior - caso ninguém tenha percebido - e o mais complicado capítulo para escrever até agora!
Então, sem mais enrolação: KHR pertence a Akira Amano-sensei, apenas o enredo é meu!



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Declaration of War


Diferente da maioria dos dias, Giotto acordou muito mais cedo do que o habitual. Não que tivesse o hábito de dormir de mais, isso havia perdido há muito tempo - uma vez que a Sicília não era o lugar mais tranquilo para uma criança descansar, não com tantos roubos, mortes, raptos e toda a horda de crimes que se possa imaginar acontecendo do lado de fora da janela, afinal, sua amada cidade havia sido por muitos anos o lugar preferido de saqueadores e assassinos. Desta vez Giotto acordou com um formigamento seguido da sensação de que seu cérebro estava sendo chutado, enquanto vácuos formavam-se no seu estômago, sentimento que fazia muito tempo que entendeu o que significava: algo ruim estava por vir.

O que vai ser desta vez? – pensa, enquanto massageando as têmporas na inútil tentativa de aliviar a dor formando-se na sua cabeça, e que, certamente, iria só piorar durante o dia. Fazia quatro dias desde que deu a ordem para seus seis guardiões começarem a investigar e reunir toda e qualquer informação que pudesse leva-los até os responsáveis pela atrocidade cometida contra os moradores da região. Quatro dias em que seguidamente foi expulso para fora de seu sono por essa mesma sensação - algumas vezes, Giotto amaldiçoa ter uma intuição tão Hiper. Embora seus Guardiões estivessem atentos a quaisquer pistas que pudessem ajuda-los, pouco ou quase nada havia sido encontrado, o que só afunda o seu humor ainda mais nas águas da irritação.

Levantando-se de sua cama na, ainda não completamente terminada, mansão Vongola – apelido dado de forma pejorativa ao seu grupo de vigilantes na época em que estava em formação, e que Giotto decidiu manter como um lembrete para todos de que mesmo algo tão pequeno é capaz de grandes coisas, afinal, ninguém acreditava que um grupo de pequenas amêijoas poderia ir contra criminosos e obter sucesso - Primo percebe que o Sol apenas começava a nascer. Inquieto, muda sua roupa de dormir por um terno e caminha para fora do quarto.

Talvez Ugetsu ou Knuckle já estejam de pé. – com esse pensamento em mente, começa a vagar pelos corredores. Porém, sua Hiper Intuição persiste em perturba-lo, fazendo a sensação de desconforto em seu corpo ainda maior. É quando uma presença estranha vinda da direção do portão principal da mansão, atravessa seus sentidos. – Invasores! – tão logo o pensamento surge em sua mente, põem-se a correr enquanto coloca suas luvas e salta para fora da janela mais próxima. Em sua testa uma chama laranja vem à vida, enquanto seus punhos se tornam envoltos pela brilhante Shinu Ki no Honoo do Céu. Ganhando o ar, corre os olhos pela propriedade. Assim que sua figura flamejante surge cortando o céu, a presença desaparece por entre as árvores da densa floresta que os cerca. Antes que possa cogitar a ideia de persegui-los floresta à dentro, algo chama a sua atenção.

Mas o que no mundo... – pensa, aterrissando próximo ao portão enquanto seus olhos se arregalam consideravelmente.

__Primo! – a voz de G ecoa pelo jardim, enquanto corre para o portão com um revolver em mãos, seguido de perto por Ugetsu carregando uma longa katana, Knuckle e um sonolento Lampo, que acordou com um G irritado berrando pelos corredores que Primo estava voando do lado de fora da mansão.

__Deus amado! – exclama Knuckle ao juntarem-se ao chefe.

__Primo, o que aconteceu? – indaga um preocupado Ugetsu ainda em guarda, embora a aura hostil já não pudesse ser sentida.

__Geh?! Por que a primeira coisa que eu vejo após acordar é uma pilha de corpos de camponeses. – choraminga Lampo, fazendo uma careta com uma mistura curiosa entre medo e nojo.

__Eu senti uma presença estranha e hostil e vim verificar, e isso foi o que encontrei. – fala, com os olhos ainda fixos nos vários corpos empilhados diante do grande portão da mansão, enquanto a chama do Hiper Modo se apaga.

__Estão todos mortos. – informa Knuckle, após conferir o último dos oito corpos estirados no chão, com a constatação, uma sombra paira sobre a face bela de Giotto.

__Primo, você sabe o que isso significa. – o olhar do Guardião da Tempestade está visivelmente sombrio, o que implica que alguém irá seriamente se arrepender por essa ação estúpida.

__Ah. Vongola acabou de receber uma declaração de guerra. – seus olhos normalmente de um suave tom alaranjado, queimam com um forte tom laranja em resposta a sua determinação.


~~~І~~~


O terrível Guardião da Tempestade, amigo de infância de Giotto, e também o braço-direito do Vongola Primo, atravessa as vielas um tanto estreitas rumo ao centro da cidade. Ainda é cedo, no entanto muitas pessoas já se aglomeram pelas ruas de pedra indo e vindo para rumos que G simplesmente ignora. Ele tem uma missão para realizar, e uma que ele pessoalmente considera irritante. Porém, uma vez que foi Primo que lhe incumbiu de tal tarefa, ele não irá recuar. Mais alguns passos à frente dobrando uma esquina, depara-se com seu objetivo – o prédio de quatro andares em tons neutros onde situa-se a sede do CEDEF. G tem de admitir que para alguém que verdadeiramente odeia estar junto de outras pessoas em ‘aglomeração’, Alaude escolheu um lugar que vai completamente contra a sua aversão a multidões - o prédio localiza-se junto ao centro da cidade, precisamente na área mais movimentada de Palermo.

G balança levemente a cabeça para afastar os pensamentos sobre o ‘aplicador da lei’ que ironicamente aderira a uma agora chamada Famiglia da Cosa Nostra– ou simplesmente Máfia, como alguns já começam a referir-se a essas grandes Famiglias com poderio militar, apelido que tira Primo de seus nervos, algo raro de acontecer com o chefe de temperamento calmo e paciente. Alaude dentre todos os ‘Guardiões’, como Primo optou por referir-se aos seis que o auxiliam no comando da Vongola, é sem dúvida o mais difícil de lidar, arredio e um lobo solitário por natureza, faz completamente jus ao anel da Nuvem que recebeu ao assumir sua posição como Guardião. Na verdade, foi bastante surpreendente que ele aceitou a proposta de Primo, e após sair de seu antigo trabalho, mudou-se da França para a Itália e, quase que simultaneamente ao surgimento da Vongola propriamente nomeada, fundou o CEDEF que direta ou indiretamente tem os auxiliado no decorrer dos anos – fato que mesmo G não é capaz de negar.

Ignorando os olhares que lhe são lançados pelas pessoas a sua volta, sejam moradores ou pelos subordinados de Alaude saindo do prédio para alguma missão, adentra o pequeno hall de entrada da sede do Conselho Externo. Sem dar satisfações a qualquer um, sobe as escadas de madeira que o conduzem ao último andar, no caminho passando por outros membros do Conselho, todos usando uma expressão apreensiva e alguns claramente estão com medo, o que indica que o carnívoro dentro da sala no final do corredor está de péssimo humor – não que Alaude tenha algo que possa ser chamado de ‘bom-humor’, mesmo puxando do fundo de todas as lembranças que tem sobre o Guardião, G não é capaz de lembrar de nem mesmo uma em que ele apareça sorrindo, que dirá rindo - mas desta vez seu temperamento parece estar pior do que já é. E ainda assim, sem pensar duas vezes, G lança a porta aberta sem se dar ao trabalho de bater, revelando um escritório arejado em tons suaves de bege, onde algumas pilhas de papéis estão perfeitamente dispostas sobre uma mesa localizada no centro da sala, próximo a uma grande janela.

__O que você quer agora? – rosna o loiro-platina, sem erguer seus orbes azuis-claros dos documentos em sua mão, deixando claro que a presença do outro não é bem-vinda em seu escritório.

G o encara por um segundo, tomando uma respiração na tentativa de manter seu próprio temperamento sobre controle, afinal, seu palpite sobre o humor – ou falta dele – de Alaude estava certo, ele está mais frio que o habitual - não que a sua escolha de entrar sem pedir permissão ajudou a melhorar a situação, mas depois de tudo, a Tempestade tem uma maldita tarefa para cumprir e nenhuma paciência para aturar o iceberg que é seu companheiro Guardião.

__A Famiglia estúpida empilhou os corpos de alguns moradores desaparecidos na frente do portão da mansão hoje cedo. Primo os encontrou. – informa, estreitando levemente os olhos sobre o outro.

Se a notícia afetou Alaude, ele não demonstrou. Fato que fez o nível de irritação já latente de G aumentar ainda mais. Certamente encarrega-lo desta tarefa irritante era a forma sútil de Giotto vingar-se dele por ter escondido seus preciosos bolos na semana passada, após pega-lo novamente comendo ao invés de fazendo sua papelada maldita, mesmo com aquele sorriso doce e ar gentil, o loiro sabe ser rancoroso quando quer, ainda mais quando seu vício por coisas doces está envolvido – algo que G deseja do fundo do coração não se torne um traço hereditário, ou as futuras gerações estarão com sérios problemas.

__Então foi por isso que você invadiu o meu escritório. – resmunga Alaude indiferente, os olhos ainda fixos no punhado de folhas que está lendo.

__Tch! Você deve saber muito bem o que algo como isso significa. – rosna de volta, encarando-o com uma carranca, pois mesmo o bastardo não pode ficar verdadeiramente indiferente ao que aconteceu.

__Hn. Uma grave quebra na lei. – responde, finalmente dignando-se a encara-lo, os olhos sempre afiados parecendo mais ameaçadores do que o habitual.

__Ah. Primo está convocando todos os Guardiões para uma reunião hoje á noite. – avisa encaminhando-se para a porta – E, Alaude, Primo está realmente irritado. – completa, saindo do escritório sem ver o olhar do chefe do CEDEF estreitar-se perigosamente, alguém logo sentirá a fúria de suas algemas.


~~~І~~~


Depois de G deixar a fria e distante Nuvem para trás, faltava a outra parte de sua missão maldita para terminar e poder retornar à mansão. Se Alaude é o mais difícil de lidar por sempre preferir manter-se afastado, o mais irritante de se conviver é sem dúvidas Daemon Spade – mesmo o mimado Lampo não é capaz de irritá-lo tanto quanto o ardiloso e arrogante Guardião da Névoa. Quando o aristocrata unira-se a família – fato que ocorreu cerca de quatro meses após a vinda de Alaude, algo que resultou em Giotto com algumas concussões e ferimentos espalhados pelo corpo - G teve a sensação de que Primo havia encontrado outra figura estranha para ocupar a posição que faltava para completar seus Guardiões, afinal, Primo já havia aceitado um amante de música, que, apesar da aparência tranquila e aparentemente inofensiva, é o maior espadachim que já se ouviu falar, um celibatário, que é na verdade um boxeador invicto que abandonou o boxe após acidentalmente matar seu último oponente, o pirralho medroso que Giotto de alguma maneira força a assumir as frentes nas batalhas, e por fim o ex-chefe de alguma agência de inteligência, que pessoalmente ignora qual seja. Mas a devoção cega e que por vezes bate de frente com os ideais de Primo, que são os mesmos que unem todos os outros Guardiões e o motivo real para a Vongola ser criada, aliada a personalidade de Daemon, que com o correr dos anos tem se tornado cada vez mais sádica e cruel, a sua paciência começou a corroer-se de uma forma, que por vezes custa-lhe todo o seu autocontrole para não usá-lo como alvo para praticar com o arco que o próprio Giotto deu-lhe.

Aparentemente despreocupado, G caminha pelas vielas que o conduzem para o casarão em que Daemon vive, localizado mais ao norte do centro da cidade. Certamente vir cavalgando pelo caminho ao invés de deixar o animal descansando no estábulo de Paolo, teria sido a melhor escolha para percorrer uma distância longa em pouco tempo, porém o Guardião da Tempestade prefere andar entre a população e talvez coletar alguma informação que possa ajuda-los a identificar a maldita Famiglia que decidiu declarar guerra contra a Vongola, e está tirando Primo de seus nervos. Em todos os anos em que se conhecem, poucas vezes G viu Giotto tão agitado, seu amigo de infância e agora seu precioso chefe, odeia acima de tudo ver pessoas inocentes sendo vítimas da violência criada por Famiglias inescrupulosas que não se importam nenhum pouco com as vidas que destroem enquanto buscam atingir seus objetivos, e foi por esse motivo que a Vongola foi criada, para proteger as pessoas, não para feri-las.

Fazia poucos minutos que G havia saído do prédio do CEDEF, quando o som de tiros seguido de gritos atinge seus ouvidos. Sem hesitar, corre na direção em que ouviu os disparos, imediatamente tirando de dentro do bolço do casaco o revolver que sempre carrega consigo – uma precaução que começou a tomar desde que o grupo de vigilantes expandiu-se e começou a atrair a atenção de peixes maiores para eles, algo que já salvou não apenas a sua vida como a de Giotto, na época em que o loiro ainda não usava suas chamas para se proteger por conta própria.

Correndo pelas ruas estreitas e atalhando por dentro da mercearia de um conhecido da Famiglia, sempre guiado pelo som dos disparos, G avista o que está provocando toda a comoção, correndo desesperado é um homem em seus cinquenta anos, com as roupas, algo como um jaleco e calças escuras, um pouco rasgadas e com um pé já sem sapato, que deve ter perdido enquanto fugia. G não consegue ver seu rosto com clareza, mas o bando de homens armados, seja com facas, uma corrente, uma espada no estilo europeu – a convivência com Ugetsu o ajudou a conhecer diferentes tipos de lâminas e estilos de lutas usando esse tipo de armas – ou revolveres, de onde obviamente vem o som de tiros, perseguindo o homem, isso ele claramente é capaz de ver. Em se tratando de lutas entre Famiglias da Cosa Nostra, o que prevalece é a regra do ‘atire primeiro e pergunte depois’ e tendo isso em mente, o Guardião Vongola faz mira na perna de um dos cinco brutamontes armados correndo atrás do desconhecido, e atira. Imediatamente o perseguidor ferido cai no chão agarrando a perna esquerda de onde o sangue já começa a verter manchando sua calça e chegando as pedras da rua.

Diminuindo a distância entre si mesmo e os bandidos, G dispara mais alguns tiros certeiros atingindo três alvos diferentes, dois nos braços e outro na perna. Restando apenas um dos homens armados com revolveres e mais quatro com armas de curto alcance. Os perseguidores só foram perceber que estavam sobre ataque, quando o terceiro do grupo desabou no chão segurando o braço sangrando, enquanto sua arma voou longe após cair de sua mão. Instantaneamente o grupo assumiu uma postura mais defensiva, e ainda assim, outro foi baleado. Buscando o infeliz que os estava fazendo de alvo, um vislumbre de cabelos de um tom desbotado nem vermelho nem rosa, foi tudo que viram antes de mais um disparo derrubar o último portando uma arma de fogo entre eles.

Usando a coronha do revolver, G atinge um dos dois perseguidores que usam facas como armas, o homem despenca desmaiado no chão como um saco de batatas podre, da mesma forma que os outros cinco que abateu. Sem tempo para desviar, o Guardião usa o cano do revolver para bloquear a lâmina da espada que tinha seu peito como alvo. Um chute certeiro no intestino manda o espadachim cambaleando para trás. Sem dar tempo para o homem recuperar-se, G usa novamente a coronha do revolver e derruba-o acertando sua cabeça. O som de uma corrente movendo-se em sua direção permite G desviar de seu atacante, enquanto afunda seu punho na face do outro usuário de facas que estava se esgueirando por suas costas pronto para apunhala-lo. O som de ossos sendo quebrado diz a Tempestade Vongola, que seu adversário terá um tempo difícil com seu nariz arrebentado. Mesmo com o rosto sangrando, o homem retira de dentro do casaco outra faca, que G prontamente manda voando com um chute finalizando com outro soco no mesmo lugar em que acertara anteriormente. Com um grunhido o homem despenca no chão inconsciente. Antes mesmo que o guardião possa tomar uma respiração, novamente o som de uma corrente, desta vez muito mais perto de seu ouvido esquerdo, faz G esquivar-se para a direita, em seguida gira e mergulha seu pé no estômago do último inimigo, que, começando a espumar, vai ao chão.

__Tch! Isso foi uma tremenda perda de tempo. – resmunga G, olhando a pilha de homens inconscientes espalhados ao seu redor, enquanto arruma suas roupas.

Subitamente o click familiar da trava de segurança vindo de suas costas, o faz gelar enquanto um único pensamento passa por sua mente ‘havia outro escondido’. Antes que tenha tempo de se virar, um outro par de sons bastante familiar chega aos seus ouvidos - o de algemas e ossos quebrando.

__Você está sendo descuidado, G.

O Guardião da Tempestade não é capaz de impedir que um pequeno suspiro de alívio escape de seus lábios, enquanto vira-se para encarar o recém-chegado. Parado na extremidade da rua é ninguém menos que a solitária Nuvem.

__E você está atrasado. Essa área é sua, afinal, fica próximo ao CEDEF. – retruca, assumindo sua postura firme novamente, perder a compostura nunca resulta em algo bom.

__Hn. É por isso que eu estou aqui. – resmunga, segurando dois pares de algemas, um prezo ao redor do pescoço do homem, agora com o braço quebrado e desmaiado, o mesmo que tinha G como alvo, e o outro ao redor dos pulsos de um senhor vestindo um jaleco esfarrapado e tremendo.

Levou um milésimo de segundo para G juntar 2 e 2 e deduzir que o outro homem que Alaude algemou é o mesmo que viu sendo perseguido – e que esquecera temporariamente durante a sua breve luta. O perseguido deve ter usado o seu ataque para escapar e acabou encurralado por outro caçador, um muito mais perigoso.

__Parece que lhe devo uma. – resmunga por fim e a contra gosto.

__Não preciso da sua gratidão, mas certamente cobrarei o favor. – responde, enquanto multiplica suas algemas com a Shinu Ki no Honoo da Nuvem e prende os outros caídos.

__Então, o que pretende fazer com eles? – indaga, já imaginando a resposta, apontando com a cabeça em direção aos recém-capturados, enquanto tenta manter sua, novamente crescente, irritação sob controle.

__Interrogatório. – responde sem rodeios, já caminhando de volta para a sede do Conselho Externo como se não estivesse simplesmente arrastando dois homens, embora um esteja consciente, assustado e caminhando obedientemente, enquanto o outro é literalmente arrastado sobre as pedras.

__E sobre os outros? Imagino que também vai interroga-los.

__Mandarei alguém vir busca-los. Qualquer um que quebre as leis deve ser devidamente punido.

__Veja se pega leve, Primo não gosta que use violência sem necessidade. – resmunga encarando-o.

__Suponho que você ainda tem de avisar Daemon Spade. – fala, desaparecendo ao dobrar uma esquina.

__Tch! – rosna retomando a sua missão original, avisar o ilusionista melão sobre a reunião – Mas que... Aquele idiota com a espada quase cortou a minha camisa nova, além disso, agora estou em dívida com esse bastardo! – resmunga, fechando as mãos em punhos - Quando tudo isso acabar vou me certificar de que Primo vai estar ocupado com a papelada maldita por um longo tempo! – completa, também desaparecendo em outra viela.


~~~І~~~


__Homens armados estavam perseguindo alguém pela cidade. – repete Giotto a informação que G acabava de passar-lhe, com uma expressão séria – Você tem certeza de que o homem que Alaude prendeu é o mesmo que estava sendo perseguido? – indaga, com os olhos fixos na face de seu braço direito.

__Ah. Embora eu não conseguisse ver muito bem o rosto dele enquanto fugia, as roupas e o porte físico são sem dúvidas os mesmos. E agora que penso melhor sobre isso, depois que Alaude o prendeu, e eu pude pegar uma melhor olhada sobre ele, o homem definitivamente não é italiano. Se tivesse de arriscar um palpite, diria que ele é inglês. – responde, enquanto recorda a imagem que possuiu da face do homem sendo perseguido.

__O que um cientista inglês estaria fazendo aqui para ser extremamente perseguido? – indaga Knuckle pensativo, além dele, Lampo e Ugetsu estão atualmente reunidos no escritório de Primo desde que G retornou.

__Acho que a questão deveria ser ‘para quem ele estava trabalhando e o que esteve pesquisando’. – reformula Giotto, sentado em sua poltrona de couro.

__Primo, você acha que esse cientista pode estar envolvido com as mortes recentes? – questiona Ugetsu em seu tom sempre tranquilo, porém vazando um pouco de preocupação.

__Eu não sei. Mas se Alaude o pegou, então talvez tenhamos algumas respostas. Embora eu realmente lamente pelo pobre homem. – fala soltando um suspiro.

__Geh! Alaude vai interroga-lo?! – choraminga Lampo, começando a suar frio com a ideia de ‘interrogatório’ do Guardião mais temível da Vongola.

Embora Primo despreze profundamente atos de violência desnecessários, é de conhecimento de todos que Alaude e por vezes Daemon, usem métodos pouco gentis para obter informações de seus inimigos, afinal, lidar com criminosos não é algo que possa se tomar de ânimo leve. Mas isso não impede Giotto de reprovar as atitudes tomadas por seus dois Guardiões problemáticos, algo que o irrita muito.

__Eu o alertei para pegar leve, mas conhecendo o bastardo, duvido muito que ele vai ouvir. – resmunga G com uma carranca.

__“Tudo que funciona.” – repete Primo uma das frases preferidas de sua Nuvem, junto com ‘vou puni-lo por perturbar a paz’, enquanto outro suspiro escapa de seus lábios.

__Maa, maa. Tenho certeza de que Alaude não fará nada desnecessário, principalmente se o homem cooperar durante o interrogatório. – Ugetsu tenta lavar os ânimos, algo que tem feito com uma maior frequência desde que esta situação tensa teve início dias antes.

__Ugetsu tem razão, Primo. Alaude é um homem da lei depois de tudo. – comenta Knuckle, sentado ao lado de Lampo.

__Ah, vocês estão certos. Mas seja como for, eu ainda quero falar com esse cientista, minha intuição pode encontrar alguma coisa que ele possa esconder de Alaude. Além disso, se ele realmente estiver envolvido com todas essas mortes, eu quero olhar em seus olhos antes de entrega-lo aos Vindice.

Com o último comentário, quatro pares de olhos voltam-se para Giotto. Sim, como eles puderam esquecer-se deles. Desde que a Cosa Nostra começou a se espalhar, eles surgiram para colocar alguma ordem no submundo, uma vez que a polícia é incapaz de ir contra tão poderosa força, também começando a ser conhecida como máfia. Eles, conhecidos por aplicar as leis no lado obscuro da sociedade, Vindice, os infames guardas da mais terrível prisão existente, Vindicare, a mesma da qual ninguém jamais conseguiu escapar. E se tentou, foi impiedosamente castigado. Afinal, ninguém sai impune – entenda por ileso ou vivo, dependendo da situação – de um confronto com essas aberrações, que muitos afirmam não serem nem mesmo humanos.

__Primo então você...

__Ah. Eu certamente irei entrega-los ao Vindice. Eu não posso perdoar algo como isso. E muito menos ter qualquer um de vocês manchados de sangue por tirar a vida desses monstros. – responde, enquanto seus orbes ganham um tom de laranja intenso.

__Eu não esperava nada menos extremo de Primo! – comenta Knuckle.

__Vindice, Vindicare... Assustador! – geme Lampo, encolhendo-se um pouco.

__Tch! Deixe de ser um covarde e volte a fazer o seu trabalho. – rosna enquanto lança um olhar irritado para o mais jovem entre eles - Por falar em trabalho. – vira-se para encarar o belo rosto de seu chefe com um olhar afiado - Primo, quando toda essa situação se resolver você e eu teremos uma conversa. – resmunga com uma carranca, recebendo um olhar inocente e um sorriso doce do loiro – Não se faça de desentendido. Você e eu sabemos muito bem, que a ideia de mandar-me naquela missão estúpida como seu porta-voz para aqueles dois bastardos é a sua retaliação por causa dos seus malditos bolos!

__Eu juro que não sei do que está falando, G. – pronuncia o nome do outro com uma carga de malícia indisfarçável, recebendo um rosnado do Guardião.

__Haaah, parece que vai começar de novo. – murmura Lampo, recebendo um olhar venenoso de G. – Geh! Assustador...

__Maa, maa, Lampo. Você não deve ficar provocando G dessa maneira. – adverte Ugetsu.

__Além do mais, todos nós sabíamos que algo extremamente assim iria acontecer, quando G livrou-se dos bolos favoritos de Primo na semana passada. – comenta Knuckle.

Os três suspiram, enquanto assistem G sair bufando da sala e Primo soltar uma pequena gargalhada vitoriosa. É claro, todos já sabem o que vai resultar dessa pequena disputa entre os dois – algo que acontece com certa frequência e há muito tempo - G vai arrumar algum jeito de entupir a mesa de Primo com mais papelada maldita, enquanto Giotto vai encontrar outro lugar para esconder seus bolos a salvo das garras de seu braço direito.

Bem, depois de tudo, essa é a Famiglia Primo.


~~~І~~~


A sala é iluminada precariamente por uma única lâmpada a gás, que lança sinistras sombras sobre as paredes. O ar está denso e aumenta ainda mais a sensação de claustrofobia dentro do local, e a crescente aura assassina emanando de um de um loiro-platinado com perigosos olhos azuis-claros, sentado junto a uma mesa fitando a presa a sua frente, só faz piorar os calafrios percorrendo o corpo da presa em questão.

Alaude encara o homem, já com fios prateados surgindo entre os cabelos castanhos, tremendo e tentando não olha-lo nos olhos, enquanto uma expressão de medo domina sua face um tanto quadrada e cheia de hematomas – a maioria que ele mesmo provocou. Ele deixou o sujeito por último, assim as chances de espanca-lo em demasia seriam menores - e evitaria a irritante tarefa de despertá-lo toda vez que perdesse a consciência - uma vez que já havia aliviado boa parte da sua irritação sobre os outros dez desafortunados, dos quais nove G havia previamente cuidado, que ousaram provocar uma confusão nos arredores de seu amado CEDEF – em outras palavras, bem debaixo do seu nariz – dos quais pouca ou quase nenhuma informação recebeu, tudo o que os inúteis infratores da lei sabiam é que um homem alto com uma cicatriz no olho direito os contratou em um bar para dar fim a vida de alguns prisioneiros, em troca de uma grande quantia em dinheiro.

Franzindo um pouco as sobrancelhas, algo que imediatamente lhe dá uma expressão ainda mais intimidadora – se é que isso realmente é possível – o que faz o pobre homem algemado a cadeira na sua frente, encolher-se soltando um pequeno gemido, que interpreta como medo, pois não chegou a verdadeiramente puni-lo – é claro, levando em consideração que as duas possíveis costelas quebradas e o lado esquerdo do rosto inchado, constam na sua lista como punições leves - repassa as informações já extraídas do infrator. O homem, Stuart McCain, um imigrante inglês ilegal, havia vindo de navio da Inglaterra para a Itália cerca de quatro semanas antes, para ajudar nas pesquisas de um velho amigo. O que ele não esperava era encontrar-se prisioneiro junto com outros sete cientistas que também estão trabalhando na dita pesquisa, e descobrir que seu amigo foi morto alguns dias antes de sua chegada. E então, por um descuido de um dos vigias, enquanto supostamente deveriam ser transportados para outro laboratório, o homem de 56 anos conseguiu fugir, mas logo acabou sendo descoberto e perseguido.

__A pesquisa, de que se trata? - indaga Alaude em um tom frio, falando em um inglês perfeito, uma vez que o nervosismo fez o cientista deletar de sua mente tudo que conhece da língua italiana e é um completo estranho quanto ao francês.

__N-não tenho muita certeza. É algo sobre um tipo de energia que corre pelo corpo dos seres humanos e pode ser materializada exteriormente como uma chama. Ou assim acreditava Hudson. – responde de forma meio cética.

Alaude ergue uma sobrancelha para o comentário, pois a energia a qual o cientista se refere é certamente a Shinu Ki no Honoo, como Primo nomeou-a, e algo que tanto ele quanto os outros Guardiões e o chefe irritante usam durante suas batalhas, uma vez que, devido aos anéis Vongola que Giotto entregou a cada um, apenas a Famiglia Primo é capaz de usar essa energia super condensada em todo o submundo - sendo que apenas o próprio Primo pode usar essa chama em um modo mais avançado que ele batizou de Hiper Modo – não é surpresa alguma que outras Famiglias estão desesperadas para colocar suas mãos sobre esse poder. Porém, até agora, ninguém foi capaz de conseguir tal proeza.

__E?

Stuart o encara estupidamente como se não tivesse entendido o que seu interrogador quer. Sua mente já está perturbada e o cansaço aliado a dor não estão tornando as coisas mais fáceis. Além disso, a figura sentada a sua frente encarando-o como se fosse um caçador observando sua presa só o torna ainda mais nervoso.

__É só isso que você sabe? – resmunga novamente, soando ainda mais áspero.

__N-não. Eu cheguei a ver uma pequena parte da pesquisa, parecia bastante interessante, m-mas, também muito perigosa. E-eles querem aperfeiçoar essa energia para torna-la ainda mais intensa e formar algo como um exército... Eu não tenho certeza quanto às aplicações, mas acho que é para isso.

__Por que é perigoso? – indaga ao perceber que o homem começa a divagar em seus pensamentos novamente.

Sua resposta foi o rosto já pálido do homem tornar-se um tom mais doentio, enquanto seus olhos se tornam baços quase sem vida. Um punho chocando-se violentamente com seu estômago o faz voltar à realidade – ele está diante de um predador perigoso e que não vai poupar-lhe um segundo pensamento sobre manda-lo com passagem só de ida para a terra do além, se ele não se mostrar útil.

__Responda. – embora a Sicília esteja em plena primavera, a temperatura dentro da sala despenca vertiginosamente toda vez que o Guardião não gosta de alguma resposta, ou pior, não recebe uma.

__Algumas... Algumas cobaias que eu vi sendo usadas durante as experiências... E-elas morreram. E eu acho que não foram as primeiras. – fala a última parte quase em um fio de voz, mas os ouvidos treinados do Guardião a capturam.

__Como?

Novamente a única resposta é o silêncio seguido pela expressão de instantes antes. Algo que começa a corroer a paciência de Alaude, afinal ele está neste interrogatório tem quase vinte minutos.

__A energia que você mencionou. – uma brilhante chama roxa emanando do anel Vongola da Nuvem, engole a sala – Seria como esta?

Assim que a chama engoliu a sala, o brilho retornou aos olhos do cientista, mas desta vez um que mistura medo e admiração.

__Como? – Stuart não consegue impedir-se de questionar.

Irritação estala na mente de Alaude – ele é quem faz as perguntas e não quem responde. Imediatamente as chamas envolvem a algema na sua mão e arremessa-a em direção ao pescoço do cientista que assiste em horror a algema expandir-se e começar a pressionar seu pescoço, enquanto começa a sentir o ar faltar-lhe.

__Eu não gosto de me repetir. Então, da próxima vez que você não responder uma pergunta minha. – outra algema envolve o pulso esquerdo de Stuart – Eu vou tornar alguns ossos seus inutilizáveis.

Arregalando os olhos, o cientista imediatamente acena em entendimento. Se Alude sorrisse, seria em momentos como esse.

__A energia... Que eles produzem não é tão clara, ela... – inicia enquanto tenta recuperar o fôlego - Ela é mais escura, quase... Não, ela é preta. E parece... Parece mais destrutiva, ela queimava até que as cobaias não suportavam e morriam. – com o comentário, Alaude apaga suas chamas e estreita perigosamente os olhos sobre a figura amedrontada a sua frente.

__E sobre o laboratório, você sabe algo que possa levar a sua localização?

__E-eu não tenho certeza. Quando cheguei ao porto fui abordado por um homem alto com uma cicatriz que corta seu olho direito. E-ele disse que Hudson o havia enviado em seu lugar para buscar-me. Entramos em uma carruagem e ele disse que tinha que me vendar, pois o local para onde estávamos indo era um segredo. – responde com sua voz rouca, enquanto treme ainda mais.

__Se você não sabe mais nada, então só estive perdendo meu tempo. – resmunga, tirando outro par de algemas do bolço, visão que faz o homem estremecer ao ponto de quase urinar-se.

__E-eu lembro de ouvir o som do rio por boa parte do caminho. Estávamos fora da cidade, e próximos ao rio. A-acho que era rumo ao norte.

__Norte?

__É, parecia uma floresta porque era mais frio e eu podia ouvir o som das árvores e a estrada era relativamente mais precária... – responde com medo de encarar a figura a sua frente.

Alaude lança um último olhar sobre o homem e então sai da sala deixando-o sozinho, confuso, assustado e algemado a cadeira. O infrator havia lhe dito mais informações do que foi capaz de conseguir em quatro dias de investigações por toda a cidade. Matá-lo seria pouco produtivo, afinal, ele ainda pode ser uma fonte de mais informações. Além disso, um certo chefe loiro já está irritado o suficiente com todas as mortes de civis inocentes, e ter seus Guardiões adicionando ainda mais cadáveres a pilha certamente não vai ajudar a aplacar a sua ira.


~~~І~~~


__Nufufufu, o que é algo interessante o que a cotovia descobriu. – a risada assinatura de Daemon inunda a sala de reuniões, onde Giotto e os seis guardiões encontram-se reunidos, recebendo um olhar afiado de Alaude.

A notícia de que alguma Famiglia estava sequestrando os moradores da região para usa-los como cobaias em experiências onde são forçados a emitir um tipo estranho de chamas que no processo acaba consumindo as suas vidas, caiu como uma verdadeira bomba aos ouvidos de Giotto e dos demais Guardiões.

__Que crueldade! – comenta Ugetsu.

__Que deus tenha piedade destas pobres almas sofredoras. – fala Knuckle, enquanto faz uma pequena oração.

__Tch! Esses bastardos malditos! – rosna G.

__Assustador...

__Seja como for. Agora tudo o que temos a fazer é encontrar o homem com a cicatriz no olho direito e força-lo a falar. Falando em forçar. Para obter tais informações a cotovia deve ter torturado muito o pobre cientista. – comenta em tom venenoso encarando Alaude que está sentado o mais afastado de todos junto a outra extremidade da mesa.

__Cuide de seus próprios assuntos, Daemon Spade. – responde de forma ríspida, sem poupar ao outro um olhar.

__Nufufufu. Então, o que acha de apostarmos quem encontra o ‘bastardo maldito, como diz G, primeiro, Alaude? – indaga estreitando os olhos sobre o outro.

__Apostar é contra a lei.

__Oya! Quão chato você é, sir. aplicador da lei. – resmunga, fazendo uma careta para o indiferente Guardião da Nuvem.

__Daemon.

A voz em um tom claro de advertência inunda a sala. Giotto, que até o momento permaneceu em completo silêncio, com sua expressão escondida sob seus fofos cabelos loiros, finalmente emergiu de seus pensamentos com um olhar sério.

__Nufufufu, como quiser, Primo. Mas mantenho minha posição de que devemos dar um fim a essa Famiglia que ousou desafiar-nos.

__Tch! Pela primeira vez eu estou de acordo com Daemon. – resmunga G, voltando seu olhar para Primo – Não podemos permitir que esses bastardos continuem nos desafiando e ferindo a população.

__Ah, G e Daemon estão extremamente certos.

__Eu prefiro não me envolver com tais pessoas perigosas.

__Nufufufu, que é um covarde. – comenta em um tom mais sombrio, arrancando um arrepio na espinha de Lampo.

__Primo, o que vamos fazer? – questiona Ugetsu.

Giotto os encara por alguns segundos, um suspiro irritado vazando de seus lábios.

Então era por isso que minha intuição estava tão descontrolada nos últimos dias... Chamas que não se encaixam em nenhum elemento do Céu ou da Terra... Precisamos estar atentos sobre isso, tenho a sensação de que há mais movendo-se nas sombras do que somos atualmente capazes de ver.

__Alaude, quero falar com esse cientista, tenho algumas dúvidas e talvez ele possa me ajudar a esclarece-las. – o mencionado Guardião limita-se a um ‘Hn’ em concordância – Daemon, vou deixar em suas mãos encontrar e capturar o homem com a cicatriz, mas Alaude será aquele que o interrogará. – Daemon estreita os olhos para a ordem de Primo, permitir que outra pessoa interrogue seu alvo não estava em seus planos.

__Nufufufu, pelo menos eu vou poder me divertir um pouco. – comenta com sua risada soando ainda mais assustadora.

__Ugetsu e Knuckle preciso de vocês para manterem um olhar nas imediações. Além disso, avisem aos moradores para relatarem qualquer coisa suspeita que avistarem. – os dois acenam em compreensão – Lampo, tenho uma missão especial para você. – o referido Guardião engole em seco com a ideia de ‘missão especial’ que Primo pode ter, elas geralmente o fazem tremer de medo – G, marque uma reunião com nossas Famiglias aliadas, uma vez que a Vongola recebeu uma declaração de guerra, precisamos estar certos de quem está ao nosso lado, além de alertá-los sobre possíveis ataques. E Alaude, tenho uma missão diferente para você também. – com o aviso, a indiferente Nuvem estreita os olhos sobre seu chefe.

Após a distribuição das ordens, todos dispersam-se para cumpri-las – escusado será dizer que o mais animado é Daemon, com a ideia de poder testar uma nova técnica que estava praticando quando G invadiu sua propriedade, algo que gerou alguns furos nas paredes de seu casarão, cortesia de um certo Guardião da Tempestade irritado por ser usado como cobaia do rei melão.


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Com sua vestimenta característica, um terno com riscas verticais e seu manto, que torna sua figura, não muito musculosa e de estatura pouco acima da média, ainda mais imponente do que já é, algo que só veste em momentos específicos, e um desses é no qual se encontra – uma reunião com a cúpula das alianças da Vongola - Primo toma seu lugar junto à ponta da mesa, e a reunião tem início.

__Como G já previamente lhes informou, a Vongola recebeu ontem uma declaração de guerra por obra de uma Famiglia que ainda não teve coragem para se identificar, mas foi tola o bastante para colocar a vida da população em perigo. – informa em um tom neutro e frio, mesmo sem estar no Hiper Modo.

Um breve murmúrio circula entre as pessoas dentro da sala, que Primo observa com olhos atentos.

__Primo, você já tem alguma informação que possa apontar uma Famiglia suspeita? – o primeiro a pronunciar-se é Dominic o chefe da Famiglia Cavallone, que surgiu quase ao mesmo tempo em que a Vongola foi formada, e um amigo próximo de Giotto.

__Recentemente Alaude obteve informações que nos indicam uma direção, mas os culpados ainda permanecem nas sombras.

Enquanto Primo debate possíveis medidas a serem tomadas diante da situação em que a Vongola se encontra e esclarece alguns pontos sobre o que já foi descoberto – tendo o cuidado de não vazar algumas informações que julga não devem ser conhecidas por todos - G observa os membros presentes na sala de reuniões montada no prédio localizado a duas quadras de distância da sede do CEDEF, acima do restaurante de um amigo que com um sorriso nos lábios os recebe sempre que Primo lhe pede auxilio, afinal, desde que a Vongola foi criada, seis anos antes, o clima de insegurança na região foi substituído pelos sorrisos nos rostos da população. Os mesmos sorrisos que atualmente estão ameaçados.

O primeiro que os orbes de um tom avermelhado de G encaram, é também um amigo próximo, o Primo da Famiglia Cavallone. Não é difícil de entender por que Giotto o considera um precioso amigo, Dominic é um homem de princípios muito semelhantes aos de Primo, é justo e não gosta de ver pessoas inocentes envolvidas em problemas da Cosa Nostra. O loiro de olhos castanhos é forte e conduz seus negócios no submundo o mais limpo possível, sua Famiglia formou-se cerca de cinco meses após a Vongola, e sua primeira atitude foi formar uma aliança com Giotto em um voto de mútua cooperação e amizade – escusado será dizer que tal atitude fez o homem cair nas graças de Primo quase tão depressa quanto um certo ruivo de olhos cor de rubi que atende pelo nome de Kozart.

__Primo, você sugere que mesmo entre nós alguém pode estar auxiliando essa Famiglia visando o poder da Vongola?

G tem imediatamente sua atenção voltada para o homem tentando inutilmente pressionar Primo, o chefe de uma Famiglia emergente, um tipo irritante com um ar arrogante e olhos cheios de cobiça, que até agora G não entende porque Giotto aceitou formar uma aliança com alguém cujos negócios no submundo são bastante duvidosos. Mas, novamente, ele sabe melhor do que ninguém que seu amigo de infância tem uma maldita intuição que não deixa margem para questionamentos.

__Não estou sugerindo nada, apenas apontando fatos. Se essa Famiglia está trazendo cientistas de fora do país, deve estar recebendo a ajuda de alguém daqui com acesso ao porto. – o tom de Giotto fez a temperatura da sala cair.

__Primo, você está insinuando que uma das duas Famiglias, nomeando, as Famiglias Fabozzi e a Curzio, cujo território encontra-se aos arredores do porto, são as responsáveis direta ou indiretamente pelo que está acontecendo?

G intensifica a sua careta, enquanto lança um olhar venenoso sobre o chefe, cuja Famiglia mantém uma aliança bastante precária com a Vongola, de olhos ônix e cabelos cor de chumbo, que insiste em desafiar Primo.

__Lycus Beluzzo, sugiro que tome cuidado com suas palavras. Em nenhum momento eu acusei alguém. Pois, mesmo que os responsáveis por essa monstruosidade estejam recebendo ajuda para transportar imigrantes ilegais para a Sicília, não significa que as mencionadas Famiglias estejam envolvidas. Todos nós sabemos que uma bolça cheia de moedas pode fazer qualquer um não ligado a uma Famiglia, ou não fiel a ela, ajudar em negócios sujos. – repreende Primo, estreitando os orbes, atualmente banhados por um vibrante tom de laranja, sobre o impertinente chefe, que finalmente toma a sabia decisão de parar de provocar Giotto – Agora, se ninguém mais tem algo a acrescentar sobre o assunto, dou esta reunião encerrada. Passar bem, senhores.

__Tch! Esse bastardo irritante, tentando colocar a Vongola contra Famiglias neutras! – rosna G, enquanto os dois se dirigem para a sede do CEDEF – Mas estou surpreso que ele tenha finalmente começado a mostrar sua verdadeira personalidade. Aquele verme parece bastante feliz com o que está acontecendo.

__Ah. É por isso que pedi a Alaude para manter um olhar atento em tudo que a Famiglia Beluzzo anda fazendo.

__Como esperado de Primo. – comenta ao adentrarem o prédio.

Agora, tudo o que resta é estar atento, por que uma vez que as cartas estão dispostas, é apenas uma questão de tempo até pegarmos o culpado. Por que a Vongola não vai recuar.


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Notas finais do capítulo

Minna, não me matem por focar o capítulo inteiro na Famiglia Primo! Mas para que a história se desenrole é importante saber o que aconteceu no passado para entender determinados fatos que acontecem no presente!
E, como não há muitas informações sobre a família Primo - e estou ignorando o arco sobre ela no anime, além do arco sobre os Arcobalenos, também do anime - tive que forçar minha pobre mente a criar esse cenário!
Então, peço desculpas se desapontei alguém!
Digam o que acharam, críticas, ideias, sugestões, dúvidas... Ficarei feliz em lê-los e responde-los!
Ciao, ciao!