Cielo escrita por Selene L Tuguert


Capítulo 6
Céu Nublado


Notas iniciais do capítulo

Hi minna!!!!!
Primeiramente gostaria de agradecer a todos os comentários que Cielo está recebendo, eu confesso que não esperava que a fic fosse tão bem aceita como está sendo - levando em conta os mega-capítulos de 14 páginas ¬¬
Vocês fazem a alegria dessa autora nonsense (>.<)/
Sem mais enrolação: KHR pertence a Akira Amano-sensei, apenas o enredo é meu!



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Cloudy Sky

            Três semanas antes

            A majestosa mansão Vongola, localizada em Palermo, a capital da região da Sicília na Itália - o Quartel General e também a casa da maior e mais poderosa Famiglia da Máfia - esta atualmente sobre os cuidados da Décima Geração, uma vez que o antigo chefe, o Nono Timoteo, e seus Guardiões, estão aposentados e parcialmente fora de ação. E é essa mesma bela mansão banhada pelos primeiros raios do sol, que hoje está significativamente mais movimentada do que o habitual - isso levando-se em conta os seus ilustres habitantes, barulhentos por natureza. O fato, é que toda essa agitação teve início cerca de vinte minutos antes, na hora do café da manhã...

            Todos já se encontram reunidos na grande sala de jantar, à espera do chefe da família, o Décimo Vongola, Sawada Tsunayoshi. Tsuna, que há muito perdeu o mau hábito de se atrasar – cortesia de seu tutor espartano e sádico, que atende pelo nome de Reborn – ainda não havia dado sinais de que estava acordado.

            __Neh, Vongola está atrasado, desse jeito Lambo-san vai chegar tarde na escola. – comenta um Lambo entediado, recebendo um olhar mortal de Gokudera.

            __A vaca estúpida está certa, Tsuna já deveria ter decido. – fala Reborn, deixando a sala e indo em direção ao quarto de seu ‘ex-dame’, mas ainda aluno.

            Bem, talvez ele ainda tivesse um pouco de ‘dame’ dentro de si por estar atrasado, mas algo diz a Reborn que não é bem esse o motivo do atraso de Tsuna.

            __Reborn-san, eu vou com você. – avisa Gokudera, correndo atrás do Hitman sem prestar atenção nos outros, algo lhe parece um pouco fora do lugar hoje.

            Em pouco tempo os dois atingem o corredor do quarto de Tsuna. Reborn avança em direção a porta, transformando Leon em um grande martelo verde, enquanto se pergunta se teria de reeducar seu aluno. Abrindo a porta, pronto para saltar sobre a cama e afundar o martelo sobre o jovem Décimo, o Arcobaleno e Gokudera deparam-se com um organizado, limpo e espaçoso quarto em um tom claro de laranja. A organização não os surpreende, uma vez que Tsuna se tornara uma pessoa muito responsável e organizada, tão diferente do garoto cujo quarto por vezes parecia uma zona de guerra com objetos, roupas e papéis espalhados por toda parte.

            __Está fria. – comenta Reborn, pousando a mão sobre a cama impecavelmente arrumada, Leon já descansava sobre a fedora de seu chapéu – Parece que Tsuna acordou há muito tempo-

            __Ou não voltou para o quarto na noite passada. – Gokudera completa a frase iniciada pelo Arcobaleno, ambos com o mesmo pensamento sombrio formando-se em suas mentes – Vou checar o escritório. – avisa já se lançando para fora do quarto sem perder um segundo sequer.

            __Ah. - resmunga Reborn, puxando a fedora do chapéu para esconder sua expressão, antes de seguir o Guardião da Tempestade, algo está errado.

            Gokudera apressou os passos ao ponto de estar correndo pelos largos corredores da mansão. Não era como se Jyuudaime nunca tivesse passado uma noite inteira acordado, engolido pelo trabalho com a papelada, aparentemente sem fim. Na verdade, nos primeiros anos em que assumira a posição de chefe da Vongola, esse tipo de situação acontecia com muita frequência, com a mansão inteira sendo acordada na manhã seguinte com o som dos tiros de um Reborn furioso, ao encontrar seu aluno dormindo com a cabeça sobre a mesa do escritório, ou com olheiras e um sorriso torto por ser pego por seu tutor novamente. Mas isso havia parado de acontecer, depois que Tsuna desmaiou a caminho de uma importante reunião com uma Famiglia que estava interessada em fazer uma aliança com a Vongola. Desde então, o jovem Décimo sempre se certifica de dormir, no pior dos casos, seis horas por noite. E isso vinha acontecendo há mais de três anos. Por esse motivo, ver que o Jyuudaime não havia voltado para o quarto na noite passada, só poderia significar que algo estava muito errado. Por que seu chefe não quebra suas promessas.

            Sem se dar ao trabalho de bater na porta, Gokudera adentra o escritório para se deparar com uma cena que esperava do fundo de sua alma nunca ter de ver em sua vida. Tsuna estava caído a poucos passos da porta. Seu belo rosto terrivelmente pálido e contorcido com uma expressão de dor, enquanto um fio de sangue manchava o canto esquerdo de sua boca. Correndo para seu chefe, Gokudera nem percebeu que Reborn, Yamamoto e Ryohei estavam em seus calcanhares, estourando dentro da sala assim que apoiou Tsuna inconsciente em seus braços. Seu chefe ardia com uma febre anormalmente alta.

            Três dias. Três longos e miseráveis dias foi o período de tempo em que Tsuna permaneceu inconsciente, e ardendo com uma febre que parecia querer consumir o seu corpo de dentro para fora, enquanto se contorcendo com visíveis sinais de dor extrema, e foi exatamente esse fato que mais alarmou a todos, pois o jovem chefe é conhecido por sua excessivamente alta tolerância a dor - algo que adquirira das longas e dolorosas horas de treinamento que o Arcobaleno espartano lhe impusera - nem mesmo os eventuais resfriados que o jovem Décimo pegou no decorrer dos anos, foram fortes o suficiente para prendê-lo a uma cama por mais do que meio dia, e na maioria das vezes, sobre ameaças de morte de Reborn. Porém agora, Tsuna parecia sem forças até mesmo para manter a própria consciência.

            Durante esses mesmos três dias, os Guardiões mergulharam em desespero, enquanto o caos se instaurou na mansão. Mesmo Shamal, que odeia tratar homens, não se atreveu a arredar um pé para longe da sede Vongola enquanto o Décimo não despertasse. Dino abandonou tudo na sede da Famiglia Cavallone e não saiu da Mansão, o mesmo valeu para Enma, que assim que recebeu a notícia – o único, além de Dino, que foi informado do estado de Tsuna – decolou em seu jato particular na companhia de Kaoru e Rauji, deixando a ilha da Famiglia Shimon aos cuidados de Adelheid. Reborn relutantemente afastava-se de junto da cama de seu aluno, para domar a confusão e tentar acalmar os ânimos, ao passo em que Gokudera recusava-se a abandonar seu Jyuudaime, fazendo com que Shamal chegasse ao ponto de seda-lo para que também descansasse – algo que fez sobre o pedido de Bianchi, uma vez que Gokudera já havia superado o trauma que tinha de sua infância conturbada e, por tanto, ver o rosto descoberto de sua meia-irmã já não lhe afetava.

            Por três malditos dias, os guardiões, com exceção de Hibari que havia partido uma semana antes para uma missão, permaneceram na mansão – mesmo Mukuro estava presente sobre a desculpa, que todos já sabiam ser vazia, de ‘preciso assegurar-me de que o corpo que vou possuir está saudável e bem’.

            O pesadelo só acabou na manhã do quarto dia, quando Tsuna finalmente abriu seus belos e tranquilizantes olhos castanhos-avelã, rajados de laranja, cheios com a mais pura determinação para continuar a viver.

            O ‘céu’ não está disposto a desistir.

~~~Ҳ~~~

            O grande relógio na sala de estar soou indicando meia-noite. Com um pequeno bocejo, Tsuna caminha silenciosamente pelos corredores rumo ao seu quarto. A esta hora, poucos são os empregados que ainda permanecem acordados do lado de dentro da Mansão, o mesmo não se aplica a alguns de seus Guardiões, como Yamamoto, que Tsuna mais cedo viu indo com Shigure Kintoki em direção ao dojo especialmente construído para ele, ou Gokudera, que tinha certeza, estava lendo alguma revista sobre fatos sobrenaturais em seu quarto ou assistindo algum documentário bizarro sobre o assunto – um hobbie que não perdera mesmo após uma década, e que por vezes fez Tsuna encontrar-se sendo arrastado por um empolgado braço-direito para assistir algum evento envolvendo aliens e seres místicos. Chrome, dá última vez que verificara, ainda estava na enfermaria para que Luca-san pudesse descansar um pouco dos assédios de um Shamal bêbado – embora Tsuna suspeite que este não era o único motivo para a permanência da Guardiã da Névoa na sala junto a cama de um certo ex-prefeito inconsciente.

            Um banho e uma muda de roupas limpas são mais do que bem-vindos... – pensa finalmente alcançando o seu quarto, com o cansaço começando a incomodá-lo. Porém, detêm-se antes de levar a mão à maçaneta da porta - Mas parece que isso vai ter que esperar... – Tsuna mentalmente suspira, o dia estava sendo muito mais longo do que esperava.

            O jovem chefe abre a porta e sem dar-se ao trabalho de ligar a luz, caminha até a porta de vidro que conduz à sacada, abrindo-a.

            __Boa noite, Tsu-chan ~ cumprimenta a figura de cabelos brancos e olhos lavanda, calmamente sentada na mureta da sacada estampando um grande sorriso.

            __Shiro-chan, você sabe que pode vir me visitar usando a porta da frente da mansão como qualquer pessoa normal faz, amanhã de manhã. – resmunga um pouco irritado com mais uma de suas visitas repentinas.

            __Unhn, eu prefiro visita-lo dessa maneira informal ~ Além disso, dessa forma eu evito encontrar algum dos seus guardiões, especialmente o seu cão-de-guarda que ocupa a função de braço-direito. Você sabe, ele não gosta muito de mim ~

            __E nós dois sabemos o porquê disso. – fala com um tom levemente divertido, enquanto o sorriso do outro vacila um pouco – Então, por que a visita a esta hora? Mesmo você não é do tipo que gosta de passeios noturnos.

            __Eu consegui as informações que você queria. – comenta, assumindo uma postura mais séria e entregando a Tsuna uma pasta, que até então descansava ao seu lado na mureta – Depois de dar uma olhada, achei que você deveria ver isso imediatamente, ainda mais depois que ouvi sobre Hibari-chan de Sho-chan ~

            Hibari-chan?! – Tsuna ignora seus pensamentos sobre os apelidos e liberdades que Byakuran tinha tomado no decorrer dos anos, ele mesmo aceitara alguns, enquanto folheia rapidamente a pasta para conferir o conteúdo. Imediatamente estreitando os olhos, enquanto esses adquirem um brilho laranja.

            __Shiro-chan, estes dados estão corretos? – indaga, sua voz vazando um tom de seriedade maior do que o habitual.

            __Hai ~

            Como não percebemos isso antes? – pensa Tsuna, estreitando ainda mais os olhos, enquanto analisando os dados com mais cuidado.

            __Parece que alguém vem trabalhando duro para manter tudo isso em segredo. Seja o que for, algo grande está para acontecer. E, a julgar pela sua reação, parece que você sabe de alguma coisa. Já que você não ficou tão surpreso quanto eu mesmo fiquei ~ comenta, observando o jovem Décimo parado poucos passos a sua frente.

            __Mais alguém sabe sobre isso? – indaga, ignorando o último comentário de Byakuran.

            __Não ~ Apenas você, eu e Kikyo. Eu pedia a ele que investigasse em segredo. Só disse a ele sobre uma suspeita minha. Espero que não se importe de não ter mencionado que a suspeita era na verdade sua. – comenta, inclinando a cabeça para o lado como uma criança querendo saber se fez algo errado.

            __Não. Claro que não. Penso até que assim é melhor.

            __Bem, agora que cumpri minha missão, eu realmente tenho de voltar. Eu saí escondido ~ Além disso, acredito que você prefira pensar sozinho. Mas lembre-se, Tsu-chan, você também precisa descansar. Não vamos querer que você tenha outro colapso. – uma expressão séria assume o lugar do seu habitual sorriso.

            __Shiro-chan, você...

            __Diga a Hibari-chan que desejo-lhe melhoras ~ fala, abrindo suas asas.

            __Certo. E... Obrigado, Shiro-chan.

            __Até mais, Tsu-chan ~ e com um último sorriso, Byakuran alça voo e desaparece.

            Ah, se apenas descansar resolvesse... De qualquer forma, Shiro-chan está certo, algo grande está para acontecer, e duvido que irá se restringir apenas ao mundo da máfia. – pensa lançando um olhar para o céu, as nuvens grossas começando a deixar a luz da Lua passar.

~~~Ҳ~~~

            Seus olhos se abrem com ligeira dificuldade. Sua cabeça está um pouco zonza, provavelmente devido à perda de sangue, quanto a seu corpo, este se encontra um tanto dormente e lhe pedindo para não se mover de mais. Algo que decidiu ouvir, uma vez que não sente presença de perigo eminente. Por falar em presença, há mais alguém com ele no quarto. Um homem mais ou menos da sua altura, parado junto à janela à esquerda, a poucos passos da sua cama. Sua figura parcialmente banhada pelo luar projetando sombras no chão e na parede, vestindo um terno negro, os conhecidos cabelos rebeldes e loiros – não, não eram loiros. Não mais. Embora a sua aparência e mesmo a sua voz não mudaram.

            __Ah, então você finalmente acordou.

            Essa expressão também não mudara - o sorriso caloroso e ao mesmo tempo preocupado – algo que apesar de não entender, por julgar não lhe ser necessário, por algum motivo ao longo dos anos, aprendera a aceitar, o que não significa que goste. Essa pessoa parada próximo ao pé de sua cama, em algum momento no passado, deixara de ser apenas um herbívoro sem importância, e passara a ser parte constante em sua vida – mesmo que não goste da ideia de admitir que acostumou-se com esse fato.

            __Hn. – foi a única resposta dada ao outro, e, como de costume, foi entendida.

            __Eu ouvi de Kusakabe-san sobre a sua imprudência ao negar-se a receber tratamento médico. – fala em tom de reprovação.

            __Neh, você não ficou aqui até agora só para me repreender? – fala, abrindo um pequeno sorriso debochado, algo que começara a ocorrer com uma certa frequência no passar dos anos, recebendo um olhar duro, ele ficara – Você estava certo. Eles estão se movendo. – declara, voltando a sua expressão fria habitual.

            Uma sombra passa pela face pálida do homem a sua frente. Pálida. Verdadeiramente mais pálida do que o normal. Mais do que há um mês. Estreita os olhos em reconhecimento desse fato.

            __Recebi alguns dados de Byakuran há pouco mais de uma hora. Parece que eles estão agindo a mais tempo do que imaginávamos. Pelo menos seis meses antes do que havíamos suspeitado. – informa cerrando os punhos, sua voz vazando frustração e, principalmente, preocupação.

            __Imagino que Kusakabe Tetsuya informou-lhe sobre as chamas negras. – indaga, forçando um pouco seu corpo a assumir uma postura sentada, começando a fervilhar em irritação por estar em tal situação.

            __Ah, sobre o fato de que ele não podia vê-las ao passo que você claramente conseguia, e sobre as lâminas estranhas também. – responde forçando um pouco mais o punho fechado.

            __Eu recuperei a peça. Antes de voltarmos eu coloquei-o numa Box de armazenamento que Irie Shoichi fez especificamente para mim, de forma que ninguém será capaz de abri-la. – faz uma pequena pausa, revolvendo em seu paletó, estirado na cadeira ao lado da sua cama, e tirando uma Box roxa - É irônico que algo como aquilo, salvou-me destas chamas. Se eu não estivesse com ele no momento em que fui atingido, o resultado teria sido muito pior. - ao ouvi-lo, Tsuna imediatamente volta sua atenção para o Guardião.

            __Então, as chamas...

            __Hn.

            __Não era como se eu já não suspeitasse... – comenta, franzindo um pouco a testa - De qualquer forma, isso explica por que a Shinu ki no Hoono do Sol de Luca-san não foi capaz de curá-lo completamente. Parece que o ferimento provocado pela chama negra, de alguma forma está rejeitando o atributo ‘ativação’ das chamas do Sol. Resta saber se com os outros atributos reagirá da mesma forma. – enquanto Tsuna fala, Hibari desliza os dedos sobre as ataduras no ombro e parte do peito, de fato o ferimento ainda estava ali, menor, mas ainda ali – Com isso as coisas se complicam. – murmura para si mesmo, embora o outro pode ouvi-lo – Parece que alguém está para abrir a ‘caixa de Pandora’ novamente. – completa, abrindo um sorriso torto com a ideia.

            __Então, o que pretende fazer, Sawada Tsunayoshi? – seus olhos afiados recaem novamente sobre o jovem Décimo.

            __Eu já fiz meu primeiro movimento. Dei a Mukuro a missão que havia reservado para depois que você voltasse. Algo me fez sentir urgência, então antecipei sua partida. Ele foi para Milão tem dois dias. Além disso... Se as coisas continuarem assim. Acho que em breve terei de vê-los. – responde, soltando um suspiro de aborrecimento.

            __E sobre os outros? Você sabe que não poderá evitar isso por mais tempo.

            __Ah. Acho que a hora está chegando... E eu realmente não quero ter de fazer isso. Porém...

            __Você lembra o que me disse naquela época? – indaga, estreitando os olhos, embora não é realmente uma pergunta.

            __Que eu arcaria com as consequências quando o momento chegasse. Eu só... – sua voz quase em um sussurro, enquanto Tsuna pressiona ainda mais os punhos, um hábito que adquirira como forma de aliviar o estres e a frustração, mas que eventualmente resultava nas palmas de suas mãos sangrando, algo que está a um movimento de acontecer.

            __O que o outro herbívoro disse? – questiona, mudando de assunto.

            Hibari, sempre perspicaz. – pensa, observando por uma fração de segundo a mudança na atitude de seu Guardião da Nuvem, com um leve e gentil sorriso brincando em seus lábios.

            __Você, melhor do que ninguém sabe que Enma e eu estamos longe de sermos herbívoros. – comenta, desta vez com um pequeno sorriso zombeteiro no rosto – Eu estava falando com Enma pouco antes de vocês chegarem. Disse-lhe que o momento de pagar-lhe outra visita está próximo. – completa, assumindo uma expressão séria e retornando seu olhar para a grande janela, o céu ainda está parcialmente encoberto e dificultando que o brilho da Lua atravesse as grosas nuvens escuras.

            Um breve silêncio recai sobre a sala, enquanto Hibari estreita seus olhos observando seu chefe – algo que jamais admitirá. Sawada Tsunayoshi está, além de visivelmente mais pálido, mais magro e com uma aparência cansada, embora em seu olhar queime a mesma determinação inabalável que conhece. A mesma determinação que o atraí, que o fez permanecer ao lado da Vongola como um Guardião – outro fato que seu orgulho jamais permitirá que admita.

            __Você está doente, Sawada Tsunayoshi. – outra vez, não é uma pergunta.

            Direto como sempre. – pensa Tsuna, com um pequeno suspiro. – Parece ser inútil tentar negar.

            __Você pode dizer isso. – fala sem encara-lo.

            __Hn. E você não disse aos outros herbívoros barulhentos e ao Akanbō.

            __Ah, você pode dizer isso também.

            Outra vez o silêncio se forma na enfermaria, onde apenas os dois encontram-se, uma vez que Tsuna disse a Luca para descansar no quarto em frente à enfermaria enquanto ele esperava por Hibari acordar, o que sua intuição e anos de convivência, lhe diziam que não demoraria muito, e como de costume, estava certo.

            __Abster-se do sono não é algo inteligente a se fazer, Sawada Tsunayoshi. Amanhã pela manhã irei lhe entregar o relatório contendo todas as informações desta missão. – a voz de Hibari foi a primeira a quebrar o pacífico silêncio, que não durou mais do que alguns poucos segundos.

            Então essa é a sua forma de dizer que devo cuidar da minha saúde. Tão direto para algumas coisas, mas com tanta dificuldade para falar outras.­

            __Certo. E, Hibari, bem-vindo de volta. – fala abrindo um de seus calorosos sorrisos, reservados unicamente para os membros de sua amada família.

            __Hn. Você não mudou nada depois de tudo. – resmunga, voltando a deitar-se e passando a ignorar a presença do outro.

            __Acho que o mesmo não se aplica a você. – responde, saindo da sala antes de ver o olhar assassino que o irritado Guardião lhe lançou.

~~~Ҳ~~~

            O som suave e melodioso de piano invadiu os corredores da mansão Vongola. Apesar de ser muito cedo, ser desperto por tal melodia era uma forma reconfortante e tranquila de ser acordado em meio ao turbilhão criado pelos recentes acontecimentos. Ao menos é assim que Tsuna sente-se ao abrir os olhos ainda cansados e sonolentos. Após um banho rápido e um terno novo, o jovem Décimo desce as escadas, sempre tendo em seus ouvidos a suave melodia. Em sua família apenas duas pessoas sabem tocar piano, mas apenas uma consegue tocar com tal intensidade. Curiosamente é a que detém o temperamento mais explosivo entre todos – Gokudera Hayato, o Guardião da Tempestade, que recentemente anda mais irritadiço e apreensivo do que o normal, para alguém que é gritantemente superprotetor. Tsuna sabe que sua saúde é o verdadeiro motivo da agitação do seu braço direito. Não apenas dele, de todos, tanto dos Guardiões, Dino, Enma – o único que sabe a verdade - de Reborn – esse está declaradamente desconfiado e tendo um momento difícil de segurar-se a forçar seu aluno a contar a verdade, porém, uma vez que o Décimo já não é mais tão dame, e nem teme tanto as suas ameaças, na maioria das vezes vazias, limita-se a esperar que Tsuna faça o primeiro movimento e fale o que está acontecendo – mesmo Byakuran e o recém-chegado Hibari, todos estão sendo, de alguma forma, afetados. E saber que está fazendo sua família sofrer o machuca profundamente, mesmo sabendo que a verdade só irá piorar ainda mais a situação, e certamente, destroça-los por dentro.

            __Jyuudaime, há quanto tempo está aí? – questiona Gokudera, ao perceber a presença de seu chefe, parado junto à porta de olhos fechados.

            __Acabei de chegar. A música me acordou. – informa, abrindo seus orbes castanhos-avelã e dando-lhe um sorriso gentil.

            __Tch! Sinto muito Jyuudaime. Eu só não conseguia dormir mais e resolvi tocar um pouco. Se soubesse que iria acordá-lo teria ficado quieto.

            __Está tudo bem, Gokudera. É muito melhor acordar ao som suave do piano do que com os tiros e martelos-Leon do Reborn. – comenta, adentrando a confortável sala onde o piano negro se encontra e sentando-se em uma poltrona de frente para o Guardião – Se importaria de continuar tocando até os outros descerem?

            __Se é um pedido de Jyuudaime. – fala com um sorriso suave, voltando a dedilhar as teclas.

            Gokudera, com dedos magros e habilidosos, herdados de sua mãe, uma grande pianista que também lhe ensinou a tocar, tem por costume fazer pequenos ‘concertos’ como este para a família uma ou duas vezes por mês, algo que o próprio Tsuna lhe pediu e que prontamente atendera. O piano é o mesmo em que Lavina lhe ensinara a tocar, Bianchi reivindicara-o da casa de seu pai e o grande e negro instrumento foi trazido para a mansão à cerca de cinco anos - diferentemente da época em que estiveram no futuro, onde o piano encontrava-se na base no Japão. Mas, de todas as vezes que o tocara, as suas preferidas eram como estas, em que apenas seu Jyuudaime ouvia. Era um momento só deles, embora nenhuma palavra fosse trocada, e algo que Gokudera verdadeiramente aprecia. Não é que Tsuna não reservasse um pouco de seu escasso tempo para passar com seus Guardiões individualmente e coletivamente – mesmo Hibari algumas vezes era arrastado para algum jantar ou mesmo um piquenique em ‘família’, embora o Guardião passasse esse tempo o mais afastado que pudesse de todos – é só que, Tsuna é o céu que abriga e conforta a todos, por isso, todos os momentos passados com ele são mais do que preciosos, são únicos.

            “E você nunca sabe quando o ‘céu’ vai ser tirado de você...” – com as palavras que ouvira Reborn mencionar anos atrás, sobre os Arcobalenos do céu, ressoando em sua mente, Gokudera faz o que lhe é raro - erra uma nota.

            __Gokudera, você está bem? – indaga Tsuna, ao perceber a súbita parada após a nota desafinada.

            __Ah, estou bem, eu só errei a última nota. Desculpe. – responde rapidamente, sem olhar Tsuna nos olhos, algo que não escapa aos orbes castanhos-avelã do Jyuudaime – Eu vou recomeçar a última parte. – completa, ainda sem encara-lo, retomando de onde parou, afinal, seu chefe já tem problemas de mais para ter de lidar com seus medos.

            Em sua poltrona, Tsuna suspira novamente.

            Depois de tudo, parece que vai ser um longo dia. – pensa, recostando-se um pouco mais na almofada, enquanto sua Hiper Intuição começa a perturbá-lo uma vez mais nesta semana.

~~~Ҳ~~~

            O som do piano reinou pelos corredores da mansão por mais cerca de vinte minutos, quando todos apareceram para tomar café da manhã. Yamamoto foi o primeiro a surgir na aconchegante sala onde Tsuna e Gokudera estão, atraído pelo familiar dedilhar de um piano. Em seguida foi à vez de Fuuta, sentando-se ao lado de seu Tsuna-nii, e não muito depois a doce Chrome juntou-se timidamente ao grupo. Lambo foi o último a descer, como sempre, sonolento e resmungando algo sobre ‘por que tenho de ir à escola quando já estudei a maioria das coisas com Gokudera-shi?’ O que lhe valeu um olhar de reprovação de um Gokudera que já terminara a última parte da melodia, e um suspiro de Tsuna. E assim o grupo finalmente encaminha-se para a sala de jantar com Tsuna à frente, para ser saldado por uma figura solitária aguardando na grande sala de jantar da mansão Vongola.

            __Oh, bom dia Kusakabe! –Yamamoto é o primeiro a cumprimentar, ao ver o braço direito do ex-prefeito com uma expressão tensa, sentado junto à mesa – Por que Hibari não descer com você? Eu passei lá na enfermaria hoje mais cedo, mas ele já tinha saído. Pensei que ele iria aparecer para o café da manhã. – comenta com um sorriso, enquanto o outro se remexe em seu assento, visivelmente desconfortável.

            __Ah, bom dia... – cumprimenta, fazendo um pequeno arco na direção de todos especialmente de Tsuna - Na verdade... Kyo-san está muito irritado por ter recebido ajuda ontem, e prefere ficar sozinho. – informa, sem conseguir disfarçar o nervosismo vazando de sua voz.

            __Hun, é uma pena, eu queria muito ouvir um pouco mais sobre aquelas chamas negras. – comenta Yamamoto distraidamente, puxando a cadeira ao lado esquerdo de Tsuna e sentando-se.

            __Tch! Irritante como sempre. – resmunga Gokudera, tomando o seu lugar habitual ao lado do Jyuudaime.

            Bem, depois de tudo, é de Hibari que estamos falando. – pensa Tsuna, com um sorriso divertido no rosto.

            __Sawada-san, Kyo-san mandou avisá-lo que após o café ele lhe enviará o relatório sobre a missão, como ele lhe prometeu.

            __Ah, certo. Obrigado, Kusakabe-san.

            __Tsuna, você chegou a falar com Hibari ontem? Será que ele falou alguma coisa sobre o que aconteceu?

            Tsuna observa Yamamoto por um instante, enquanto ponderando as suas palavras. No decorrer dos anos, o Guardião da Chuva surpreendera a todos – mesmo Tsuna que sempre sentiu que algo estava errado com todos os sorrisos e olhares despreocupados do amante de baseball, não importando em que situações estavam - revelando que sempre soube que a máfia da qual Tsuna, Gokudera e o garoto falavam, era real e não um jogo, como ele muitas vezes afirmou.

            __Ah. Eu esperei na enfermaria até que ele acordasse.

            __Jyuudaime, você sabe que não deve ficar perdendo sono! – adverte Gokudera, com uma expressão preocupada.

            __Você está parecendo Hibari, dizendo-me para ir dormir. – comenta calmamente, ignorando os olhares chocados de Lambo e principalmente de Kusakabe.

            __Tch, pelo menos uma vez aquele bastardo disse alguma coisa útil. – resmunga, ainda não completamente tranquilo.

            __De qualquer forma, falaremos mais sobre isso depois que eu ler o relatório que ele preparou. – avisa, recebendo um aceno de compreensão de Yamamoto e Gokudera – E antes que eu esqueça. Chrome, você e Fuuta podem acompanhar Lambo até a escola hoje? – indaga, pousando o seu olhar sobre os outros três, que ao ouvirem seus nomes, imediatamente voltam sua atenção para Tsuna.

            __Hai, Boss.

            __Claro, Tsuna-nii, será um prazer.

            __Yare, yare. Eu já havia me esquecido disso. – comenta Lambo distraidamente, ainda um pouco sonolento, acordar cedo não é mesmo o seu forte.

            __Desculpe, Lambo.

            __Sem problemas, Vongola. – tranquiliza, abrindo um sorriso para seu ‘nii-chan’.

            __Ah, obrigado. – agradece abrindo um de seus calorosos sorrisos, o mesmo que faria um monte de mulheres corarem.

            Não demorou muito e Pizio emergiu da cozinha seguido por alguns empregados trazendo o café da manhã para ‘Cielo-sama’.

~~~Ҳ~~~

            __Hibari pode não falar muito, mas certamente sabe escrever em demasia. – murmura abrindo um sorriso torto e sem graça, enquanto solta sobre sua mesa de mogno o grande relatório com mais de cinquenta páginas, fora anotações feitas à mão em um bloco de notas repousando ao lado de uma das quatro enormes pilhas da papelada maldita descansando desafiadoramente ao redor da mesa, e que está avidamente tentando ignorar.

            Então foi Alonzo Mantovani o ‘principal contato’ desaparecido com todos mortos em sua propriedade, do qual Kusakabe-san falou. – pensa Tsuna, fechando os olhos e recostando-se na cadeira de couro negro em seu escritório, enquanto um suspiro que pode ser interpretado como de irritação ou cansaço escapa de seus lábios.

            Alonzo Mantovani, um dos poucos homens de negócios que Tsuna conheceu dentro do submundo que realmente valia à pena considerar como um ‘amigo’. Embora o homem também vivesse mergulhado neste mundo de crimes e irregularidades, era justo e mantinha seus negócios sempre dentro da lei o máximo que podia. Um empresário do ramo da exportação que o Décimo teve o prazer de conhecer à cerca de quatro anos, quando a Vongola ainda estava em fase de transição e adaptação com a nova forma de liderar que Tsuna estava – e ainda está – decidido a implantar dentro da maior Famiglia da Máfia. Na primeira vez em que se encontraram, a forma de agir e até um pouco da aparência de Alonzo lembrou Tsuna de Dino, excluindo os olhos castanhos do chefe Cavallone pelos verde-cinzentos do outro loiro, além do sorriso mais escasso, Mantovani era muito mais sério e centrado do que seu ‘Aniki’.

            Os dois se conheceram em uma reunião limpa – como Reborn costuma se referir a algo que não envolva o submundo do crime – entre figuras importantes no mundo dos negócios e que movimentam a economia da Itália – para o mundo exterior a Vongola é nada mais do que uma grande grupo empresarial com sede em vários países do mundo, estranhamente tendo um único líder. A reunião foi realizada em Roma, a qual o Décimo compareceu acompanhado por Ryohei e Gokudera – uma escolha que milagrosamente funcionou, uma vez que Ryohei manteve-se sobre o controle de si mesmo durante toda a viagem, embora Tsuna suspeite que a conversa de uma hora a portas fechadas entre o barulhento Guardião, Gokudera e Reborn, tenha algo a ver com a súbita calmaria do brilhante Sol da Vongola. Após essa primeira reunião, o jovem chefe e o empresário em ascensão, mantiveram contato, e quando Alonzo convidou o Décimo para formarem uma parceria em seu mais novo investimento – que consistia em construir uma nova sede de sua empresa no Japão – após avaliar os prós e contras, com um sorriso nos lábios Tsuna aceitou a parceria, que perdura até os dias presentes.

             Eu realmente queria ter certeza de que Alonzo-san está bem, mas considerando as informações que Shiro-chan me entregou... Pergunto-me quanto mais isso vai piorar? – ainda recostado em sua cadeira, subitamente Tsuna abre seus olhos, um suave tom alaranjado misturando-se ao castanho-avelã – Parece que terei minha resposta mais cedo do que eu espero... – suspira, levantando-se e rumando para a sala de jantar antes mesmo que alguém pudesse vir chama-lo, enquanto sua Hiper Intuição pressiona ainda mais seu cérebro e cria buracos em seu estômago.

            __Ah, Tsuna?! Você já estava pronto?

            __Boss, estávamos indo busca-lo para o almoço. – informa Chrome, acompanhada por um sorridente Yamamoto, os dois vindo da direção oposta do corredor e parando ao ver Tsuna se aproximar deles.

            __Parece que eu me adiantei hoje. – comenta, abrindo um de seus calorosos sorrisos, o que faz Chrome corar e descobrir que o Portinari na parede do corredor é realmente uma pintura interessante – Desculpem. Na verdade eu os senti vindo em direção ao escritório e decidi vir encontra-los. – fala, sem perder o rubor na face da única mulher entre os seus Guardiões, a outra metade do Guardião da Névoa, o que lhe arranca outro sorriso, algo que só piora o tom vermelho espalhando-se pela face de Chrome, Tsuna realmente não sabe o quanto sua aparência deslumbrante arranca o fôlego das mulheres.

            O trio logo adentra a bela sala de jantar, com o grande lustre de cristal pendurado imponentemente sobre a longa mesa, ao redor da qual Fuuta e um ainda aflito Kusakabe os esperam.

            __Eh?! Por que Gokudera ainda não está aqui? – indaga Yamamoto caminhando em direção ao seu lugar.

            __Agora que você comentou... Não vi Gokudera a maior parte da manhã. – comenta Tsuna, que estivera absorto em seus pensamentos e na leitura do relatório e anotações de Hibari, que nem se dera conta da passagem das horas, só percebendo que era hora do almoço por mero acaso.

            __Jyuudaime! Desculpe pelo atraso. – desculpa-se Gokudera, adentrando a sala com presa – Eu tive que resolver algumas coisas com o líder de um dos esquadrões do Shibafu, já que ele está na Varia.

            __Tudo bem, Gokudera. – tranquiliza Tsuna, detendo um pouco mais o seu olhar sobre seu Guardião da Tempestade e fiel braço-direito, sua Hiper Intuição lhe dizendo que essa não é toda a razão do atraso, porém, uma vez que conhece Gokudera muito bem, Tsuna decide deixar a conversa terminar nesse ponto, pressionar nem sempre é a melhor forma de lidar com algumas situações.

            Realmente, parece que a resposta resolveu chegar mais rápido do que eu esperava. Pergunto-me o que foi desta vez? – pensa Tsuna, com um pequeno suspiro escapando de seus lábios.

            __Olá, onii-san! – cumprimenta, sentando-se e voltando seu olhar para a porta, enquanto todos na sala movem seus olhares de seu chefe para a porta.

            Ao anúncio, uma figura alta, de cabelos cinza e com um curativo sobre o nariz, adentra a sala com um grande sorriso e acompanhado de seu cumprimento de assinatura.

            __É extremamente bom te ver, Sawada!

            __Oi, Shibafu no Atama! O que está fazendo aqui?! – rosna Gokudera com a chegada do Guardião do Sol.

            __Eu extremamente vim trazer notícias para nosso chefe, Takorēto! – responde Ryohei sem rodeios.

            Eu já esperava por isso. Alguma coisa muito grave deve ter acontecido para Xanxus mandar onii-san de volta durante o treinamento de seus subordinados. – inconscientemente, Tsuna começa a massagear as suas têmporas na inútil tentativa de aliviar a forte dor de cabeça se formando em seu cérebro já bastante carregado – outro hábito que adquiriu no decorrer dos anos.

            __Onii-san, falaremos sobre isso após o almoço. – avisa o Décimo, o olhar em sua face diz aos Guardiões que seu precioso chefe não quer que assuntos delicados sejam debatidos de forma leviana principalmente durante a hora do almoço, fato que imediatamente faz todos mudarem para assuntos mais leves.

            Com Ryohei acomodando-se ao lado de Kusakabe, logo Pizio surge da cozinha trazendo o almoço, como sempre, farto e saboroso. A refeição seguiu tranquila – ou o mais tranquila que se possa esperar de momentos em que a maioria dos Guardiões estão reunidos, com Ryohei contando um pouco dos seus dias treinando os novatos ‘pouco extremos’ da Varia, seguido de discussões acaloradas com Gokudera sobre ‘pare de ser irritante falando sobre os desgraçados da Varia’, enquanto Yamamoto tenta para-los de brigar durante a refeição.

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            Os Guardiões presentes na mansão – o que inclui Chrome, e exclui o irritado Hibari que enviou o nervoso Kusakabe para representa-lo – além de Fuuta - que relutantemente o jovem chefe permitiu a presença - encontram-se todos atualmente reunidos no escritório de Tsuna.

            __Como vocês já devem imaginar, eu fui enviado por Xanxus com notícias. – começa Ryohei, assim que Tsuna lhe faz sinal para falar - Durante esta madrugada, sete homens do esquadrão sobre ordens de Leviathan foram atacados durante uma missão. Porém, o mais estranho é que, segundo o que Yamamoto me descreveu do ferimento de Hibari, com exceção de um, todos os outros tiveram ferimentos mais leves do que os dele, e mesmo assim quatro não suportaram, e eu tive um momento realmente difícil para conseguir curar os que restaram. Naqueles que morreram, a Shinu Ki no Honoo do Sol não teve qualquer efeito sobre eles. – informa com indisfarçável amargura.

            Silêncio. Um profundo e ainda assim ensurdecedor silêncio foi o que reinou por cerca de um minuto dentro da sala. Com a nova informação martelando nos cérebros de cada um presente dentro do escritório, o rosto de Kusakabe assumiu um novo tom de branco, um que quase se iguala ao do rosto do jovem chefe, um branco doentio, mas o braço-direito de Hibari Kyoya certamente não está doente. Chrome está paralisada, mal parece estar respirando. A expressão alegre de Yamamoto tornou-se fria e sua aura começa a gritar ‘perigo’, enquanto seu lado espadachim assume seu lado amante de baseball. Tsuna, por sua vez, tem sua expressão ilegível escondida sob seu fofo cabelo castanho.

            __Oi, Shibafu! O que quer dizer com suas chamas do Sol não foram capazes de curá-los?! Entre todos na Vongola você é o que possui a maior e mais forte Shinu Ki no Honoo do Sol! – exaspera-se Gokudera, aparentemente o primeiro a arrastar seu cérebro para fora do transe auto-imposto.

            __Gokudera, acalme-se. E Ryohei, você tem certeza sobre os ferimentos?

            Ao ouvirem Tsuna dirigir-se ao boxeador por seu nome e não pelo apelido que sempre usa, com um tom neutro e assustadoramente calmo, e ainda assim pesado, o clima dentro da sala despenca novamente, Tsuna está realmente sério. Afinal, ele só se dirige a Ryohei dessa forma, quando seu ‘modo chefe’ está ativado seguido de um outro modo, também muito familiar. Virando-se para o Décimo, não foi surpresa nenhuma encontrar uma chama brilhando na testa de seu chefe, enquanto seus olhos tornaram-se completamente laranja como a pura chama do Céu, ao passo que as X-Gloves mantêm-se apagadas. Tsuna entrou no Hiper Modo.

            __Jyuudaime...

            __Tsuna...

            Cerca de seis anos atrás, dois meses antes de assumir o controle da Vongola, Tsuna surpreendeu a todos – especialmente seu tutor espartano, que não esperava que o seu dame-aluno fosse capaz de fazer algo semelhante, uma vez que apenas Primo entre todos os chefes Vongola fora capaz de tal façanha – quando durante uma das muitas surpresas desagradáveis e cheias de tortura, que Reborn chama de testes, Tsuna entrou no Hiper Modo por conta própria - o que significava sem o auxílio de balas especiais ou das pílulas que costumava usar - e lançou-se para o ar, antes que uma esfera de metal de sete toneladas aterrasse no local em que estivera milésimos de segundos antes, arremessada em sua direção por um experimento mecânico muito semelhante a uma catapulta gigante que o tutor sádico convenceu Spanner de construir. O mais incrível em todo o ocorrido, é a quantidade absurda de chamas e a expansão de tempo que Tsuna foi capaz de manter nessa forma. O tempo de sua permanência no Hiper Modo praticamente havia duplicado, enquanto suas chamas tornaram-se ainda mais refinadas – se isso realmente era algo impossível de ocorrer, o Décimo Vongola provou o contrário, para espanto do submundo e alegria do Arcobaleno – que ele disfarçou puxando a fedora de seu chapéu. Daquela época para os dias atuais, Tsuna ampliou ainda mais a sua permanência no Hiper Modo.

            __Eu conferi todos os ferimentos pessoalmente para me certificar. Um dos feridos morreu antes mesmo que eu começasse a curá-lo. E todos eles eram homens fortes, Sawada. Certamente nenhum chega nem perto do nível de Hibari, mas também não podem ser classificados como fracos. Antes que eu viesse, um dos que escaparam mencionou algo sobre uma lâmina dentada e uma estranha chama negra. Isso foi o mesmo que feriu Hibari, não foi? Sawada, você tem certeza de que Hibari está bem?

            __Ah. Quanto a isso você não precisa se preocupar. Shamal o examinou e disse que ele só perdeu a consciência devido à exaustão e falta de sono. Além disso, o próprio Hibari já saiu da enfermaria como se nada tivesse acontecido. – responde Tsuna em seu tom calmo.

            __Hun, ainda assim eu gostaria de ver como está o ferimento, talvez eu possa terminar de curá-lo. – comenta casualmente.

            __Sasagawa-san! Por favor, deixe Kyo-san descansar sozinho por enquanto! Mesmo querendo que você termine de curá-lo, eu realmente temo por sua segurança! Kyo-san está fervilhando de irritação! Ele só permitiu Sawada-san falar com ele, porque foi por esse motivo que voltamos à mansão tão repentinamente! – exaspera-se Kusakabe, finalmente emerso de seus pensamentos, seu rosto ainda pálido, porém por um motivo diferente, medo da reação de seu chefe, enquanto sente o suor frio deslizar por sua face.

            __Eu não vejo por que Hibari não iria querer me ver. – comenta Ryohei, levando a mão ao queixo e franzindo as sobrancelhas – Nós somos extremamente amigos! – completa, como se fosse algo óbvio a se dizer.

            __Tch! Deixe aquele bastardo sozinho por enquanto. Como Jyuudaime disse, ele está bem. Se você for perturbá-lo agora ele certamente vai arrumar alguma confusão.

            __Maa, maa. Ryohei, Gokudera. Essa não é a hora para ficar discutindo, Tsuna parece estar concentrado. – fala, enquanto lança o polegar para trás na direção de seu chefe, cuja expressão encontra-se novamente escondida sob seus cabelos castanhos.

            __Jyuudaime... – murmura Gokudera, enquanto todos voltam seus olhares para o seu amado chefe.

            Então eles decidiram começar a agir mais abertamente. Isso significa que ou estão ficando descuidados, ou acreditam não ter o que temer... Nos dois casos a situação só piora. – pensa, enquanto sente suas chamas crescerem e brilharem ainda mais diante da determinação em seus orbes, ao encontrar os olhares de sua família – Parece que o tempo para agir chegou.

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Notas finais do capítulo

Minna, este foi provavelmente o capítulo mais complicado de escrever até agora, com muitas informações! Espero que tenham gostado!
O próximo capítulo será uma surpresa para todos - MWAHAHAHAHAHA - e não, não é outro extra!
Falando em extras, tenho mais dois em mente, um já ganhou um esboço, o outro ainda está em desenvolvimento. Mais informações sobre eles em breve!
Deixem-me saber suas opiniões, ideias, críticas, sugestões, são sempre bem-vindas!
Nos vemos em "Declaração de Guerra"! Ciao, ciao!